Empresa teria contratado detetives para montar casos contra funcionários. Polêmica já provocou a demissão de vários executivos, incluindo o presidente
Ikea: unidade francesa da empresa é acusada de fornecer dados privados de funcionários a detetives
São Paulo - Um tribunal regional em Versalhes, próximo a Paris, na França, está averiguando se executivos da Ikea
infringiram as leis do país ao conduzirem centenas de investigações
particulares sobre seus funcionários entre o período de 2002 a 2012. A
informação é do The New York Times.
A suposta irregularidade veio à tona depois que diversos e-mails da empresa com detalhes de espionagens a funcionários vazaram para a imprensa local no início de 2012.
Entre os casos, está o de Virgine Paulin. Em 2009, após um ano de
ausência médica por um diagnóstico de hepatite C, ela recebeu uma carta
de demissão da empresa.
Virgine, hoje com 53 anos, trabalhava há mais de doze na companhia. Ela
havia acabado de ser promovida a vice-diretora de comunicação e
marketing para cerca de 20 lojas da Ikea.
O motivo da dispensa, revelado posteriormente, havia sido uma
investigação por parte da empresa, que desconfiava que ela não estivesse
tão doente como havia declarado.
A Ikea teria fornecido a um detetive particular o número de Social
Security (espécie de CPF) de Virgine, seu contato de celular, detalhes
de sua conta no banco e outros dados privados.
Segundo uma análise de registros do tribunal feita pelo próprio The New York Times,
as investigações contra a Ikea estariam sendo conduzidas por várias
razões, incluindo a examinação de candidatos a emprego, esforços para
elaborar casos contra funcionários acusados de irregularidades e
tentativas de destruir argumentos de consumidores que tinham queixas
contra a empresa.
De acordo com o jornal, os documentos judicais mostram que os
investigadores cobravam de 80 a 180 euros por inquérito (algo em torno
de 250 a 580 reais). Entre 2002 e 2012, o departamento de finanças da
Ikea teria aprovado mais de 475 mil euros em notas fiscais de
detetives.
No mês passado, a empresa teve de pagar uma caução de 500 euros ao
tribunal, depois do vazamento dos e-mails. A Ikea conduziu uma
investigação interna sobre o assunto, a qual resultou na demissão de
vários executivos, incluindo o ex-presidente da companhia para a França,
Jean-Louis Baillot.
Até agora, não há indícios de que o problema ocorreu nos outros 42 países em que a empresa atua.
A Ikea, conforme relata o The New York Times, se manifestou
publicamente lamentando que alguns executivos tomaram medidas
"contrárias aos nossos valores e padrões de ética". A empresa também diz
que está incluindo o respeito à privacidade em um novo código de
conduta.
O caso Virgine
Segundo o The New York Times, Virgine havia passado por uma série de
avaliações médicas do departamento de recursos humanos da Ikea. Ela
também se apresentava regularmente ao escritório da Social Security, que
havia aprovado as extensão da sua licença e dado a ela permissão para
viajar ao Marrocos - onde ela tem propriedades - por mais de uma vez.
Virgine teria também entrado em contato com vários colegas do trabalho,
manifestando a sua intenção de voltar às suas atividades assim que o
médico permitisse.
De acordo com o jornal, em abril de 2009, ela foi convocada para uma
reunião com o diretor de recursos humanos da Ikea, Claire Héry, mas
acabou encontrando também o ex-presidente da empresa, Jean-Louis
Baillot.
Os dois executivos, conforme a francesa contou ao jornal, a acusaram de
exagerar sobre a sua doença, sem apresentar provas disso. À época, ela
chegou a tentar suicídio.
Mesmo depois da reunião, Virgine abriu um processo contra a empresa e,
em 2010, um juiz determinou que a sua demissão foi "desprovida de
justificativas reais e sérias".
Ela não pediu para ser reintegrada à empresa, mas recebeu uma indenização de 60 mil euros.
Entre os e-mails vazados, segundo o The New York Times, havia um sobre o
caso de Virgine. A correspondência era de Jean-François Paris, diretor
de gestão de risco da Ikea na França, no qual ele solicitava a um
detetive particular que confirmasse se Virgine havia viajado para o
Marrocos e se ela realmente tinha propriedades por lá.
O detetive respondeu que tudo era verdade, anexando uma cópia do
passaporte de Virgine, mostrando os selos de sua entrada e saída do
Marrocos.
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