domingo, 27 de outubro de 2013

Alexandre Padilha: "O PT me vê como um nome para acabar com os 20 anos de PSDB"


Indicado pelo PT para disputar o governo paulista, o ministro da Saúde fala de sua candidatura, da renovação do PT e defende o programa Mais Médicos

LEONEL ROCHA E FELIPE PATURY
 
 
MAIS CANDIDATO O ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele foi apontado pelo PT para disputar o governo de São Paulo (Foto: Igo Estrela/ÉPOCA)


O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, está saindo da toca. Há dois meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o investiu como candidato petista ao governo de São Paulo. Padilha terá uma tarefa árdua: impedir a reeleição do tucano Geraldo Alckmin e encerrar duas décadas de comando do PSDB no Estado mais rico do Brasil. Na semana passada, Padilha se sentiu mais apto à tarefa. A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei do programa Mais Médicos, com que Padilha pretende coroar sua gestão. Será seu principal trunfo para a campanha eleitoral no próximo ano. Ainda reticente no figurino de candidato, nesta entrevista ele dá as primeiras estocadas no PSDB.

ÉPOCA – O senhor é candidato ao governo de São Paulo?

Alexandre Padilha –
Estou atento às manifestações do PT, do ex-presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva) e de aliados da presidente Dilma Rousseff que dizem que meu nome é forte, positivo e renovador. Fico feliz em ser visto como um nome para acabar com o cansaço de 20 anos de governo do PSDB em São Paulo. O PT me vê como esse nome, mas nunca tratei do tema com a presidente. Quero merecer sua confiança para ficar no ministério o tempo que ela quiser. Se a presidente falar para ficar, eu fico. Quem determina meu futuro é ela.
ÉPOCA – Caso sua candidatura seja consolidada, como defende o PT paulista, o que pode ser feito para melhorar a saúde no Estado?

Padilha –
Os debates eleitorais começam em 2014. Estive e estou concentrado no programa Mais Médicos e nas outras tarefas do ministério.

ÉPOCA – Entre as muitas críticas ao Mais Médicos, sobressai a de que ele desvia o foco dos verdadeiros problemas da saúde, a falta de dinheiro e a má gestão.

Padilha –
O Mais Médicos quebrou um tabu: dizer que não faltam médicos no país. Mudou também o conceito de que só se faz saúde dentro de um hospital cheio de equipamentos. Nos últimos anos, o Brasil reduziu a mortalidade infantil mais que a América Latina e os Brics. As crianças precisam, agora, de pediatra. Aumentamos o acesso a medicamentos de hipertensão e diabetes, e a mortalidade cardiovascular caiu. É preciso, agora, mudar os hábitos relacionados a essas doenças. O perfil epidemiológico do país mudou. O SUS tem quatro desafios. O primeiro é formar médicos. O Brasil não terá saúde universal com, proporcionalmente, menos médicos que a Argentina. O segundo é o financiamento. Com o fim da CPMF, a saúde perdeu R$ 40 bilhões. O terceiro é a gestão. É preciso aprovar a Lei de Responsabilidade Sanitária, que estabelece regras e punições para quem não cumpri-las. O quarto é aumentar a capacidade de produzir e ofertar medicamentos.

ÉPOCA – O senhor se debruçou sobre as questões de saúde de São Paulo?

Padilha –
De São Paulo e do Brasil inteiro. Os municípios e o governo estadual podem aproveitar mais as oportunidades que o Ministério da Saúde dá. Com relação ao combate ao crack. Colocamos à disposição do Estado R$ 500 milhões para ampliar a rede de enfrentamento à droga, com consultórios na rua. 
"São Paulo foi a locomotiva.

ÉPOCA – Há posições antagônicas sobre o combate ao crack. A prefeitura petista defende o tratamento dos dependentes nas ruas. O governo estadual tucano defende a internação. Quem tem razão?

Padilha –
É preciso haver menos polêmica e mais ação. Não existe verdade absoluta nisso. Milhares de jovens e famílias sofrem com o crack. Tem espaço para todo mundo. O ministério atuará para que instituições públicas ou privadas ampliem a rede de atendimento. Essa é a diferença do programa Crack – É Possível Vencer em relação a outras iniciativas. Propusemos a construção de uma rede que ofereça tipos de atendimentos diferentes para situações diferentes. Ele só não dá espaço para quem não respeita direitos humanos e trata o paciente de crack como traficante. Ou seja, com segurança, com autoridade e com polícia.

ÉPOCA – Como conter, então, a violência associada ao crack?

Padilha –
Com uma ação articulada entre cuidado, prevenção e segurança. É a diferença entre o programa Crack – É Possível Vencer e iniciativas que não geram ações articuladas. Não se mexe na realidade urbana sem cooperação entre as guardas municipais, as polícias militares e a Polícia Federal. É preciso combinar o combate ao tráfico com ações de saúde.

ÉPOCA – Interceptações telefônicas comprovaram recentemente que o tráfico em São Paulo é controlado das cadeias. Como se resolve um problema de segurança dessa magnitude, que causa uma epidemia de dependentes?

Padilha –
Não é só qualquer paulista, como eu, que fica preocupado quando conhecem diálogos. É qualquer brasileiro. A chave para resolver o problema está na forte cooperação entre a Polícia Federal e estruturas estaduais e municipais de combate ao tráfico e de garantia da ordem pública.

ÉPOCA – O senhor se considera um exemplo de renovação do PT?

Padilha –
Não tenho dúvida de que sou de uma nova geração do PT, como o (prefeito) Fernando Haddad. Sou de uma geração que começou na política na primeira eleição de Lula, mas vivi e aprendi muito com as gerações anteriores. Respiro política desde que nasci. Meu pai, Anivaldo Padilha, era da Ação Popular durante a ditadura. Foi preso e exilado no Chile, nos Estados Unidos e na Suíça. Tinha 6 anos quando o abracei pela primeira vez. Eu me comunicava com meu pai por gravações de fita cassete ou por carta. Quando encontrei um dos meus irmãos, ele tinha 4 anos. Ele pensava que eu morava na caixinha do gravador onde meu pai guardava minhas fitas. Minha mãe, doutora Léa, pediatra, era do PCdoB. Até meus 4 anos, ela e eu moramos em vários bairros de São Paulo, em Minas Gerais e Maceió. São Paulo foi a locomotiva. Agora, tem de ser um avião supersônico nos temas nacionais   O ex-presidente Lula sempre apostou em formar novas lideranças e dar oportunidades a novas gerações. Em 2004, me nomeou ministro da Secretaria de Relações Institucionais. Aprendi muito. Sinto-me muito feliz de ser visto como uma renovação do PT. Mas essa renovação não é só de nomes, pessoas e faixa etária. O PT precisa compreender, e acho que compreende, seu novo papel. Nos últimos dez anos, mudamos o país. Agora, temos de construir um projeto que continue os avanços.

ÉPOCA – E como o Estado de São Paulo se encaixa nessa mudança? Pode dar um exemplo?

Padilha –
Existe um cansaço em relação aos 20 anos de PSDB em São Paulo. Não é só o PT que sente isso. Outros partidos terão candidatura, porque também sentem isso.
Nosso Estado sempre cresceu mais que a média do país. São Paulo foi a locomotiva do Brasil. Outro dia, disse que tem de ser um avião supersônico, para voltar a crescer mais que a média e influenciar nos temas nacionais. O PSDB perdeu a capacidade de renovação e de entender o que mudou para dar um novo salto. O Brasil ocupou outro lugar no mundo. São Paulo tem de ocupar um novo espaço também. Tem de ser referência para políticas públicas desenvolvidas na Europa, nos Estados Unidos, no Sudeste Asiático para enfrentar a pobreza, para a segurança e para a inovação tecnológica.

ÉPOCA – Pode dar um exemplo de como fazer isso?

Padilha –
A política de inovação tecnológica que desenvolvemos no Ministério da Saúde. Ela permite que indústrias privadas instaladas em São Paulo desenvolvam tecnologias com parcerias público-privadas. Pode ser um exemplo para o mundo. Com os hospitais públicos e privados que tem, São Paulo pode ser uma cidade de turismo de saúde. Também pode ser um polo de atração de turismo médico, indústria médica, produtos e insumos, recuperando também a capacidade de atrair indústrias. São Paulo já tem a segunda maior feira hospitalar do mundo. Pode disputar, não só em quantidade de pessoas, mas em tecnologias a incorporar. Isso pode ser feito com estímulos tributários e financeiros.

ÉPOCA – Que outros problemas o senhor vê na atual gestão?

Padilha –
Não vou elencar. Mas, como paulista e paulistano, sei que um dos maiores problemas é o transporte público na capital e na região metropolitana. Ele precisa ser enfrentado com coordenação e cooperação entre o governo federal, do Estado e dos municípios. O cidadão às vezes perde duas horas no trânsito. É ruim também para quem tem carro e faz a região metropolitana de São Paulo perder competitividade na economia.  


O modelo pró-exportação da Alemanha não serve a ninguém

Modelo alemão, baseado em exportações, cortou salários e direitos sociais, reduzindo o potencial da demanda doméstica. Quem deseja isso? Por Vicenç Navarro



Vicenç NavarroEBC O ministro das Finanças do governo alemão, Wolfgang Schäuble, escreveu um artigo no El Pais (20/07/13, p.31) significativamente intitulado "Nós não queremos uma Europa alemã", no qual enfatizou que a última coisa que a Alemanha quer é que a Europa seja uma réplica de seu país, negando qualquer tentativa de alemanizar a Europa. Na verdade, o ministro observou que não é a intenção do governo alemão liderar o desenvolvimento da União Europeia, um processo que, sublinha , deve ser construído por todos e com todos os países, em uma decisão coletiva. Esta posição de Schäuble é, segundo ele, a dos sucessivos governos alemães, de Schroeder para Merkel.
 
Esta posição, no entanto, está claramente em conflito com a própria narrativa e argumentação utilizada pelo ministro alemão para explicar por que a UE não consegue sair da crise. Para a maioria dos países da UE (e não apenas na periferia da zona do euro, mas também no centro, com França e Itália), a situação atual é intolerável. E nenhum deles parece fora dessa situação de crescimento econômico mais lento, quando não de retração.
 
Bem, de acordo com Wolfgang Schäuble, o que esses países precisam fazer são "reformas no mercado de trabalho e no sistema de proteção social" (uma frase que aparece repetidamente em seu artigo), “como fez a Alemanha" (uma frase que aparece duas vezes no artigo). E, para afastar as críticas de que ele está recomendando seguir o modelo alemão, refere-se que esse é o “modelo proposto por BCE, a Comissão Europeia, a OCDE e o FMI, chefiada por um italiano, um português, um mexicano e um francês, nenhum alemão" (não há nada melhor que sejam outros os que propõe e/ou apoiem suas propostas). Por trás da retórica do ministro, o que estamos vendo é que o governo da Alemanha está a impor o modelo alemão por agências sobre as quais tem uma enorme influência. E isso ele mesmo admite, usando outros termos. Consideras exemplares as reformas trabalhistas e sociais da Agenda 2010, iniciada pelo chanceler Schröder, que admite que foram "dolorosas", mas que salvaram o "homem doente" que era a economia alemã . De acordo com o ministro, essas reformas deram confiança aos investidores, permitindo a recuperação econômica, e também devem ser feitas em todo o território europeu.
 
Este é o diagnóstico do ministro e as suas recomendações, as quais, disse ele, a população europeia apoia e exige. Ele escreve que "de acordo com as pesquisas uma clara maioria dos cidadãos, não só do norte, mas do sul da Europa, defendem reformas e redução da dívida e dos gastos públicos para superar a crise”. Eu tenho que admitir que eu tive que ler essa frase duas vezes, porque eu pensei que tinha perdido alguma coisa. Não, o ministro disse isso mesmo. É, enfim, um dogma que é reproduzido pelo establishment conservador-liberal que domina a condução da União Europeia, sob a liderança do governo alemão.
 
Por que o modelo alemão não é um modelo

No mesmo dia em que li este artigo, também li um interessante relatório do Conselho Europeu de Relações Exteriores, com o título “Um modelo alemão para a Europa?”, escrito por Sebastian Dullien (professor de Economia Internacional da Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim), que questiona de cima abaixo os argumentos apresentados pelo ministro das Finanças alemão, indicando que nem o crescimento da economia alemã e baixo desemprego provêm das reformas da Agenda 2010, nem o modelo alemão é um bom modelo para o resto da União Europeia. E mostra uma série de evidências para apoiar suas críticas. Vamos ver os dados.
 
O relatório de Dullien descreve em detalhes as reformas da Agenda 2010, início das reformas supostamente bem-sucedidas. Tais reformas buscaram fazer mudanças no mercado de trabalho, o que resultou em um mercado de trabalho dual, com a divisão clara entre trabalhadores permanentes e temporários. O último setor cresceu dramaticamente, com a base de empregos precários e de baixo custo. Essas reformas foram iniciadas em 2003 e continuaram com o governo Merkel. Também como parte das reformas, houve redução de gastos do governo, incluindo os gastos sociais com alguns direitos que deixaram de ser universais (ou seja, direitos de cidadania) para serem setoriais ou assistenciais. Essas reformas foram altamente impopulares, causando posterior derrota eleitoral. E assim tem sido em todos os países onde estão sendo implementadas tais medidas. Na verdade, a maioria das pesquisas mostra que a grande maioria das pessoas que vive na UE não está a favor, como o que ministro escreve, mas contra essas reformas.
 
Algo semelhante acontece com os cortes nos gastos públicos que caracterizaram a Agenda 2010, incluindo os gastos sociais, muitos substanciais em educação, pesquisa e desenvolvimento. Todas estas reformas tiveram pouco impacto sobre o crescimento da produtividade. Na realidade, como mostrado por Sebastian Dullien, o crescimento da produtividade do trabalho na Alemanha tem sido menor nos anos 2000 do que na década anterior (surpreende, portanto, um artigo neste sentido de Schröder no Financial Times, em 05/06/13, em o autor aconselha que a França copie a Alemanha nessas intervenções, quando na verdade o crescimento da produtividade alemã é menor do que o francês).
 
O que foi muito acentuado é a diminuição de salários, que caminhou abaixo até do avanço do nível de produtividade laboral, uma situação que é ainda mais pronunciada quando se considera a diminuição do investimento. Em outras palavras, o crescimento da produtividade depende do trabalhador (e de seu salário) e dos investimentos em infraestrutura. Bem, tem havido um declínio muito acentuado do investimento público e privado e, assim, o crescimento da produtividade baseou-se principalmente na redução de salários. Em 2008, 20% da população trabalhadora recebeu baixos salários e 40% viram uma diminuição em seus salários no período 2000-2006.
 
Essa diminuição salarial, e as políticas de corte de gastos públicos, criaram um grave problema de demanda doméstica por todos estes anos, um problema que foi concebido pelas políticas estatais que têm favorecido as exportações para os outros países da zona do euro e os países emergentes. Esse alto grau de dependência da economia de exportação e da falta de atenção à demanda interna e aos investimentos e gastos públicos tornam extremamente vulnerável a economia alemã às oscilações e crises na economia global, e especialmente na zona do euro.
 
Mas exportar o modelo alemão não é viável na zona do euro, pois as políticas de austeridade e os baixos salários (que é a receita alemã) estão criando uma escassez de demanda, a origem da crise atual. O modelo alemão não é bom, nem para a Alemanha ou o resto da zona euro. Ele favorece apenas o setor de exportação, que se beneficia provisoriamente dessa situação, até que se reduza a demanda por seus produtos, resultado da recessão global.

* Professor de políticas públicas da Universidade Pompeu Fabra e da Universidade Johns Hopkins. Publicado em VNAVARRO.ORG, este artigo responde o publicado no El Pais pelo ministro das Finanças alemão.
 

Câmara pode votar Marco Civil da Internet na próxima terça


O governo brasileiro quer aprovar logo a proposta, no contexto do questionamento das ações de espionagem dos Estados Unideos no ambiente virtual

Lionel Bonaventure/AFP
Internet

Internet: às 11h, será realizada sessão extraordinária para o inicio das discussões do Marco Civil

Brasília - O inicio da discussão e votação em plenário do Marco Civil da Internet e do Código de Processo Civil (CPC) são os destaques do plenário da Câmara dessa semana. As discussões e votações das duas propostas devem começar na terça-feira (29). Inicialmente, às 11h, será realizada sessão extraordinária para o inicio das discussões do Marco Civil. O relator da matéria, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), defende a votação do projeto mesmo sem consenso.

Não há acordo para a votação do Marco Civil da Internet porque o assunto é polêmico e encontra resistência de algumas empresas atingidas pela legislação, como telefônicas e proprietárias de provedores de conexão. O projeto tramita com urgência constitucional e passa a trancar a pauta de votação da Câmara de Deputados a partir de amanhã (28).

Segundo o deputado Molon, as empresas que estão contra a matéria não querem o princípio da neutralidade da rede, que impede que as operadoras definam quais os tipos de acesso por parte do usuário teriam maior ou menor velocidade dentro dos pacotes oferecidos. Por outro lado, os debates para a votação do CPC estão marcados para a noite de terça-feira, também em sessão extraordinária, à noite.

O governo brasileiro quer aprovar logo a proposta, no contexto do questionamento das ações de espionagem dos Estados Unideos no ambiente virtual. No início de outubro, a presidenta Dilma Rousseff disse que, assim que for aprovado pelos parlamentares, o projeto do Marco Civil da Internet será enviado como proposta à Organização das Nações Unidas (ONU).

Na tarde de terça-feira, às 15h, a Câmara fará uma sessão solene para a entrega da medalha Suprema Distinção da Câmara ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A homenagem ao ex-presidente foi proposta pelos deputados Simão Sessim (PP-RJ) e Eduardo da Fonte (PP-PE).

A medalha foi instituída em 2002 para homenagear governantes e personalidades brasileiros e estrangeiros que tenham prestado relevantes serviços ao Brasil. O distintivo já foi entregue a 15 pessoas, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o poeta Carlos Drummond de Andrade e a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns.

Também estão na pauta de votações dessa semana, algumas propostas de Emenda à Constituição (PECs). Entre elas, a que dá prazo de 360 dias ao Supremo Tribunal Federal (STF) para enviar ao Congresso projeto de lei instituindo o Estatuto dos Servidores do Judiciário, que precisa ser votada em segundo turno, e a que efetiva sem concurso público os atuais titulares de cartórios de notas ou de registro, a chamada PEC dos Cartórios.

A um ano das eleições, a economia está no palanque



Por Débora Bergamasco e João Villaverde

Um ano antes das eleições presidenciais, a economia já subiu no palanque e virou o terreno de disputa entre o governo Dilma Rousseff e a oposição. Na busca por empresários e por apoio do mercado, cada pré-candidato vem tentando de todas as formas convencer que os tempos de crescimento econômico vão voltar em 2015.
 
No governo, os sinais são de que a "era Dilma II" começará sem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e terá um aprofundamento da estratégia de redução das taxas de juros e desvalorização cambial. Os tucanos, por outro lado, defendem uma forte abertura comercial, o fim das desonerações tributárias a setores específicos, como o atual governo vem fazendo, e o retorno de uma visão mais liberal na economia.

Já o grupo em torno de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva busca se chancelar como alternativa de política econômica. Para isso, aponta para a recuperação do "tripé macroeconômico clássico" (superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante) e desenvolvimento sustentável.

Segundo Campos afirmou ao Estado, as propostas econômicas serão devidamente explicadas em um documento que será editado pelo PSB e por militantes da Rede recém-filiados aos socialistas. "Há uma crise de expectativa em relação ao atual governo", diagnosticou ele.

Além disso, o grupo de Marina conta com economistas desenvolvimentistas, descontentes com a gestão Dilma, como Paulo Sandroni, da FGV-SP, e liberais antes ligados ao PSDB, como André Lara Resende (um dos formuladores do Plano Real) e Eduardo Giannetti da Fonseca.

Um dos principais conselheiros de Lula e também da presidente Dilma, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo avisa: "A questão realmente importante agora é saber como será o cenário para os investimentos a partir de 2015. Os empresários, que são os que contratam trabalhadores e investem em tecnologia, produção e serviços, querem saber quem pode assegurar que haverá terreno para se investir fortemente, e isso fará o crescimento deslanchar."


Crescimento


Ao Estado, o presidente nacional do PSDB, senador e virtual candidato Aécio Neves (MG), afirmou que uma mudança na condução da economia, que faça o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) voltar para um patamar de 4% ou mais, só ocorrerá com a volta dos tucanos ao poder federal.

"Uma vitória do PSDB sinaliza o encerramento de um ciclo de pouca capacidade gerencial, de privilégios setoriais e de uma economia extremamente fechada e ancorada nos bancos públicos; será a mudança para uma coisa diferente, nova", disse Aécio, que esteve em Nova York para encontro com investidores estrangeiros, há duas semanas, e voltou animado: "Todos querem mudança", disse.

O candidato presidencial tucano da última eleição, José Serra (SP), por sua vez, criticou os últimos leilões realizados pelo governo Dilma, que fez das concessões de empreendimentos e obras de infraestrutura ao setor privado sua principal estratégia para recuperar o crescimento econômico.

"O governo interfere ao máximo nas licitações que propõe", afirmou Serra, segundo quem "não dá para interferir na taxa de retorno do empresário; o que se deve fazer é fixar parâmetros e condições mínimas, e então leiloar", disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Qualificação na pauta


A empresária Luiza Trajano, presidenta do Magazine Luiza, será a coordenadora de um grupo que vai estudar e propor a criação de incentivos a empresas que investem no treinamento dos funcionários

por Denize Bacoccina

Trabalho
 
A empresária Luiza Trajano, presidenta do Magazine Luiza, será a coordenadora de um grupo que vai estudar e propor a criação de incentivos a empresas que investem no treinamento dos funcionários. Numa conversa entre um grupo de empresárias com a presidenta Dilma Rousseff, na semana passada, a baixa qualificação da mão de obra foi o assunto mais discutido. Dilma pediu a ajuda das empresárias para melhorar a formação profissional no País.
 
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Inovação
 
Autopeças na fila
 
 
Além de R$ 8,3 bilhões em investimentos anunciados por 11 montadoras, o programa Inova Auto tem mais três projetos, num total de R$ 1,34 bilhão, em análise no Ministério de Desenvolvimento. Os técnicos da pasta trabalham agora na elaboração de outro programa, o Inovar Autopeças, que vai incentivar a produção de autopeças no Brasil, em detrimento de equipa­mentos importados.
 
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Varejo
 
Taxa indigesta
 
Técnicos do Banco Central vêm prometendo ao setor de comércio varejista que até o fim do ano serão lançadas normas que regulamentam o fim da exclusividade das maquininhas para transação  de cartões-alimentação. Bares, restaurantes e supermercados vêm fazendo uma campanha constante contra as taxas que incidem sobre o valor dessas operações, superiores às praticadas pelos cartões de débito e crédito.
 
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Meio ambiente
 
Balcão único de licenças
 
Entidades do setor elétrico vão entregar, na quinta-feira 17, aos ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, projeto que cria uma autarquia federal para substituir os 16 órgãos que hoje atuam no licenciamento ambiental. Esse balcão único já é alvo de discussão no Congresso e tem o apoio do governo.
 
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Superávit
 
Extras a caminho
 
A pressão do mercado para a redução da meta de superávit primário não sensibiliza o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Apesar de a economia para o pagamento de juros estar 28% menor neste ano, em relação ao ano passado, o ministro confia na entrada de receitas extras, como os R$ 15 bilhões do Campo de Libra e o refinanciamento de dívidas em atraso, para fechar a conta.
 
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Contas de luz
 
Medição em dobro
 
O deputado federal Felix Mendonça Júnior (PDT-BA) alegou o “ceticismo” do consumidor ao propor a instalação de um segundo medidor de consumo de luz, água, gás e telefone, para que o usuário possa conferir seus gastos. O projeto, de 2011, começou a tramitar na Comissão de Defesa do Consu­mi­dor na semana passada. Até a Abinee, que representa os fabricantes desses equipamentos, acha que a duplicidade seria um desperdício de dinheiro.
 
 
 
 
Notas
 
Não saiu de graça o apoio do governo brasileiro ao presidente do Paraguai, Horácio Cartes, acusado por fabricantes de cigarro brasileiros de contrabando do produto para o País. Em visita a Brasília no fim de setembro, ele prometeu pressionar o Senado para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul, acabando com as disputas entre os países do bloco.
 
 
 
Há três anos, o Ibama foi encarregado pelo Ministério do Meio Ambiente de criar o Sistema Integrado do Cadastro Ambiental Rural, o Sicar. Não conseguiu. Agora, a tarefa foi dada à Universidade Federal de Lavras, que já tem o cadastro do Rio Grande do Sul. 
O sistema integrado, com as informações das propriedades rurais de todo o País, ficou para dezembro.

Procuram-se CEOs

Procuram-se CEOs


Conhecido como o partido das lideranças regionais, o PMDB quer se transformar também na legenda dos políticos empresários e executivos

por Denize Bacoccina

Política

Conhecido como o partido das lideranças regionais, o PMDB quer se transformar também na legenda dos políticos empresários e executivos. Depois de manter em seus quadros representantes de grandes entidades empresariais, como Paulo Skaf (Fiesp) e Clésio Andrade (CNT), a legenda filiou Kátia Abreu (CNA) e os empresários Josué Gomes (Coteminas) e Junior Friboi (ex-JBS). O diretório nacional vai trabalhar no discurso de “o partido do setor produtivo” nas eleições de 2014.
 
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Congresso
 
Agro em expansão
 
A bancada agropecuária no Congresso, com 235 deputados e 33 senadores, deve ganhar mais força em 2014. Além da filiação ao PR do empresário Maurílio Biagi Filho, convidado para vice na chapa do petista Alexandre Padilha na disputa em São Paulo, outros representantes do setor se filiaram a partidos e estão preparando suas candidaturas.
 
 
 
Infraestrutura
 
Conflitos portuários
 
A Coamo, de Campo Mourão (PR), maior cooperativa agrícola da América Latina, autoridades e usuários do Porto de Paranaguá estão cobrando da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, mudanças no edital de licitação do terminal, que está em fase de consulta pública. O governo quer relicitar as duas áreas que a Coamo mantém no porto e cujos contratos ainda não venceram. Gleisi prometeu buscar um acordo.
 
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Embrapa
 
Tecnologia no mercado
 
Até o fim do ano deve ser criada, no Congresso, a Embrapatec, subsidiária da Embrapa que vai facilitar as parcerias com o setor privado para comercializar produtos, serviços e tecnologias desenvolvidas pela estatal de pesquisa agropecuária. Com a nova empresa, deve entrar em refluxo o debate sobre a privatização da Embrapa.
 
 
 
 
Petróleo
 
Ajudando menos
 
O Departamento de Economia do Bradesco fez as contas da balança comercial brasileira, excluindo as exportações de plataforma de petróleo, já que se trata de uma operação apenas contábil. Com essas mudanças, o saldo “real” estaria negativo em US$ 4,4 bilhões – enquanto o dado oficial é de um superávit de US$ 246 milhões.
 
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Eleições
 
Campos e o empresariado
 
Depois de flertar com o senador e virtual presidenciável Aécio Neves (PSDB), em jantar oferecido por Joel Malucelli, do grupo J. Malucceli, em Curitiba, dezenas de empresários paranaenses vão se e­ncontrar nos próximos dias com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Apesar de vários deles terem garantido apoio ao tucano, querem ouvir o que Campos tem a dizer sobre economia.
 
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Notas
 
O Siafi, sistema que registra todos os gastos do governo federal, vai passar por modi­ficações. 
O Serpro trabalha numa reformulação para tornar o site mais amigável e facilitar a consulta das informações por parte do usuário comum.
 
 
Enquanto espera a liberação, pelo TCU, do edital para a concessão das novas ferrovias, o governo trabalha em outros projetos para viabilizar os novos investimentos. A Casa Civil está finalizando uma Medida Provisória que vai permitir que a Valec compre toda a carga das ferrovias, garantindo a demanda.

Caixa desacelera


A Caixa está cumprindo a ordem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de reduzir os financiamentos a grandes empresas e assim evitar a necessidade de um novo aporte por parte do Tesouro

por Denize Bacoccina

Bancos
 
A Caixa está cumprindo a ordem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de reduzir os financiamentos a grandes empresas e assim evitar a necessidade de um novo aporte por parte do Tesouro. Entre junho e setembro, a concessão de crédito caiu 8%, sendo que para a pessoa jurídica a retração chegou a 18%. A carteira de crédito da instituição cresceu 42% no ano passado, mas a ordem é fechar 2013 com expansão de, no máximo, 37%. Até setembro, a alta foi de 40%. Apesar da demanda, os gerentes agora dizem “não” a grandes clientes, que acabam por recorrer aos concorrentes privados.
 
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Desoneração

Sem chance
 
A Fazenda não vê espaço para novas desonerações neste ou no próximo ano. Na semana passada, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, apresentou ao ministério uma proposta de redução de IPI para máquinas produzidas no Brasil, nos moldes do Inovar Auto. No entanto, o momento é de recompor receitas, como a volta gradual do IPI para os carros.
 
 
 
 
Transposição

De olho no canal
 
A troca de comando no Ministério da Integração Nacional não alterou o cronograma para a execução das obras de transposição do rio São Francisco – que já estava mesmo atrasado e só será concluído, possivelmente, em 2015. No fim de novembro, a presidenta Dilma Rousseff deve visitar as obras de infraestrutura em três trechos: os canais de Jati, no Ceará; de Cabrobó, em Pernambuco; e São José de Piranhas, na Paraíba.
 
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Mercosul-UE

Nas mãos de los hermanos
 
Depende agora da Argentina a proposta conjunta do Mercosul para reabrir as negociações com a União Europeia (UE) para o acordo de livre comércio. A lista brasileira com redução de tarifa abrange 87% de produtos, enquanto o governo de Cristina Kirchner deve aceitar a redução de cerca de 80% dos itens. A UE havia pedido 90%, mas já sinalizou que aceita conversar.
 
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Petróleo

Indústria garante
 
O governo não duvida da capacidade da indústria brasileira para entregar os equipamentos necessários para a exploração do pré-sal. Os critérios de conteúdo nacional foram estabelecidos em conjunto com os fabricantes, durante 27 reu­niões realizadas desde o ano passado, nas quais cada item foi analisado. A indústria queria mais do que os 59% fixados para depois de 2022.
 
 


Câmbio

Ajuda fiscal
 
A alta do dólar, em julho e agosto, não deu fôlego apenas à indústria nacional. Também aumentou a arrecadação do Imposto de Importação, que cresceu 12% entre janeiro e setembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2012, com um volume de R$ 27,4 bilhões.
 
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Notas
 
O Hancock Timber Resource Group, gestor de US$ 11,5 bilhões em projetos florestais, está interessado em ampliar seus investimentos no Brasil. Representantes da empresa se reuniram com o gerente de projetos florestais da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Fernando Castanheira, em busca de mais informações sobre o mercado brasileiro.
 
O setor sucroalcooleiro trabalha na formação de uma segunda frente parlamentar na Câmara dos Deputados, para conscientizar a sociedade e elaborar propostas de apoio ao setor. Por enquanto o grupo, coordenado por Mendes Thame (PSDB-SP), conta com apenas quatro integrantes. “Sem apoio, o setor vai quebrar”, alerta.
 
 Colaborou: Carolina Oms