Criador do PivotPlanet concluiu que é importante testar a nova profissão antes de mergulhar de cabeça na carreira ou negócio desejado
Deus escreve certo por linhas tortas. Na
primavera de 2011, Gerry Owen, pastor assistente de uma megaigreja em
Garland, Texas, estava lendo os comentários deixados pelos fiéis em uma
caixa da igreja após o culto de domingo. Ele deparou com um cartão de um
fiel que era proprietário da Generator Coffee, a cafeteria onde Owen,
de 55 anos, e a segunda esposa, Melissa, haviam se casado alguns meses
antes.
"O cartão dizia: 'Reze por mim, preciso vender
minha cafeteria'", recordou Owen. Quando contavam a história, ele e
Melissa estavam sentados no Cafe Brazil, uma cafeteria em Plano, Texas –
nem a que pedia orações, nem a que Melissa estava planejando abrir.
"Então li o cartão e perguntei a Melissa: 'Será que damos conta de fazer isso?'"
Ou seja, será que Gerry, que antes de se tornar pastor
havia passado a vida toda trabalhando em uma Frito-Lay, e a esposa,
enfermeira cirúrgica, poderiam comprar a cafeteria? Afinal, eles faziam
questão que o local onde haviam se casado fosse bem sucedido.
Os Owens pensaram sobre comprar o nome e
revitalizar os negócios, mas quanto mais pensavam, mas percebiam que não
tinham a menor ideia de como ser donos de uma cafeteria. Por isso, eles
entraram na internet e descobriram um site chamado PivotPlanet, que
desde 2003 reúne pessoas interessadas em mudar de carreira e as ensina a
dar os primeiros passos.
No site, eles conheceram Duncan Goodall,
proprietário do Koffee on Audubon, que desde 1993 era o ponto de
referência do bairro artístico de Audubon Street, em New Haven,
Connecticut. Por cerca de 1.000 dólares cada, os Owens poderiam seguir
Goodall na loja durante dois dias e receber dicas sobre praticamente
tudo: de como escolher a máquina de café espresso certa, a como ganhar
dinheiro com os pãezinhos que não fossem vendidos. Eles toparam,
compraram as passagens de avião e, em setembro de 2011, viajaram até New
Haven para dois dias inteiros na Escola Duncan.
A primeira coisa que Goodall fez foi convencer
os Owens a não comprar o Generator, afirmando que esse não seria o
investimento correto para eles. Contudo, ao final de seu curto
aprendizado em New Haven, os Owens chegaram à conclusão de que ainda
estavam empolgados com a ideia de abrirem o próprio café.
E graças ao PivotPlanet, agora eles têm duas estrelas
guias, Deus e Duncan Goodall. "Ainda consigo ouvi-lo dizendo", afirmou
Gerry Owen, referindo-se a Goodall, não a Deus. "As ideias dele ainda
reverberam."
Melissa Owen concordou, acrescentando: "Como o Duncan colocaria o balcão? Suas palavras ainda nos guiam todos os dias."
Brian Kurth teve a ideia daquilo que se tornaria o
PivotPlanet em 2001, quando tinha 34 anos e havia acabado de deixar o
emprego como executivo de telecomunicações, tentando descobrir o que
fazer com a vida dali em diante.
"Queria ver se o mar dava pé e pensei e me tornar
proprietário de uma creche para cachorros”, afirmou Kurth. Então, ele
acompanhou o dono de uma creche local durante três dias. Foi um
exercício muito interessante.
"Percebi que não queria recolher cocô o dia inteiro",
afirmou Kurth. E foi daí que ele tirou a ideia "de que é importante
testar seu emprego dos sonhos antes de mergulhar de cabeça".
Assim, em 2003 ele abriu a VocationVacations, uma empresa
que reunia pessoas que queriam mudar de carreira, com gente que já
fazia aquilo que tinham em mente. Kurth afirmou que foi um pioneiro na
transformação de "tutorias em um produto para o consumidor", embora
tenha sido rapidamente imitado por empresas similares, como a Skillshare
e a MentorMob.
Mais tarde, Kurth refinou a ideia e incluiu programas de
tutoria por Skype, algo que a maior parte dos clientes usa antes de
agendar uma viagem – na verdade, como uma forma de testar o tutor que os
ajudará a experimentar a carreira.
Durante algum tempo, Kurth teve dois sites: o
VocationVacations para viagens, e o PivotPlanet para tutorias por Skype e
telefone. Em janeiro deste ano, quando mudou a empresa de Portland,
Oregon, para Austin, Texas, ele unificou ambos os serviços sob a marca
PivotPlanet. Também abriu a Pivot Enterprise, uma plataforma de negócios
que as empresas utilizam para realizar tutorias in-company para
funcionários que desejem tentar uma nova vaga na mesma empresa.
Kurth não informou o faturamento preciso, nem usou
números ao se referir à empresa, que é particular, mas afirmou que ao
longo da última década ajudou "dezenas de milhares" de pessoas que
aspiravam mudar de carreira. (Esse número inclui pessoas que
participaram de oficinas e quem comprou seu livro "Test-Drive Your Dream
Job".)
O PivotPlanet possui tutores em cerca de 200 áreas de
atuação, de acupunturistas a terapeutas de cães, passando por
apresentadores de televisão. Você deseja ser meteorologista? Paul
Cousins, de Portland, Maine, dará conselhos via Skype por US$ 84 por
hora. Quer ser vinicultor? O site conta com quatro tutores. Está
interessado em se tornar um "pequeno construtor"? Brad Kittel, em
Luling, Texas, mostra como fazer isso.
Alguns dos tutores são surpreendentemente
famosos. Por US$ 130 a hora, um aspirante a escritor pode receber a
tutoria de Ethan Watters, jornalista e autor do livro "Urban Tribes"
(Tribos Urbanas, em tradução livre), publicado em 2004. Clique em "DJ"
no PivotPlanet e poderá falar com Cut Chemist por US$ 180 a hora. Ele
era um dos membros do grupo de rap Jurassic 5, e suas músicas tocaram em
comerciais da Apple e no filme "Amor Sem Escalas".
Há também o item "dono de cafeteria", com apenas um nome na lista: Duncan Goodall, de New Haven, por 180 dólares a hora.
"A grana é boa, mas essa não é a verdadeira razão para
que eu faça isso", afirmou Goodall, de 41 anos, quando o visitei no
Koffee on Audubon. "Gosto de ensinar e, em um nível filosófico mais
profundo, acredito que as pessoas são mais livres e felizes quando são
donas do próprio negócio".
Goodall tem a atitude de quem se livrou do azar: afinal,
sua empresa o salvou. Depois de se formar em Yale em 1995, ele entrou
para a Bases, uma divisão da Nielsen que oferece consultoria e previsão
para novos produtos. Depois de seis anos, ele foi para outra empresa de
consultoria e continuava se sentindo sobrecarregado e triste.
"Estava me transformando em um babaca grande e gordo,
tanto literal, quanto figuradamente", afirmou Goodall. "Não dava mais
pra viver daquele jeito." No verão de 2002, Goodall estava no Koffee,
como a cafeteria é conhecida, bem em frente ao campus de Yale. Ele
costumava frequentar o lugar quando ainda estava na graduação.
"Estava olhando em volta e pensando: 'Santo Deus, esse
lugar já viu dias muito melhores'. O ambiente estava sujo e o café com
um gosto horrível. Os funcionários eram mal educados e grosseiros com os
clientes".
Ainda assim, havia um número surpreendente de clientes
ali dentro. Goodall encontrou o dono e perguntou se ele estaria pensando
em vendê-lo. "E ele disse: 'Na verdade, coloquei o café a venda há dois
meses'."
Não existem dados confiáveis sobre a frequência com a
qual os americanos mudam de carreira, mas o número certamente está
crescendo, seja porque a recessão agitou o mercado de trabalho, ou
porque muitas pessoas desempregadas não conseguiram mais encontrar
empregos semelhantes ao que faziam antes. Além disso, há o crescimento
de profissões como consultoria, que muitos profissionais – assim como
Goodall – abandonam depois de aprender uma série de habilidades que pode
utilizar em outro contexto.
Goodall comprou o Koffee, começou a reformá-lo e, logo em
seguida, deixou o emprego como consultor e reabriu a cafeteria em
janeiro de 2003. Em quatro meses ele começou a lucrar com uma empresa
que estava dando US$ 2 mil de prejuízo por mês. Ele abriu duas outras
cafeterias na cidade – ambas faliram, ao passo que a Koffee original
continuou de vento em popa e agora conta com 16 funcionários.