quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Com novo CEO, Magazine Luiza quer ser o eBay brasileiro



Alexandre Battibugli/Exame
Frederico Trajano
Frederico Trajano, do Magazine Luiza: cosméticos e perfumes serão vendidos pelo site em dezembro
 
 


São Paulo – Nesta semana, o Magazine Luiza anunciou a mudança do comando da companhia. Frederico Trajano assume o posto no lugar de Marcelo Silva, que vai para a vice-presidência do conselho no lugar de Luiza Helena Trajano, que por sua vez vai para a presidência do conselho.

A mudança já era considerada natural pelo mercado e a transição vinha acontecendo, com ajuda de consultorias e muitas conversas, há dois anos.
E é só a primeira de uma série que está por vir.
Fred tem agora, segundo ele mesmo, a missão de transformar a companhia de uma varejista com vendas online em uma empresa digital, com lojas físicas e “calor humano”.

“Comecei na área digital, que hoje representa 24% do faturamento”, disse ele em entrevista a EXAME.com. “Nosso plano é torná-la mais digital, sem deixar de atender bem os clientes”.

Para tanto, a companhia desenhou um plano baseado em cinco pilares, todos sendo colocados em prática aos poucos a partir deste ano.

O primeiro deles, e mais impactante, começa em dezembro com a venda de perfumes e cosméticos no site do Magazine.

“Vamos ampliar os tipos de produtos vendidos e ter uma plataforma com espaço para que outros varejistas também vendam, como faz o eBay e MercadoLivre”, explica o executivo.

Dentro da empresa, uma área de homologação cuidará dos vendedores parceiros que venderão por meio do site. Inicialmente, “sellers” de novas categorias serão prioridade.

“Mas também queremos trabalhar com fornecedores que completem as linhas que já vendemos hoje”, diz Fred.
 



Do que adianta se tornar uma varejista online, se os clientes não sabem por que comprar e como usar direito os eletrônicos que compram, certo?

O Magazine diz já ter pensado nisso. Tanto que uma das premissas da estratégia também é a digitalização dos consumidores, por meio de cursos e vídeos interativos.

Os materiais, muitos já disponíveis no Youtube e site, servem tanto para quem pensa em comprar como para os que já estão com seus produtos em casa.

Da mesma maneira, será preciso treinar os funcionários para vender nas lojas físicas de uma maneira mais digital.

Além de conhecimento técnico dos produtos, todo o atendimento será por smartphone nas lojas, iniciativa que também começa em 2016.

Os vendedores estão sendo treinados também para divulgar itens em mídias sociais e se relacionar com clientes por ali.
 

Mudança leve


A parte de logística também foi alterada para atender as novas demandas, que vão devem ser maiores no site e vão permitir que clientes comprem online e apanhem os itens em uma loja.

Para tanto, os estoques das lojas foram integrados aos oito centros de distribuição da companhia pelo país.

Assim, será mais fácil – e barato – entender quantos itens de determinada marca precisam ser repostos e para quais lojas, por exemplo.

Por fim, a companhia quer implantar uma cultura de empreendedorismo digital, para incentivar novas ideias de negócios trazidas por pessoas de dentro e fora da empresa.

“É toda uma nova cultura de ser e atender que estamos adotando e queremos que todos estejam alinhados nisso”, afirma o novo CEO.

De acordo com Fred Trajano, todas essas mudanças para a companhia são leves, porque não há ativos, apenas ajustes e investimentos em pessoas e sistemas.

Para 2016, a expectativa é de um ano tão difícil quanto foi 2015.
 

Não é a mamãe


Os funcionários que ocupam cargos de liderança entre os 20.000 da empresa foram os primeiros a saber das mudanças de cúpula em um evento em São Paulo, no início da semana.

Embora, esperado o anúncio pode trazer comparações entre a maneira de gerir a empresa de Fred e sua mãe, Luiza Helena, com quem trabalha diretamente há 15 anos.

“Ela, minha tia (fundadora do Magazine, Luiza Trajano Donato) e Marcelo são meus mentores”, afirma o novo CEO. “Como aprendi muito com os três essa comparação não é um peso para mim, mas sim um privilégio”.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O golpe já foi dado. Lula é o presidente e nomeou Meirelles para o lugar de Levy

Titular da Fazenda fala a senadores e é triturado ao defender CPMF; o candidato à sua cadeira critica imposto em conversa com empresários

Por: Reinaldo Azevedo
 
 
O comando do Bradesco deveria fazer logo um favor a Joaquim Levy — sei que soa meio estranho escrever desse modo — e afastar dele o cálice do Ministério da Fazenda. Levy é um bom homem, é um profissional competente na sua área e está passando por uma fritura desnecessária e penosa. Já foi derrubado por Lula. Henrique Meirelles — ex-presidente do Banco Central e outro profissional que nada entende de política econômica — é o virtual novo ministro da Fazenda. Já está até concedendo entrevista nessa condição.

O que isso quer dizer? Ora, que o golpe já foi dado. E, é claro, não foi pela oposição nem pelos jovens que estão acampados nos gramados do Congresso. Quem apeou Dilma da cadeira foi o grande golpista de plantão no Brasil: chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Isso não é matéria de gosto, mas de fato.

Levy já começou a ser desautorizado a céu aberto. Determinações suas estão sendo descumpridas por Jaques Wagner, por exemplo, o lulista da Casa Civil. Na terça, coitado!, em jantar com senadores tanto da base aliada como da oposição, o ministro da Fazenda passou por um verdadeiro massacre. 

Fez lá as suas antevisões de praxe e voltou a defender a CPMF, que não terá vida fácil no Congresso.

E Meirelles? Ah, esse já até concede entrevista como ministro. E parece não esconder a excitação com a possibilidade. Indagado por jornalistas a respeito, um modesto decoroso teria dito que a conversa não procede, que Levy faz um excelente trabalho, que se deve deixar o ministro cumprir as suas tarefas, essas coisas. Ele deveria ter dito isso tudo ainda que não acreditasse em nada.
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Ocorre que, ainda que Meirelles fosse decoroso, a modéstia não é um mal que vá matá-lo algum dia. Num evento na Confederação Nacional da Indústria, nesta quarta, criticou a recriação da CPMF e a elevada carga tributária brasileira. Parecia música aos ouvidos dos presentes. E era mais um round da luta contra Levy.

Indagado, depois, pelos jornalistas se vai para o lugar do ministro da Fazenda, deu esta significativa resposta: “Não posso comentar sobre coisas de que não estou participando diretamente. Esse tipo de assunto, eu leio nos jornais e não estou em condições de comentar”.

Heiiinnn? Cadê o decoro e o elogio de praxe ao atual titular?

E notem: ele diz não estar participando “diretamente” — entendo, pois, que participe indiretamente e que haja um agente que cuida de sua nomeação. Há mesmo: Lula.

Mas ele aceitaria? Reitero: a única resposta elegante, em casos assim, seria dizer que a Fazenda está em boas mãos — o que não impediria a sua eventual nomeação. Mas ele preferiu dizer isto: “Questão de se eu aceitaria ou não aceitaria, tenho uma postura há muito tempo: eu não trabalho, não penso nem falo sobre hipótese. Só trabalho com situação concreta. Acho que o importante hoje é definirmos o que precisa ser feito no Brasil”.

Assim, a lógica obriga a que se conclua:
 
1 – sim, ele aceitaria;
2 – ele acha que não se definiu ainda o que precisa ser feito no Brasil;
3 – se ele aceita o cargo, então haveria essa definição.

Para lembrar: Meirelles sempre foi o candidato de Lula para a Fazenda. Ocorre que Dilma o detesta e está certa de que ele prestaria vassalagem, para ficar em termos medievais, a outro senhor. E ela tem razão.

Mas parece que essa é uma objeção que fazia sentido quando a presidente de direito também era a presidente de fato. Não é mais. Está fora.
 
Como é que a gente vai agora pedir o impeachment de Lula se ele nem foi eleito?

 http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-golpe-ja-foi-dado-lula-e-o-presidente-e-nomeou-meirelles-para-o-lugar-de-levy/

Comissão aprova LDO sem abatimento do PAC da meta fiscal




REUTERS/Guadalupe Pardo
Joaquim Levy
Joaquim Levy: a mudança significa uma vitória para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, crítico de qualquer tipo de dedução da meta fiscal
 
Ricardo Brito, do Estadão Conteúdo


Brasília - Após um acordo costurado a portas fechadas entre a base aliada e a oposição, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou nesta quinta-feira, 12, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016.

Em uma hora e meia, o colegiado voltou atrás da posição anterior e, na votação dos destaques, retirou a possibilidade de o governo abater da meta fiscal até R$ 20 bilhões de investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Na prática, a meta fiscal do próximo ano continuará sendo de um superávit primário de 0,7% do PIB (o que representa R$ 43,8 bilhões).
A mudança significa uma vitória para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, crítico de qualquer tipo de dedução da meta fiscal.

A proposta seguirá para apreciação do plenário do Congresso, que pode votar a medida na próxima terça-feira, 17.

Nos bastidores, a base aliada fechou um acordo com a oposição para, em troca da aprovação do superávit primário de 0,7% do PIB para o próximo ano, não impedir com manobras regimentais a votação do projeto de lei que altera a meta fiscal de 2015. Essa alteração deve ser apreciada pela CMO na próxima semana.

O governo vê com grande preocupação o risco de o projeto que altera a meta fiscal deste ano não ser aprovado até o fim do ano pelo Congresso.

Se não cumprir a meta prevista originalmente, a presidente Dilma Rousseff poderá ser enquadrada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e também por crime de responsabilidade. No limite, abriria uma brecha para ser alvo de um processo de impeachment.

O relator da LDO de 2016, deputado Ricardo Teobaldo (PTB-PE), anunciou o resultado do acordo no momento da votação do seu parecer.

De 291 emendas, ele acatou 33 delas, sendo que duas se referiam à retirada do abatimento de R$ 20 bilhões do PAC, conforme ele havia acatado anteriormente.

"Isso foi feito em entendimento com todas as lideranças e com a presidente (da comissão, senadora Rose de Freitas)", disse Teobaldo.

O deputado de oposição Caio Nárcio (PSDB-MG) elogiou a aprovação da LDO de 2016 na comissão sem o abatimento do PAC. "Ela retira o cheque em branco dado ao governo", disse.

Startup que cria diamantes ganha investimento de DiCaprio




Reprodução/Diamond Foundry
Diamantes cultivados pela startup Diamond Foundry
Diamantes da Diamond Foundry: pedras são "criadas" em reator de 8.000º C
 
 
São Paulo – Com um foco bastante ousado, uma empresa chamada Diamond Foundry conseguiu conquistar o apoio (e dinheiro) de dez bilionários, com Leonardo DiCaprio entre eles. A startup fica em Santa Barbara, nos Estados Unidos, e diz ser capaz de “cultivar” diamantes.

Após anos de desenvolvimento, a Diamond Foundry afirma ter chegado à fórmula final. Ao contrário de pedras completamente sintéticas, a nova técnica usa um pedacinho de um diamante natural. O resultado são centenas de diamantes de até nove quilates cultivados em apenas duas semanas em um laboratório.

Com isso, a Diamond Foundry despertou interesse. Em três rodadas de investimentos, a empresa arrecadou dinheiro de bilionários de grande cacife.
 
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Entre eles estão: Leonardo DiCaprio (ator), Evan Williams (fundador Twitter/Medium), Mark Pincus (fundador da Zynga), Andrew McCollum (cofundador do Facebook), entre outros. Mesmo com esses nomes envolvidos, a startup diz que levantou menos de 100 milhões de dólares até agora.

 

 Negócios


O modelo no qual a Diamond Foundry está investindo é trabalhar com designers de joias. As pedras são vendidas a mais de 200 profissionais, que as usam em brincos, colares ou anéis. Essas vendas ainda são a única fonte de receita.

Para os designers, a vantagem de comprar com a startup é não ter negociadores intermediários nas transações. Empresas tradicionais de joias também trabalham com a venda de pedras para artesãos.

Apesar disso, as pedras são serão muito mais baratas. Diamantes sintéticos custam menos do que pedras verdadeiras. A Diamond Foundry, no entanto, já disse que suas pedras vão custar o mesmo, ou até mais, do que as gemas naturais disponíveis no mercado.

“Cozinhando” um diamante


Diamantes são pedras feitas de carbono. Geólogos acreditam que as pedras são resultado de milhares de anos de pressão e calor do magma presente no centro da Terra.

A Diamond Foundry está trabalhando em um método similar, usando uma fatia de um diamante natural como “semente”. A empresa não abre o método de forma completa. Eles afirmam que a técnica faz com que novas camadas de átomos se unam às existentes. Tudo isso é feito em reator que atinge 8.000 graus Celsius (na foto abaixo).

Com isso, as pedras produzidas são extremamente similares às naturais. Mesmo imperfeições que podem ser observadas nos diamantes minerados também estariam presentes naqueles produzidos pela Diamond Foundry.


Reprodução/Diamond Foundry
Reator da Diamond Foundry para criação de diamantes

“100% puro. 100% sustentável”

Em seu site, a empresa se coloca como uma alternativa ética para o mercado. “A indústria de diamantes infelizmente está manchada por abusos aos direitos humanos, trabalho infantil, destruição ecológica, práticas similares a carteis e proveniência desconhecia”, escreve a Diamond Foundry.

Leonardo DiCaprio (que protagonizou o filme Diamante de Sangue) tocou no assunto ao anunciar seu investimento. “Orgulhoso de investir na Diamond Foundry—que reduz o custo humano e ambiental cultivando diamantes sustentavelmente”, escreveu no Twitter.

 Economicamente, a empresa afirma que a sua produção de diamantes é tão pequena, que não será o suficiente para impactar o preço da pedra no mercado.


Samarco terá que pagar multa de R$ 250 mi por dano ambiental


 
 
 
 
São Paulo - A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou em entrevista na tarde desta quinta-feira (12), que a mineradora Samarco, que pertence à Vale e à BHP, deverá pagar uma multa preliminar de 250 milhões de reais devido aos danos ambientais provados pelo rompimento de duas barragens na cidade de Mariana, Minas Gerais. 

Durante coletiva de imprensa em Governador Valadares (MG), a presidente afirmou que a empresa descumpriu várias legislações ambientais

Na última quinta-feira, duas barragens que pertenciam à Samarco romperam.
Além de soterrar casas, deixar seis mortos e 19 pessoas desaparecidas, a lama proveniente das barragens coloca em xeque a saúde da Bacia do Rio Doce, que corta dois Minas e Espírito Santo. 

De acordo com a presidente, a empresa precisa ser responsabilizada pelo atendimento emergencial da população, pela busca de soluções estáveis e pela reconstrução e capacidade de resolver os problemas gerados às vítimas do desastre. 

"Estamos empenhados em responsabilizar quem tem que ser responsável", afirmou. 


O caso Samarco e o desmoronamento da responsabilidade social corporativa


A tragédia de Mariana revela que os padrões atuais da responsabilidade  social corporativa não são suficientes para proteger a sociedade


O rompimento das duas barragens de rejeitos de mineração nos municípios de Mariana e Ouro Preto resultou na avalanche de lama
O rompimento das duas barragens de rejeitos de mineração nos municípios de Mariana e Ouro Preto resultou na avalanche de lama
A mineradora Samarco foi reconhecida nos últimos 20 anos como uma das líderes em responsabilidade socioambiental no Brasil. Enfileirou prêmios, foi a primeira mineradora do mundo a ter a certificação ISO 14001 (de gestão ambiental) para todas as etapas de produção. Nada disso adiantou que, na quinta-feira 5 de novembro, fosse responsável por um dos maiores desastres ambientais e sociais recentes do País, cuja extensão ainda está longe de ser dimensionada.

O rompimento das duas barragens de rejeitos de mineração nos municípios de Mariana e Ouro Preto, que resultou na avalanche de milhões de toneladas de lama, tirou vidas, devastou o distrito de Bento Rodrigues, provocou destruição ambiental por mais de 100 quilômetros (e segue avançando), e ainda jogou por terra o trabalho de inúmeros profissionais sérios.

Sim, porque também há tragédia do lado da empresa. Especialmente, se reconhecermos que ali existem pessoas e não apenas um ente demoníaco e ganancioso. Resumir essa catástrofe à conclusão irrefutável e óbvia de que a empresa é culpada dá conforto imediato a muitas pessoas, mas não nos ajuda a entender toda a complexidade do problema.

Assim com a BP, que provocou o maior desastre ambiental dos EUA em 2010, a Samarco tinha inúmeros estudos e metodologias para a gestão de riscos de suas operações e forte reputação de excelência socioambiental.

Em levantamento do renomado Reputation Institute, em 2014, que incluiu 2.769 entrevistas com representantes de sete públicos, a Samarco alcançou o índice de 74,9 pontos numa escala de 0 a 100, o que a colocava no nível de benchmark para o setor de mineração. Em seu Relatório Anual, a empresa admitiu que permanecia como desafio estreitar os laços e  fortalecer as relações de confiança com clientes e comunidades vizinhas.

O mesmo documento oficial da Samarco descreve a gestão ativa de riscos e informa que realizou pela primeira vez em 2014 seis simulados para testar a capacidade de resposta à crises.

Sobre a disposição de rejeitos, diz o relatório: “A análise e o controle de riscos são realizados por meio da metodologia Failure Modes and Effects Analysis (FMEA), que avalia o potencial de ocorrências e falhas nas barragens, bem como as consequências potenciais sobre a saúde e a segurança das pessoas e do meio ambiente... Sob a ótica da segurança de nossas operações, dispomos do Plano de Ações Emergenciais (PAE) das barragens, que aborda o funcionamento das estruturas de disposição de rejeito e possíveis anomalias ou situações de emergência. Com base nesse documento, que atende aos requisitos legais sobre gestão de barragens, aplicamos, em 2014, um total de 1.356 horas de treinamentos com os empregados envolvidos direta ou indiretamente nas atividades”.

Em outro trecho: “Mapeamos 18 riscos operacionais prioritários de segurança e seis riscos prioritários de saúde e definimos um programa de gerenciamento”.  Depois de descrever vários investimentos na mitigação de riscos, finaliza: “Outras melhorias aguardam licenças e aspectos regulatórios para serem implantadas, como a construção do trevo da portaria principal de Ubu e o estacionamento externo da barragem, em Germano.”

Por que nada disso foi suficiente para evitar a tragédia?

Porque as empresas se iludem. Nosso conhecimento é majoritariamente formado por informações passadas ou presentes e, a cada dia, a previsão dos efeitos futuros de nossas atividades fica mais complexa e improvável. Assim, como todas essas ferramentas e metodologias são baseadas em melhores práticas criadas no passado, servem para gerar conforto a acionistas e outros stakeholders, mas não garantem segurança diante de operações de grande impacto.

A pressão por mais e mais produção, somada às incertezas ambientais e sociais, fazem com que cada dia sem acidente seja um dia mais próximo de um acontecimento inesperado. Esse dia chegou para a Samarco, depois de anos perseguindo produtividade, eficiência, e consequentemente estocando mais rejeitos.

Assim como a BP teve de pagar 18 bilhões de dólares em multas e indenizações nos Estados Unidos, a Samarco deverá arcar com um imenso custo para reparar os danos ambientais e sociais que gerou. É necessário, no entanto, repensar o modelo de negócios e os processos produtivos dela e de todo o setor de mineração.

Se ainda dependemos de minério para produzir bens necessários, uma empresa realmente responsável deve investir em pesquisa para extrair cada vez menos recursos naturais, eliminar processos que geram rejeitos e não se acomodar na mera melhoria contínua de modelos insustentáveis.

A tragédia de Mariana revela que os padrões atuais da responsabilidade social corporativa não são suficientes para proteger a sociedade. Precisamos de negócios que tenham processos e modelos de negócios que gerem impacto positivo, regenerem a natureza e compartilhem o valor produzido. Do contrário, lamentaremos muitas outras tragédias.

Você sabe por que o seu processo não anda?

Um dia, cansado de falar com gravações telefônicas das empresas e com órgãos públicos que não entendem nem resolvem o seu problema, você decide processar alguém. Aí você descobre que saiu da panela para cair no fogo. E fogo brando...

Publicado por Consultor Elder
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Voc sabe por que o seu processo no anda
A história é recorrente: você é lesado pelo banco, pela administradora do cartão de crédito, pela concessionária de luz, água ou telefone, ou por todos eles ao mesmo tempo, o que é mais comum, e, se você mora no estado do Rio de Janeiro, em algum momento será lesado também pelo Estado. Com certeza.

Um dia, cansado de falar com gravações telefônicas das empresas e com órgãos públicos que não entendem nem resolvem o seu problema, você decide processar alguém. Aí você descobre que saiu da panela para cair no fogo. E fogo brando...

Quando você começa um processo na justiça do Rio de Janeiro, na verdade você não está só começando um processo. Você está mergulhando num poço sem fundo e sem volta no que há de mais burocrático em termos de serviços públicos.

Existe na Corregedoria do Tribunal de Justiça um manual chamado Consolidação Normativa, que explica alguns procedimentos da rotina dos servidores. Pra início de conversa, o seu processo será distribuído (sorteado para um cartório) e autuado (juntados os documentos, colocando-se capa, número e páginas).

Este serviço, que parece simples, é o pontapé inicial na perda de tempo, porque o manual gasta sete páginas para ensinar o servidor a distribuir e autuar um feito. Aí, o oficial de justiça tem que citar o réu (comunicar ao sujeito que há uma ação em trâmite contra ele). Parece simples. O oficial vai até lá, cita o indivíduo, volta e entrega o mandado cumprido. Certo? Errado. O manual gasta inacreditáveis 20 páginas só para ensinar o oficial de justiça a cumprir um mandado.

E as custas judiciais? O manual da Corregedoria gasta inúmeras páginas para orientar sobre o recolhimento de custas. Por um motivo que ninguém conhece, as custas são baseadas em um apanhado de leis, decretos, decretos leis, portarias, atos, enunciados, pareceres, acórdãos, decisões administrativas e de achismos, frutos da interpretação de juízes que fizeram concurso para julgar, mas acabaram parando na área administrativa, desconhecem por completo as regras de custas, mas decidem marcar a sua gestão com interpretações personalíssimas das já confusas regras. Não acredita? Vou dar um exemplo de um caso real.

Um cidadão faleceu e deixou um único imóvel de herança para os dez filhos; logo, cada um herdou 10% do imóvel. A família entrou com o inventário, pagando as custas equivalentes à totalidade do imóvel. No meio do processo (que, claro, eternizava-se), faleceu um dos filhos, deixando como único bem a décima parte do imóvel que herdou do pai. Pergunta: o que deveria ser pago de custas no inventário deste filho, já que foi pago o valor integral de custas quando da morte do pai e o filho só herdou a décima parte deste imóvel? A resposta seria óbvia: ele deveria pagar custas sobre o que ele herdou, já que seria dono somente da décima parte do imóvel e os demais 90% pertencem aos seus irmãos, ainda vivos. Ledo engano. Uma mente judicial brilhante decidiu que o filho deveria pagar custas sobre a totalidade do imóvel, ainda que herdando só 10% dele. E isso significa que a cada filho que morrer as custas serão pagas novamente sobre todo o imóvel e o Estado arrecadará 11 vezes as custas sobre o mesmo imóvel, ainda que cada filho que venha a falecer seja dono somente de 10% do bem. É ou não é brilhante? Do ponto de vista moral é altamente questionável, mas para fins de arrecadação...

O resultado desse emaranhado é que ninguém se entende e gera uma situação curiosa: o advogado não sabe recolher custas, o servidor não sabe certificar o recolhimento errado do advogado e todo mundo finge que está tudo bem. E quando algum ator deste teatro rocambolesco quiser discutir as custas dá-se a desgraça, porque os demais atores discordam e o processo passa meses girando em torno da discussão sobre o correto recolhimento das custas, esquecendo-se do principal, que é o pedido do cidadão na ação. E aí o processo se arrasta infinitamente.

E não termina aí. A falta de servidores é generalizada. O servidor é quem distribui, autua, atende, processa, despacha, decide e faz as sentenças no lugar do juiz. Então, sem servidor, o processo não anda. E o que faz a Corregedoria, responsável pelos servidores, para mudar este quadro caótico? Ela remove servidores para lá e para ca, contra a vontade, entre cidades distantes, causando prejuízos de toda sorte, aumentando a confusão e punindo o servidor ao tratá-lo como um objeto, levado de um lado para outro. Nessa brilhante estratégia, os servidores andam, mas os processos continuam parados...

Nesta política de remoções forçadas, um comissário de infância quase morreu na última semana. Foi removido pela Corregedoria para uma cidade distante 100 km de sua residência e foi escalado para cobrir um evento de madrugada. Sem hora extra. Sem estrutura. Sem transporte. Sem alimentação. Sem ressarcimento de despesa. Sem respeito. Sem sentido... E foi com o seu próprio carro. No evento, teve bastante trabalho com menores ingerindo bebidas alcoólicas e diversos registros na delegacia local. Na volta, já de madrugada, dormiu ao volante e bateu de frente num poste. Não morreu. Graças a Deus.

Porque só se pode contar com a providência divina para evitar uma tragédia maior em meio à burocracia e à desorganização que imperam na Corregedoria da Justiça.


Fonte: avozdaserra
 
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