PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O governo brasileiro corre contra o relógio para fechar um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Sob intensa pressão do setor privado brasileiro e da própria presidente
Dilma Rousseff, negociadores ficaram frustrados com o adiamento para
janeiro da troca de ofertas de abertura de mercado e com a teimosia da
Argentina --que, embora tenha melhorado sua oferta, ainda não chegou a
um nível aceitável para os europeus.
Dentro do governo, a paciência com a Argentina está diminuindo, pois o
acordo com a UE é visto como tábua de salvação para a economia.
A negociação adquiriu urgência com a deterioração da balança comercial
-o deficit de manufaturados está acumulado em US$ 92 bilhões no ano até
outubro- e a sensação de isolamento com o avanço de mega-acordos.
Segundo uma alta fonte diplomática, uma "tempestade perfeita" de fatores
tornou o acordo UE-Mercosul uma questão de sobrevivência.
Editoria de ArteFolhapress | ||
Há frustração com o mercado regional, diante das barreiras impostas
pelos sócios do Mercosul e da concorrência da China na região.
Há também a perspectiva do fim do Sistema Geral de Preferências (SGP)
para o Brasil na UE no final deste ano. O SGP permitia a vários produtos
brasileiros entrar na UE com tarifas reduzidas.
"E, mais do que tudo, há uma sensação de isolamento", diz a fonte. "E o
temor de que, com os acordos regionais como o TPP e Ttip, serão
definidas novas regras sem a nossa participação -o peso dos países
incluídos nesses acordos é tão grande que quem não aderir às regras
estará fora desses mercados."
Anteontem, Dilma disse na presença do presidente da França, François Hollande, que espera fechar o acordo com a UE em janeiro.
Foram os europeus que pediram adiamento, por dificuldade para consolidar uma oferta de acesso agrícola.
Atualmente em negociação, o TPP, o Tratado Trans-Pacífico, reúne
Austrália, Brunei, Chile, Canadá, Japão, México, Nova Zelândia, Peru,
Cingapura, EUA e Vietnã; o Ttip é o acordo transatlântico em negociação
entre os EUA e a UE. Juntos, os países englobados nos acordos respondem
por cerca de dois terços do PIB mundial.
Nesses mega-acordos, EUA e UE estão costurando novas regras que incluem
desde padrões para produtos industriais até especificações de bens de
alta tecnologia, acesso a compras do governo, barreiras fitossanitárias.
SELO DE QUALIDADE
"Nossa esperança é que, em última instância, as novas regras se tornarão
um selo de qualidade no sistema multilateral de comércio e outros
países serão persuadidos a adotá-las", disse o representante de Comércio
dos EUA, Mike Froman.
"Com o TPP e o Ttip, os EUA lideram uma contraofensiva para conter e
isolar rivais econômicos como Brasil, Índia e China" diz Jean-Pierre
Lehmann, professor emérito do IMD na Suíça.
Segundo Pablo Bentes, diretor de comércio internacional do escritório
Steptoe & Johnson, a remoção de tarifas na área agrícola na UE e nos
EUA fará com que os produtos brasileiros fiquem menos competitivos em
dois de seus principais mercados.
"A isso se soma uma possível remoção das barreiras técnicas e
fitossanitárias que hoje são o principal entrave ao comércio de bens
agrícolas, principalmente na UE."
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