Por Rodrigo Polito | Do Rio
A solução definitiva para o
negócio de distribuição de energia é fundamental para o sucesso do
ousado, porém pouco detalhado, plano diretor da Eletrobras 2013-2017,
que prevê investimentos de R$ 52,4 bilhões e redução de custos de 30%,
para encarar a nova realidade do setor, após o impacto da prorrogação
das concessões. A avaliação é de especialistas consultados pelo Valor
sobre a iniciativa da estatal, cujo valor de mercado atual é de R$ 7,88
bilhões, o mais baixo dos últimos anos e oito vezes e meio menor que o
seu patrimônio líquido, de R$ 67 bilhões.
"É essencial que a empresa melhore o nível de rentabilidade das
distribuidoras. Até porque o nível de rentabilidade das geradoras e
transmissoras da companhia não é mais o mesmo, devido à renovação das
concessões. Essas áreas não terão mais capacidade para suprir o déficit
das distribuidoras", disse a analista Karina Freitas, da Concórdia.
De acordo com a Ativa Corretora, a melhor saída seria a venda dos
ativos de distribuição, que registraram prejuízo de R$ 1,3 bilhão e
Ebitda (lucro antes de juros impostos, depreciações e amortizações)
negativo em R$ 343 milhões em 2012.
Os últimos sinais dados pelo comando da estatal, porém, é de que isso
não deve ocorrer em curto prazo. "Eu diria que se tudo ficar como está,
que é uma possibilidade, o compromisso é que em 2015 elas
[distribuidoras] deem lucro. Em 2014 estarão quase equilibradas",
afirmou o presidente José da Costa Carvalho.
Embora também defenda uma rápida solução para o problema das
distribuidoras, o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia
Elétrica (Gesel), da UFRJ, professor Nivalde Castro, vê dificuldades
para a Eletrobras se desfazer desses ativos. "Existe um forte componente
político inserido no setor elétrico e no tema da privatização, que
dificulta essa definição", avaliou.
Outro ponto que atrapalha a venda dos ativos é a indefinição com
relação ao prazo de concessão dessas distribuidoras. O contrato delas
vence em 2015, mas a Eletrobras já manifestou à Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) o interesse em prorrogá-los, como fez com os
ativos de geração e transmissão.
"Nossa expectativa é que se renovem todas as concessões das
distribuidoras sob nossa gestão", informou a estatal em nota. A Aneel
tem até 2015 para recomendar, ou não, a prorrogação da concessão das
distribuidoras ao Ministério de Minas e Energia.
Até o fim de junho, a Eletrobras deverá concluir e apresentar ao
conselho de administração um estudo de reestruturação do negócio de
distribuição. "Essas empresas [distribuidoras] já vêm dando uma melhora
de resultados significativa, mas sem dúvida nenhuma é preciso, pela
necessidade de capitalização de recursos, que a gente faça a análise de
alternativas para a reestruturação dessas empresas", disse o diretor de
Distribuição da Eletrobras, Marcos Aurélio Madureira.
Uma das propostas em estudo é a venda de uma fatia nessas empresas
para companhias privadas. "Estamos em fase de análise. Acredito que
possa haver alguma incorporação de algum participante. Mas é algo que
ainda é prematuro", explicou Madureira.
Castro, do Gesel/UFRJ, é favorável a essa alternativa. "Assim a
Eletrobras continuaria acionista dessas empresas, porque algumas delas
têm um potencial econômico muito bom. O ideal é que ela tivesse uma
participação minoritária, de até 49%, até para livrar a empresa das
obrigações da Lei 8.666 [Lei de licitações]".
Situadas no Amazonas, Acre, Alagoas, Piauí, Rondônia e Roraima, as
distribuidoras da Eletrobras atendem 3,6 milhões de clientes, ou 5% do
total do mercado. Em área atendida, porém, a Eletrobras responde por
cerca de 30% do mercado de distribuição, o que revela a baixa densidade
de sua área de atuação. Para se ter uma ideia, a Light, que atende
apenas a região metropolitana do Rio de Janeiro, tem 3,9 milhões de
consumidores.
Um dos maiores problemas enfrentados pelas distribuidoras da
Eletrobras é o elevado índice de perdas. Em 2012, porém, a estatal
conseguiu reverter a trajetória de alta das perdas. O índice médio caiu
de 34,28% para 31,01%, em relação a 2011. Segundo a empresa, a melhoria
foi obtida pelo aumento dos investimentos nessas empresas, para R$ 1
bilhão, no ano passado. Para 2013, a companhia prevê investir R$ 1,5
bilhão em distribuição.
Outro ponto positivo é o crescimento do consumo nas áreas atendidas
por essas distribuidoras. Segundo Carvalho Neto, enquanto o Produto
Interno Bruto (PIB) e o consumo de energia no país cresceram 0,9% e
3,5%, respectivamente, em 2012, a média do mercado elétrico das seis
distribuidoras da Eletrobras aumentou 12,1%. "Isso se deve a um
crescimento econômico maior do que a média brasileira, mas também a uma
redução das perdas", disse o executivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário