quinta-feira, 11 de junho de 2015

Quem é David Neeleman, que criou a Azul e comprou a TAP


Novo dono da companhia aérea portuguesa, Neeleman é um veterano do setor, conhecido pela sua religiosidade e por seu déficit de atenção


David Neeleman, da Azul, agora será um dos donos da TAP
David Neeleman, da Azul, agora será um dos donos da TAP ( foto: Divulgação)

Após anos de idas e vindas, a privatização da companhia aérea portuguesa TAP finalmente chegou ao fim. Nesta quinta-feira 11, o governo português anunciou sua venda para um consórcio formado por David Neeleman e o grupo Barraqueiro, especializado em transporte. Pela proposta, os novos donos deterão 61% da TAP, em troca de 350 milhões de euros em investimentos na empresa, além da compra de 53 novas aeronaves.

Neeleman já é um veterano do setor. Em seu currículo, consta a criação de quatro companhias aéreas: as americanas Morris Air e JetBlue; a canadense WestJet Airlines; e a brasileira Azul. Em comum, as empresas nasceram com foco na aviação regional, com uma forte política de descontos nas tarifas, boa prestação de serviços e pontualidade.

Algumas facetas do empresário já são conhecidas dos brasileiros. A primeira e mais óbvia é a sua dupla cidadania. Filho de pais americanos, Neeleman nasceu no Brasil, em outubro de 1959, na época em que seu pai Gary, era correspondente da agência de notícias United Press International (UPI). A família só retornou aos Estados Unidos, quando David tinha cinco anos. Foi, justamente, sua dupla cidadania que lhe permitiu, décadas depois, fundar a Azul, já que a legislação brasileira proíbe que estrangeiros controlem empresas de aviação.


Todos iguais


Outro lado conhecido de Neeleman é a sua religiosidade. Mórmon, o empresário é um ativo membro de sua igreja. Com 19 anos, retornou ao País em uma missão religiosa. Pelas suas contas, batizou cerca de 200 brasileiros. Além disso, já doou milhares de dólares para obras de caridade e para ajudar mórmons pobres a estudar e progredir. Para Neeleman, sua experiência missionária o levou a pôr de lado as diferenças de classe e a enxergar as pessoas. “Ser missionário me ensinou a tratar todos por igual”, afirmou, certa vez, a Jeff Benedict, autor de um livro sobre empresários mórmons. “Eu tenho desdém por pessoas que se sentem superiores às outras.”

A preocupação em humanizar os relacionamentos foi estendida às suas empresas. Em uma palestra sobre gestão, em 2010, Neeleman afirmou que todos, na Azul, tinham a mesma importância para ele – do funcionário que limpava o banheiro, até o comandante de um vôo. Por isso, manter os funcionários motivados é tão importante, para ele, quanto deixar os clientes satisfeitos. Na ocasião, declarou que “empregados felizes são os melhores”, e que a empresa deve se esforçar para que eles a considerem o “melhor lugar” em que já trabalharam.


Déficit ou superávit?


Neeleman também é um assumido e orgulhoso portador de déficit de atenção. O distúrbio torna a pessoa hiperativa, propensa a esquecer facilmente as coisas e a ser irrequieta. Para ele, porém, o déficit traz mais benefícios do que males. Em entrevista a uma publicação especializada no tema, a ADDitude Magazine, declarou que sua mente hiperativa o leva a buscar, toda hora, formas de melhorar os serviços que presta. O medo de perder o “lado positivo” do déficit de atenção o levou a recusar tratamentos, a ponto de declarar, certa vez, que, se houvesse uma pílula que o tornasse “normal”, ele não a tomaria. Para atenuar os efeitos negativos do distúrbio, o empresário adotou rotinas como colocar suas coisas sempre no mesmo lugar.

Trabalhador incansável, checa e-mails a todo instante, dorme cerca de quatro horas por noite e telefona para executivos de madrugada. Na época em que dirigia a JetBlue, recebia um e-mail, em seu antigo aparelho BlackBerry, toda vez que um avião da companhia decolava ou pousava – um procedimento que ocorria 162 vezes por dia. No começo da Azul, recebia quatro relatórios diários do call center, a fim de detectar eventuais problemas e agir imediatamente.

Um de seus vice-presidentes na JetBlue declarou certa vez, ao americano USA Today, que trabalhar com Neeleman era “desafiador, porque ele quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo”. Devido ao seu déficit de atenção, o empresário descarregava idéias a todo instante sobre a equipe e corria para implementá-las, temendo esquecer-se e perder a oportunidade de melhorar algo.

Quem o conhece, porém, sabe que outra característica de quem sofre de distúrbio de atenção é que só pode se concentrar em uma coisa por vez. E o próprio Neeleman admite que, neste caso, tem a sorte de focar naquilo de que mais gosta: aviação. Agora, essa hiperatividade vai entrar em campo para resgatar a problemática TAP, a companhia portuguesa que tenta sobreviver à gestão estatal. Os executivos da empresa podem se preparar: os telefonemas de madrugada do novo dono vão começar.
 

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