Germano Lüders / EXAME
Menor e pior: empresas como a Petrobras perderam mais valor do que as dos países vizinhos
Raphael Martins, de Revista EXAME
São Paulo - Uma das expressões da importância do Brasil na economia
latino-americana está ameaçada. Desde 2010, o país perdeu espaço na
lista das 200 companhias mais valiosas da América Latina, segundo um
levantamento feito pela consultoria Economatica para EXAME.
Hoje, o valor conjunto das empresas brasileiras em dólares corresponde
a 42% do total dessa lista, que inclui companhias com ações negociadas
na Bovespa e nas bolsas de valores de Argentina, Chile, Colômbia,
México e Peru. Há cinco anos, a participação brasileira era de 56%. Os
dados completos serão apresentados na edição especial MELHORES E MAIORES 2015, que entrará em circulação no início de julho.
É verdade que não foram apenas as empresas brasileiras que ficaram mais
baratas em dólar. Os dados da Economatica mostram que o valor de
mercado das 200 maiores empresas latino-americanas em bloco caiu de 2,4
trilhões de dólares, em 2010, para 1,6 trilhão, em maio deste ano.
É uma redução superior a 30%, ocorrida em boa parte devido à valorização do dólar,
uma consequência da recente recuperação da economia americana. Mas, no
caso do Brasil, o tombo foi maior do que o dos vizinhos. “O encolhimento
da participação das empresas brasileiras na lista das maiores do
continente reflete o período de baixo crescimento de nosso mercado e a
perda de rentabilidade dos negócios”, diz Fernando Exel, presidente da
Economatica.
Olhar para quem tomou conta do espaço perdido pelas empresas brasileiras
ajuda a compreender o que está ocorrendo. Nos últimos cinco anos, as
companhias mexicanas aumentaram de 19% para 31% sua participação na
lista das maiores da América Latina — a variação é próxima da fatia que o
Brasil perdeu.
Isso mostra quanto a economia do México vem se aproveitando da reação
dos Estados Unidos, o principal destino de suas exportações. Apesar dos
problemas crônicos do país, como a violência, e das dificuldades
políticas, o presidente Enrique Peña Nieto desde 2012 vem promovendo
reformas em setores como os de energia e telecomunicações.
“Num primeiro momento, a economia mexicana sofreu, mas hoje está mais
competitiva porque tem inflação e juros baixos”, afirma Sonia
Villalobos, economista da gestora de fundos Azimut. O Brasil, ao
contrário, não investiu para eliminar gargalos e agora enfrenta um
ajuste para voltar a crescer.
A brasileira Stefanini, empresa de serviços de tecnologia, tem cinco
unidades no México. A mais recente, um centro de desenvolvimento
dedicado a atender clientes da América hispânica e dos Estados Unidos,
foi inaugurada no ano passado. “É uma localização estratégica para
chegar ao mercado americano”, afirma Marcelo Ciasca, presidente da
Stefanini para a América Latina.
As empresas brasileiras de capital aberto aparecem enfraquecidas também
numa comparação internacional mais ampla. Exemplo: em 2010, havia oito
brasileiras que, em dólar, eram valiosas o suficiente para ser incluídas
entre as 100 maiores do mercado americano. Hoje, o grupo que faria
bonito nos Estados Unidos foi reduzido a menos da metade.
Continuam grandes o bastante só a fabricante de bebidas Ambev, o banco
Itaú e a Petrobras — a estatal, que em 2010 poderia se igualar à quarta
maior empresa americana, agora ocuparia apenas a 88ª posição.
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