Fabricante deverá ver suas margens de lucro serem espremidas depois que envio de uma grande remessa para os EUA deixou mercado saturado
Fábrica da Embraer em São José dos
Campos: negócio foi considerado pela fabricante brasileira como "uma das
mais importantes encomendas da história das duas empresas"
São Paulo - A Embraer SA, fabricante de jatos regionais com melhor venda no ano, deverá ver suas margens de lucro serem espremidas depois que o envio de uma grande remessa para os EUA deixou o mercado saturado de aeronaves.
Será difícil encontrar novos compradores antes da estreia de uma linha
atualizada de jatos da Embraer, em 2018, após as vendas de 327 aviões
regionais nos EUA neste ano, disse Eric Hugel, analista da S&P
Capital IQ Inc. em Nova York. Ele disse que a Embraer pode precisar
oferecer descontos em modelos mais antigos para que as fábricas sigam
funcionando.
“Até que comece esse período dos novos jatos, quem diabos vai querer
comprar os antigos?”, disse Will Landers, diretor-geral e gerente sênior
de portfólio que gerencia US$ 4,5 bilhões em ativos latino-americanos
na BlackRock Inc. e que recentemente vendeu as ações. “É um período de
pressão sobre as margens, com certeza”.
A geografia e a aritmética dão forma à situação da Embraer: cerca de 80
por cento das aquisições da empresa vêm de cinco clientes americanos. A
fabricante de aviões de São José dos Campos, também já está tomando
pedidos para as versões atualizadas E2, que respondem por 150 aviões da
remessa deste ano.
Com tantos negócios programados nos EUA, a Embraer passará por
dificuldades para aterrissar os 40 pedidos por ano que terão que ser
entregues a partir de 2015 para manter as atuais taxas anuais de
produção de cerca de 90 a 95 jatos, disse Hugel, que classifica os
recibos de depósitos americanos como “manutenção”.
‘Grande obstáculo’
“Eles têm um obstáculo bem grande para o agendamento de novos pedidos”,
disse Hugel. “Eles não apenas terão que dar um preço mais baixo, mas
também terão que olhar para onde a demanda está hoje. Eles estão
posicionados para os aviões de 70 lugares, um produto com margem mais
baixa que o de 90 assentos”.
Paulo César Silva, CEO de aviação comercial da Embraer, disse que “não
há maneira” de a empresa reduzir os preços para vender jatos do modelo
antigo. “Nós não esperamos nenhum impacto significativo sobre as
margens”, disse Silva, ontem, por e-mail.
A Embraer devolveu alguns de seus ganhos de 2013 após recuperar até 50
por cento. As ações fecharam ontem a R$ 18,38 em São Paulo, com um
avanço de 27 por cento neste ano. As ações Class B da Bombardier Inc.,
que tem sede em Montreal e é a principal concorrente da Embraer, subiram
22 por cento no mesmo período.
Cai Von Rumohr, analista em Boston da Cowen Securities LLC, disse que
os pedidos recentes oferecem alguma segurança para ajudar a manter a
produção futura, porque esses negócios incluem opções de aviões
adicionais, assim como aquisições firmes.
"Estamos muito confortáveis com as margens que atingimos e não vemos
desafios para os próximos anos", disse Silva da Embraer. "É importante
ressaltar que estamos bem posicionados".
Preço, preço
“A estratégia mais importante será preço, preço, preço, preço, preço,
preço”, disse George Ferguson, analista sênior de transporte aéreo da
Bloomberg Industries em Skillman, Nova Jersey, em entrevista por
telefone. “Você vai vê-los dispostos a mexer mais nos preços para
conseguir clientes para esses aviões antigos -- isso acaba reduzindo os
retornos, mas é algo com que você tem que lidar nesse negócio”.
A Embraer tinha 140 unidades da versão atual do E-175 sob encomenda até
o terceiro trimestre, juntamente com 100 do chamado modelo E2, uma
referência à segunda edição da família de jatos E, segundo dados
compilados pela Bloomberg.
Ferguson disse que será fundamental para a Embraer assegurar que os
acionistas, afora o governo brasileiro, entendam como a empresa lidará
com o futuro. “A diminuição da rentabilidade normalmente traz uma
demanda diminuída de investidores e, portanto, preços mais baixos de
ações”, disse Ferguson.
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