Preso nesta quarta-feira (25) no âmbito da Operação Lava Jato, o
banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, foi acusado pelo ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró de ter pago propina ao senador Fernando Collor
(PTB-AL). Para evitar essas acusações, tentou corromper Cerveró, aponta a
Procuradoria Geral da República.
Segundo o pedido de prisão da PGR, Cerveró relatou "pagamento de
vantagem indevida ao senador Fernando Collor, no âmbito de contrato de
embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que
pertenciam conjuntamente ao Banco BTG Pactual e a grupo empresarial
denominado Grupo Santiago".
O delator disse que ouviu do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos que
Collor recebeu de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões de propina no caso.
Esteves teve acesso a documento sigiloso saído da cela do ex-diretor da
Petrobras, Nestor Cerveró, referentes à sua delação premiada, quando
teria tomado conhecimento das acusações.
Esse foi um dos motivos para o pedido de prisão do banqueiro pela Procuradoria Geral da República.
Após investigações, a PGR apontou que Esteves havia se comprometido com o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), também preso nesta quarta, a fornecer pagamento mensal de R$ 50 mil a Cerveró para ele excluir o BTG Pactual e o parlamentar da sua delação premiada.
Em depoimento prestado aos procuradores, Bernardo Cerveró –filho do
ex-diretor da estatal e quem aparece na gravação da conversa que deu
base à prisão de Delcídio– declarou: "O senador passou a fazer
referências a André Esteves, que é 'quem entraria com a grana', isto é,
que daria suporte financeiro para família do depoente".
DOCUMENTO
Na reunião gravada pelo filho de Cerveró com Delcídio e o advogado Edson
Ribeiro, o senador conta que foi informado pelo banqueiro que ele havia conseguido um documento com anotações manuscritas de Cerveró, que estava dentro de sua cela. Esteves lhe mostrou o material.
"O banqueiro André Esteves está na posse de cópia de minuta de anexo do
acordo de colaboração premiada ora submetido à homologação, com
anotações manuscritas do próprio Nestor Cerveró. Essa informação revela a
existência de perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se
conhece: constitui genuíno mistério que um documento que estava guardado
em ambiente prisional em Curitiba/PR, com incidência de sigilo, tenha
chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo/SP", escreveu o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de prisão ao
STF.
Quando é informado do vazamento do documento, Bernardo afirma que deve
ter sido tirado da cela de Cerveró, porque não é o mesmo documento que
havia sido entregue à PGR, já que possuía anotações manuscritas do
ex-diretor.
Na reunião, Delcídio diz que vai falar com André Esteves sobre o acordo, sem especificar detalhes.
"Eu cheguei lá, sentei com o André, falei 'ó André, eu tô com o pessoal.
É, eu já conversei com a turma. Já falei com o Edson, vou conversar com
o Bernardo", diz o senador, ainda segundo a conversa gravada.
André Esteves não participou dessa reunião, ocorrida em 4 de novembro,
mas Delcídio intermediou para que ele fosse à nova reunião para tratar
do assunto, no último dia 19. "É importante que ele veja vocês", diz o
senador.
"Se ele vai falar amanhã com o André, vamos ser procuradores terça ou
quarta-feira no máximo", comentou o advogado Edson Ribeiro com Bernardo,
no fim da reunião.
Em nota, o BTG diz que vai colaborar com as autoridades para esclarecer os fatos investigados.
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