"Porto inseguro".
Por Mary Zaidan
Dilma Rousseff, Lula e o PT só pensam naquilo: reeleição, eleição,
reeleição. Não necessariamente nessa ordem, já que depende da maré -
leia-se, da economia - quem será o protagonista em 2014.
E de
tanto pensar no calendário eleitoral, a presidente, que nunca foi lá
muito jeitosa na arte da conversação, move-se trôpega na política. Ainda
não a ponto de comprometer sua liderança suprema, mas já turvando o
cenário que emoldura a ambição de poder eterno do PT.
A MP dos Portos é um exemplo acabado disso. Ninguém em sã consciência é
contrário à modernização dos portos do País. Torce-se para que o Brasil
consiga desatar os nós cada vez mais cegos pela corrupção, leniência
pública e oportunismo privado que se imiscuem há anos nos portos
brasileiros.
Mexer nesse vespeiro é um ato de coragem. Mas por que a prepotência? Por que não fazê-lo direito?
A resposta parece estar no fato de Dilma crer que tudo sabe. De seu
governo ter aversão à política, diagnóstico expresso nas contundentes
críticas que o líder do PMDB na Câmara Eduardo Cunha (RJ) fez em
entrevista ao jornal Valor Econômico.
Entre uma estocada e
outra, o deputado disse que o governo “não articula e depois quer impor o
que o tecnocrata decide”, e que quem escreveu a MP nunca teria visto um
contêiner.
Cunha pode ser flor que não se cheire - é réu na
Suprema Corte por falsificação de documentos. Mas sua fala traduz com
precisão cartesiana o comportamento da presidente.
Especificamente na questão dos portos, Dilma abusou. Buscou apoio de
empresários sem se dar conta de que cada um cuidaria de seus próprios
interesses. Ganhou Paulo Skaf, presidente da Fiesp, de olho em um
trampolim para disputar o governo de São Paulo, Jorge Gerdau e Eike
Batista, ambos investidores diretos em portos, e que se digladiam.
Amansou trabalhadores que ameaçavam greve, mas só adiou o embate. E nem
deu bola para o Congresso, segura de que a pressão sobre a gigantesca
base, ainda que pelas práticas franciscanas do toma-lá-dá-cá,
asseguraria a vitória.
Em um flanco, sumiram os votos do PSB do
governador Eduardo Campos, que não admite a hipótese de perder poderes
sobre o porto de Suape (PE). Em outro, não teve o apoio de parte do PDT
de Paulinho da Força (SP) e do PSD de Gilberto Kassab. E o PMDB lhe
puxou o tapete.
O governo que angariou a maior base de apoio já
vista na história deste País está paralisado por essa mesma base. Por
soberba, incompetência e inapetência da presidente. Até agora, uma
combinação que só lhe impõe desconforto, mas que tende a se tornar
explosiva.
Ainda que Dilma resista a crer, política não é só eleição.
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