Para Arif Naqvi, da Abraaj Capital, intervencionismo do governo e desaceleração econômica sacrificam retorno sobre os investimentos nas empresas do país
Ana Clara Costa, de St Gallen
Arif Naqvi, presidente do fundo de private equity Abraaj Capital
(Bloomberg/Getty Images)
Diante um público de mais de 600 pessoas composto por banqueiros,
investidores, empresários, premiês europeus e a chefe do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Christine Lagarde, um megainvestidor paquistanês
fez um alerta, no mínimo, frustrante: "Não recomendo investir no
Brasil", disse Arif Naqvi, presidente do fundo de private equity Abraaj
Capital. Naqvi, que administra 7,5 bilhões de dólares aplicados em
ativos em países da África, Ásia e América Latina, participava de um
painel de discussões sobre mercados emergentes promovido pela
Universidade de St Gallen, na Suíça, na semana passada.
Quando
questionado pelo vice-presidente do banco Goldman Sachs, Lord Griffith,
sobre quais mercados eram considerados mais desinteressantes para se
investir, Naqvi disse, sem hesitar: o Brasil.
Segundo o paquistanês, o intervencionismo econômico e o ego do governo
brasileiro espantam qualquer tentativa de se obter ganhos satisfatórios
em operações no país. Ele também reconheceu que as regras mudam
constantemente e que tal situação traz insegurança jurídica. O
investidor citou o Chile, o Peru, a Colômbia e o México como mercados
muito mais promissores, seguros – e que ainda se beneficiam dos avanços
ocorridos na economica brasileira. Procurado após a palestra, Naqvi se
negou a dar entrevista ao site de VEJA. Contudo, um de seus diretores,
Frederic Sicre, explicou a razão das críticas feitas ao país.
Para Sicre, a desaceleração econômica combinada com a moeda forte e o
custo Brasil fazem com que os investimentos no país sejam muito
onerosos, com potencial de retorno reduzido. “As políticas
protecionistas combinadas com o idioma diferente dos demais países da
América Latina também fazem com que estratégias regionais sejam difíceis
de serem executadas igualmente no Brasil e nos outros países do
continente”, afirmou o empresário.
Nem mesmo o mercado interno brasileiro, usado como trunfo pela
presidente Dilma Rousseff para justificar suas políticas
intervencionistas, parece atrair o fundo billionário. “Não se pode negar
que o mercado brasileiro seja o maior da região e mereça atenção. Mas,
hoje, as oportunidades em outros países da América Latina são mais
atrativas para os nossos investimentos, pois os retornos são maiores”,
disse Sicre.
Com sede em Dubai, o Abraaj é um dos maiores private equities do
Oriente Médio e nunca fez investimentos no Brasil. Seus 33 escritórios
ao redor do mundo administram os aportes do fundo, sobretudo, em
empresas dos setores farmacêutico e de energia.
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