Titular da Fazenda fala a senadores e é triturado ao defender CPMF; o candidato à sua cadeira critica imposto em conversa com empresários
O
comando do Bradesco deveria fazer logo um favor a Joaquim Levy — sei que
soa meio estranho escrever desse modo — e afastar dele o cálice do
Ministério da Fazenda. Levy é um bom homem, é um profissional competente
na sua área e está passando por uma fritura desnecessária e penosa. Já
foi derrubado por Lula. Henrique Meirelles — ex-presidente do Banco
Central e outro profissional que nada entende de política econômica — é o
virtual novo ministro da Fazenda. Já está até concedendo entrevista
nessa condição.
O que isso
quer dizer? Ora, que o golpe já foi dado. E, é claro, não foi pela
oposição nem pelos jovens que estão acampados nos gramados do Congresso.
Quem apeou Dilma da cadeira foi o grande golpista de plantão no Brasil:
chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Isso não é matéria de gosto, mas de
fato.
Levy já
começou a ser desautorizado a céu aberto. Determinações suas estão sendo
descumpridas por Jaques Wagner, por exemplo, o lulista da Casa Civil.
Na terça, coitado!, em jantar com senadores tanto da base aliada como da
oposição, o ministro da Fazenda passou por um verdadeiro massacre.
Fez
lá as suas antevisões de praxe e voltou a defender a CPMF, que não terá
vida fácil no Congresso.
E Meirelles?
Ah, esse já até concede entrevista como ministro. E parece não esconder
a excitação com a possibilidade. Indagado por jornalistas a respeito,
um modesto decoroso teria dito que a conversa não procede, que Levy faz
um excelente trabalho, que se deve deixar o ministro cumprir as suas
tarefas, essas coisas. Ele deveria ter dito isso tudo ainda que não
acreditasse em nada.
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Ocorre que,
ainda que Meirelles fosse decoroso, a modéstia não é um mal que vá
matá-lo algum dia. Num evento na Confederação Nacional da Indústria,
nesta quarta, criticou a recriação da CPMF e a elevada carga tributária
brasileira. Parecia música aos ouvidos dos presentes. E era mais um
round da luta contra Levy.
Indagado,
depois, pelos jornalistas se vai para o lugar do ministro da Fazenda,
deu esta significativa resposta: “Não posso comentar sobre coisas de que
não estou participando diretamente. Esse tipo de assunto, eu leio nos
jornais e não estou em condições de comentar”.
Heiiinnn? Cadê o decoro e o elogio de praxe ao atual titular?
E notem: ele
diz não estar participando “diretamente” — entendo, pois, que participe
indiretamente e que haja um agente que cuida de sua nomeação. Há mesmo:
Lula.
Mas ele
aceitaria? Reitero: a única resposta elegante, em casos assim, seria
dizer que a Fazenda está em boas mãos — o que não impediria a sua
eventual nomeação. Mas ele preferiu dizer isto: “Questão de se eu
aceitaria ou não aceitaria, tenho uma postura há muito tempo: eu não
trabalho, não penso nem falo sobre hipótese. Só trabalho com situação
concreta. Acho que o importante hoje é definirmos o que precisa ser
feito no Brasil”.
Assim, a lógica obriga a que se conclua:
1 – sim, ele aceitaria;
2 – ele acha que não se definiu ainda o que precisa ser feito no Brasil;
3 – se ele aceita o cargo, então haveria essa definição.
2 – ele acha que não se definiu ainda o que precisa ser feito no Brasil;
3 – se ele aceita o cargo, então haveria essa definição.
Para
lembrar: Meirelles sempre foi o candidato de Lula para a Fazenda. Ocorre
que Dilma o detesta e está certa de que ele prestaria vassalagem, para
ficar em termos medievais, a outro senhor. E ela tem razão.
Mas parece
que essa é uma objeção que fazia sentido quando a presidente de direito
também era a presidente de fato. Não é mais. Está fora.
Como é que a gente vai agora pedir o impeachment de Lula se ele nem foi eleito?
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-golpe-ja-foi-dado-lula-e-o-presidente-e-nomeou-meirelles-para-o-lugar-de-levy/
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