UWMadison/ThinkStock
"As operações envolvendo energia eólica são o carro-chefe, respondendo
por cerca de 30 por cento do total", diz o sócio da PwC Brasil André
Castelo
Da REUTERS
São Paulo - O Brasil já registra mais fusões e aquisições no setor
elétrico neste ano, uma tendência que deve se repetir ao longo do
segundo semestre, com grandes grupos internacionais e fundos de private equity aproveitando oportunidades no país em um momento de real desvalorizado e crise de oferta de energia, segundo especialistas.
O país somou 23 operações de fusões e aquisições entre janeiro e o
início de junho, contra 19 registradas no primeiro semestre completo do
ano passado, apontou levantamento da Pricewaterhousecoopers (PwC), com
investidores de olho no preço da energia, que tem se mantido mais alto
tanto no mercado de curto prazo quanto nos leilões realizados pelo
governo, para entrega nos próximos anos.
A presença estrangeira tem crescido nos negócios, com participação em
44 por cento dos acordos fechados em 2015, contra 26 por cento em 2014,
disse o sócio da PwC Brasil André Castelo, em entrevista à Reuters.
"As operações envolvendo energia eólica são o carro-chefe, respondendo
por cerca de 30 por cento do total", ressaltou ele, referindo-se ao
maior interesse de estrangeiros nesses ativos de energia renovável.
Castelo apontou o segmento de geração como o que mais atrai investidores, seguido por transmissão e distribuição.
Já o sócio da consultoria EY Marcos Quintanilha acredita que a retomada
dos acordos é puxada por esses motivos pontuais do setor no país, e não
está associada a um fluxo de maior otimismo com a economia do Brasil.
"O ano de 2014 foi muito fraco em termos de volume de transações,
provavelmente por receio dos investidores em relação à estabilidade das
regras e da regulação depois da Medida Provisória 579/12 e suas
consequências", analisou.
Analistas e advogados especializados em fusões e aquisições ouvidos
pela Reuters acreditam que empresas chinesas com presença no país podem
fechar em breve novas aquisições nas áreas de geração e transmissão.
Nesse segundo segmento, há também empresas espanholas de olho em
negócios.
Outras companhias que anunciaram investimentos recentes no país, como a
norte-americana SunEdison e a gestora canadense de recursos Brookfield,
são apontadas como agentes que devem manter o interesse em ativos
brasileiros.
Lava-jato
Também é esperado que empresas investigadas pela Operação Lava Jato, da
Polícia Federal, partam para a venda de ativos para fazer caixa, em
meio às dificuldades criadas pelas investigações sobre suas atividades, o
que pode impulsionar acordos de fusões e aquisições.
A Petrobras tem um plano de desinvestimentos de até 13,7 bilhões de
dólares em 2015 e 2016, no qual 40 por cento devem ser obtidos pela área
de Gás & Energia. A Eletrobras, que anunciou recentemente a
contratação de um escritório de advocacia para investigar eventuais
irregularidades em seus empreendimentos, também deverá ir ao mercado,
oferecendo empresas de distribuição e participações minoritárias em
Sociedades de Propósito Específico (SPEs).
"Com certeza, haverá interessados. Tudo depende de valores, mas
haveria, sim, apetite. São ativos que na mão de quem sabe gerenciar
podem fazer toda a diferença", afirmou o sócio do escritório de
advocacia Pinheiro Neto José Oliva.
Além das estatais, construtoras envolvidas na Lava Jato também devem
engrossar o movimento de aquisições, ao colocar no mercado projetos de
suas divisões de energia elétrica. A Engevix, por exemplo, já vendeu a
participação em empresas de transmissão e geração neste ano.
Private Equity
De acordo com a PwC, fundos de private equity responderam por 35 por
cento das transações de fusões e aquisições de ativos de energia
elétrica até junho de 2015, contra 22 por cento ao longo de todo o ano
de 2014. "Sem dúvida, agora é o momento dos fundos, tanto locais quanto
internacionais.
Eles têm feito muitas captações e estão com recursos disponíveis para
investimento. Hoje eles têm mais experiência em Brasil e devem ser
players interessantes nesse mercado, uma vez que o setor privado
institucional está com menos apetite nesse momento", explicou o advogado
Robertson Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e
Associados.
A Positiva, empresa de energia criada por ex-executivos da ex-MPX (hoje
Eneva) que recebeu aporte de um fundo do banco inglês Barclays,
considera que essas operações podem ser um mecanismo importante para
apoiar as companhias em um momento em que o financiamento está mais
escasso.
"Existe um grupo de fundos olhando o Brasil com lupa.
A combinação de um real mais barato com o setor elétrico um pouco
combalido dá um cenário interessante para a atuação deles, que têm o DNA
de entrar em um momento de baixa para recuperar valor", afirmou Leandro
Cunha, diretor financeiro da Positiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário