quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

OMC: queixas, como a da UE contra o Brasil, devem terminar em consenso


Por Thiago Resende | Valor, com agências
 
Antonio Cruz/ABr


BRASÍLIA  -  O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse que a expectativa para o encaminhamento dos questionamentos feitos pela União Europeia contra o Brasil, nesta quinta-feira, 19, é que os dois lados entrem em um “consentimento”.

Azevêdo chegou ao Brasil às 5h da manhã de hoje e logo ficou sabendo do pedido feito pela União Europeia. “A expectativa em qualquer processo dessa natureza na OMC é que as consultas sejam bem sucedidas e que as partes [países] cheguem a um consentimento, sem precisar de um contencioso”, afirmou o diretor-geral. “Não estou dizendo que não vai chegar a um contencioso. Não é descabido que haja uma solução negociada antes de se chegar a um contenciosos”, completou.

O Brasil, segundo ele, é um dos países que abriu diversos questionamentos na OMC e “o contencioso não chegou a ser instalado”, lembrou.

Hoje, a União Europeia entrou com uma queixa contra o Brasil na OMC, argumentando que as políticas tarifárias nacionais discriminam empresas do exterior, violando as regras internacionais de comércio.

A reclamação envolve medidas tarifárias para produtos, como semicondutores e computadores, além do programa Inovar-Auto, que concede benefícios tributários para automóveis produzidos no país.

Mais cedo, o ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, disse que o Brasil está “em plena conformidade” com as regras multilaterais de comércio.


Bali


Azevêdo participou de um encontro nesta tarde com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, para discutir os impactos dos acordos assinados na reunião da OMC em Bali, na Indonésia.

O pacote de Bali envolve medidas de facilitação do comércio, agricultura e uma série de questões ligadas ao desenvolvimento de países mais pobres.

O diretor-geral do órgão disse que, no começo do ano, a OMC vai trocar ideias para saber o que levou a reunião de Bali “dar certo”, o que “levou ao fracasso, nos momentos anteriores”,  e como avançar. Ele acrescentou que será estudado se as próximas negociações multilaterais serão em “pacotes limitados com uma agenda parcelada ou de maneira mais abrangente”.


O processo


A consulta formal feita pela União Europeia dá início a um procedimento entre as duas partes na entidade em busca de solucionar as divergências no caso. Os dois lados terão 60 dias para negociar uma solução que evite um painel de disputa na OMC.

Medidas adotadas para os setores de computação, smartphones e semicondutores são alvo do questionamento. O principal foco, contudo, é a indústria automotiva e o programa Inovar-Auto, criado pelo governo para incentivar a produção local de veículos.

O adicional de impostos aos carros importados já havia sido tema de reclamação em reuniões da OMC. Além dos europeus, também houve críticas por parte de japoneses e americanos.

Em 2011, o governo elevou o IPI (Imposto sobre Produtos Importados) dos carros importados em 30%, deixando de fora apenas os veículos trazidos do México e do Mercosul. A medida tentava conter, sobretudo, a importação dos modelos chineses, em franca expansão.

O aumento foi substituído, em 2012, pelo programa Inovar-Auto, que alivia o adicional do tributo para quem produz no país. Incentivadas pela medida, marcas de luxo como BMW, Audi e Land Rover decidiram instalar fábrica no país.

O governo tentou minimizar as críticas internacionais adotando uma cota de importação para as marcas estrangeiras. O Inovar-Auto incorporou uma cota de importação de 4.800 veículos para cada importador.

Para representantes europeus, o Brasil tem usado o sistema tributário de modo incompatível com os compromissos da OMC, dando vantagens aos produtores nacionais e os protegendo de competição.

"Essas medidas têm um impacto negativo nas exportações da União Europeia, que enfrenta maior tributação do que os competidores locais. As medidas restringem o comércio e resultam em aumento de preços para os consumidores brasileiros, menor oferta e acesso restrito a produtos inovadores", afirma texto dos representantes do bloco na OMC.

Nenhum comentário:

Postar um comentário