Poucas áreas foram tão beneficiadas pelo avanço da tecnologia como a
saúde. Nos últimos anos, a medicina diagnóstica evoluiu a ponto de
permitir que médicos detectem a probabilidade de alguém desenvolver uma
doença. Em outros casos, as doenças são identificadas tão cedo que as
chances de sucesso no tratamento se multiplicam.
Recentemente, a atriz americana Angelina Jolie chamou a atenção para o
assunto. Em 2013, ela decidiu retirar os seios depois de descobrir uma
mutação no gene BRCA1 que eleva em 87% as chances de desenvolver câncer
de mama. Dois anos depois, Angelina extraiu os ovários e as trompas de
Falópio, pois a mutação também aumenta as chances de desenvolver tumores
nessa região.
A decisão da atriz só foi possível em função dos recentes avanços na
identificação precoce de doenças por meio do sequenciamento genético.
Desde 2001, quando o mapeamento do genoma humano foi concluído, exames
como o de sequenciamento genético ganharam escala comercial.
Estima-se
que, entre 2007 e 2013, o custo de um teste completo tenha caído mais de
90%. “Há uma série de dados clínicos do paciente e de seus familiares
que devem ser observados antes de realizar um exame desse tipo”, diz
Antonio Cavaleiro de Macedo, coordenador do Centro de Oncologia do
Hospital Santa Catarina, em São Paulo. Na época em que anunciou sua
primeira cirurgia, Angelina Jolie declarou que se tratava de um
procedimento de prevenção. Sua mãe, a avó e uma tia foram vítimas de
câncer.
E quem não se encaixa nesse perfil, de histórico familiar de câncer?
Para todas as mulheres, a boa notícia é que a evolução dos exames de
mamografia garante que anomalias possam ser detectadas em estágio
inicial de desenvolvimento.
O impacto disso é extremamente positivo, já que o diagnóstico precoce
aumenta as chances de sucesso do tratamento. Um estudo recente do A.C.
Camargo Câncer Center, de São Paulo, aponta que nove entre dez mulheres
diagnosticadas com câncer de mama em fase inicial continuam vivas depois
de cinco anos de conclusão do tratamento.
Desde o fim dos anos 1990, quando os recursos de mamografia digital se
tornaram mais comuns, novas formas de detectar tumores de mama sem
causar tanto desconforto às mulheres vêm sendo testadas. Uma das últimas
novidades é a tomossíntese mamária, que permite fazer uma avaliação
tridimensional da região. O recurso diminui os efeitos da sobreposição
de tecidos e, por isso, gera imagens mais nítidas.
Numa tomossíntese, é possível obter 25 projeções da mama, que são
reproduzidas em slides de apenas 1 milímetro. O nível de detalhamento
diminui a necessidade de repetir exames e fazer biópsias, um
procedimento considerado invasivo. “Nos próximos anos, poderemos
verificar se a disseminação desse tipo de exame causou a queda de mortes
por câncer”, diz Antonio Cavaleiro de Macedo, do Hospital Santa
Catarina, onde são realizadas, em média, 40 tomossínteses mamárias por
mês.
De acordo com Paulo Rodrigues, doutor em urologia pela Universidade de
São Paulo, a principal vantagem do diagnóstico precoce é permitir que os
médicos atuem a tempo de o paciente responder bem ao tratamento.
Segundo ele, com a ajuda da tecnologia diagnóstica, hoje só 2% dos
pacientes com câncer no aparelho urológico chegam aos consultórios com
metástase, tumores espalhados por outros órgãos. “Isso nos dá a chance
de agir num momento em que a probabilidade de sucesso no tratamento é
grande.”
Além do câncer, a tecnologia dos exames também permitiu que outras
doenças sejam diagnosticadas com antecedência. Uma recente solução de
imagem, que combina equipamentos e softwares de última geração, permite
estimar a densidade das placas amiloides em pacientes adultos com
disfunção cognitiva. Disponível nos Estados Unidos, o sistema é
utilizado para saber se a presença das placas amiloides indica o
desenvolvimento da doença de Alzheimer.
A detecção precoce da doença de Alzheimer tem impactos importantes na
manutenção da qualidade de vida dos pacientes. Isso porque, além da
perda de memória, a doença afeta funções cognitivas e o sistema
imunológico, que se debilitam progressivamente. Todo esforço para fazer
com que os portadores vivam em melhores condições é válido – já que, com
o envelhecimento da população, a tendência é que os casos de doença de
Alzheimer aumentem. Só nos Estados Unidos, uma projeção aponta que o
número de portadores deve triplicar até 2050.
Diagnóstico rápido e disseminado
Nos últimos anos, as melhorias na medicina diagnóstica também permitiram
a realização de exames fora do ambiente de um hospital ou de um
laboratório. A evolução dos testes conhecidos como point of care é uma
demonstração disso.
Eles ganharam essa denominação porque, inicialmente, eram feitos à beira
do leito dos pacientes. Por definição, os testes point of care geram
resultados em poucos instantes. Isso ajuda os profissionais a dar um
rápido encaminhamento ao tratamento.
Alguns exemplos desse tipo de tecnologia são testes que acompanham as
condições cardíacas e renais de pacientes hospitalizados. Os testes
rápidos para detecção de HIV e medição do nível glicêmico também fazem
parte dessa categoria de exames.
Por serem realizados com aparelhos portáteis, os testes point of care
podem ser feitos em atendimentos residenciais, o que ajuda no tratamento
de pacientes com quadro de vulnerabilidade agravado por uma baixa de
imunidade.
Testes point of care e exames de tomossíntese e de avaliação de placas
amiloides são exemplos de inovação que só são possíveis graças ao
crescente investimento da indústria em pesquisa e em novas tecnologias. E
muito mais vem por aí.