sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Embraer enfrenta lucro menor após explosão de vendas


Fabricante deverá ver suas margens de lucro serem espremidas depois que envio de uma grande remessa para os EUA deixou mercado saturado

Christiana Sciaudone, da
Nacho Doce/Reuters
Funcionários trabalham na montagem de um avião na fábrica da Embraer em São José dos Campos

Fábrica da Embraer em São José dos Campos: negócio foi considerado pela fabricante brasileira como "uma das mais importantes encomendas da história das duas empresas"


São Paulo - A Embraer SA, fabricante de jatos regionais com melhor venda no ano, deverá ver suas margens de lucro serem espremidas depois que o envio de uma grande remessa para os EUA deixou o mercado saturado de aeronaves.

Será difícil encontrar novos compradores antes da estreia de uma linha atualizada de jatos da Embraer, em 2018, após as vendas de 327 aviões regionais nos EUA neste ano, disse Eric Hugel, analista da S&P Capital IQ Inc. em Nova York. Ele disse que a Embraer pode precisar oferecer descontos em modelos mais antigos para que as fábricas sigam funcionando.

“Até que comece esse período dos novos jatos, quem diabos vai querer comprar os antigos?”, disse Will Landers, diretor-geral e gerente sênior de portfólio que gerencia US$ 4,5 bilhões em ativos latino-americanos na BlackRock Inc. e que recentemente vendeu as ações. “É um período de pressão sobre as margens, com certeza”.

A geografia e a aritmética dão forma à situação da Embraer: cerca de 80 por cento das aquisições da empresa vêm de cinco clientes americanos. A fabricante de aviões de São José dos Campos, também já está tomando pedidos para as versões atualizadas E2, que respondem por 150 aviões da remessa deste ano.

Com tantos negócios programados nos EUA, a Embraer passará por dificuldades para aterrissar os 40 pedidos por ano que terão que ser entregues a partir de 2015 para manter as atuais taxas anuais de produção de cerca de 90 a 95 jatos, disse Hugel, que classifica os recibos de depósitos americanos como “manutenção”.


‘Grande obstáculo’


“Eles têm um obstáculo bem grande para o agendamento de novos pedidos”, disse Hugel. “Eles não apenas terão que dar um preço mais baixo, mas também terão que olhar para onde a demanda está hoje. Eles estão posicionados para os aviões de 70 lugares, um produto com margem mais baixa que o de 90 assentos”.

Paulo César Silva, CEO de aviação comercial da Embraer, disse que “não há maneira” de a empresa reduzir os preços para vender jatos do modelo antigo. “Nós não esperamos nenhum impacto significativo sobre as margens”, disse Silva, ontem, por e-mail.

A Embraer devolveu alguns de seus ganhos de 2013 após recuperar até 50 por cento. As ações fecharam ontem a R$ 18,38 em São Paulo, com um avanço de 27 por cento neste ano. As ações Class B da Bombardier Inc., que tem sede em Montreal e é a principal concorrente da Embraer, subiram 22 por cento no mesmo período.

Cai Von Rumohr, analista em Boston da Cowen Securities LLC, disse que os pedidos recentes oferecem alguma segurança para ajudar a manter a produção futura, porque esses negócios incluem opções de aviões adicionais, assim como aquisições firmes.

"Estamos muito confortáveis ​​com as margens que atingimos e não vemos desafios para os próximos anos", disse Silva da Embraer. "É importante ressaltar que estamos bem posicionados".
Preço, preço


“A estratégia mais importante será preço, preço, preço, preço, preço, preço”, disse George Ferguson, analista sênior de transporte aéreo da Bloomberg Industries em Skillman, Nova Jersey, em entrevista por telefone. “Você vai vê-los dispostos a mexer mais nos preços para conseguir clientes para esses aviões antigos -- isso acaba reduzindo os retornos, mas é algo com que você tem que lidar nesse negócio”.

A Embraer tinha 140 unidades da versão atual do E-175 sob encomenda até o terceiro trimestre, juntamente com 100 do chamado modelo E2, uma referência à segunda edição da família de jatos E, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Ferguson disse que será fundamental para a Embraer assegurar que os acionistas, afora o governo brasileiro, entendam como a empresa lidará com o futuro. “A diminuição da rentabilidade normalmente traz uma demanda diminuída de investidores e, portanto, preços mais baixos de ações”, disse Ferguson.

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