Publicado por Luiz Flávio Gomes -
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Dilma
anunciou a “Pátria Educadora” num dia e cortou R$ 70 bilhões do
orçamento da educação no outro. Nossa pátria é, como se vê,
programadamente deseducadora, porque é muito subversivo estimular
as ignorâncias a buscarem sabedoria. Desde os gregos clássicos era
assim: Sócrates (V a. C.), que inquieta as consciências extrativistas,
logo soube do seu destino: a cicuta. Nós somos a continuidade dessa
tradição ignorante: continuamos girando em círculo. Ninguém pode afirmar
que o Brasil não esteja fazendo nada pela educação (5,5% do PIB é gasto
nisso). De outro lado, ninguém pode contestar que estamos girando
falsamente em círculos, com guinadas mirabolantes de 360 graus: volta-se
sempre ao mesmo ponto.
Nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX todos eram discursivamente
contra a escravidão, mas ninguém acabava com ela (ao contrário, todos
que podiam, incluindo as classes médias, tinham escravos em casa e não
queriam, de verdade, mudar nada). Nos séculos XX e XXI todos somos discursivamente
a favor da educação de qualidade, em período integral, mas ninguém a
implanta. Por isso se diz (E. Giannetti) que a educação nos séculos XX e
XXI é o equivalente moral da escravidão. Será que um dia teremos a
Princesa Isabel da educação?
Praticamente nada do que apregoamos no século XXI já não foi diagnosticado e reivindicado no século XX. O Manifesto por uma Educação Nova no Brasil,
assinado por intelectuais como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquete
Pinto e Cecília Meireles, é de 1932 (veja O Globo de 28/3/32).[1].
O que se postulava na época (qualidade no ensino, valorização dos
professores, educação em período integral etc.) é tudo o que consta do
Plano Nacional da Educação (PNE) elaborado no século XXI. Ou seja:
continuamos girando em círculo. Ainda estamos na fase de aspirações,
desejos, metas não cumpridas. Houve evolução? Sim, mas os problemas
essenciais perduram (analfabetismo absoluto – mais de 10 milhões -,
analfabetismo funcional – ¾ da população -, falta de qualidade nas
escolas públicas, universidades em frangalhos, mão de obra
desqualificada etc.). Consequências: povo, em geral, sem consciência
crítica, país não competitivo, baixa produtividade (são necessários
quatro brasileiros para se equiparar à produtividade de um
norte-americano), graves problemas éticos, violência epidêmica,
corrupção sistêmica etc.
“Na
hierarquia dos problemas nacionais – dizia o Manifesto -, nenhum
sobreleva em importância e gravidade ao da educação”. Depois de 43 anos
de República [agora já contamos com 126 anos] “se verifica que não
lograram ainda criar um sistema de organização escolar à altura das
necessidades modernas e das necessidades do país”. O documento ainda
dizia: “É preciso dar aos professores formação e remuneração
equivalentes que lhes permitam manter, com eficiência no trabalho, a
dignidade e o prestígio indispensáveis aos educadores” (apenas 75% dos
professores possuem titulação superior; apenas 57% deles recebem a média
das demais carreiras universitárias; tão-somente 12% dos alunos estudam
em período integral; 2,9 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17
anos estão fora da escola etc.).
O Brasil continua sendo (em
termos sociais) uma nação fracassada (69º lugar no ranking do IDH; 12º
país mais violento do planeta; das 50 cidades que mais matam, 19 estão
aqui; campeão mundial no item violência contra professores etc.) porque
perdeu vários bondes da História (o da educação, por exemplo; e agora
está perdendo o da tecnologia). As bandas podres das classes dominantes,
eminentemente extrativistas, não permitem nenhum tipo de política
inclusiva. Cultura da exclusão. Não se pensa na vida em sociedade (em
comunidade). Cada um procura extrair (do Estado e dos outros) o máximo
de acumulação possível: excesso de egoísmo, parasitismo, desigualdade
extrema, corrupção, violência e vingança. Esse é o retrato preponderante
do atraso brasileiro. Não será com lideranças extrativistas (os
políticos são eleitos pela população alienada: seja porque as classes
intermediárias odeiam a política, seja porque as classes populares não
contam com consciência crítica) que vamos sair do atoleiro econômico,
social, educacional e comunitário em que nos encontramos. Assim pensam
os realistas. Os pessimistas dizem que a tragédia descomunal está apenas
começando.
[1] Ver O Globo 31/5/15, p. 14.
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