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Flávio Augusto comprou o Orlando City e em sete meses conseguiu levar o clube à liga principal dos EUA
Numa entrevista exclusiva para o Administradores.com, o empresário
Flávio Augusto da Silva, fundador da WiseUp, do projeto Geração de Valor
e proprietário do Orlando City Soccer Club, time de futebol
profissional da MLS - Major League Soccer, elite do futebol na América
do Norte, abre o jogo sobre o seu ano de 2013, quando foi protagonista
de uma das maiores aquisições na história do setor de educação
brasileiro. Em um bate papo muito franco com Leandro Vieira, diretor
executivo do Administradores.com, Flávio falou sobre os seus desafios
para vender a empresa que fundou quando tinha apenas 23 anos de idade,
sobre a passagem de bastão para a Abril Educação e sobre como vai
desenvolver novos negócios a partir de 2014. A conversa é um
desdobramento do bate papo com ele publicado na última edição da revista
Administradores.
1. Que retrospectiva você faz do seu ano de 2013?
2013 para mim tem sido a conclusão de um ciclo que iniciou em 2012.
Em maio do ano passado, recebi em Orlando a visita do Manoel Amorim,
presidente da Abril Educação, acompanhado de um diretor do Banco BTG
Pactual. Esse almoço cordial e agradável tinha um objetivo muito bem
definido: manifestar o interesse da Abril Educação na compra do Ometz
Group, empresa que fundei em 1995 ao inaugurar, no Centro do Rio de
Janeiro, a primeira escola da WiseUp. Durante o restante de 2012 tive
que me dividir entre gerir o negócio presente em seis países e, ao mesmo
tempo, atender a enorme demanda de um complexo processo de M&A
(Merger and Acquisition, ou "fusão e aquisição", em português), que
contou com mais de 100 profissionais envolvidos nesse processo,
trabalhando na auditoria contábil e nas diligências a fim de compreender
o modelo de negócios que o grupo praticava e que determinou o
crescimento de nossos empreendimentos. Essa etapa foi concluída em
fevereiro de 2013, ocasião da assinatura do contrato de venda do Ometz
Group, dando início a uma nova fase: a transição de comando do Ometz
Group, que se encerra no final de 2013.
2. Por que você decidiu vender o Ometz Group?
Costumo dizer que o ponto mais alto de um empreendedor ocorre quando o
mercado enxerga valor em seu projeto, em sua marca e produto, a ponto
de desejar adquiri-los. Em meu caso, desde 2008, quando recebi a
primeira proposta de aquisição, imediatamente compartilhei com todos os
meus parceiros. De lá para cá, foram dezenas de propostas feitas por
instituições nacionais e internacionais, entre estratégicos e fundos de
investimentos, interessados em investir ou comprar a nossa companhia. Em
2012, escolhi criteriosamente o candidato com o qual me sentiria seguro
e que seria o melhor sucessor para assumir o controle do projeto que
ajudei a desenvolver nos últimos 18 anos. Considero-me um construtor,
criador de modelos de negócios e desenvolvedor de projetos. O Ometz
Group cresceu bastante e precisava de uma gestão mais corporativa e
profissional. Além disso, eu me considerava preparado para novos
desafios. Com essa convicção e absolutamente seguro com a escolha da
Abril Educação, passei o bastão com muita tranquilidade, segurança e a
sensação de missão cumprida.
3. Foi uma decisão difícil?
Não foi fácil, em especial porque, em 18 anos, construí relações
sólidas com muitas pessoas por quem tenho até hoje muito respeito e
carinho, mas eu estava muito seguro de que o comprador seria capaz de
dar seguimento ao histórico de crescimento com o qual a nossa empresa
estava acostumada. A propósito, em 18 anos, foram muitos desafios
vencidos, e no DNA da Abril pude observar o mesmo histórico e todo o
preparo necessário para novos capítulos de sucesso. No entanto, não fui
poupado de alguns momentos de estresse e desgastes emocionais até que o
processo fosse finalizado exatamente no dia 7 de fevereiro de 2013, no
exato dia do meu aniversário.
4. Como está sendo o período de transição de comando do Ometz Group?
Aprendi muito neste ano, período que consideramos necessário para
esta transição. Estou bastante satisfeito por ver um caminho muito
positivo para o futuro do Ometz. No início deste período, toda a rede
sentiu-se um pouco insegura, o que considero uma insegurança natural em
aquisições deste porte. Essa instabilidade foi refletida imediatamente
nos resultados do primeiro semestre. No entanto, no segundo semestre,
com a contratação do novo CEO, Júlio de Angeli, e a aproximação do
presidente da Abril Educação, Manoel Amorim, da operação, os resultados
rapidamente superaram o ano anterior, criando novamente um ambiente
estável na rede e com perspectivas muito promissoras para 2014. A
conferência anual, a Ometz Conference, que acontece no início de janeiro
em São Paulo, promete ser marcante. Na realidade, será a maior de todos
os tempos, e irá dar as boas vindas a 2014, o ano da Copa do Mundo da
FIFA, da qual a WiseUp é uma das empresas patrocinadoras, o que vai
gerar uma grande exposição para a marca.
5. Qual a sua opinião sobre o trabalho da Abril Educação até o presente momento à frente do Ometz Group?
Durante o processo de M&A, admirei muito como todo o processo foi
conduzido pela Abril, mas confesso que estou bastante surpreso
positivamente com a forma que a Abril tem liderado a empresa durante
essa transição. O Manoel, além de contar com amplo conhecimento técnico,
é um líder hábil e com grande visão estratégica. Rapidamente conquistou
a confiança dos franqueados e tem todos os ingredientes nas mãos para
realizar um ano de 2014 incrível. Somado a isso, Édio Alberti, Mário
Magalhães, Sérgio Santanna e Sérgio Barreto, principais executivos de
minha gestão, e retidos com muito prestígio pela Abril Educação, estão
completamente alinhados com a nova liderança do Grupo.
6. Qual é o seu envolvimento com o Ometz atualmente?
Tenho muitos amigos dentro do grupo, mas de dois meses pra cá, ao
finalizar o período de transição com a qual estive comprometido, o meu
envolvimento tem sido muito pequeno. A transição está praticamente
concluída e, a partir de 2014, pretendo acompanhar os resultados apenas
através dos relatórios divulgados aos investidores. Como segundo maior
acionista da Abril Educação e pelo carinho e consideração que tenho por
todos que são parte de minha história, tenho razões e interesses
suficientes para desejar que a companhia continue crescendo como sempre
cresceu em todo a sua história. Confio plenamente na equipe que está à
frente do Ometz e suas marcas, e estou muito confortável com o comando
executivo da Abril Educação.
7. Há quem diga que o Ometz jamais será o mesmo. Você concorda?
Sim, concordo 100%. Francamente, tenho apostado as minhas fichas que o
Ometz será muito melhor nesta nova fase, vai crescer mais e será ainda
mais respeitado através de todas as suas marcas. Os franqueados que
aproveitarem as novas oportunidades oriundas da sinergia com a Abril vão
crescer como nunca, e os que forem resistentes ao novo momento vão
correr o enorme risco de ficar para trás. Assim, naturalmente a rede
será renovada, como normalmente acontece no mercado. Acredito que não
será diferente nesta nova fase do Ometz Group sob um comando mais
profissional e transparente. Eu cumpri a minha parte e entreguei uma
empresa que vi nascer e crescer para uma gigante do setor de educação
que saberá muito bem o que fazer para colocá-la num patamar mais
elevado. Confio nas sementes que plantei nos últimos 18 anos, assim como
num futuro ainda mais brilhante para esta empresa sob uma nova
liderança.
8. Há um mês, o Orlando City entrou no seleto grupo da MLS, elite do futebol nos EUA. Como você conseguiu isso em apenas sete meses, desde que comprou o clube?
A MLS é a liga de futebol profissional que mais cresce no mundo na
atualidade. Comprei o clube com esta finalidade, pois a sua torcida
crescia a cada ano, os resultados em campo eram visíveis e eles
precisavam muito de um projeto que enchesse os olhos da MLS para serem
aceitos na liga, além da construção de um novo estádio, afinal, a
concorrência é muito grande. A minha entrada não apenas garantiu o
aporte de capital necessário para a construção do estádio em parceria
com o Governo da Flórida e as prefeituras de Orlando e do Orange County,
como também garantiu a fundamentação de um projeto que conectasse a
liga americana com o mercado brasileiro, responsável pelo aquecimento da
economia de Orlando. O turista brasileiro é o que mais consome na
região e é responsável por 70% do consumo dos outlets da cidade. Tanto a
MLS quanto os governos locais que aderiram ao projeto ficaram muito
interessados neste novo ingrediente, que acabou sendo o principal fator
que carimbou o nosso passaporte, destino à principal liga de futebol
profissional do país, uma espécie de NBA do futebol nos EUA e Canadá.
Curti muito essa nova conquista numa festa inesquecível, quando
experimentei grandes emoções no palco, durante o momento do grande
anúncio, diante de mais de 4.000 torcedores e toda a imprensa esportiva
americana.
9.Como será a sua atuação em seus novos projetos?
Em todos os meus novos projetos, no Brasil ou fora, não vou ocupar
mais uma posição executiva. Todos eles terão o seu próprio CEO que vai
tocar a operação no dia a dia. Isso inclui o Orlando City e o Geração de
Valor, que já têm os seus comandantes que vão me prestar conta dos
resultados mensalmente e em video-conferências semanais. A cada dia,
quero me posicionar como idealizador e mentor de meus próprios projetos e
com o foco de encorajar novos empreendedores a construírem a sua
própria história. Nesta nova fase, também vou me dedicar muito à minha
família, em especial aos meus três meninos, viajar, escrever alguns
livros e curtir um pouco a vida com a Luciana, com quem completo 21 anos
de casado daqui a alguns dias.
10. O que o mercado pode esperar de seus novos empreendimentos?
Vou usar a minha principal expertise que é o desenvolvimento de
modelos de negócios inovadores para criar produtos que tenham escala e
alta rentabilidade. A partir de um certo ponto, vou dar acesso a um
grupo seleto de investidores a fim de elevar todos esses projetos a um
novo patamar. Quero, com o talento de criar negócios e liderar pessoas
que desenvolvi nos últimos 18 anos, gerar valor através de produtos e
projetos que produzam riquezas para os seus acionistas e gerem
benefícios para a sociedade, em especial para as novas gerações,
revelando novos talentos e novos empreendedores. Se eu consegui chegar
tão longe, muitos outros jovens também são capazes. Nada me convence do
contrário.
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