terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cofre com piscina de dinheiro será leiloado na Suíça


8 milhões de moedas eram parte de campanha para garantir uma renda mensal de 2.500 francos para cada habitante do país



Divulgação/JamesEdition
Cofre com 8 milhões de moedas na Suíça

São Paulo - Já pensou em nadar em uma piscina de moedas como o Tio Patinhas? Para alguém, este sonho pode estar prestes a se tornar realidade.

O site de leilões de luxo James Edition lista como disponível um cofre centenário localizado em Basileia, na Suíça.

Dentro dele, uma piscina de moedas de cinco centavos de francos suíços com peso de 5 toneladas e valor equivalente a 1 milhão de reais.


Iniciativa popular


O mais interessante é como todo esse dinheiro foi parar lá: despejado em praça pública na frente do banco como parte de uma campanha para que todos os suíços recebam do governo uma renda mensal de 2.500 francos.

As 8 milhões de moedas representam os 8 milhões de habitantes do país. Os organizadores também entregaram as 100 mil assinaturas necessárias a favor da proposta e o voto deve acontecer em breve.

A Suíça costuma fazer vários referendos por ano. Recentemente, o país votou contra uma proposta que colocaria um limite de 12 vezes na diferença de remuneração entre o funcionário mais bem pago e o menos bem pago dentro de uma empresa.

Veja dois vídeos que mostram o interior do cofre:

 http://www.youtube.com/watch?v=51Lbo1d3KDw

 http://www.youtube.com/watch?v=WwoMn3fgz9g

Edward Snowden busca asilo político no Brasil


Por Valor, com agências
 
 
AP Photo/The Guardian

SÃO PAULO  -  Edward Snowden, o ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), disse estar disposto a ajudar o governo brasileiro a investigar a espionagem americana em troca de asilo político no Brasil.

A informação foi publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo", que obteve acesso a uma carta assinada por Snowden ao povo brasileiro e que será enviada às autoridades do país.

Por meio de uma campanha na internet que permite a assinatura de petições, o ex-analista pretende obter o apoio da população brasileira para vir ao país. Esta deverá ser a segunda vez que o ex-consultor pede asilo ao governo brasileiro, recordou a Agência Brasil. Na primeira vez, ele teve o pedido negado.

Snowden diz, na carta, que vários senadores brasileiros pediram sua ajuda, mas que o governo americano tem limitado sua capacidade de agir e isso deve continuar até que ele consiga asilo político permanente. Atualmente, Snowden tem asilo temporário da Rússia.

Ontem, um juiz federal americano dizer que o programa da NSA de coletar dados telefônicos é provavelmente inconstitucional. A declaração por um tribunal do distrito de Washington saiu em meio a um grande debate sobre a legalidade de coletar os chamados metadados, expostos nos documentos vazados por Snowden.

Em junho, o jornal britânico Guardian foi o primeiro que publicou matérias sobre os programas de espionagem da NSA com base em alguns dos documentos que Snowden entregou ao jornalista americano Glenn Greenwald.

Em setembro, a presidente Dilma Rousseff criticou o caso de espionagem americana no Brasil, considerando que tal ação fere o direito internacional e "afronta os princípios que devem reger as relações" entre os países, especialmente, entre nações amigas.

"Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra soberania. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos e civis fundamentais dos cidadãos de outro país", salientou Dilma na ocasião.

No mesmo mês, a presidente Dilma Rousseff cancelou viagem oficial aos Estados Unidos programada para outubro por causa do caso de espionagem americana. 

A partir das revelações de Snowden, vários outros governos cobraram explicações de Washington.

Eletropaulo restituirá consumidores em R$ 626 milhões


Por Rafael Bitencourt | Valor
 
 
Davilym Dourado/Valor


BRASÍLIA  -  A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou que a Eletropaulo restitua os consumidores em R$ 626 milhões por ter contabilizado 246 mil metros de cabos na base de ativos que de fato não existiam.

De acordo com o diretor, André Pepitone, o valor deve ser considerado como “componente financeiro negativo” no cálculo dos quatro próximos reajustes tarifários anuais da distribuidora paulista. O repasse foi fatiado, segundo diretor, para evitar oscilação brusca na tarifa de energia e minimizar o impacto financeiro sobre o caixa da concessionária.

O diretor geral, Romeu Rufino, ressaltou que trata-se de uma “decisão complexa” pelo potencial de aumento da percepção de instabilidade regulatória no setor, mas também por envolver o entendimento de que houve ilegalidade por ter gerado ônus indevido aos consumidores.

O presidente da AES Eletropaulo, Britaldo Soares, que acompanhou a deliberação da diretoria, saiu sem dar entrevista. A assessoria do executivo informou que a companhia vai se posicionar por meio de comunicado.

Marco civil da internet é prioridade de Dilma, diz Ideli


Segundo a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, o marco é fundamental por causa da questão da espionagem realizada pelos EUA

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura, do
Antônio Cruz/ABr
A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, participa de café da manhã com jornalistas

Ideli Salvatti participa de café da manhã com jornalistas: "a presidenta deixou claro que não vai tirar a urgência do projeto do marco civil", declarou

Brasília - A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que o Marco Civil da Internet será o primeiro debate com o Congresso em 2014 e que ele é fundamental por causa da questão da espionagem realizada pelos Estados Unidos em relação ao Brasil.

"Se não, a Câmara não vota mais nada porque a presidenta deixou claro que não vai tirar a urgência do projeto do marco civil", declarou a ministra Ideli, em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, ao lembrar que o texto tranca a pauta e que é prioridade para o governo.

Segundo a ministra, depois do recesso, se não houver novo entendimento com os partidos, particularmente com o PMDB, a intenção do governo é por o texto em votação mantendo os dois pontos fundamentais: neutralidade da rede e armazenamento de dados no Brasil para fazer valer a lei brasileira.

Ideli fez questão de ressaltar que "não dá para dizer que não tem mais negociação".
Ela acredita que "sempre podem ter ajustes e sempre se pode negociar", mas ressalvou que o relator da matéria, deputado Alexandre Molon (PT-RJ), já fez reunião com todas as bancadas, com exceção do PMDB, que se recusa a negociar. "Mas eu acredito que nós tenhamos condições de evoluir, seja no debate e na discussão, ou seja na votação", comentou.

A ministra advertiu, no entanto, que "chega uma hora no Congresso que você debate, aprofunda, discute e faz acordos e quando chega na hora do impasse, depois que houve aperfeiçoamentos significativos no texto, tem de ir para o voto". A ministra lembrou que o mesmo ocorreu no caso da MP dos Portos.


Lembrada que 2014 é ano de eleição e que pode ser ainda mais difícil se chegar a um acordo para votação do Marco Civil da Internet, a ministra Ideli desabafou:

"Não será (pior em 2014 para votar). Não será porque vai ter de votar porque, senão, também, a Câmara não vota mais nada. Já ficou claríssimo que a presidenta não vai retirar urgência e este vai ser o nosso primeiro debate em 2014 na Câmara". 

Para a ministra, não há um prazo definido para aprovar o marco civil, mas avisou que "o nosso prazo é votar o mais rapidamente possível. Já debatemos, vamos continuar fazendo convencimento, mas, não havendo, vamos para o voto".

Ao defender o modelo de armazenamento de dados no Brasil, a ministra Ideli comentou que, "embora a gente saiba que armazenar não dá garantia de nada", isso é importante porque, "na hora que você precisa requisitar, na hora que tem um processo no Brasil, vale a lei brasileira e nó já tivemos situação em que foram negados dados porque estava sujeito às leis de outro país". 

Ideli disse também que o texto não contemplou pedido das empresas de telecomunicações, que queriam que a proposta não afetasse o pacote de dados determinado por elas.

"Não tem esta história de pacote diferenciado no texto. O que as empresas solicitaram no texto é que a legislação não afetasse os modelos de negócios e o texto que Molon colocou é de que não afeta, desde o modelo de negócio cumpra as regras estabelecidas no marco civil e uma das questões chave é a neutralidade da rede", avisou Ideli, insistindo que "o modelo de negócio das empresas tem de cumprir a regra da neutralidade da rede"

Na França, Ikea é investigada por espionar funcionários


Empresa teria contratado detetives para montar casos contra funcionários. Polêmica já provocou a demissão de vários executivos, incluindo o presidente

Reprodução/Youtube
Loja da Ikea

Ikea: unidade francesa da empresa é acusada de fornecer dados privados de funcionários a detetives

São Paulo - Um tribunal regional em Versalhes, próximo a Paris, na França, está averiguando se executivos da Ikea infringiram as leis do país ao conduzirem centenas de investigações particulares sobre seus funcionários entre o período de 2002 a 2012. A informação é do The New York Times

A suposta irregularidade veio à tona depois que diversos e-mails da empresa com detalhes de espionagens a funcionários vazaram para a imprensa local no início de 2012.

Entre os casos, está o de Virgine Paulin. Em 2009, após um ano de ausência médica por um diagnóstico de hepatite C, ela recebeu uma carta de demissão da empresa. 

Virgine, hoje com 53 anos, trabalhava há mais de doze na companhia. Ela havia acabado de ser promovida a vice-diretora de comunicação e marketing para cerca de 20 lojas da Ikea. 

O motivo da dispensa, revelado posteriormente, havia sido uma investigação por parte da empresa, que desconfiava que ela não estivesse tão doente como havia declarado. 

A Ikea teria fornecido a um detetive particular o número de Social Security (espécie de CPF) de Virgine, seu contato de celular, detalhes de sua conta no banco e outros dados privados. 

Segundo uma análise de registros do tribunal feita pelo próprio  The New York Times, as investigações contra a Ikea estariam sendo conduzidas por várias razões, incluindo a examinação de candidatos a emprego, esforços para elaborar casos contra funcionários acusados de irregularidades e tentativas de destruir argumentos de consumidores que tinham queixas contra a empresa. 

De acordo com o jornal, os documentos judicais mostram que os investigadores cobravam de 80 a 180 euros por inquérito (algo em torno de 250 a 580 reais). Entre 2002 e 2012, o departamento de finanças da Ikea teria aprovado mais de 475 mil euros em notas fiscais de detetives.

No mês passado, a empresa teve de pagar uma caução de 500 euros ao tribunal, depois do vazamento dos e-mails. A Ikea conduziu uma investigação interna sobre o assunto, a qual resultou na demissão de vários executivos, incluindo o ex-presidente da companhia para a França, Jean-Louis Baillot.

Até agora, não há indícios de que o problema ocorreu nos outros 42 países em que a empresa atua. 

A Ikea, conforme relata o The New York Times, se manifestou publicamente lamentando que alguns executivos tomaram medidas "contrárias aos nossos valores e padrões de ética". A empresa também diz que está incluindo o respeito à privacidade em um novo código de conduta.
O caso Virgine


Segundo o The New York Times, Virgine havia passado por uma série de avaliações médicas do departamento de recursos humanos da Ikea. Ela também se apresentava regularmente ao escritório da Social Security, que havia aprovado as extensão da sua licença e dado a ela permissão para viajar ao Marrocos - onde ela tem propriedades - por mais de uma vez.

Virgine teria também entrado em contato com vários colegas do trabalho, manifestando a sua intenção de voltar às suas atividades assim que o médico permitisse.

De acordo com o jornal, em abril de 2009, ela foi convocada para uma reunião com o diretor de recursos humanos da Ikea, Claire Héry, mas acabou encontrando também o ex-presidente da empresa, Jean-Louis Baillot.

Os dois executivos, conforme a francesa contou ao jornal, a acusaram de exagerar sobre a sua doença, sem apresentar provas disso. À época, ela chegou a tentar suicídio. 

Mesmo depois da reunião, Virgine abriu um processo contra a empresa e, em 2010, um juiz determinou que a sua demissão foi "desprovida de justificativas reais e sérias". 

Ela não pediu para ser reintegrada à empresa, mas recebeu uma indenização de 60 mil euros. 
Entre os e-mails vazados, segundo o The New York Times, havia um sobre o caso de Virgine. A correspondência era de Jean-François Paris, diretor de gestão de risco da Ikea na França, no qual ele solicitava a um detetive particular que confirmasse se Virgine havia viajado para o Marrocos e se ela realmente tinha propriedades por lá.  

O detetive respondeu que tudo era verdade, anexando uma cópia do passaporte de Virgine, mostrando os selos de sua entrada e saída do Marrocos.

SPG - União Europeia.







A Notícia Siscomex - Exportação 0030, de 13/12/2013, alerta sobre o prazo final para que produtos brasileiros exportados para a UE se beneficiem de redução no imposto de importação. Conforme divulgado desde o início de 2013 pela Secretaria de Comércio Exterior e comunicado oficialmente pela União Europeia (UE) em 31 de outubro de 2013, um novo Sistema Geral de Preferências (SGP) europeu entrará em vigor, a partir de janeiro de 2014, do qual o Brasil não será mais um país beneficiado.

Com isso, os exportadores brasileiros têm prazo final para que produtos brasileiros exportados para a UE se beneficiem de redução no imposto de importação até o dia 31/12/2013, quando os produtos deverão estar desembaraçados para livre circulação na UE até a referida data. (Fonte: Siscomex - Exportação, 16/12/13)

A MARCHA CONTÍNUA PELA DIGNIDADE

 

 

 

 

Imigrantes têm direitos no Brasil, sobre os quais devem ser informados.

Em francês, o jovem que pede para não ser identificado conta que ingressou sozinho no Brasil faz pouco tempo, mas que já fez amizade com outros migrantes. Vindo de Togo, país do tamanho da Paraíba localizado no Golfo da Guiné, na África, ele pede para que seu nome não seja publicado por temer problemas com as autoridades.

Enquanto caminha junto a centenas de pessoas na 7ª Marcha dos Imigrantes, em São Paulo, ele defende que, em geral, os imigrantes são bem acolhidos no Brasil, mas diz que as dificuldades em relação à documentação têm sido problema para muitos.

Há dois meses, ele espera a análise de seu pedido de regularização migratória. Quer ficar no país, obter residência e permissão de trabalho, mas os processos são demorados e sente-se vulnerável sem os documentos. Antoni é uma das milhares de pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, que defendem que migração é um direito humano, e deveria ser tratada como tal.

Hoje, os direitos e deveres dos imigrantes no Brasil são regulamentados pela lei nº 6.815 de 1980, o assim chamado Estatuto de Estrangeiro, documento redigido durante a ditadura militar sob uma ótica de segurança nacional. Tal legislação tem sido criticada por diferentes movimentos e organizações por restringir os direitos de imigrantes principalmente em termos de participação política e sindical. A mobilização por mudanças tem ganhado força, e culminou na realização, na capital paulista, de dois grandes eventos neste mês.

Além da tradicional Marcha dos Imigrantes, que na sua sétima edição teve como tema a luta por uma “nova lei de migração justa e humana para o fim da discriminação” e reuniu cerca de mil pessoas de diferentes nacionalidades de acordo com as instituições organizadoras, este ano também foi realizada a 1ª Conferência Municipal de Políticas para Imigrantes, evento de caráter consultivo convocado pela Coordenação de Políticas para Migrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania que reuniu em torno de 300 participantes de 35 nacionalidades. Em ambos os encontros foram discutidos problemas da comunidade e propostas para criação de políticas públicas específicas.

Os resultados da conferência serão apresentados por delegados eleitos pelos participantes na Conferência Nacional de Migrações e Refúgio em Brasília em 2014, conforme previsto na Portaria Nº 1.947 da Defensoria Pública da União. Entre as deliberações, a principal é de que as migrações não devem ser criminalizadas. Diferentes organizações defendem que a questão não fique mais a cargo da Polícia Federal, mas sim de um novo órgão diferente criado para em um contexto de respeito a direitos e políticas públicas, conforme manifesto conjunto divulgado pelos grupos que compõem o Fórum Social pelos Direitos Humanos e Integração dos Migrantes.

Neste sentido, as organizações manifestam repúdio a nova Lei do Estrangeiro, prevista no Projeto de Lei 5655 apresentado em 2009 pelo então ministro da Justiça Tarso Genro. No manifesto divulgado como resultado da 7ª Marcha, a proposta que hoje tramita no Câmara dos Deputados é criticada por ser “ainda mais dura e xenofóbica e discriminante, expondo os imigrantes a tratamentos mais desumanos e degradantes e a um risco maior de exclusão social, preconceito e violência.” Nelson Bison, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante (CAMI) diz que os movimentos esperam que a nova legislação considere que “a pessoa humana em qualquer lugar que esteja no mundo tenha os mesmos direitos”.


Grupos de imigrantes


De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas, no mundo inteiro cerca de 232 milhões de pessoas que deixaram seus países de origem e partiram para novos destinos por razões muito diversas. O Brasil, construído pelos mais diversos fluxos migratórios, tanto involuntários como voluntários, tornou-se um pais com emigração relevante nos anos oitenta, para ser marcado pelas migrações de retorno a partir de 2000. Hoje o país têm recebido imigrantes de diferentes partes.

Levantamento feito com base em dados da Polícia Federal por pesquisadores ligados à Universidade Federal do Rio de Janeiro indica que atualmente vivem no Brasil cerca de 940 mil imigrantes permanentes. Os dados são referentes a 2012 e foram apresentados no contexto do projeto O Estrangeiro. Trata-se de uma estimativa que não inclui os imigrantes sem documentação no país. Confira no infográfico abaixo os países de origem de tais migrantes (recarregue a página se não conseguir visualizar os dados).


Discriminação e exploração


A iniciativa de se abrir espaço para participação e diálogo entre o governo e imigrantes foi elogiada pelas organizações presentes e considerada um primeiro passo para mudanças. Para Oriana Jara Maculet, presidente da ONG Presença da América Latina, isso permite que estes saiam da invisibilidade e sejam ouvidos. Mesmo assim, ela adverte que é impossível representar todos como um só grupo e ressalta que existem diferentes condições e histórias de migração. Nas manifestações em si, tal pluralidade esteve presente. Mulheres migrantes, por exemplo, apresentaram durante a 7ª Marcha um manifesto falando de seus problemas específicos.

Na conferência deste ano, aliás, um dos desafios foi organizar a comunicação e a tradução para diferentes linguagens devido à participação de imigrantes africanos de diferentes países. Os interesses e preocupações comuns, porém, favoreceram articulações conjuntas. A busca por oportunidades e regularização no país é um dos temas que aproximam diferentes grupos.

“Migração é isso, as pessoas vão procurando uma vida melhor e isso é mediante o trabalho, por isso temos que garantir o trabalho decente”, resume Marina Novaes, coordenadora do Núcleo de Trabalho Decente na Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, órgão que também participou da conferência.

O combate ao preconceito é outra questão que mobiliza representantes de variadas comunidades. Não são poucos os que reclamam de perseguições no país. Criss Romero, uma das delegadas eleitas para a Conferência Nacional de Imigração, aponta que os paraguaios ainda sofrem muito preconceito no Brasil.

Fundadora do grupo de dança “Aquarela Paraguaia” e integrante da organização Japayke, ela defende que a comunidade paraguaia deve lutar pelo direito ao trabalho decente, ao voto e a viver uma vida sem discriminação. “O paraguaio sempre é apresentado de maneira ruim, como alguém que não presta, que é corrupto, não trabalha. Queremos mostrar que a nossa cultura é mais do que isso”. Ela defende que a dança é uma forma de se expressar que ajuda migrantes a ganharem confiança, mas deixa claro que a mobilização também deve ser política. “Não estamos aqui só para dançar, o imigrante é quem deixou a sua terra, sua família, seus vizinhos e amigos. Estamos trabalhando duro aqui em busca de uma vida melhor”, ressalta.

Outros também manifestam a preocupação de que as culturas latino-americanas sejam vistas como meramente folclóricas, o que pode atrapalhar no processo de luta por direitos. ”As festas não são todo dia. No meio, é o trabalho que sustenta e move as pessoas”, diz Johnny Oriehuela, do grupo Socializando Resultados. A mesma opinião é compartilhada por Juan Casicanki, ator que participou da peça Caminos Invisibles, sobre trajetórias de trabalhadores migrantes bolivianos. Ambos apontam a formação de cooperativas de costura como um dos possíveis caminhos para melhorar as condições de trabalho e vida dos trabalhadores neste setor, e destacam que muitos dos que começam na costura têm interesse em aprender outras profissões. Eles lembram que falta informações para os recém-chegados ao país, justamente os que mais precisam de orientações sobre direitos laborais e oportunidades de trabalho.


Fronteiras nas leis e nas cabeças


A migração no mundo atual não é livre, mas bem regulamentada e governada por fronteiras tanto físicas como legais e sociais. Começando pelo marco legal no Brasil vê-se que as formas de estadia e obtenções de vistos são diferenciadas por países de origem e forma de regularização e, em geral, são marcadas por processos complicados e burocráticos. Multas altas por descumprimento e taxas para o registro dificultam ainda mais processos regulatórios. Tais empecilhos colocam imigrantes irregulares em situação de vulnerabilidade, o que em muitos casos favorece sua exploração. A falta de informações e o receio de ser notificado a deixar o país, faz com que muitos evitem procurar as autoridades mesmo em caso de violência, o que beneficia os agressores.

Imigrantes têm direitos no Brasil, sobre os quais devem ser informados. Em São Paulo diferentes organizações como Casa do Migrante, CAMI e Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) oferecem orientações e procuram ajudar neste sentido. Recentemente, esta última junto com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Confederação Geral Italiana do Trabalho (INCA/CGIL, da sigla em italiano), e a Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), lançaram uma cartilha com orientações sobre o tema.

Os vistos e formas para se obter direito de permanência no Brasil variam conforme país de origem. Todo imigrante proveniente de países do Mercosul, pode solicitar permanência no Brasil com garantia de todos os direitos civis, incluindo o direito de trabalhar, independente da condição migratória em que entrou no país. É o que prevê o decreto nº 6964, de 29 de setembro de 2009. Em outras palavras, mesmo se estiver trabalhando sem autorização, o imigrante pode solicitar a sua regularização com isenção de multas e de sanções administrativas.


Anistia, refugiados e vistos humanitários


Nas últimas décadas, imigrantes conseguiram regularizar a situação no país por meio de diferentes formas. A abertura de processos de anistia para estrangeiros em situação irregular é uma delas. Ela foi concedida pelo Governo Federal em quatro ocasiões diferentes (1980, 1988, 1998 e de 2009 a 2011), sendo a última marcada por reclamações de imigrantes de entraves criados pela Polícia Federal. Outra modalidade é a concessão de refúgio, regulada pela lei número 9.474, de 1997. De acordo com dados do Ministério de Justiça, até março de 2013 eram 4.262 os refugiados reconhecidos como tal.

Também existem no Brasil vistos humanitários e de programas específicos. Entre os primeiros estão pessoas afetadas por crises humanitárias de países como Congo, Costa do Marfim, Haiti, Mali e Síria. Só de haitianos, até tal data foram beneficiados cerca de 9.000 pessoas, segundo as estimativas oficiais – inicialmente, a previsão era da concessão de 1.200 vistos por ano, mas o Conselho Nacional de Migração reagiu a criticas a este modelo e ampliou a quantidade de emissões. Entre os beneficiados de programas específicos estão os profissionais contratados pelo “Mais Médicos”, programa federal planejado para estimular a imigração de 13 mil profissionais ao Brasil até 2014. Até 28 de novembro, este número era de 5.857, segundo dados do Ministério da Saúde.


Pela reinvenção de políticas públicas


Além da crítica à repressão, a mobilização também é por direitos ligados à cidadania no Brasil. Diferentes ações têm sido tomadas neste sentido. É o caso da campanha “Aqui vivo aqui voto”, que tem como base a ideia de que, como os imigrantes contribuem de forma fundamental para o desenvolvimento do país, seja participando da economia, da vida social e cultural, seja pagando impostos, deveriam ter direito a participação na escolha de seus representantes políticos. Nelson Bison, do CAMI, ressalta que o acesso às políticas públicas é mais difícil para migrantes. Alugar um apartamento sem documento, procurar serviços de saúde sem falar a língua, ver que os filhos sofrem discriminação na escola são só exemplos de problemas no dia a dia. Nelson diz que existem até casos de famílias que pagam taxas ou pedágios para que as crianças sejam bem aceitas nas escolas.

De acordo com as organizações, a demanda por políticas públicas envolve duas etapas: primeiro, que todas as pessoas sejam reconhecidas como iguais perante a lei; depois, que as necessidades e prioridades de imigrantes sejam identificadas, assim como mecanismos que impedem que eles exerçam seus direitos. Tal abordagem não é uma via única, mas, por compreender a universalidade de direitos, beneficia também os brasileiros. Diferentes aspectos foram considerados durante os debates.

Em palestra de abertura da conferência, Zilda Márcia Grícoli Iokoi do Diversitas, coordenadora do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo (USP), defendeu que, na educação, é preciso pensar a partir da interculturalidade que enriquece, em vez da discriminação que tem raízes no desconhecimento e na xenofobia.

Na área de saúde, Jiobana Moya, integrante da organização Warmis Mulheres, lembra que é importante ter atenção com a maneira como os imigrantes são recebidos e atendidos nos Centros de Saúde, em especial para mulheres. Ela destaca que para muitas, como as que trabalham em oficinas de costura, é difícil conseguir licença de sair do trabalho para atendimento médico. “Se a enfermeira trata mal já de saída, ela se sente humilhada e nunca mais vai procurar um serviço de saúde”, afirma.

Ela defende o reconhecimento das necessidades específicas de mulheres migrantes no sistema de saúde, e luta pela criação de uma casa de parto humanizado para mulheres imigrantes que não concordam com o parto via cesariana comum no Brasil. A Warmis defende que a gravidez e o parto são momentos delicados na vida das mulheres e requerem atendimento especial, que observe e seja sensível a aspectos culturais.

Em São Paulo, imigrantes dos países membros e associados do Mercosul podem abrir conta bancária, graças a acordo celebrado em outubro de 2013 entre a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura. A medida, iniciativa do recém-criado grupo de Políticas para Migrantes, na Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, tem como objetivo garantir maior segurança aos bolivianos em São Paulo. Até então sem alternativas, muitos dos que estão em situação irregular no Brasil guardavam dinheiro em casa, o que fez da comunidade alvo de criminosos.

O caso mais famoso foi o assassinato do garoto boliviano Brayan Yanarico Capcha, de 5 anos, morto em um assalto em 28 de junho. Não foi, porém, o único. Durante a 7ª Marcha, seu nome foi lembrado junto com o de outros cinco imigrantes mortos violentamente em 2013, todos reunidos em um cartaz com o título “Basta de violência contra os imigrantes”. O nome de cada um foi lido durante a marcha, e, para cada lembrança, os manifestantes gritavam “presente”.

Outra novidade na capital paulista, é que a partir deste ano migrantes tem direito a voto e a ser votado nos conselhos consultivos da cidade. A coordenadoria para tratar de migrações está cargo de Paulo Illes, que foi diretor do CDHIC.
Lisa Carstensen
(Vermelho – 16/12/2013)