São Paulo - Investir em empresas iniciantes envolve altos riscos, mas,
por outro lado, quando o tiro é certeiro o retorno tende a ser bem
superior ao de
aplicações convencionais. Porém, como esse tipo de
investimento costuma se restringir a fundos e
grandes investidores -que têm faro para encontrar negócios promissores e bons contatos para notar sua existência-,
investidores individuais que adorariam correr esse risco ficam a ver navios.
Não mais. Um novo modelo de captação de investimentos pode mudar essa dinâmica: o equity crowdfunding.
Ele segue a mesma linha do modelo de
crowdfunding,
ou financiamento coletivo, que conecta projetos que precisam de
recursos a pessoas interessadas em colaborar com a iniciativa. A
diferença é que, em vez de captar recursos para projetos em aberto, o
equity crowdfunding capta investimentos para empresas que estão
iniciando suas atividades, as
startups.
No Brasil, uma das empresas pioneiras no modelo de equity crowdfunding é a
Broota,
plataforma online que já intermediou o investimento de sete startups,
atraindo mais de 250 investidores e um total de mais de 2 milhões de
reais em aportes.
Uma das sacadas da Broota está na seleção das empresas que participam
das rodadas de investimentos. “O filtro não é feito pelo Broota, mas sim
por grandes investidores. Eles fazem um aporte mais vultuoso em uma
empresa de sua escolha e a levam ao Broota para que investidores menores
também contribuam”, afirma Frederico Rizzo, fundador da Broota.
Um desses investidores, por exemplo, é Fábio Póvoa, co-fundador da
Movile, agregadora de conteúdo para operadoras de telefonia móvel, que
hoje está avaliada em 800 milhões de reais. Ele vendeu sua participação
na empresa em 2014 e atualmente se dedica a investir em startups e
prestar consultoria sobre temas relacionados a
empreendedorismo.
Como funciona
Os investimentos no Broota partem de mil reais. Ao fazer o aporte, o
investidor se torna credor da empresa e detentor de um Título de Dívida
Conversível (TDC). Esse título dá ao investidor o direito de converter a
dívida em
ações preferenciais
da empresa na data de vencimento do contrato ou diante de situações
específicas, como em caso de abertura de capital ou venda do controle da
empresa.
Em geral, os TDCs ofertados pelas empresas que entram na Broota pagam
juros na faixa de 3% ao ano e têm prazos de vencimento longos, de cinco
anos, em média.
A remuneração é bem baixa, considerando que os juros básicos da
economia brasileira estão em 13,75% ao ano, mas o Broota pressupõe que o
investidor conheça os riscos e invista sem grandes expectativas,
inicialmente. O objetivo seria contribuir para o crescimento da empresa,
para somente depois, quando ela estiver andando com as próprias pernas,
colher os frutos.
Justamente por seguir esse tipo de estratégia, os investidores de startups são chamados de
investidores-anjo. Em uma analogia "barata", é quase como se eles investissem na empresa "na fé" e esperassem ser "abençoados" depois.
Altos riscos
O Broota faz questão de destacar que os riscos do investimento são
altos. “Não se engane, investimentos em startups, via crowdfunding ou
não, são de alto risco. Em média 50% das novas empresas fecham após um
ano”, diz o manual do investidor, disponível para acesso na página do
Broota.
Com altos riscos, Rizzo, fundador do Broota, afirma que o investimento
deve cumprir apenas a função de adicionar uma pitada de risco à carteira
do investidor. Por isso, ele sugere que esse tipo de investimento ocupe
uma parte pequena do portfólio, de cerca de 5%.
O manual do site também orienta o investidor a diversificar as
aplicações e investir apenas se houver capital suficiente para aplicar
em pelo menos dez startups.
Em contrapartida aos riscos, no entanto, estão as perspectivas de
retorno atraentes. “Quem investe em startups sabe que é um mercado de
risco, então quem entra espera multiplicar por dez ou mais vezes seu
investimento, apesar de ter consciência de que a cada dez investimentos
nove podem não dar certo", afirma Rizzo.