Corte de juros era algo esperado, mas ainda não é suficiente para ajudar na recuperação econômica, afirmam especialistas
O mundo todo esperava por medidas do governo chinês, e sem
nenhum anúncio na segunda-feira (24), os mercados globais desabaram. Então o
governo "atendeu" às expectativas e na terça (25) comunicou o corte
na taxa de compulsório e da taxa de empréstimos, empolgando os investidores.
Porém, a instabilidade na segunda maior economia do mundo segue fazendo
estragos. Em Xangai, o Xangai Composto fechou em baixa de 1,27%, aos 2.927,29
pontos. No Brasil, o dólar chegou a bater R$ 3,6512 por volta de 11h30, uma
alta de 1,12%. Na máxima, chegou a R$ 3,6552. A bolsa, no mesmo horário, somava
leve alta de 0,5% aos 44.762 pontos. A percepção de que as medidas adotadas
pelo governo chinês não são suficientes para evitar um quadro de desaceleração
e o cenário político e econômico brasileiro ainda muito negativos devem
continuar pesando sobre os negócios. Então, qual o peso das recentes medidas
chinesas para sustentar as altas do mercado?
Os investidores que os anúncios da China estão longe de
serem suficientes para ajudar o mercado. "É normal o mercado ter um
impulso positivo. Sempre que temos esses anúncios, os investidores demoram um
pouco para analisarem o que ele realmente significa", explica Alex
Agostini, economista da Austin Rating. Segundo ele, atualmente
"volatilidade é o nome do jogo", sendo que o mercado está sempre
"buscando mais", querendo alguma notícia, estímulo ou anúncio para
decidir seu rumo, principalmente por conta da tensão econômica – e no caso do
Brasil, política. Agostini explica que a notícia, do lado econômico, tem seus
pontos positivos, mas os investidores sempre levam em conta o "lado
emocional" também, e neste caso, faltou confiança do governo chinês.
Para o professor de economia do Insper, Roberto Dumas Damas,
não havia um motivo para os investidores esperarem pelos estímulos. “ [Os anúncios] não mudam nada. É uma
medida paliativa que o governo chinês utiliza apenas para administrar o
transatlântico rumo ao rebalanceamento de seu modelo de crescimento
econômico", reflete Damas. Ele explica que a China passa por um período de
remodelação do seu crescimento econômico para passar a desenvolver o consumo da
sua população, mas o mercado insiste em não acreditar nisso e criar
expectativas. "Ainda não caiu a ficha [do
mercado]. O pessoal precisa perceber que a renda do trabalhador chinês já
está subindo. Outra medição desta remodelação [da economia] está no aumento do setor terciário (serviços) em
detrimento do secundário (indústria)", assegura Dumas.
Em relatório divulgado na terça (25), a equipe de análise do
Bradesco destaca que o ajuste para baixo dos mercados se deve aos fatores
estruturais que, dificilmente, serão revertidos com políticas de estímulo.
"Será que o governo do país aumentou a tolerância a taxas menores de
crescimento no curto prazo (em relação à meta de expansão do PIB de 7%) e/ou
não consegue mais intervir na economia como antes? Ou o mercado se deu conta de
que as intervenções têm limite e desistiu de esperar que os estímulos levem a
uma recuperação da economia nos trimestres à frente?", questionam os
analistas do banco. Conforme destaca o diretor de pesquisas e estudos
econômicos do Bradesco, Octávio de Barros, parece precipitado responder a essas
questões apenas à luz do comportamento
dos mercados financeiros nessas últimas semanas, pois ontem o banco central
chinês reagiu ao anunciar a redução do depósito compulsório e da taxa de juros.
Porém, afirma Barros, os sinais negativos vindos do gigante asiático demandam
alguma reflexão, incluindo o fato de que os problemas do gigante asiático são
estruturais.
Agostini, Dumas e a equipe do Bradesco concluem que o
mercado não assimilou o que a medida da China significa, pois a alta ocorreu
simplesmente porque era algo que os investidores queriam. A tendência para os
próximos dias é que os mercados globais registrem forte volatilidade, enquanto
todos analisam e tentam projetar realmente qual será o futuro. Mas é unânime
que apenas o anúncio de ontem está longe de ser o que o mercado realmente
precisa.
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