terça-feira, 7 de maio de 2013

Distribuição definirá futuro da Eletrobras








 Por Rodrigo Polito | Do Rio

A solução definitiva para o negócio de distribuição de energia é fundamental para o sucesso do ousado, porém pouco detalhado, plano diretor da Eletrobras 2013-2017, que prevê investimentos de R$ 52,4 bilhões e redução de custos de 30%, para encarar a nova realidade do setor, após o impacto da prorrogação das concessões. A avaliação é de especialistas consultados pelo Valor sobre a iniciativa da estatal, cujo valor de mercado atual é de R$ 7,88 bilhões, o mais baixo dos últimos anos e oito vezes e meio menor que o seu patrimônio líquido, de R$ 67 bilhões.

"É essencial que a empresa melhore o nível de rentabilidade das distribuidoras. Até porque o nível de rentabilidade das geradoras e transmissoras da companhia não é mais o mesmo, devido à renovação das concessões. Essas áreas não terão mais capacidade para suprir o déficit das distribuidoras", disse a analista Karina Freitas, da Concórdia.


De acordo com a Ativa Corretora, a melhor saída seria a venda dos ativos de distribuição, que registraram prejuízo de R$ 1,3 bilhão e Ebitda (lucro antes de juros impostos, depreciações e amortizações) negativo em R$ 343 milhões em 2012.

Os últimos sinais dados pelo comando da estatal, porém, é de que isso não deve ocorrer em curto prazo. "Eu diria que se tudo ficar como está, que é uma possibilidade, o compromisso é que em 2015 elas [distribuidoras] deem lucro. Em 2014 estarão quase equilibradas", afirmou o presidente José da Costa Carvalho.

Embora também defenda uma rápida solução para o problema das distribuidoras, o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel), da UFRJ, professor Nivalde Castro, vê dificuldades para a Eletrobras se desfazer desses ativos. "Existe um forte componente político inserido no setor elétrico e no tema da privatização, que dificulta essa definição", avaliou.

Outro ponto que atrapalha a venda dos ativos é a indefinição com relação ao prazo de concessão dessas distribuidoras. O contrato delas vence em 2015, mas a Eletrobras já manifestou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o interesse em prorrogá-los, como fez com os ativos de geração e transmissão.

"Nossa expectativa é que se renovem todas as concessões das distribuidoras sob nossa gestão", informou a estatal em nota. A Aneel tem até 2015 para recomendar, ou não, a prorrogação da concessão das distribuidoras ao Ministério de Minas e Energia.

Até o fim de junho, a Eletrobras deverá concluir e apresentar ao conselho de administração um estudo de reestruturação do negócio de distribuição. "Essas empresas [distribuidoras] já vêm dando uma melhora de resultados significativa, mas sem dúvida nenhuma é preciso, pela necessidade de capitalização de recursos, que a gente faça a análise de alternativas para a reestruturação dessas empresas", disse o diretor de Distribuição da Eletrobras, Marcos Aurélio Madureira.

Uma das propostas em estudo é a venda de uma fatia nessas empresas para companhias privadas. "Estamos em fase de análise. Acredito que possa haver alguma incorporação de algum participante. Mas é algo que ainda é prematuro", explicou Madureira.

Castro, do Gesel/UFRJ, é favorável a essa alternativa. "Assim a Eletrobras continuaria acionista dessas empresas, porque algumas delas têm um potencial econômico muito bom. O ideal é que ela tivesse uma participação minoritária, de até 49%, até para livrar a empresa das obrigações da Lei 8.666 [Lei de licitações]".

Situadas no Amazonas, Acre, Alagoas, Piauí, Rondônia e Roraima, as distribuidoras da Eletrobras atendem 3,6 milhões de clientes, ou 5% do total do mercado. Em área atendida, porém, a Eletrobras responde por cerca de 30% do mercado de distribuição, o que revela a baixa densidade de sua área de atuação. Para se ter uma ideia, a Light, que atende apenas a região metropolitana do Rio de Janeiro, tem 3,9 milhões de consumidores.

Um dos maiores problemas enfrentados pelas distribuidoras da Eletrobras é o elevado índice de perdas. Em 2012, porém, a estatal conseguiu reverter a trajetória de alta das perdas. O índice médio caiu de 34,28% para 31,01%, em relação a 2011. Segundo a empresa, a melhoria foi obtida pelo aumento dos investimentos nessas empresas, para R$ 1 bilhão, no ano passado. Para 2013, a companhia prevê investir R$ 1,5 bilhão em distribuição.

Outro ponto positivo é o crescimento do consumo nas áreas atendidas por essas distribuidoras. Segundo Carvalho Neto, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) e o consumo de energia no país cresceram 0,9% e 3,5%, respectivamente, em 2012, a média do mercado elétrico das seis distribuidoras da Eletrobras aumentou 12,1%. "Isso se deve a um crescimento econômico maior do que a média brasileira, mas também a uma redução das perdas", disse o executivo.

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