segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Para Paul Krugman, a crise no Brasil é gerenciável



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Paul Krugman
Krugman: "É um exagero descrever a atual conjuntura do Brasil como uma tempestade perfeita. O país já passou por situações piores"

  São Paulo — Com uma coluna no The New York Times e um blog no site do mesmo jornal, o americano Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia de 2008, é uma das principais vozes do debate econômico mundial. Duas características pessoais fazem dele uma referência. Primeiro, o cuidado com que sempre tratou suas pesquisas ao longo de sua sólida carreira acadêmica.

Depois de dar aulas nas universidades Stanford, Yale, Massachusetts Institute of Techno­logy (MIT) e Princeton, Krugman está agora na City University of New York. Em segundo lugar, sua propensão fora do comum para polemizar com quem se opõe às suas ideias. Krugman virá ao Brasil em novembro para participar de um evento da empresa HSM. Antes de participar de uma conferência na Austrália, concedeu a seguinte entrevista a EXAME.
 
O Brasil colhe os resultados de uma política fiscal desastrosa em meio a uma investigação sobre corrupção e uma crise política de grandes proporções. Isso tudo em um momento de queda no preço das commodities, o que afeta as exportações, e de expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, o que provocará a saída de investimentos. O Brasil vive uma tempestade perfeita?
Não tenho dúvida de que a situação é difícil. No entanto, acho que descrevê-la como uma tempestade perfeita é muito forte. O Brasil não está vulnerável da mesma forma que já esteve no passado. A situação brasileira também não se compara à dos países europeus há poucos anos. Claro que não ajuda em nada ter uma crise política no meio de tudo isso.

Também é ruim que os Estados Unidos estejam falando em aumentar os juros exatamente quando o preço das commodities está em colapso, uma queda de uma magnitude que, por sinal, quase ninguém conseguiu prever. Seria uma tolice negar a gravidade da situação. Mas o endividamento do país não é crítico, e o setor privado não parece tão exposto à desvalorização do real. A crise brasileira é gerenciável. 
 
O Brasil e vários outros países emergentes cresceram a reboque da fome chinesa por commodities nos últimos anos. Com a queda do preço das matérias-primas, o que fará esses países crescer?

O Brasil teve vida fácil no período do boom de commodities e isso acabou. Como pode fazer uma transição? O país tem uma economia diversificada. Exportar commodities não é a única coisa que consegue fazer. O Brasil precisa ganhar competitividade na venda de produtos manufaturados. Uma maneira de fazer isso é com a desvalorização do câmbio, o que já está acontecendo.

Nesse sentido, o país tem bastante flexibilidade. O Brasil não é a Grécia. Mas a saída da crise seria bem mais fácil se o Brasil fosse uma economia mais aberta. Embora sempre haja muita reclamação a respeito das dificuldades de importar e exportar, o comércio internacional é uma boa coisa. E o Brasil paga um preço por ser tão fechado.
 
A Austrália, do mesmo modo que o Brasil, é um grande exportador de matéria-prima. Os australianos prepararam-se para a queda do preço das commodities?

Há muitos anos a Austrália é vista como um modelo para o Brasil e para outros países da América Latina. Trata-se de uma economia muito estável. Isso se deve basicamente a dois fatores: uma política econômica bastante sensata e uma longa história de credibilidade na política.

Nesse sentido, a Austrália mostra como se pode depender das exportações de matérias-primas e, ao mesmo tempo, resistir às flutuações de preços sem grandes sobressaltos. O país não vai conseguir passar sem arranhões pela queda no preço das commodities.

No entanto, continuará tendo uma economia robusta. Muitos esperavam que o Brasil se pareceria cada vez mais com a Austrália. De certa forma, isso aconteceu um pouco. Mas não o suficiente.
 
O senhor acredita que o Fed, banco central americano, vai anunciar o aumento dos juros na reunião que ocorrerá em meados de setembro?

Provavelmente não. Muitos membros do Fed falam como se estivessem procurando motivos para aumentar os juros. Mas acho que mesmo essas pessoas vão esperar um pouco mais. Talvez não tanto quanto críticos como eu gostariam. Eu esperaria a inflação realmente aumentar. Com certeza, não mexeria nos juros neste ano.
 
Qual é a possibilidade de que tenhamos uma nova crise global?

Embora estejamos vendo vários países e regiões em dificuldades, o risco de uma nova crise global é relativamente baixo. Em termos de gravidade, a situa­ção atual não é comparável ao que tivemos em 2008, quando veio tudo abaixo. Também não parece ser tão ruim quanto o que vivemos em 2011 e 2012, quando parecia que a crise europeia sairia de controle.

A gente tende a esquecer quanto o passado tem sido difícil. Na Europa, as coisas só melhoraram depois que Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, declarou que faria o que fosse necessário para evitar o pior. O que estamos vivendo hoje também não é comparável à crise asiática de 1997. Temos problemas nos paí­ses emergentes, mas provavelmente não uma crise global.
 
O que o faz pensar que não estamos prestes a ter uma nova crise global?

A crise que começou na Ásia no fim dos anos 90 teve dois componentes principais: baixo crescimento e alto endividamento das empresas locais em moeda estrangeira. Ainda que seja verdade que muitas empresas chinesas tenham dívidas em dólares, não podemos esquecer que a China tem enormes reservas internacionais.

Por isso, não parece que estejamos prestes a ter uma crise generalizada no balanço das companhias. Em resumo, a China não parece tão vulnerável quanto estavam os países que deflagraram a crise asiática no final da década de 90.
 
A China está desacelerando e levando junto parte dos emergentes, as principais bolsas de valores do mundo estão altamente voláteis e a Europa continua mergulhada em uma crise. O que mais o preocupa?

Dois acontecimentos me preocupam igualmente: a desaceleração dos países emergentes e a crise na Europa. Tomando o passado como parâmetro, o mundo não parece que vai desabar. Mas, olhando o que acontece nos emergentes e na Europa, conclui-se que falta força para a economia global. Esses sinais de fraqueza indicam que a estagna­ção econômica mundial é persistente.

Por algum tempo, os mercados emergentes eram uma fonte de crescimento. Agora são fonte de más notícias. Ou seja, devemos ver em câmera lenta a continuação dessa estagnação que temos vivido nos últimos tempos.
 
O Banco Central Europeu acabou de rever para baixo a estimativa de crescimento da zona do euro. O que deve ser feito para que a Europa volte a crescer?

O problema da Europa é que cada vez se parece mais com o Japão. Tem demonstrado uma persistente fraqueza econômica. A demografia é terrível, com a queda no número de trabalhadores em relação aos idosos. É difícil pensar em algo que tire a Europa do torpor. Uma grande política fiscal expansionista e a expectativa de elevação da inflação funcionariam.

Infelizmente, não vejo nenhuma dessas duas coisas acontecendo. Por isso acredito que uma estagnação duradoura é uma grande possibilidade. A Grécia é um capítulo à parte. Nada foi resolvido. Não ficarei surpreso se, em um ou dois anos, a situação ficar ainda mais horrível do que no último pico da crise.
 
Na China, a renda continua crescendo num ritmo alto e nunca se viu a criação de tantos empregos fora do setor agrícola como agora. A China está mesmo desacelerando muito abaixo dos 7% de crescimento anual ou é o mercado que está exagerando no pessimismo?

A verdadeira resposta é que ninguém sabe exatamente. As estatísticas chinesas são pouco confiáveis. Os números são um conjunto do que as autoridades locais repassam ao governo central. É bem possível que a renda esteja aumentando, uma vez que a China já deve ter aproveitado todo o seu contingente de trabalhadores baratos.

Talvez o governo chinês esteja conseguindo aumentar a demanda com a aplicação de medidas extraordinárias. Mas, analisando todos os indicadores disponíveis, minha impressão é que a economia chinesa, mesmo com todos os esforços, está, sim, desacelerando.

É isso o que mostram dados como o consumo de eletricidade e os números do comércio internacional. Sem falar que o preço das commodities está desabando. Se a desaceleração da China não é a causa, o que seria?

GE espera aprovação da UE para compra de parte da Alstom


Jason Alden/Bloomberg
Funcionário da Alstom trabalhando na manutenção de rotina de um trem da Nottingham Express Transit (NET), no Reino Unido
Funcionário da Alstom: reguladores europeus expressaram preocupações sobre o controle das companhias
 
Da REUTERS

Nova York - A norte-americana GE espera ganhar aprovação regulatória na próxima semana para a compra da unidade de equipamentos de energia elétrica da francesa Alstom, com a Comissão Europeia tendo definido 11 de setembro como data final para decidir sobre o negócio.

A transação, de aproximadamente 13,5 bilhões de dólares, é a maior aquisição já realizada pela GE, e vai unir dois dos maiores produtores de equipamentos para usinas elétricas do mundo.

Reguladores europeus expressaram preocupações sobre o controle das companhias, quando unidas, sobre o mercado de turbinas a gás. A GE ainda não revelou que mudanças concordou em fazer para não sofrer restrições dos órgãos europeus de regulação da concorrência.
Em maio, a GE disse a investidores que espera cortar 3 bilhões de dólares em custos nos próximos cinco anos, conforme combina as operações com a Alstom, o que mais do que dobra a meta anterior, de quando o negócio foi anunciado, em abril de 2014.

Vista Equity compra empresa Solera por US$3,75 bi


Getty Images
Homem e mulher de negócios apertam as mãos
Acordo: o preço da oferta de 55,85 dólares por ação representa um prêmio de 13 por cento sobre o preço da ação na sexta-feira, quando as ações fecharam com alta de 3,9 por cento
 
Da REUTERS


Nova York - A Solera Holdings, que provê serviços de tecnologia para companhias de seguro, disse que concordou em ser adquirida por uma companhia afiliada da gestora de private equity Vista Equity Partners por 3,74 bilhões de dólares em dinheiro.

A Vista espera que a transação melhore sua posição como compradora de companhias de dados e negócios de aplicação de softwares. O acordo é o maior na história da Vista, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

O preço da oferta de 55,85 dólares por ação representa um prêmio de 13 por cento sobre o preço da ação na sexta-feira, quando as ações fecharam com alta de 3,9 por cento.
O valor do acordo é baseado no preço das ações da Solera no mercado em 25 de agosto. Incluindo dívidas, o acordo é avaliado em cerca de 6,5 bilhões de dólares, disse a Solera.

O acordo, que não depende de condições de financiamento, será financiado através da combinação das contribuições das ações ordinárias e preferenciais por fundos de investimentos afiliados com a Vista, Koch Equity Development, e uma afiliada da Goldman Sachs, disse a Solera em comunicado.

O acordo deve ser fechado no primeiro trimestre de 2016, disse a companhia.

Suíça elogia luta contra corrupção no Brasil




Fellipe Sampaio/SCO/STF/Fotos Públicas
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot
Procurador-geral da República, Rodrigo Janot: Suíça diz estar impressionada com a coragem da luta contra a corrupção no MP brasileiro
 
Jamil Chade, do Estadão Conteúdo
correspondente, do Estadão Conteúdo


Zurique - O Ministério Público da Suíça elogia o trabalho da Procuradoria-Geral da República do Brasil e diz estar "impressionado com a coragem" da luta contra a corrupção no MP brasileiro.

Em discurso realizado na manhã desta segunda-feira, 14, em Zurique, Michael Lauber, procurador-geral da Suíça, fez questão de citar o caso de corrupção da Petrobras na abertura da reunião anual da Associação Internacional de Procuradores.
 
Rodrigo Janot, procurador-geral da República, estava programado para fazer um discurso, mas acabou cancelando a viagem diante de sua posse.
"Estamos impressionados pela coragem deles (brasileiros )", afirmou Lauber. "Eles lutam com convicção e com a certeza de estar fazendo a coisa certa, com o respeito ao estado de direito", completou. Brasil e Omã foram os únicos países mencionados no discurso a um plenário para procuradores de todo o mundo.

A colaboração entre o Brasil e a Suíça permitiu o congelamento de mais de US$ 400 milhões em contas relacionadas com os ex-funcionários da Petrobras.

" Queremos lutar contra a corrupção de forma séria ", disse Lauber. " Contribuímos, portanto, com diversos países e sabemos que isso é crucial para levar casos adiante ", comentou.

Entretanto, o governo suíço também afirma que outras praças financeiras receberam valores potencialmente superiores aos que foram depositados nos bancos do país alpino em propinas relacionadas ao esquema de corrupção na Petrobras.

"Sabemos que há mais dinheiro fora daqui", disse o responsável pelo Departamento de Direitos Internacional da chancelaria suíça, Valentin Zellweger.

Segundo ele, outras praças financeiras têm ainda mais dinheiro que a Suíça cuja origem seria o esquema na estatal brasileira. "Mas elas não comunicam", declarou.

Questionado sobre como os bancos acabaram aceitando esses milhões de dólares de ex-executivos da Petrobras sem questionamentos, o embaixador insistiu que a estrutura montada foi "sofisticada".

Segundo ele, o dinheiro depositado passou por várias sociedades antes de chegar até as contas na Suíça. Zellweger insistiu que era difícil ver em muitas ocasiões que o dinheiro se referia a pessoas politicamente expostas.

Mas ele mesmo admitiu que o sistema financeiro suíço precisa "fazer mais" para evitar tais situações. 

"Não temos um sistema 100% limpo. Mas nosso objetivo é o de minimizar os riscos", comentou.

Para o embaixador, a Suíça fez prova de transparência ao anunciar a existência de US$ 400 milhões bloqueados nas contas do país. Uma investigação foi aberta em abril de 2014 e, em março de 2015, o Ministério Público do país revelou 300 contas em 30 bancos diferentes com dinheiro fruto da corrupção.

Em julho, a Suíça ainda anunciou que estava ampliando a investigação para também tratar da Odebrecht. Do total bloqueado, US$ 120 milhões foram devolvidos aos cofres brasileiros.

Brasil é paciente em estado terminal, diz Financial Times




Carlos Barria/Reuters

 
 
São Paulo - "Se o Brasil fosse um paciente hospitalar, os médicos do centro de emergência diagnosticariam um declínio terminal".

É assim que começa um editorial publicado ontem pelo jornal britânico Financial Times, apesar da opinião ser atribuída a um senador petista não nomeado.

O texto cita a perda do grau de investimento pela Standard & Poor's e as previsões sombrias para a economia brasileira (recessão de 2,55% em 2015 e 0,60% 2016 com inflação de 9,28% neste ano e 5,64% no próximo, segundo o último Boletim Focus).
"Dado o cenário externo duro - desaceleração da China, colapso no preço de commodities e juros mais altos nos Estados Unidos - o Brasil está sofrendo o começo de um stress econômico extremo", diz o texto.

Apesar das dificuldades econômicas, o jornal diz que o estopim para o rebaixamento foi a crise política, com uma presidente pouco querida por seu partido e pela população somada com deputados mais preocupados em se safar das investigações da Operação Lava Jato.

Para o FT, não há indício de que Dilma tenha se beneficiado pessoalmente da corrupção na Petrobras e a falta de popularidade é motivo insuficiente para derrubá-la: se fosse assim, FHC "também não teria sobrevivido a seu segundo mandato".  

Além disso, o pós-Dilma veria a substituição de "um político medíocre por outro", lembrando que a linha de sucessão também inclui investigados por corrupção como Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros, presidente do Senado.

A conclusão do jornal: "é uma situação cada vez mais instável que todo mundo concorda que não pode durar, ainda que não haja um caminho claro de saída". 

E se o Brasil pedisse ajuda ao FMI?


Mapa mundi visto dentro do símbolo do FMI
Mapa visto dentro do símbolo do FMI: última vez que o Brasil pediu ajuda ao fundo foi em 2002
 
 
 
São Paulo - O Brasil vive uma grave crise política e econômica, com perda do nível de grau de investimento pela agência Standard & Poor's e previsão de dois anos de recessão.

A solução? Pedir ajuda ao FMI (Fundo Monetário International), diz Stephen Jen, co-fundador do fundo de hedge SLJ Macro Partners LLP e ex-economista chefe de moedas do Morgan Stanley.

Jen também acumula passagens pelo Federal Reserve, o Banco Mundial e o próprio FMI, onde passou quatro anos envolvido na formulação do modelo de ajuda a países muito endividados.
Agora, ele diz que recorrer ao órgão daria ao governo brasileiro cobertura política para justificar as medidas impopulares que não quer ou não tem conseguido passar.

“Eles não conseguem implementar políticas. Todo o sistema precisa de uma limpeza. Uma forma rápida de pular por cima disso tudo é ir ao FMI", diz Jen em entrevista para a Bloomberg, que chama a ideia de "radical".

Ele reconhece que não seria uma manobra comum para um país na situação do Brasil, que não precisa de ajuda financeira de curto prazo graças às reservas de US$ 370 bilhões.  

Com alta nas exportações e queda nas importações e nos gastos no exterior, o déficit em conta corrente do Brasil caiu 25% nos 7 primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

O Brasil foi retirado recentemente dos "5 Frágeis", lista do JP Morgan com países emergentes que dependem demais de investimento externo para se financiar no curto prazo.

A última vez que o Brasil recorreu ao FMI foi em 2002, diante da crise na Argentina e da perspectiva de vitória do PT nas eleições. Na época, o país obteve uma linha de US$ 30 bilhões disponíveis para retirada se necessário.

A quitação antecipada da dívida com o órgão, concluída em 2005, foi celebrada pelo então presidente Lula como uma virada de página histórica: "o Brasil vai caminhar com suas próprias pernas".

Dificilmente o governo do PT teria coragem de voltar a recorrer ao FMI, salvo em circunstâncias extremas. 

Mas para Jen, seria positivo ter a "perspectiva imparcial e técnica" do banco neste momento em que as saídas parecem escassas:

"Todos dizem que querem reformas, mas reclamam quando percebem que eles mesmos serão prejudicados pelas reformas que estão pedindo. Com o FMI para assumir a culpa, isso poderia ser útil para o Brasil forçar as ações concretas sobre si mesmo", diz em entrevista para o site Financista.

Otaviano Canuto, diretor-executivo para o Brasil no FMI, disse na semana passada em entrevista para EXAME.com que o rebaixamento pode servir como catalisador para mudanças no país:

"Paradoxalmente, do ponto de vista fiscal estou mais otimista hoje do que estava antes do rebaixamento por causa do choque de realidade. Não dá para esperar, não dá para fingir que não está acontecendo."

Mercado prevê contração maior do PIB em 2015 e 2016

 

Analistas dos bancos reduziram estimativa de inflação para este ano.
 

Para 2016, porém, previsão para o IPCA voltou a registrar aumento.


Alexandro Martello Do G1, em Brasília

As previsões do mercado financeiro para o nível de atividade da economia brasileira pioraram para este ano e para 2016, segundo relatório de mercado do Banco Central, que é fruto de pesquisa com mais de 100 instituições financeiras. Para inflação, a estimativa melhorou para 2015, mas registrou aumento para o ano que vem. O relatório focus foi divulgado nesta segunda-feira (14).


PREVISÕES PARA O PIB 2015
 
Em %
-1,27-1,3-1,35-1,45-1,49-1,5-1,5-1,7-1,76-1,8-1,97-2,01-2,06-2,26-2,44-2,55em %29/0505/0612/0619/0626/0603/0713/0717/0724/0731/0707/0814/0821/0828/0804/0911/09-2,75-2,5-2,25-2-1,75-1,5-1,25-1
Fonte: BCB

Para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, os analistas passaram a estimar, na semana passada, uma retração de 2,55%. Foi a nona queda seguida deste indicador. Até então, a expectativa do mercado era de um recuo de 2,44% para o PIB de 2015. Se confirmado, será o pior resultado em 25 anos, ou seja, desde 1990 – quando foi registrada uma queda de 4,35%.

Para 2016, os economistas das instituições financeiras passaram a prever uma contração de 0,60% na economia do país – na sexta revisão para baixo seguida. Na semana anterior, os analistas haviam estimado uma retração de 0,50% para a economia no próximo ano. Para se ter uma ideia, no início de 2015, a previsão dos economistas era de uma expansão de 1,8% para a economia brasileira no ano que vem.

Se a previsão se concretizar, será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de contração na economia – a série histórica oficial, do IBGE, tem início em 1948. O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a economia brasileira registrou retração 1,9% no segundo trimestre de 2015, em relação aos três meses anteriores, e o país entrou na chamada "recessão técnica", que ocorre quando a economia registra dois trimestres seguidos de queda. De janeiro a março deste ano, o PIB teve baixa de 0,7% (dado revisado).
 

Inflação
 

A estimativa dos economistas dos bancos é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano de 2015 em 9,28% – na semana anterior, a taxa esperada era de 9,29%. Mesmo com a queda na previsão, se confirmada, representará o maior índice em 12 anos, ou seja, desde 2003 – quando somou 9,30%.
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PREVISÕES PARA O IPCA 2015
Em %
8,468,798,9799,049,129,159,239,259,329,329,299,289,299,28em %05/0612/0619/0626/0603/0713/0717/0724/0731/0707/0814/0821/0828/0804/0911/0998,258,58,759,259,5
Fonte: BCB
Segundo economistas, a alta do dólar e, principalmente, dos preços administrados (como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros) pressiona os preços em 2015. Além disso, a inflação de serviços, impulsionada pelos ganhos reais de salários, segue elevada.

Para 2016, os economistas das instituições financeiras elevaram sua expectativa de inflação de 5,58% para 5,64% na última semana. Foi a sexta alta seguida do indicador – que continua se distanciando da meta central de 4,5% fixada para o ano que vem.

Pelo sistema que vigora no Brasil, a meta central para 2015 e 2016 é de 4,5%, mas, com o intervalo de tolerância existente, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida. Com isso, a inflação deverá superar o teto do sistema de metas em 2015, algo que não acontece desde 2003.
 

Taxa de juros
 

Após o Banco Central ter mantido os juros estáveis em 14,25% ao ano no começo de setembro, o maior patamar em nove anos, o mercado manteve a estimativa de que não devem ocorrer novos aumentos de juros em 2015. Para o fim de 2016, a estimativa ficou estável em 12% ao ano - o que pressupõe reduções da taxa Selic ao longo do ano que vem.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para tentar conter pressões inflacionárias. Pelo sistema de metas de inflação brasileiro, a instituição tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. As taxas mais altas tendem a reduzir o consumo e o crédito, o que pode contribuir para o controle dos preços.
 

Câmbio, balança e investimentos
 

Nesta edição do relatório Focus, a projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2015 avançou de R$ 3,60 para R$ 3,70 por dólar. Para o término de 2016, a previsão dos analistas para a taxa de câmbio subiu de R$ 3,70 para R$ 3,80.

A projeção para o resultado da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações) em 2015 subiu de US$ 8,9 bilhões para US$ 10 bilhões de resultado positivo. Para 2016, a previsão de superávit ficou estável em US$ 20 bilhões.

Para este ano, a projeção de entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil permaneceu em US$ 65 bilhões. Para 2016, a estimativa dos analistas para o aporte subiu de US$ 63,95 bilhões para US$ 64,90 bilhões.