quinta-feira, 18 de junho de 2015

Grandes empresas saem à caça de startups




Germano Lüders / EXAME
 
 
João Oliveira, da Asapp, e Romeo Busarello, da Tecnisa
Oliveira, da Asapp, e Busarello, da Tecnisa: inovação com agilidade
 
Filipe Serrano, de Revista EXAME


  São Paulo - Os cerca de 300 corretores da incorporadora Tecnisa, em São Paulo, passaram anos enchendo seus carros com catálogos dos imóveis à venda — o que geralmente resultava em bagunça, papéis amassados e perda de tempo. Essa era a regra até que, neste ano, a empresa passou a oferecer um aplicativo que permite acessar uma cópia digital de todos os catálogos em tablets e smartphones.

A solução não era, obviamente, complexa. Mas o que chamou a atenção no caso da Tecnisa foi a rapidez. Da decisão de resolver o problema à implantação total, foram menos de dois meses. Isso porque a incorporadora recorreu à startup Asapp, com sede na capital paulista, que já tinha um serviço na medida para esse tipo de demanda. 

Assim como a Tecnisa, outras grandes empresas têm buscado startups para resolver seus problemas — e também repensar parte de seus negócios. A lista inclui os bancos Bradesco e Itaú, as fabricantes de bebidas Coca-Cola e Pernod Ricard e a fabricante de cosméticos Natura.

O objetivo de todas elas é o mesmo: aproximar-se da nova geração de empreendedores digitais e aproveitar as ideias que eles têm a oferecer. “As startups trabalham com eficiência e custo menor. É importante estar perto delas para incorporar essa cultura e aprender a inovar”, diz Erica Jannini, superintendente de canais digitais do Itaú.

Os grandes conglomerados têm vários caminhos para encontrar as startups mais indicadas. Um deles é interno. Monta-se um escritório para hospedá-las, como o Itaú, em parceria com o fundo Redpoint e.ventures, fará em São Paulo a partir de setembro.

Outras empresas de grande porte escolhem estratégias mais pontuais. Organizam os chamados hackathons, encontros de programadores que recebem um desafio e, muitas vezes, viram a noite atrás de uma solução. Ou promovem concursos — caminho seguido pelo Bradesco.

No segundo semestre de 2014, o banco recebeu projetos de inovação de 550 startups. No começo deste ano, selecionou os oito melhores e nos próximos meses deverá escolher os vencedores. As startups que entregarem produtos inovadores serão contratadas como as mais novas fornecedoras do banco. 

“Mesclamos a experiência de uma grande empresa com a ousadia de uma startup”, diz Fernando Freitas, gerente executivo do Bradesco para a área.

Entre as grandes empresas há ainda as que terceirizam a seleção — contratam consultores para escolher os empreendedores digitais mais indicados a suas necessidades. Foi a agência de marketing A.Senses que apresentou os fundadores da startup Boozebox, de São Paulo, aos executivos da Pernod Ricard no começo do ano.

A Boozebox tinha desenvolvido uma máquina de coquetéis no estilo de uma chopeira. “A solução estava alinhada com nossa estratégia. Investimos num piloto para, mais tarde, darmos uma maior escala a esse projeto”, afirma André Limaverde, gerente de marketing em pontos de venda da Pernod Ricard.

Para as grandes empresas não existe uma estratégia de aproximação ideal. Elas escolhem a mais adequada a cada projeto. O que talvez seja o ponto em comum é a tendência de evitar apostas. Em geral, as grandes empresas procuram startups que tenham encontrado uma solução funcional. Entre as startups, também há algumas preferências quando o assunto é associar-se a uma empresa de grande porte.

“O mais importante não é o dinheiro, não é o espaço físico e não é a mentoria. É o acesso ao mercado”, afirma o administrador Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo da escola de negócios Insper. Em resumo, o foco dos empreendedores digitais costuma ser menos o “start” e mais o “up”.


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