Barclays aposta que a alta não virá antes de março do ano que vem
O mercado tomou um novo "susto" na segunda-feira (24) e a
explicação, novamente, foi a China. O governo chinês, após uma
desvalorização surpresa do yuan, não animou os mercados com novas
medidas efetivas para conter o mercado de ações, o que indica que a
transição da economia do gigante asiático será ainda mais dura do que os
mercados poderiam esperar. Com isso, Xangai despencou 8,4% nesta
segunda-feira. No entanto, nesta terça-feira (25), o governo anunciou
cortes de juros e de compulsórios. A taxa de empréstimo caiu 25
pontos-base, para 4,6%, enquanto a taxa de depósitos de até um ano
passou de 2% para 1,75%. Os compulsórios foram cortados em 50
pontos-base para 18% para os grandes bancos. Desse modo, o Ibovespa
subia pela na manhã, em linha com os mercados internacionais e em
recuperação, após tombo de 3% ontem. O índice subia 1,3% perto do
meio-dia para 44.912 pontos.
Ao mesmo tempo em que a China
enfrenta tamanha turbulência, o Federal Reserve se prepara para elevar a
taxa de juros pela primeira vez em quase uma década. E se a
interpretação para a ata da última reunião do política monetária já era
dúbia sobre o que deve acontecer, agora o cenário fica ainda mais
nebuloso.
Conforme destacou o Citigroup na semana passada, o Fed
ressaltou na ata a sua preocupação com a China e a Grécia. “Porém, os
desenvolvimentos externos não deveriam influenciar a sua avaliação
inicial sobre o calendário ou o ritmo da normalização da taxa", relata o
banco. No entanto, também alguns analistas apostavam que a China seria
um fator que levaria o Fed a adiar a taxa de juros para dezembro. Com
os novos temores chineses se intensificando, há quem veja uma mudança de
rota ainda maior. É o caso do Barclays, que agora vê como improvável
uma alta de juros antes de março em meio à volatilidade financeira e à
incerteza que ronda o crescimento nos mercados emergentes.
O
movimento de queda do preço do petróleo, que tem baixa de 17% em agosto,
provavelmente pesará sobre a decisão do Fomc. “Alguns integrantes
expressaram preocupação com a inflação nos Estados Unidos antes da mais
recente queda dos preços do petróleo. Além disso, a força do dólar
atenua o qual rápido o Fed teve firmar o núcleo de sua inflação",
afirmou o banco britânico em nota. A perspectiva é de uma grande mudança
a partir da expectativa anterior de um aumento da taxa em setembro.
"Embora continuemos vendo a atividade econômica nos Estados Unidos como
sólida e justificando modestas altas das taxas, acreditamos que é
improvável que o Federal Reserve inicie um ciclo de elevações neste
ambiente, por medo de que tal movimento possa desestabilizar ainda mais
os mercados", afirmam os analistas do banco. Porém, se a "volatilidade
dos mercados se provar transitória", o Fomc poderia aumentar as taxas em
dezembro.
Em uma pesquisa feita pela Reuters, metade dos traders
acredita que o Fed elevará as taxas em dezembro, ante 72% do último
levantamento. Só 37% dão como certo que os juros subirão em setembro,
enquanto 17% esperam que a alta se dê em 2016. A pesquisa, divulgada
ontem, foi feita entre 27 de julho e 4 de agosto, cerca de duas semanas
antes da acentuada liquidação das ações.
Conforme destaca o
colunista do Financial Times, David Riley, chefe de estratégia de
crédito da BlueBay Asset Management, o cenário mundial é incerto, com a
desaceleração das economias emergentes e um ambiente ainda complicado
para a retomada do crescimento na Europa e no Japão.
O impulso
desinflacionário da China através de preços mais baixos das commodities e
um dólar mais fraco tornam mais difícil para o Fed ser "razoavelmente
confiante" de que a inflação volte à meta de 2% em um futuro visível.
Mas também é evidente que os Estados Unidos estão se aproximando do
pleno emprego com a maturação do ciclo de crédito e de negócios,
garantindo um aperto das condições financeiras e voltando a elevar as
taxas de juros que foram para zero após o crash de 2008.
Riley
destaca ainda que o Fed poderá até subir os juros em setembro e,
simultaneamente, sinalizar um caminho de alta mais gradual. Mas se os
ventos contrários da economia global e as tendências deflacionárias se
intensificarem, a autoridade monetária pode ser forçada a inverter a sua
política e ser culpada por uma desaceleração econômica em plena eleição
presidencial.
Os ciclos anteriores de alta da taxa de Fed tem
sido quase sempre acompanhados de aperto da política por outros grandes
bancos centrais. "Dessa vez vai ser muito diferente. Uma maior
flexibilização monetária pelo Banco Central Europeu e Banco do Japão não
pode ser descartada e é mais provável na China. As políticas monetárias
divergentes apoiarão uma maior volatilidade de ativos cruzados e
desafiarão os mercados financeiros frágeis e avaliações de ativos
esticadas", ressalta o colunista.
Riley complementa afirmando que
o potencial de um erro de política por parte do Fed, bem como das
autoridades chinesas, está aumentando. "O crescimento global é mais
precário hoje do que em qualquer momento desde a Grande Recessão. A
economia dos Estados Unidos está pronta para maiores taxas de juros, mas
a economia global não. Contra tal pano de fundo, a preservação de
capital e o valor fundamental devem ser as palavras de ordem para os
investidores que procuram navegar em mercados financeiros turbulentos",
argumenta.
http://www.amanha.com.br/posts/view/991
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