Hoje, a humanidade entra no cheque especial — com a Terra
Getty Images
No vermelho: diferença entre capacidade de regeneração do planeta e o
consumo humano gera um saldo negativo que se acumula desde a década de
80
São Paulo - Até o final desta quinta-feira (13), a humanidade terá superado o orçamento do meio ambiente para o ano, passando a operar no cheque especial.
Em oito meses, esgotamos todos os recursos que a Terra é capaz de oferecer de forma sustentável no período de um ano, desde a filtragem de gás carbônico (CO2) da atmosfera até a produção de matérias-primas para a alimentação.
A conta é do Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica do homem no Planeta. Até o fim 2015, teremos consumido 1,6 planetas Terra.
A diferença entre a capacidade de regeneração do planeta e o consumo
humano gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a
década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional — já somos
7 bilhões de habitantes no mundo e até o final do século, seremos 11
bilhões.
Pior, entramos no vermelho cada vez mais cedo. Vinte anos atrás, o "Dia
da Sobrecarga da Terra" acontecia em 10 de Outubro. Mas em 1975, era 28
de Novembro. Hoje, é 13 de agosto.
Se continuarmos no ritmo atual, prevê o estudo, vamos consumir o
equivalente a dois planetas até 2030, antecipando ainda mais o "Dia da
Sobrecarga", para junho.
Uma dívida de juros pesados
À medida que aumenta nosso consumo, cresce a nossa dívida ecológica. Em termos planetários, os resultados dos juros que pagamos se tornam mais claros a cada dia.
Eles se traduzem na perda de bens e serviços ambientais, desequilíbrio climático, na redução de florestas, perda de biodiversidade, colapso de recursos pesqueiros, escassez de alimentos,
redução da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na
atmosfera. Este último é uma preocupação constante por conta das mudanças climáticas.
Daí a importância do encontro de clima em Paris em dezembro deste ano.
“O acordo global para excluir gradualmente os combustíveis fósseis, que
está sendo discutido em todo o mundo para a COP 21, em Paris, ajudaria
significativamente a frear o crescimento da Pegada Ecológica e,
eventualmente, contribuir para sua mitigação”, disse em nota Mathis
Wackernagel, presidente da Global Footprint Network.
Atualmente, mais de 80 por cento da população mundial vive em países que
usam mais do que seus próprios ecossistemas podem renovar. Estes países
"devedores ecológicos" ou esgotam de uma vez seus próprios recursos
ecológicos ou os obtém de outro lugar.
Residentes do Japão, por exemplo, consomem recursos de 7,1 “Japãos”. São
necessárias quatro “Itálias” para abastecer a Itália. Já o Egito usa os
recursos ecológicos de 2,4 “Egitos”.
Claro que nem todos os países exigem mais do que seus ecossistemas podem
fornecer, mas até mesmo os chamados "credores ecológicos", como o
Brasil, Indonésia e Suécia, estão diminuindo ao longo do tempo.
A mensagem é clara. Está cada vez mais difícil - e perigoso - sustentar
um déficit orçamentário crescente entre o que a natureza é capaz de
fornecer e o quanto nossa infraestrutura, economias e estilos de vida exigem. É hora de organizar as contas e rever os gatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário