A linha de cuidados dermatológicos Skingen nunca decolou e foi encerrada discretamente pela marca há três meses
Curitiba - Há dois anos, o paranaense Grupo Boticário
empreendeu uma agressiva onda de expansão, iniciada pela Eudora, criada
para disputar o mercado de vendas diretas com a Natura. Entre novas
marcas e aquisições, foram abertas seis unidades de negócios, com níveis
variados de êxito. O ano de 2013 seria, segundo a empresa, o momento de
uma parada técnica para arrumar a casa. Essa estratégia já fez uma
primeira vítima: a linha de cuidados dermatológicos com a pele Skingen.
A unidade foi fechada discretamente, há três meses. O imóvel que por
pouco mais de um ano abrigou a Skingen Inteligência Genética, em uma rua
movimentada de Curitiba, está em reforma e já não exibe o nome da
empresa.
Os funcionários do serviço de atendimento ao consumidor informam que as
atividades foram encerradas no dia 27 de maio e sugerem que os
pacientes procurem um dermatologista para a continuidade do tratamento.
Foi em fevereiro de 2012 que a empresa anunciou sua entrada no segmento
de cuidados terapêuticos com a pele, para tratar rugas, flacidez e
outros problemas.
O valor do investimento no negócio não foi revelado, mas o presidente
do grupo, Artur Grynbaum, disse na ocasião que dava mais um passo para
alcançar o objetivo de ser um dos maiores players focados em beleza e
moda do mundo.
A Skingen, porém, nunca decolou. O negócio começou pequeno, a partir do
relacionamento pessoal dos executivos do grupo com dermatologistas de
Curitiba. A operação era um tanto complicada, pois os pacientes tinham
de enviar amostras de pele para o laboratório da marca, que fazia
produtos específicos para cada problema.
Em entrevista ao Estado, no início do ano, Grynbaum admitiu que, quase
24 meses após sua criação, a Skingen ainda estava em estágio
embrionário.
Hoje a marca nem aparece mais no site do grupo, que cita outras
unidades - O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice? e The Beauty Box.
Embora a existência da Skingen como negócio seja recente, a aposta nela
começou em 2008, quando o grupo investiu em um laboratório de pesquisa
na área biomolecular focado no estudo de processos de envelhecimento.
Procurado, o Grupo Boticário não falou sobre o fim da Skingen, mas o
assunto rendeu um pedido de explicação do médico Omar Lupi,
ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e diretor
científico do Instituto Protetores da Pele. Para ele, a empresa deve
explicações sobre o que vai fazer com as amostras de pele recolhidas.
Uma empresa de biotecnologia que guarda em seu poder amostras
biológicas frescas de milhares de pessoas não pode simplesmente fechar
as portas sem prestar esclarecimentos sobre o destino deste material
biológico colhido, diz Lupi, em texto publicado no site do instituto.
A resposta da empresa também está lá. Com o encerramento das
atividades, o Grupo Boticário esclarece que não utilizou e não utilizará
para pesquisa qualquer sobra de material biológico recebido via Skingen
Lab. Lupi, no entanto, pede uma prestação de contas para a classe
dermatológica.
Expansão
O Boticário foi fundado em 1977 pelo farmacêutico Miguel Krigsner e é
comandado por Grynbaum, seu cunhado, desde 2008. Com a nova gestão, o
grupo entrou em 2011 em venda direta, com a Eudora, que já passou por
reformulação por não atingir os objetivos esperados.
Em 2012, foi atrás de um público mais jovem com a marca Quem Disse,
Berenice?, focada em maquiagem, e estreou na venda de cosméticos
multimarcas com a The Beauty Box. Antes de Grynbaum, o grupo chegou a
ter participação em shopping centers, mas desistiu do segmento.
Em entrevistas, Grynbaum disse que 2013 seria o ano de trabalhar na
expansão dos novos negócios, que ainda representam uma pequena fatia do
faturamento total do grupo. O carro-chefe continuará sendo a marca O
Boticário, que possui rede de 3,6 mil lojas e faturou R$ 6,9 bilhões no
ano passado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.