quarta-feira, 10 de junho de 2015

Empresas brasileiras perdem terreno na América Latina




Germano Lüders / EXAME
Plataforma da Petrobras
Menor e pior: empresas como a Petrobras perderam mais valor do que as dos países vizinhos
Raphael Martins, de Revista EXAME



São Paulo - Uma das expressões da importância do Brasil na economia latino-americana está ameaçada. Desde 2010, o país perdeu espaço na lista das 200 companhias mais valiosas da América Latina, segundo um levantamento feito pela consultoria Economatica para EXAME. 

Hoje, o valor conjunto das empresas bra­sileiras em dólares corresponde a 42% do total dessa lista, que inclui companhias com ações nego­ciadas na Bovespa e nas bolsas de valores de Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. Há cinco anos, a participação brasileira era de 56%. Os dados completos serão apresentados na edição especial ­MELHORES E MAIORES 2015, que entrará em circulação no início de julho.

É verdade que não foram apenas as empresas brasileiras que ficaram mais baratas em dólar. Os dados da Economatica mostram que o valor de mercado das 200 maiores empresas latino-americanas em bloco caiu de 2,4 trilhões de dólares, em 2010, para 1,6 trilhão, em maio deste ano.

É uma redução superior a 30%, ocorrida em boa parte devido à valorização do dólar, uma consequência da recente recuperação da economia americana. Mas, no caso do Brasil, o tombo foi maior do que o dos vizinhos. “O encolhimento da participação das empresas brasileiras na lista das maiores do continente reflete o período de baixo crescimento de nosso mercado e a perda de rentabilidade dos negócios”, diz Fernando Exel, presidente da Economatica.

Olhar para quem tomou conta do espaço perdido pelas empresas brasileiras ajuda a compreender o que está ocorrendo. Nos últimos cinco anos, as companhias mexicanas aumentaram de 19% para 31% sua participação na lista das maiores da América Latina — a variação é próxima da fatia que o Brasil perdeu.

Isso mostra quanto a economia do México vem se aproveitando da reação dos Estados Unidos, o principal destino de suas exportações. Apesar dos problemas crônicos do país, como a violência, e das dificuldades políticas, o presidente Enrique Peña Nieto desde 2012 vem promovendo reformas em setores como os de energia e telecomunicações.

“Num primeiro momento, a economia mexicana sofreu, mas hoje está mais competitiva porque tem inflação e juros baixos”, afirma Sonia Villalobos, economista da ges­tora de fundos Azimut. O Brasil, ao contrário, não investiu para eliminar gargalos e agora enfrenta um ajuste para voltar a crescer.

A brasileira Stefanini, empresa de serviços de tecnologia, tem cinco unidades no México. A mais recente, um centro de desenvolvimento dedicado a atender clientes da América hispânica e dos Estados Unidos, foi inaugurada no ano passado. “É uma localização estratégica para chegar ao mercado americano”, afirma Marcelo Ciasca, presidente da Stefanini para a América Latina.

As empresas brasileiras de capital aberto aparecem enfraquecidas também numa comparação internacional mais ampla. Exemplo: em 2010, havia oito brasileiras que, em dólar, eram valiosas o suficiente para ser incluídas entre as 100 maiores do mercado americano. Hoje, o grupo que faria bonito nos Estados Unidos foi reduzido a menos da metade.

Continuam grandes o bastante só a fabricante de bebidas Ambev, o banco Itaú e a Petrobras — a estatal, que em 2010 poderia se igualar à quarta maior empresa americana, agora ocuparia apenas a 88ª posição.

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