Companhias asiáticas serão as vedetes da primeira licitação que o Brasil realiza de suas gigantescas reservas descobertas há seis anos
Manifestação dos trabalhadores da indústria petroleira na Avenida Paulista em 17 de outubro de 2013
Rio de Janeiro - As companhias de petróleo asiáticas,
principalmente as chinesas CNOOC e CNPC, serão as vedetes da primeira
licitação que o Brasil realiza de suas gigantescas reservas descobertas
há seis anos em águas profundas e conhecidas como "pré-sal", disseram especialistas.
"Os mercados esperam que as companhias asiáticas - ávidas por garantir
reservas de petróleo - sejam as estrelas do leilão que será realizado na
segunda-feira porque as 'maiores', as grandes petroleiras americanas,
não vão participar", declarou à AFP, Carlos Assis, responsável pelo
Centro de Energia e Recursos Naturais da consultoria Ernst&Young.
O campo que irá a leilão é o de Libra, localizado em águas
ultraprofundas na bacia de Santos, com reservas recuperáveis de petróleo
de entre 8 e 12 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional de
Petróleo (ANP).
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quinta-feira que o
país espera investimentos de 180 bilhões de dólares com esse campo nos
próximos 35 anos.
Onze empresas, entre elas a Petrobras, pagaram, cada uma, mais de dois
milhões de reais para participar da licitação do campo que poderá
produzir até um milhão de barris de petróleo por dia (b/d) em cinco
anos, a metade da produção total do país atualmente.
O Estado brasileiro deverá receber pelo menos 41,6% do petróleo produzido, segundo o contrato estabelecido pela ANP.
Das onze empresas interessadas, sete estão entre as de maior valor de
mercado do mundo: China National Corporation (CNPC, 2ª), a
anglo-holandesa Shell (3ª), a colombiana Ecopetrol (6ª), Petrobras (7ª),
a francesa Total (8ª), China National Offshore Oil Corporation (CNOOC,
10ª), e a sino-espanhola Repsol/Sinopec (Sinopec, 11ª), informou a
entidade governamental.
A primeira licitação do "pré-sal" no Brasil gera grandes expectativas no país, mas também a oposição de alguns setores.
Trabalhadores da Petrobras iniciaram uma greve por tempo indefinido
nesta quinta-feira para exigir a "suspensão imediata" do leilão. Eles
denunciam "riscos sobre a soberania" e perdas para o Brasil "se as
petroleiras internacionais se apropriarem de Libra".
Cerca de 100 ativistas de movimentos sociais ocuparam na sexta-feira a
sede do Ministério de Energia em Brasília, também em protesto contra a
leilão.
Petrobras será a única operadora
Controlada pelo Estado, a Petrobras será a única operadora (encarregada
da extração) e terá 30% de participação mínima nas concessões de Libra e
das próximas que possa outorgar no pré-sal, depois de uma lei aprovada
em 2010.
Esta nova lei, por iniciativa do então presidente Luiz Inacio Lula da
Silva (2003-2010), cria um fundo com os royalties do petróleo que serão
destinados em boa parte à saúde e educação.
A ANP entrega em concessão os 70% restantes e o leilão será vencido
pela empresa ou consórcio que oferecer a maior quantidade de petróleo ao
Estado brasileiro acima do mínimo.
Um estudo da consultoria Ernst&Young concluiu que "a expectativa
dos mercados é que as sociedades chinesas proponham entregar pelo menos
50% do petróleo produzido" ao Estado.
O Brasil anunciou em 2007 a descoberta dessas jazidas a grande profundidade em sua costa, em uma área de 149.000 km².
Libra ocupa uma área de 1.500km² na bacia de Santos, a 183 km da costa.
"À exceção da Shell (Inglaterra-Holanda) e da Total (França), as
'maiores' não participam por uma série de fatores de risco, como a
dificuldade de extração, risco geológico ou o percentual de petróleo que
será entregue ao Estado", explicou Assis, para quem outro fator que
desencoraja os investidores é que será criada outra estatal brasileira
para gerir o "pré-sal".
Para o especialista em planejamento energético da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Alexandre Szklo, os leilões servirão "de
ensaio" para o futuro do "pré-sal".
O analista justificou uma maior presença estatal nesta licitação pelo
fato de que se trata de "um campo promissor com risco geológico baixo".