Marcos Oliveira/Agência Senado
Senador Delcidio Amaral: na conversa com o filho do ex-diretor, Delcídio
conta que, em um dos encontros com o banqueiro, viu uma anotação
manuscrita com o nome da empresa
Mateus Coutinho e Julia Affonso, do Estadão Conteúdo
São Paulo - Nos diálogos que levaram à sua prisão por tentar barrar as investigações da Lava Jato,
o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) mostra sua surpresa e preocupação
ao se deparar com anotações do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró
obtidas pelo banqueiro André Esteves relacionando o parlamentar à
multinacional francesa Alstom.
O senador já foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto
Costa como sendo destinatário de propinas da Alstom no período em que
foi diretor de Gás e Energia da Petrobrás, entre 1999 e 2001, no governo
Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na época, Cerveró era subordinado a
Delcídio na diretoria.
O senador já foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto
Costa como sendo destinatário de propinas da Alstom no período em que
foi diretor de Gás e Energia da Petrobras, entre 1999 e 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na época, Cerveró era subordinado a Delcídio na diretoria.
Na conversa com o filho do ex-diretor, Bernardo Cerveró, e o advogado
Edson Ribeiro, Delcídio conta que, em um dos encontros com o banqueiro,
viu uma anotação manuscrita com o nome da empresa e ele na última página
do acordo de delação obtido por Esteves.
"Tem várias anotações e o que me chamou atenção que eu achei que poderia
ser, é
é
é
a letra do Nestor, na última página dá uma olhada
na
última página. tem assim ó, é
acordo 2005 Suíça", comenta o senador,
logo respondido por Bernardo, que tenta tranquilizá-lo sobre o assunto e
afirma que a anotação manuscrita não teria entrado nos depoimentos do
ex-diretor aos investigadores:
"Bernardo: Huhum
Delcídio: Aí, ele bota assim ALSTOM.
Bernardo: Hum!
Delcídio: Aí ele diz, aí ele bota assim
Edson: Acho que não tá apresentado não.
Bernardo: Oi? Não. Isso foi
Delcídio: Mas tá trás. Eu vi porque tá escrito.
Bernardo: Não, não foi. Com certeza não foi. O problema é que eles (Ministério Público) jogaram esse verde
"
Em outro momento do diálogo o senador não esconde a preocupação com o
fato de Cerveró poder revelar detalhes do envolvimento dele com a
Alstom.
"Tá lá assim, acordo de 2010, aí ele bota lá um troço assim, eu não
lembro o nome agora, porque porra rapaz! Eu levei um
Você imagina, você
vai conversar com o cara (André Esteves), de repente o cara me aparece
com uma porra daquela, quer dizer, como é que esse cara conseguiu? E com
as anotações, aí ele diz assim, ele cita o nome Guimarães operador
Delcídio E se... se fosse, que vantagem eu teria de falar para vocês que
eu não
"
Mais à frente, no diálogo, Delcídio tenta confirmar com Bernardo Cerveró
e com Edson Ribeiro que o ex-diretor não mencionaria ele e a Alstom na
delação, e é tranquilizado pelos dois que relembram um acordo de Nestor
Cerveró com as autoridades do país europeu nas investigações da Alstom
para não ser processado lá.
Ao saber disso, o próprio senador conclui que havia "dinheiro da Alstom" mantido no exterior pelo ex-diretor Internacional.
"Bernardo: Isso foi aquela estória que no final você
falou. Que no final eles (MPF) jogaram. A gente sabe que vocês fizeram
que você fez acordo com a Procuradoria que é um acordo de
confidencialidade mas, que em off o tal do procurador suíço
Delcídio: Mas ele (Cerveró) chegou a fazer algum acordo com aquele procurador suíço?
Edson: Foi fez. Pagou
Delcídio: Mas a título de que ele fez?
Edson: Pagou. Pra não ser processado.
Bernardo: Pra não ser processado lá.
Delcídio: Ah por causa de depósito em conta?
Edson: Todo dinheiro que tava lá na Suíça ficou pra Procuradoria da Suíça. Então ele foi processado e o assunto morreu aí.
Delcídio: Pois é. E esse dinheiro era o dinheiro da Alstom? Ah foi por isso que ele fez o acordo?Entendi. Ele nunca me falou isso".
Em 2011 o Ministério Público da Suíça fez um acordo que impôs à Alstom
uma multa no valor equivalente a R$ 85,2 milhões por suspeitas de
pagamento de propinas a funcionários públicos de outros países,
incluindo o Brasil, para obter facilitação em processos de licitação.
Com o pagamento, a investigação contra a multinacional foi encerrado em território suíço e ninguém foi preso.
A decisão, contudo, não interfere nas investigações em São Paulo sobre
suposto esquema de corrupção envolvendo a atuação da companhia durante
as gestões do PSDB no governo do Estado em que é citado o conselheiro
Robson Marinho, do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que nos anos 1990
foi chefe da Casa Civil do governo Mário Covas (PSDB).
Antes disso, contudo, o MP suíço chegou a solicitar aos investigadores
brasileiros, em 2009, informações para apurar suspeitas sobre um
consórcio entre a estatal petrolífera e a EMAE, antiga estatal paulista,
na Usina Termoelétrica Piratininga formado em 2005.
O suposto envolvimento de Delcídio com a Alstom foi mencionado pela
primeira vez na delação premiada do ex-diretor de Abastecimento Paulo
Roberto Costa em sua delação premiada no ano passado.
Costa relatou aos investigadores ter ouvido dizer que Delcídio teria
usado o apagão como justificativa para forçar a contratação emergencial
de turbinas de gás termelétricas da multinacional francesa Alstom quando
era diretor da Petrobrás.
Segundo o delator, o parlamentar teria recebido propina da empresa pelo negócio.
Na ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou
insuficientes as acusações de Costa, baseadas em comentários que ele
teria ouvido, e pediu o arquivamento da investigação contra o
parlamentar, o que foi acatado pelo Supremo Tribunal Federal.
Alstom
"A Alstom não vai se pronunciar sobre especulações e a empresa reforça que cumpre com a legislação."
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