Em
entrevista à Carta Maior, Mark Weisbrot (foto), co-diretor do Center
for Economic and Policy Research, de Washington, fala sobre as
perspectivas da economia brasileira no atual cenário internacional. Para Weisbrot, Brasil deveria seguir o
exemplo da China que faz um gigantesco investimento para manter aquecida
a atividade econômica no país. Exatamente o oposto do que faz a
União Europeia, que, na opinião do economista, segue mantendo uma
"demente política de austeridade".
Por Marcelo Justo, de Londres.
É o terceiro ano em que a economia do Brasil tem um crescimento anêmico. A que se deve isso?
Mark Weisbrot:
Toda a América Latina está sofrendo o golpe da crise mundial. Essa é a
realidade. Em seu último informe, o FMI reduziu as expectativas de
crescimento para toda a região. O problema vem dos Estados Unidos,
Europa e China. Cabe não esquecer que, até o presidente do Banco Central
Europeu, Mario Draghi, ter indicado que faria tudo o que fosse
necessário para salvar o euro, existia o perigo de uma crise financeira
mundial como a de 2008. Este pânico foi controlado, mas a Europa segue
em uma situação de recessão. Os Estados Unidos estão crescendo, mas vive
ameaçado pela restrição fiscal que o congresso não conseguiu solucionar
e que pode apresentar a conta este ano, o que gera muita incerteza. E a
China está crescendo muito menos.
O governo tem buscado separar-se do monetarismo que dominou a política econômica brasileira desde os anos 90. Com Dilma Rousseff, as taxas de juro caíram e há uma tentativa de estimular a indústria. Mas, no momento, isso não tem dado resultado.
MW:
É que essas políticas levam tempo para surtir efeito. Há mais de 20
anos de descuido da indústria para dar conta. O crescimento industrial
per capita foi de 0,5 anual entre 1990 e 2003. Isso não se resolve da
noite para o dia. Mas acredito que a economia vai se recuperar. O
investimento terminou em alta em 2012 e o governo tem reservas
consideráveis que pode usar a qualquer momento para estimular sua
economia. É um debate que tem ocorrido nos Estados Unidos.
Lamentavelmente, o governo de Barack Obama preferiu um estímulo moderado
ao invés de implementar o que defendia Christina Romer no conselho de
assessores econômicos do presidente. Na crise de 2008 e na atual, a China fez um gigantesco investimento para manter a atividade econômica. Exatamente
o oposto do que faz a União Europeia que segue mantendo uma demente
política de austeridade. Creio que o Brasil deveria seguir o exemplo
chinês.
No
Brasil está claro que, no momento, a magnitude do estímulo não tem sido
suficiente para reverter o caminho da desindustrialização nacional que
um professor da Universidade de Cambridge, José Gabriel Palma, denominou
como um dos processos de desindustrialização mais extremos do século
passado. Segundo Palma, hoje a indústria do Brasil é a metade do que era
em 1980 em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB).
MW: Precisamente por isso mudar esta situação levará tempo. A desvalorização do real ajuda, mas não é suficiente. Por um lado, porque esta depreciação também precisa de tempo para disseminar-se por toda a economia. Por
outro lado, porque também é preciso uma política industrial com
estímulo de setores chave e estratégicos. Mas penso que na 2ª metade do
ano este panorama vai mudar.
Este discreto desempenho atual pode complicar as possibilidades de reeleição de Dilma Rousseff no próximo ano?
MW:
Não. Cabe lembrar que tem havido uma enorme mudança na distribuição de
renda, um aumento de cerca de 28% na renda per capita, desde que o PT
está no poder, e uma forte queda no desemprego. Por isso os índices de aprovação de Dilma Rousseff são tão altos apesar dos problemas econômicos.
E não esqueçamos que essa melhoria nos níveis de vida é tão importante
quanto os outros fatores para o crescimento da economia.
Vê algum sinal de recuperação na economia mundial daqui até às eleições?
MW: Não tenho bola de cristal. Ser tivesse seria milionário (risos...). No
momento, o que vem se observando a cada semana são indicadores
diversos. Mas não creio que estejamos avançando para uma nova recessão
mundial. Na última, tivemos gigantescas bolhas especulativas que explodiram ao mesmo tempo. Não há nada parecido com isso no horizonte. O que temos hoje é uma política fiscal incorreta em muitos países, em especial na Europa. Mas isso pode ser corrigido e não tem o mesmo impacto. É preciso aguardar para ver. Há muitos investidores que, estes sim, estão apostando que vem aí uma nova recessão mundial.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Foto: Center for Economic and Policy Research
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