A desaceleração ou a
falta de recuperação dos mercados externos não é a única explicação para
o fraco desempenho das exportações brasileiras, que caíram 7,7% no
primeiro trimestre, ante igual período de 2012. Uma comparação entre a
evolução da importação dos destinos mais importantes para o Brasil e a
da exportação brasileira para os mesmos locais mostra que os produtos do
país perderam fatia de mercado. Segundo analistas, o quadro resulta da
alta dependência da pauta brasileira de exportação em relação às
commodities e da falta de competitividade da indústria doméstica no
mercado internacional.
Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), a China
aumentou as suas importações em 8,4% no primeiro trimestre deste ano, na
comparação com igual período do ano passado. A exportação brasileira
para o país asiático, porém, teve queda de 2,2%. A China é o principal
parceiro comercial do Brasil e responde por 15% das exportações do país.
Na Argentina, a importação total no trimestre aumentou 5%, enquanto as
exportações brasileiras para o país vizinho caíram 10,4%. Para o Chile, a
tendência é a mesma e os números são parecidos: enquanto a importação
total chilena cresceu 6,3%, a
exportação brasileira para o país caiu
11,7%.
Para os Estados Unidos e União Europeia, há dados disponíveis
somente até o primeiro bimestre. De janeiro a fevereiro, a importação
americana total ficou estável, com crescimento de 0,14%. A exportação
brasileira para os americanos, porém, caiu 25%. No mesmo período as
importações da União Europeia originadas de países de fora do bloco
caíram 2,6%. Os embarques brasileiros para a zona do euro também tiveram
queda, mas muito mais alta, de 9,7%.
"Há o fraco desempenho da economia internacional. Mas a diferença nas
variações mostra que o Brasil está perdendo fatia de mercado", diz
Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior. Para alguns países,
como China, por exemplo, a evolução pode ser explicada pela alta de
preços e demanda de commodities, os principais produtos que o Brasil
exporta para o país asiático. "Para os Estados Unidos há a
representatividade do petróleo. E para os manufaturados, há a falta de
competitividade da indústria brasileira para exportar. Mas de qualquer
forma, em todos esses casos, o Brasil está perdendo mercado."
Em relação à China, um dos grandes problemas é a alta concentração da
pauta exportadora brasileira. Juntos, minério de ferro, petróleo e soja
representaram no primeiro trimestre 79% do valor total embarcado pelo
Brasil rumo ao país asiático. A alta de preços foi um dos principais
componentes que elevaram o valor da exportação brasileira até 2011 e
esse componente não promete ajudar muito neste ano.
O preço da soja está abaixo do que havia sido estimado para o mês de
abril e o preço do minério de ferro também não deve, segundo
economistas, subir muito em 2013. Com dependência dessas commodities na
pauta exportadora, diz Barral, há poucas alternativa para compensar a
perda com a venda de outros itens para a China que, mesmo tendo
desacelerado mais do que se imaginava, elevou as importações durante o
primeiro trimestre. A exportação para os Estados Unidos tem problema
parecido. O petróleo responde por 20% da pauta de exportação do Brasil
para os americanos e as vendas do óleo bruto caíram em razão da alta
demanda do mercado doméstico e da falta de capacidade de elevação da
produção interna.
Somente em março, os embarques totais de petróleo em bruto do Brasil
caíram 33% na média diária em relação ao mesmo mês do ano passado. O
desempenho do embarque de petróleo contribuiu para a queda de 20% nas
vendas do Brasil aos americanos no primeiro trimestre. De novo, a falta
de diversidade da pauta exportadora dificulta a reação dos embarques.
Rumo aos países da União Europeia, a exportação brasileira sofre com
os preços das commodities e com a falta de reação dos manufaturados.
Para o grupo dos produtos industrializados, diz Julio Gomes de Almeida,
professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica, o grande
problema é a falta de competitividade da indústria de transformação
brasileira. Até 2008, lembra ele, a economia internacional estava em
crescimento e havia espaço para todos. No mercado pós-crise, porém, a
concorrência aumentou com a superoferta resultante da desaceleração da
economia mundial.
Esse novo ambiente, diz Barral, fez diversos países adotarem
estratégias mais agressivas para aumentar a competitividade. "O Brasil,
porém, ficou para trás. Temos apenas o Reintegra, que é uma medida sem
continuidade e é mera compensação para o tributo acumulado na cadeia
produtiva", diz ele, referindo-se ao incentivo fiscal que concede
crédito equivalente a 3% do valor exportado.
O alto custo interno, diz o economista Silvio Campos Neto, da
Tendências, está tirando o Brasil do processo de produção global. "E o
câmbio já não é mais capaz de explicar o problema da competitividade do
produto brasileiro", diz ele, lembrando que, apesar da perda de fatia do
Brasil no mercado mundial, o nível cambial atual é mais vantajoso à
exportação que o do início do ano passado.
Tradicional comprador de manufaturados brasileiros, a Argentina é um
caso emblemático da dificuldade para exportar da indústria doméstica.
Cerca de 90% do que o Brasil exporta para a Argentina é de
manufaturados. As restrições colocadas pelo país vizinho para as
importações foram parte da explicação para a queda de 20,8% nos
embarques brasileiros aos argentinos em 2012, quando a exportação total
brasileira caiu 5,3%. Os números do primeiro trimestre mostram, porém,
que as importações totais feitas pela Argentina cresceram 5%. "A
oportunidade tem sido aproveitada por países como China e Vietnã, mas
não pelo Brasil", diz Barral.
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