segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Show de engajamento


O que as escolas de samba têm a ensinar sobre trabalhar com entusiasmo e compromisso para qualquer profissional

Elisa Tozzi, da
Vladimir Platonow/Agência Brasil
Acadêmicos do Salgueiro

Desfile do Salgueiro: escolas de samba têm uma organização que favorece o trabalho coletivo

São Paulo - O que as escolas de samba podem ensinar sobre comprometimento com o trabalho? "Muita coisa", diz Alfredo Behrens, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. Desde o início deste ano, Behrens tem frequentado a quadra da Mocidade Alegre, bicampeã do Carnaval paulista, para entender as semelhanças e as diferenças entre uma escola de samba e uma empresa.

As visitas do acadêmico aos ensaios fazem parte de um projeto intitulado No Fear at Work ("Sem medo no trabalho", em português), uma série de vídeos em parceria com a cineasta Cecilia Delgado, que será lançada em fevereiro de 2014. "Eu queria descobrir o que levava pessoas comuns a trabalhar com tanto afinco e engajamento no Carnaval", diz Behrens.

A grande questão era compreender por que tanta gente se empenha tão apaixonadamente em uma atividade não remunerada, muitas vezes com vigor superior ao destinado ao emprego que provê o sustento. Segundo o professor, nas comunidades carnavalescas sobra o que falta nas empresas: senso de pertencimento.

O estudo de Behrens mostra que as empresas, principalmente as de cultura estrangeira, têm dificuldade em compreender o jeito de ser dos brasileiros, que precisam se sentir parte importante de um grupo para ter felicidade e, consequentemente, mais produtividade no trabalho.

"A cultura da competição não funciona tão bem no Brasil. Aqui os profissionais trabalham melhor quando se sentem emocionalmente ligados ao trabalho", diz Behrens.  Aprenda o que as escolas de samba têm a ensinar sobre o trabalho comprometido. 
As lições das escolas de samba


Da ala mirim à velha guarda, as agremiações de carnaval tratam o trabalho de forma especial

Escolha baseada em valores

A decisão de entrar para uma escola de samba leva em conta valores como cultura e tradição da agremiação – como deveria ser a escolha de um emprego. "Você tem de amar o pavilhão em primeiro lugar", diz Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre.

Graças a essa sintonia, os integrantes rapidamente percebem as carências da escola e como podem contribuir para supri-las. Na carreira, ter valores alinhados com o emprego ajuda a formar vínculos com chefes, colegas e equipes.

Recrutamento por afinidades

Uma das grandes lições de gestão das escolas de samba está no recrutamento. Quando um novato chega, os dirigentes conversam para entender em que função ele se encaixa melhor. "A falta de experiência não importa, o que vale é a personalidade e a disposição para aprender", diz Behrens.

Feito dessa maneira, um recrutamento tem mais chance de dar certo, pois assegura a existência de uma afnidade entre o profissional e o trabalho para o qual foi contratado.


Treinamento intensivo

Os veteranos ensinam os novatos. A dedicação para o aprendizado é enorme, pois existe a consciência de que fazer bem é fundamental para o sucesso. Na Mocidade Alegre, o treinamento tem duas fases: técnica e engajamento. Na primeira, os membros decoram o samba-enredo e treinam a coreografia. Na segunda, a liderança faz com que a comunidade se apaixone pelo tema. 

"Temos de sensibilizar todos para a escola se sair bem", diz o carnavalesco Sidney França.

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