segunda-feira, 10 de março de 2014

Interferência do governo custou mais de R$ 180 bilhões a estatais brasileiras

  • Nos últimos três anos, Petrobras perdeu 60% de seu valor de mercado, enquanto Eletrobras encolheu 63%
Danilo Fariello


BRASÍLIA — Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era cinco vezes superior à da colombiana Ecopetrol. No ano passado, as duas empresas chegaram a valer o mesmo na bolsa. Enquanto a petrolífera vizinha praticamente manteve o seu valor de mercado nos últimos três anos, a estatal brasileira encolheu US$ 137 bilhões, ou 60% desde o fim de 2010. Em reais a Petrobras valia R$ 380,24 bilhões e passou a valer R$ 214, 68 bilhões, um tombo de 43%. Ainda mais acelerada foi a desvalorização da segunda maior empresa controlada pelo governo, excluídos os bancos. Do quarto trimestre de 2010 até o último balanço publicado, no terceiro trimestre de 2013, a Eletrobras viu seu valor de mercado em reais cair 63%: de R$ 26,2 bilhões para R$ 9,6 bilhões, segundo cálculos da consultoria Economatica. Juntas as duas perderam R$ 182,16 bilhões.

A perda de valor das estatais federais ao longo dos últimos anos, segundo especialistas, resulta principalmente da interferência política na gestão das companhias, o que contribui para o enfraquecimento do mercado de ações brasileiro, onde as duas sempre tiveram boa parte dos negócios. O governo tem exigido das estatais elevados investimentos a curto prazo e, ao mesmo tempo, permite que as dívidas brutas dessas duas empresas disparem, avaliam especialistas. Mas o principal problema, segundo eles, é a limitação das receitas obtidas pelas companhias.

— A Petrobras é alvo de manipulações, tendo os reajustes (dos combustíveis) limitados para colaborar com a inflação, e, no caso da Eletrobras, só um louco compra ações da empresa hoje, com essa confusão sobre as dívidas da empresa após o subsídio ao uso das usinas térmicas e a redução das tarifas — diz Paulo Feldmann, pesquisador de Economia das Organizações da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP) e ex-presidente da Eletropaulo.

Analistas apontam a frequência cada vez maior do uso dessas empresas para fins fiscais e monetários pelo governo, o que enfraquece a gestão das companhias e sua sustentabilidade a longo prazo.

— O governo Dilma Rousseff adotou uma estratégia de uso mais intenso das estatais, forçando interesses do governo, mais ou menos como era feito no período militar e na década de 80, com o uso delas para controlar preços — diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper e co-autor do livro “A reinvenção do capitalismo de Estado: a evolução do Leviatã”, a ser lançado.


‘Ninguém sabe a conta’


Lazzarini destaca que é compreensível que um governo use as estatais para imprimir determinados rumos à economia nacional. Ele diz, porém, que a falta de transparência quanto às recentes atitudes acaba por turvar a visão do mercado sobre as companhias. Representantes de acionistas minoritários nessas empresas frequentemente reclamam que, muitas vezes, a gestão da macroeconomia prevalece sobre o interesse próprio das estatais. Exemplos disso seriam o freio no aumento dos preços dos combustíveis, e a adesão da Eletrobras, no ano passado, à proposta de renovação de concessões mediante redução de receitas, rejeitada por outras estatais de gestão estadual.

— Houve enorme aparelhamento dessas máquinas e, nisso, você levou para dentro delas o que pensávamos que já tinha acabado, que é o modelo patrimonialista, no qual se confunde interesse do Estado com interesse das pessoas no poder — diz o economista José Matias-Pereira, professor da UnB e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Esses economistas lembram que, assim como o controle do preço dos combustíveis afeta negativamente os resultados da Petrobras, a redução de 20%, em média, das tarifas elétricas em 2013 enterrou os planos de expansão da Eletrobras para o exterior e qualquer alusão à meta de transformá-la na “Petrobras do setor elétrico”.

— A pergunta é: quanto custa essa maneira de se combater a inflação pelas estatais? Custa caro e ninguém sabe a conta. Na minha opinião, elas viraram autarquias, apêndices do Tesouro Nacional. O interesse do controlador soa tão mais alto, que a ação de produção fica no segundo plano — afirma o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre/FGV.

Matias-Pereira destaca que, mesmo com seus caixas combalidos, as estatais têm sido forçadas pela União a elevar o volume de investimentos federais, o que acaba resultando na disparada do endividamento dessas empresas. Nesse esforço, o volume de investimento das estatais em 2013 foi recorde, de R$ 113,5 bilhões, segundo o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento. Mesmo assim, o setor de energia, onde Petrobras e Eletrobras lideram os recursos, deveria responder por quase a metade do PAC 2, o que não ocorre na prática.

— Em 12 meses, o endividamento da Petrobras cresceu R$ 68 bilhões. Isso é um sinal financeiro de como a empresa está agravando a sua situação — disse.

Segundo os cálculos de Roberto Afonso, a partir de dados do Dest, as duas estatais tiveram déficit primário de 0,71% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no ano passado (0,09% para Eletrobras e 0,62% para Petrobras). Para efeito de comparação, ele lembra que o superávit primário do governo central foi de 1,57% do PIB em 2013:

— Se ainda estivessem computadas dentro do setor público (como ocorreu no passado), as duas empresas consumiriam quase a metade do superávit primário feito pela União — afirma Afonso.

Ele diz ainda que as duas empresas investiram 2,2% do PIB no ano passado, segundo o Dest, mas, para isso, tomaram 1,58% do PIB em operações de crédito. Como as estatais estão sendo chamadas a puxar os investimentos em infraestrutura, logo acabam se endividando e gerando déficits, avalia o pesquisador do Ibre/FGV.

— Para investir, elas estão precisando se endividar cada vez mais e isso acaba por deprimir a avaliação de mercado dessas empresas, que, aliás, já gastaram 0,28% do PIB com juros. A decisão de se endividar segue apenas o interesse do governo, por isso não faltam ações na Justiça e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionando isso — afirmou Afonso.

Procurado, o Dest informou em nota que “não se manifesta sobre valores de mercado de empresas de capital aberto, cuja controladora é a União, por sua condição de coordenadoria e governança das estatais.” O Dest diz ainda que as empresas têm seus próprios canais de relação com investidores e prestam contas à CVM.

A Petrobras não comentou o teor da reportagem. A Eletrobras, em nota, informou que, quanto à desvalorização das ações, é preciso levar em conta que, em janeiro de 2010, foi aprovada a forma de pagamento dos dividendos relativos a exercícios sociais de 1979 a 1984, 1989, 1996 e 1998, no valor total de cerca de R$ 10 bilhões, dividendos estes que estavam embutidos no valor das ações daquele período. Segundo a Economatica, porém, seus cálculos já são ajustados conforme o pagamento de proventos, como dividendos.

A Eletrobras informa ainda que, em setembro de 2013, apresentava dívida líquida positiva, com saldo de cerca de R$ 1 bilhão a receber de financiamentos feitos pela companhia. O próximo balanço da empresa será publicado no dia 27. Este ano, a empresa ainda terá o impacto desfavorável da escassez de chuva que já se refletiu nas ações do setor elétrico na Bovespa pelo temor do racionamento.

Feldmann, da USP, defende que o governo tire as ações de Petrobras e Eletrobras do mercado, para preservar os investidores das possíveis manipulações.

Criar emprego é mais importante que controlar inflação, diz Lula

Em entrevista a jornal italiano, ex-presidente faz defesa à política econômica de Dilma e descarta disputar eleições em 2018

10 de março de 2014 | 9h 09

Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a criação de empregos deve ser a prioridade na economia em detrimento de outros temas, como o controle da inflação. Em entrevista ao jornal italiano La Reppublica publicada no domingo, o ex-presidente reafirmou apoio à reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Sobre a disputa presidencial seguinte, disse que política é "imprevisível". Apesar disso, Lula diz que a natureza é implacável e ele estará com 72 anos na eleição presidencial de 2018.
Ao jornal italiano, Lula diz que "críticos gostariam que diminuíssemos o emprego para reduzir a inflação". "Mas para nós a defesa do emprego é mais importante que a inflação", disse. Lula comentou que foram criados 21 milhões de empregos nos últimos 11 anos (oito do governo Lula e três de Dilma Rousseff) e 42 milhões de brasileiros entraram na classe média. Na entrevista publicada, Lula não citou números da inflação.

Sobre as eleições presidenciais, Lula foi questionado sobre eventual volta para tentar a disputa de 2014. "Não. Eu vou apoiar minha companheira Dilma Rousseff", disse. Sobre 2018, Lula diz que a política é "imprevisível". "Mas a natureza é implacável: em 2018, para a eleição seguinte, eu terei 72 anos".

Questionado sobre os protestos populares, o ex-presidente diz que após a ascensão social dos últimos anos "brasileiros agora querem mais e com razão". Para Lula, isso só acontece atualmente porque há uma "democracia verdadeira" no País e as pessoas podem se expressar. Sobre a Copa do Mundo, Lula reconhece que poderá haver atrasos em obras de infraestrutura. Mesmo assim, avalia que o Brasil sairá fortalecido do evento.

Lula também fez uma crítica à atuação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O ex-presidente brasileiro disse que o atual governo venezuelano errou ao não se esforçar para iniciar um dialogo maior com a oposição.

Sobre a imagem do Brasil no exterior, Lula diz que o País era uma "criança" que cresceu e começou a ter um papel mais importante na economia, nos cargos internacionais e na mediação de assuntos globais. Por isso, diz, o Brasil estaria sendo visto como um "incômodo" para alguns países.

Taxas abusivas são armadilhas antes do crédito






O Estado de S.Paulo
 
Armadilhas na hora de comprar um imóvel começam antes do financiamento. A mais recorrente é o Serviço de Assessoria Técnica Imobiliária (Sati), pelo qual é cobrado 0,88% sobre o valor do bem, sob alegação de que o mutuário terá auxílio jurídico para o crédito imobiliário.

"Na prática, isso não ocorre. Quando os financiamentos eram mais burocráticos, o serviço era necessário, mas hoje é mais simples, e o financiamento sai, em média, em 30 dias", diz Renata Reis, do Procon.

Outra tática é cobrar taxa de corretagem, de até 8%. Essa comissão só deve ser paga se o corretor for contratado pelo consumidor para procurar o imóvel para ele. "As construtoras contratam imobiliárias para vender o imóvel e, na hora de fechar o negócio, cobram do consumidor. Essa taxa é ilegal e deveria ser paga pela construtora", diz Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores.

A taxa de interveniência é cobrada quando o comprador financia com um banco não indicado pela construtora e pode chegar a R$ 3 mil ou 2% do valor do financiamento. "Isso caracteriza venda casada e deve ser questionado na Justiça", alerta a especialista do Procon.

Construtoras impõe taxa de 3% quando o comprador quer transferir o imóvel em construção para que outra pessoa assuma as prestações do financiamento. "É cobrança abusiva e não está prevista no Código de Defesa do Consumidor", afirma Dolci. "Se já pagou, é possível reverter isso nos órgãos de defesa do consumidor ou na Justiça."

A principal reclamação é contra a negativa de crédito. Marco Aurélio, da AMSPA, diz que o consumidor, ludibriado pela construtora, fecha negócio sem ter renda necessária. Quando são entregues as chaves e ele vai ao banco, não consegue o crédito, restando-lhe três alternativas: financiar o restante com a construtora, vender o imóvel ou pagar à vista. Para evitar surpresas, é preciso fazer simulação nos bancos para saber quanto sua renda permite financiar.

O comprador só pode comprometer até 30% do salário com a prestação da casa. Embora alguns bancos financiem até 100% do valor do imóvel, a maioria só empresta 80%. Antes de assinar o contrato, verifique se a renda é suficiente e se você tem os 20% para entrada.

Brasileiro fecha negócio em 3 horas


10 de março de 2014 | 2h 05

Cláudia Trevisan, enviada especial - O Estado de S.Paulo
 
AUSTIN, TEXAS - Três horas após a abertura da feira de negócios da South by Southwest, o produtor e diretor de cinema e TV Leandro HBL havia fechado dois negócios. A Nike encomendou um estudo sobre estética brasileira, de olho na Olimpíada de 2016, e a revista Victory comprou dez documentários sobre esportes, que HBL começará a realizar assim que voltar ao Brasil.

Fundador da Mosquito Projects e do Bando Studio, o produtor é veterano no SXSW, que frequenta desde 2003. Seu filme Favela on Blast, co-produzido pelo DJ americano Diplo, foi lançado na edição de 2009. "É difícil fechar negócios na primeira participação. A presença constante ajuda", disse HBL, que não revelou valores.

A Mosquito integra o grupo de 12 empresas maduras que foram a Austin buscar parcerias. Donos da MJV, Ysmar e Maurício Vianna se destacam entre os empreendedores brasileiros pela idade e tempo de estrada. Fundada em 1997, a empresa transitou do TI ao desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas corporativos. "Usamos pessoas criativas para encontrar saídas para questões enfrentadas por nossos clientes", disse Maurício, de 46 anos, filho de Ysmar, de 70. 
 
 
 

Produtividade baixa impede que Brasil cresça mais

Estudo aponta que, sem efeito negativo da produtividade, expansão das riquezas do País teria sido 45% maior nas últimas duas décadas

10 de março de 2014 | 2h 08

Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo
 
A produtividade teve efeito negativo no crescimento brasileiro nas últimas duas décadas. Um estudo da consultoria McKinsey & Company mostra que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1990 e 2010 poderia ter sido 45% maior não fosse o efeito negativo da produtividade, que puxou o resultado para baixo em 1,4 ponto porcentual.

As expansões registradas na força de trabalho, no nível de educação da população, no fornecimento de energia e no investimento em capital fixo somaram 4,5% ao ano no período (veja gráfico acima). Se a produtividade tivesse avançado o suficiente para pelo menos ter efeito nulo, a expansão média do PIB teria ficado em 4,5%, e não em 3,1%, afirma Camilo Martins, sócio da McKinsey.

A produtividade do trabalhador brasileiro cresceu, em média, 1% ao ano ao longo dos últimos 25 anos, nos cálculos da McKinsey. É um resultado muito inferior ao registrado por outros países em desenvolvimento, incluindo nações latino-americanas como Peru e Chile, e abaixo do avanço dos Estados Unidos, que opera historicamente em níveis muito mais elevados do que os brasileiros.

Segundo estudo da consultoria, o valor gerado pelo trabalhador americano por hora de trabalho está próximo de US$ 35, enquanto a contribuição do brasileiro é de cerca de US$ 5. Com a forte evolução da produtividade peruana - que foi mais três vezes superior à brasileira, entre 1988 e 2012 -, a produção do trabalhador do país em dólar encostou no resultado nacional.

A preocupação com a produtividade passará a ser vital para o Brasil nas próximas décadas, segundo Henrique Teixeira, sócio da McKinsey. Com a redução da expansão demográfica, o País deverá passar pelo mesmo processo de nações desenvolvidas: uma parcela cada vez maior da expansão do PIB dependerá dos ganhos de produtividade.

Hoje, de acordo com a McKinsey, cerca de 70% do crescimento do PIB americano já depende de ganhos de escala. Na Europa, a totalidade do crescimento está ligada ao fator produtividade. Isso ajuda a explicar porque países mais produtivos, como a Alemanha, crescem mais do que outros menos eficientes, como Itália e Espanha.


Dificuldades


Entre os entraves à produtividade brasileira, Teixeira destaca a infraestrutura, em especial a logística. "O investimento necessário nessa área é de US$ 600 bilhões. E isso para que tenhamos uma estrutura comparável à do Chile e de outros países latino-americanos", afirma. 

Para o sócio da McKinsey, quanto mais rápido andar o processo de privatização já em curso de portos, aeroportos e ferrovias, mais rapidamente o Brasil conseguirá reduzir essa desvantagem.

Teixeira lembra que a estratégia de repasse de investimentos à iniciativa privada deu certo no passado. Ele diz que, apesar dos problemas que persistem, o setor de telecomunicações é um exemplo positivo. "Houve um crescimento de 3.600% desde 1998. É um resultado forte." 

A dificuldade em tirar projetos de infraestrutura do papel evidencia, na opinião do consultor econômico Raul Velloso, ex-secretário de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, que o governo brasileiro "desaprendeu" a investir. É por isso que Velloso considera as recentes concessões de projetos à iniciativa privada como um passo na direção certa.

"O governo teve muitos problemas na área de gestão e, como usa 75% do orçamento para pagar salários e benefícios sociais, também não tem dinheiro para investir", diz o consultor. "O setor privado tem dinheiro, porque investidores do mundo inteiro têm interesse em bons projetos de infraestrutura."

Segundo os cálculos de Renato Pavan, presidente da consultoria Macrologística, o custo logístico do Brasil - que inclui os gastos com transporte, estoque e armazenagem - é de 12,5% do PIB. "O custo da logística no Brasil é 40% mais caro do que o americano, que está em 8% do PIB", diz o especialista.

Para o curto prazo, porém, não há solução à vista. E a safra recorde prevista para este ano só deve agravar a situação. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o valor do frete praticamente dobrou desde 2009. No início de fevereiro, o custo de transporte por tonelada entre a cidade de Sorriso (MT) e o Porto de Santos chegou a R$ 300 - um recorde para o mês.

domingo, 9 de março de 2014

População confia em jornais, mas só 6% leem diariamente, diz pesquisa


Por Bruno Peres | Valor
 
BRASÍLIA  -  (Atualizada às 17h13) A televisão continua sendo o meio de comunicação mais utilizado pela população brasileira, de acordo com pesquisa divulgada nesta sexta-feira pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), segundo a qual 65% dos brasileiros estão expostos diariamente ao meio televisivo, com uma média diária de 3h30 de uso. Os jornais são o veículo mais confiável, mas a internet é o meio de comunicação que mais cresce, de acordo com o levantamento.

Gero Breloer/AP

Os dados fazem parte da primeira edição da “Pesquisa Brasileira de Mídia” encomendada pela Secom ao Ibope com o objetivo de identificar os hábitos de consumo de mídia pela população brasileira e subsidiar a elaboração da política de comunicação social e divulgação das atividades do Executivo.

A pesquisa foi feita entre outubro e novembro de 2013, nos 26 Estados e no Distrito Federal e tem margem de erro máxima estimada em 1 ponto percentual.

Depois da TV, a internet se tornou o meio mais utilizado pela população, com audiência diária de 26% da amostra e tempo médio de exposição de 3h40m. Na sequência em acesso diário vem o rádio, com audiência de 21% e tempo médio de exposição de 3 horas.

A pesquisa diz que 31% dos lares brasileiros são atendidos por um serviço pago de TV, enquanto a TV aberta está presente em 91% dos domicílios brasileiros. Entre os entrevistados, 24% afirmam ter ambas as formas de acesso, havendo correlação entre renda e acesso à TV paga. A antena parabólica está presente nos lares de 37%, sendo mais comum no interior do país.

Os dados do levantamento mostram que a maioria dos brasileiros (75%) não costuma ler jornal impresso, enquanto 6% da população tem o hábito de leitura diária de jornais, com média de 1h05m dedicada à leitura. Notícias locais (33%), esportes (25%) e notícias de âmbito nacional (21%) são os assuntos  de maior interesse dos leitores entrevistados.

Revistas impressas - semanais - são consumidas por 7% dos entrevistados, que afirmam ler publicações uma vez por semana ou mais. O total de leitores diários de revistas representa 1%.

Ao questionar o nível de confiança dos entrevistados na mídia em geral, as notícias veiculadas em jornais impressos são as que apresentam maior índice (53% dos leitores dizem confiar sempre ou muitas vezes), seguidas das notícias veiculadas por rádio e TV, tecnicamente empatadas (50% e 49% respectivamente). Propagandas veiculadas por jornais impressos apresentam maior nível de confiança entre os usuários (47%), seguidas por anúncios de rádio e TV (ambos com 42%) e de revistas impressas (36%).


Internet


A pesquisa afirma que a internet é o meio de comunicação cuja utilização mais cresce entre os brasileiros, embora o levantamento não apresente perguntas referentes a migração de plataforma por parte de usuários de veículos de comunicação. A pesquisa aponta que 53% dos entrevistados nunca usam ou não costumam usar a internet, enquanto 26% dos entrevistados fazem uso diário da rede mundial de computadores, com uma média diária de uso de 3h40m.

A segmentação dos resultados de frequência de uso mostra que o hábito de acessar a internet é mais comum na população mais jovem, nos maiores centros urbanos e nos estratos de maior renda e escolaridade. A pesquisa destaca o peso das redes sociais - em especial o Facebook - entre os acessos diários e os sites mais são citados por usuários como fonte de informação.

Com menor nível de confiança entre os entrevistados estão notícias publicadas por blogs - apenas 22% dos pesquisados confiam sempre ou muitas vezes nesse tipo de conteúdo -, seguidas de notícias de redes sociais (24%) e de sites (28%). O índice de confiança de anúncios de blogs é de 19%.


Tendências


Na avaliação da Secom, cabe ao governo estar atento a tendências de consumo de mídia nos próximos anos, tendo em vista a adesão aos meios digitais de comunicação, “procurando sempre a maior qualidade na sua comunicação, de forma técnica e transparente”.

A intenção do governo é repetir anualmente a pesquisa para “descrever as mudanças tecnológicas e comportamentais que afetam a utilização dos meios de comunicação”.

O documento foi apresentado no Palácio do Planalto pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann. De acordo com a Secom, a pesquisa custou R$ 2,4 milhões e foi realizada pelo Ibope por meio de licitação.

A abrangência nacional da pesquisa é destacada pela Secom. O levantamento foi elaborado entre agosto e outubro do ano passado, com a participação de especialistas e acadêmicos em pesquisas de opinião pública, e contemplou 75 perguntas feitas a 18.312 brasileiros, em 848 municípios.

A Secom destacou no documento que estudos semelhantes comumente difundidos no setor privado “privilegiam ou limitam” as amostras aos grandes centros urbanos, o que, na avaliação da pasta, “reduz ou até mesmo elimina” a presença do interior do país.

“No setor público, entretanto, a natureza da relação entre governos e cidadãos exige uma comunicação para todos, e não apenas com brasileiros-consumidores”, diz o documento, cuja íntegra está disponível na página da Secom na internet.

Uma balança à deriva, sem tapar o sol com a peneira


Por Denise Neumann | De São Paulo
 
 
Aaron McKenzie Fraser/Bloomberg

O Ministério do Desenvolvimento (Mdic) tenta tapar o sol com a peneira ao creditar à Copa do Mundo e ao aumento da importação de televisores e outros eletroeletrônicos parte expressiva da piora do resultado da balança comercial nos dois primeiros meses deste ano.

O aumento na importação de todo segmento de máquinas e aparelhos de uso doméstico somou US$ 378 milhões em relação aos valores gastos com os mesmos bens no primeiro bimestre do ano passado, mas outros movimentos na balança comercial foram muito mais significativos e dentro desse grupo não existem só televisores e peças.

O primeiro bimestre fechou com um déficit de US$ 6,1 bilhões. Ele resulta de vários problemas e a Copa não merece essa culpa. Muito mais preocupante que os milhões (temporários) gastos com televisores são o aumento na importação de petróleo (US$ 370 milhões a mais no bimestre, quando se esperava recuperação da produção doméstica e queda nas compras externas) e as perdas em alguns itens da pauta de exportações, como milho (menos US$ 700 milhões), açúcar (menos US$ 420 milhões considerando bruto e refinado), automóveis (queda de US$ 200 milhões), entre outros.

No início do ano passado, quando a balança comercial acumulou um déficit de US$ 5,3 bilhões, a balança de petróleo e derivados, sozinha, registrou um resultado negativo de US$ 4,6 bilhões (87% do total), resultado inflado ainda por registros atrasados na importação, dizia-se na época. Ou seja, todo o resto do comércio exterior teve um resultado negativo de US$ 700 milhões.

Nesse ano, o déficit na balança de petróleo e derivados diminuiu, mas mesmo sem registros atrasados ele ainda foi de US$ 3,6 bilhões, passando a representar 59% do déficit total. Ou seja, mesmo com a melhora relativa nesse grupo, o resto da balança ampliou seu déficit para US$ 2,5 bilhões. É essa piora que precisa ser analisada e entendida.

O crescimento do déficit vem de vários lados, como a menor exportação para vários destinos importantes (União Europeia e América Latina, por exemplo), o preço menor de exportação de commodities importantes (em fevereiro a soja foi embarcada por um preço 7,7% menor que o de fevereiro do ano passado) e um aumento ainda expressivo na importação de bens intermediários.

Tanto a perda de dinamismo para mercados onde vendemos manufaturados (como os vizinhos latinos) como o aumento da importação de intermediários mostra que o câmbio ainda está fazendo pouco efeito, apesar de rodar na casa de R$ 2,30 há cinco meses, mais ou menos. É na pulverização do aumento das importações e da fragilidade das exportações que mora o perigo.