19/12/2013 15:26
P9or Rui Martins, de Genebra
P9or Rui Martins, de Genebra
Na
IV Conferência Brasileiros no Mundo, da qual participaram 90% de
emigrantes pelegos e biônicos, convidados num hotel de luxo, na Bahia,
nem brasileiro por sinal mas de uma multinacional espanhola, só havia
uma condição aos participantes – aceitarem prestar obediência aos
diplomatas do Itamaraty.
E de bom grado aceitaram, pois para essa maioria, participar de uma
Conferência oficial com o selo do Itamaraty, só é vantagem, nem entra em
conta questões de independência ou obediência. Na verdade trata-se de
um bom negócio, pois estão ligados ao grande mercado dos emigrantes e só
podem aumentar seus lucros nessa parceria com os diplomatas.
Uns são despachantes, outros advogados de emigrantes, outros
tradutores para emigrantes, outros ajudam mesmo a dar golpe de Estado em
país vizinho, outros representam conselhos de cidadania onde participam
antigos colaboradores do Doi-Codi e amigos de Pinochet e, enfim, outros
estão empenhados na salvação das almas dos emigrantes. Mesmo se Cristo
disse que seu reino não é deste mundo, eles tratam de já ir tirando aqui
mesmo algumas vantagens, antes daquelas futuras e difíceis de provar.
Assim, a política brasileira da emigração continua sendo aplicada,
custando caro pois o hotel de luxo e as passagens para os biônicos
custou quase um milhão de reais, e não dando em nada, mesmo porque
quando for necessário decidir alguma coisa, quem decidirá serão os
diplomatas.
O Consulado de Genebra acaba de publicar um edital convocando os
emigrantes para as próximas eleições do Conselho de Cidadania. E enumera
quais serão as atividades dos futuros conselheiros, para no fim do
edital lembrar que tais atividades serão voluntárias, ou seja, não
existirá salário para esse pessoal.
Entretanto, lendo-se as tais atividades que incluem pesquisas,
contatos com órgãos oficiais da Suíça, tomadas de iniciativas
normalmente da alçada do Consulado, não se pode deixar de pensar que o
Itamaraty encontrou a maneira de poupar seus diplomatas do contato com
os emigrantes e do gasto de tempo e energia, servindo-se de alguns
emigrantes bem intencionados, desejosos de fazer alguma coisa pelo
próximo.
Mas se já falamos ter sido indecorosa uma Conferência com pessoas
amigas dos cônsules locais, geralmente da classe alta e dificilmente
podendo ser qualificada de emigrantes; de ser ofensiva aos emigrantes
essa obediência devida aos tutores do Itamaraty, achamos mesmo um tanto
imoral se pedir aos emigrantes que façam trabalho do Consulado, sem
qualquer pagamento, aproveitando-se do entusiasmo de alguns idealistas.
É verdade que, não se pode esquecer, a maioria desses voluntários
mamam no mercado dos emigrantes, seja em termos comerciais ou
religiosos, ou ganham dinheiro com a terceirização dos serviços
consulares. Portanto, para eles já é lucro pertencer a um órgão oficial
funcionando junto ao Consulado. Isso dá prestígio, dá clientes e dá
mesmo almas ao Criador.
Penso estar vivendo um pesadelo, me belisco e constato ser a
realidade, essa palhaçada e essa política irresponsável da emigração é
aplicada por um governo de origem petista. Tentei mais de uma vez pedir
ao governo para intervir, já que o PT tinha aprovado em Havana, no seu
encontro com os Núcleos petistas do Exterior uma crítica severa ao
Itamaraty, seguida da reivindicação de um órgão institucional emigrante,
a Secretaria dos Emigrantes.
E ao terminar este 2013, sou obrigado a confessar de maneira pública
minha decepção, frustração e mesmo revolta de diante de tanta coisa
longe daquilo que esperávamos do governo. Tentam me acalmar dizendo que a
necessidade de alianças (pelo jeito espúrias) exige serem esquecidas
certas questões básicas de esquerda e que, os emigrantes não são
prioridade. Será que 2014 vai melhorar ? Estou pedindo ao Papai Noel,
pelo menos mais visível que Deus que a gente nunca sabe onde está, que
ilumine nossa presidenta, que ela dê asilo para o Snowden, senão depois
daquela bronca na Assembléia geral da ONU, vai pegar mal negar. Que
sejam demitidos do governo a Helena Chagas, da Globo, e o Paulo
Bernardo, coveiros da mídia de esquerda.
E que alguém explique para dona Dilma que emigrante é emigrante e
diplomata é diplomata, não são batatas do mesmo saco, têm genes
diferentes. E que do Programa eleitoral Dilma2 conste a criação de um
órgão institucional emigrante e o fim da tutela dos emigrantes pelos
diplomatas. Que no seu programa não se cite como boa obra do seu governo
a realização da Conferência Brasileiros no Mundo, no hotel de luxo com
os biônicos. Porque daí, para mim e muita gente, será a gota d´água.
(Publicado originalmente no site Direto da Redação).
Rui Martins, jornalista, escritor, líder emigrante, correspondente em Genebra.
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