quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A China fez o que o mercado queria


Corte de juros era algo esperado, mas ainda não é suficiente para ajudar na recuperação econômica, afirmam especialistas

Por Infomoney

A China fez o que o mercado queria


O mundo todo esperava por medidas do governo chinês, e sem nenhum anúncio na segunda-feira (24), os mercados globais desabaram. Então o governo "atendeu" às expectativas e na terça (25) comunicou o corte na taxa de compulsório e da taxa de empréstimos, empolgando os investidores. Porém, a instabilidade na segunda maior economia do mundo segue fazendo estragos. Em Xangai, o Xangai Composto fechou em baixa de 1,27%, aos 2.927,29 pontos. No Brasil, o dólar chegou a bater R$ 3,6512 por volta de 11h30, uma alta de 1,12%. Na máxima, chegou a R$ 3,6552. A bolsa, no mesmo horário, somava leve alta de 0,5% aos 44.762 pontos. A percepção de que as medidas adotadas pelo governo chinês não são suficientes para evitar um quadro de desaceleração e o cenário político e econômico brasileiro ainda muito negativos devem continuar pesando sobre os negócios. Então, qual o peso das recentes medidas chinesas para sustentar as altas do mercado?

Os investidores que os anúncios da China estão longe de serem suficientes para ajudar o mercado. "É normal o mercado ter um impulso positivo. Sempre que temos esses anúncios, os investidores demoram um pouco para analisarem o que ele realmente significa", explica Alex Agostini, economista da Austin Rating. Segundo ele, atualmente "volatilidade é o nome do jogo", sendo que o mercado está sempre "buscando mais", querendo alguma notícia, estímulo ou anúncio para decidir seu rumo, principalmente por conta da tensão econômica – e no caso do Brasil, política. Agostini explica que a notícia, do lado econômico, tem seus pontos positivos, mas os investidores sempre levam em conta o "lado emocional" também, e neste caso, faltou confiança do governo chinês.

Para o professor de economia do Insper, Roberto Dumas Damas, não havia um motivo para os investidores esperarem pelos estímulos. “ [Os anúncios] não mudam nada. É uma medida paliativa que o governo chinês utiliza apenas para administrar o transatlântico rumo ao rebalanceamento de seu modelo de crescimento econômico", reflete Damas. Ele explica que a China passa por um período de remodelação do seu crescimento econômico para passar a desenvolver o consumo da sua população, mas o mercado insiste em não acreditar nisso e criar expectativas. "Ainda não caiu a ficha [do mercado]. O pessoal precisa perceber que a renda do trabalhador chinês já está subindo. Outra medição desta remodelação [da economia] está no aumento do setor terciário (serviços) em detrimento do secundário (indústria)", assegura Dumas.

Em relatório divulgado na terça (25), a equipe de análise do Bradesco destaca que o ajuste para baixo dos mercados se deve aos fatores estruturais que, dificilmente, serão revertidos com políticas de estímulo. "Será que o governo do país aumentou a tolerância a taxas menores de crescimento no curto prazo (em relação à meta de expansão do PIB de 7%) e/ou não consegue mais intervir na economia como antes? Ou o mercado se deu conta de que as intervenções têm limite e desistiu de esperar que os estímulos levem a uma recuperação da economia nos trimestres à frente?", questionam os analistas do banco. Conforme destaca o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octávio de Barros, parece precipitado responder a essas questões  apenas à luz do comportamento dos mercados financeiros nessas últimas semanas, pois ontem o banco central chinês reagiu ao anunciar a redução do depósito compulsório e da taxa de juros. 

Porém, afirma Barros, os sinais negativos vindos do gigante asiático demandam alguma reflexão, incluindo o fato de que os problemas do gigante asiático são estruturais.

Agostini, Dumas e a equipe do Bradesco concluem que o mercado não assimilou o que a medida da China significa, pois a alta ocorreu simplesmente porque era algo que os investidores queriam. A tendência para os próximos dias é que os mercados globais registrem forte volatilidade, enquanto todos analisam e tentam projetar realmente qual será o futuro. Mas é unânime que apenas o anúncio de ontem está longe de ser o que o mercado realmente precisa.


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