terça-feira, 14 de maio de 2013

Brasil só ganha com abertura de mercado a empresas de fora, diz secretária dos EUA

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

As regras de conteúdo local em licitações do governo brasileiro são "muito problemáticas, não são livre comércio e equivalem a 'roubar na balança' [putting your fingers on the scale]". 

Foi com essa crítica dura que Rebecca Blank, secretária interina de Comércio dos Estados Unidos, descreveu a principal reclamação dos empresários americanos que querem investir no Brasil.
Rebecca está no país com representantes de 16 empresas americanas interessadas em exportar produtos e serviços de infraestrutura ou investir em grandes obras. 

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Folha - Tem havido atrasos nas licitações para grandes obras de infraestrutura e concessões no Brasil, muitas vezes devido à falta de interesse de investidores por causa da baixa taxa de retorno. Isso preocupa os potenciais investidores ou exportadores dos EUA?

Rebecca Blank - Não é incomum que licitações de projetos muito grandes atrasem. As empresas de infraestrutura sabem que o setor é assim. Já em relação à taxa de retorno, não tenho como comentar. 

O que incentivaria investimentos em infraestrutura no Brasil hoje?

O mais importante é o anúncio do governo de que haverá um total de US$ 500 bilhões em investimentos em infraestrutura no país nos próximos anos. Isso interessa muito às empresas americanas. Mas há uma preocupação porque o Brasil é um mercado mais fechado para investimentos e exportações do que muitas empresas americanas desejariam. 

Nós já tivemos várias conversas com autoridades brasileiras sobre a alta nas tarifas de importação e as exigências de conteúdo local. Acho que, no longo prazo, o Brasil só tem a ganhar trazendo empresas de países de todo o mundo, que têm expertise e vão ajudar a criar conhecimento local e produção. Ao trazer investimento de fora é que o Brasil cresce e se torna parte da economia global. 

Muitas dessas medidas desaceleram o país no longo prazo. Isso nos preocupa muito, e nós estamos trabalhando com autoridades brasileiras para abrir o mercado. 


Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Rebecca Blank, secretária interina de Comércio dos Estados Unidos, em hotel em SP
Rebecca Blank, secretária interina de Comércio dos Estados Unidos, em hotel em SP   
Houve uma mudança na legislação de licitações que dá preferência a produtos e serviços nacionais nas licitações públicas, mesmo com preços até 25% acima dos estrangeiros. Essa legislação faz parte das regras de conteúdo local que preocupam?

Sim. [Essa regra] é muito problemática. Isso não é livre comércio, na verdade isso é roubar na balança ["putting your finger on the scales"]. Significa que vai ser muito difícil para empresas internacionais ganharem licitações em algumas áreas.

Em algumas áreas de serviços avançados, como design e questões ambientais, os EUA têm muita experiência. Com essas regras, fica mais difícil para empresas americanas participarem, o que vai tornar mais difícil realizar esses projetos.

A senhora discutiu isso com autoridades brasileiras?

Não nesta viagem. Mas tivemos muitas conversas sobre esse tema quando estive em Brasília dois meses atrás.

Mesmo com a preferência de até 25%, as empresas americanas ainda são competitivas aqui?
Depende da licitação. Em algumas áreas não. Mas. em licitações que não se baseiam somente em preço, em áreas em que o Brasil tem menos expertise, empresas de fora terão alguma chance.

Essas regras de conteúdo local prejudicam a economia brasileira?

Se você quer fazer esses projetos direito, você quer contratar a companhia de maior qualidade, que pode ser nacional ou estrangeira. Se você está modernizando um aeroporto e quer que o projeto dê certo, você quer o fornecedor de maior qualidade, deveria deixar todos competirem em pé de igualdade.

Em comparação com outros países, como é o ambiente para fazer negócios no Brasil?

O Brasil retrocedeu um pouco por causa das regras de conteúdo local e o aumento de tarifas. Outros países têm se engajado muito mais no comércio global e estão tentando reduzir barreiras.
As negociações da Parceria Transpacífico [PTP] mostram que há países que crescem muito rapidamente e estão mais famintos por investimentos e exportações, embora talvez não estejam no mesmo estágio de desenvolvimento que o Brasil.

O Brasil tem muitas vantagens, mas, para funcionar de forma global e eficiente, precisa tornar mais transparente e fácil o processo de atuar no país e ter regras similares para todos os países que atuam no Brasil. Países que participam da negociação da PTP como Peru e Chile têm acordos de livre comércio com os EUA e vários outros países, o que, da nossa perspectiva, oferece menos barreiras para fazer negócios lá.

RAIO-X REBECCA BLANK
 
CARGO

vice-secretária de Comércio dos Estados Unidos desde março de 2012; atualmente é secretária interina de Comércio

FORMAÇÃO

formada em economia pela Universidade de Minnesota; tem um doutorado em economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology)

NATURALIDADE

Nascida em Missouri, EUA

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