Rio de Janeiro – Daqui a 255 dias, o
Rio de Janeiro
será palco de um dos maiores eventos esportivos mundiais. A expectativa
é de que 300 mil turistas desembarquem na cidade para acompanhar os 17
dias de competições das
Olimpíadas 2016.
Hoje a capital carioca se vê transformada em um enorme canteiro de
obras, com a construção de uma nova linha do metrô, a finalização dos
estádios e arenas olímpicas e outras obras de infraestrutura. Se já dá
para respirar quanto a entrega das obras no prazo, o que se discute
agora é qual será o legado deixado pelos Jogos depois que a tocha for
apagada.
Esse desafio foi tema do
EXAME Fórum
Olimpíada, realizado nesta terça-feira no Rio de Janeiro. Veja quais
serão as principais heranças que os Jogos Olímpicos deixarão para o Rio e
para o Brasil, segundo os participantes:
A Cidade Maravilhosa com mais infraestrutura
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, contou que, assim que a
cidade foi escolhida como sede, ele decidiu visitar outras anfitriãs para ver o que poderia dar certo em terras brasileiras.
“Em uma conversa com o prefeito de Barcelona, ele me disse que eu tinha
duas opções: ou os jogos usariam a cidade ou a cidade usaria os jogos
para crescer”, disse. “Desde então, começamos a pensar a Olimpíada como
uma justificativa para os investimentos que a cidade precisava”, disse
Paes.
Rosane Bekierman
Prefeito do Rio, Eduardo Paes, durante EXAME Fórum em 24/11/2015
Em 2009, de acordo com a prefeitura, os sistemas de
transporte de
alta capacidade carregavam 18% da população do Rio. Em 2017, a
expectativa é que 67% da população seja transportada, com a construção
de novas linhas de BRT e do metrô carioca. Outros problemas que devem
ser atenuados são as enchentes e parte do trânsito, com a ampliação de
algumas vias.
Se os esforços são visíveis a cada volta que se dá na cidade, o grande
temor é que eles se limitem apenas ao período pré-Jogos. “Não podemos
esquecer que a cidade carrega uma dívida histórica em questões de
infraestrutura”, disse Vinicius Netto, arquiteto e professor da
Universidade Federal Fluminense (UFF). “A minha preocupação é que a
atenção seja dispersa em várias frentes antes que o básico seja
resolvido. É algo que precisa ter continuidade”.
A promessa de menos elefantes brancos
Reaproveitar os espaços construídos para as competições é uma
daquelas dores de cabeça comuns a qualquer cidade que abrigue um evento
do porte dos jogos. Dado inclusive o histórico brasileiro, não é de se
espantar que algumas instalações acabem se deteriorando com o tempo.
No Rio, a promessa é que pelo menos algumas delas ganhem um novo uso,
como ginásios e escolas – e, no caso de duas instalações, até novos
endereços.
De acordo com o projeto, a Arena do Futuro e o Estádio Aquático serão
desmontados como peças de blocos de montar para dar origem a escolas e
dois parques aquáticos em outras áreas da cidade.
As PPPs como um modelo a ser seguido
Boa parte dos 38,67 bilhões de reais gastos nos Jogos Olímpicos não
sairá de cofres públicos, mas do caixa de empresas. No caso das obras de
legado, por exemplo, 57% do orçamento é privado. “Parafraseando o
ex-presidente Lula, nunca antes na história das olimpíadas tivemos tanto
dinheiro privado”, disse Eduardo Paes.
Para Thomaz Assumpção, presidente da consultoria Urban Systems e José
Carlos Pinto, sócio-líder da consultoria Ernst & Young no Rio de
Janeiro, apesar de não ser inédito, a utilização de parcerias
público-privadas, as chamadas PPPs, serão uma boa forma de despertar no
país a necessidade da união com o setor privado para o maior
desenvolvimento.
“É claro que se fosse pra buscar uma parceria dessas nos dias de hoje,
com um ambiente macroeconômico instável, elas poderiam não sair do
papel, mas é preciso um esforço do governo para garantir aos
investidores que haverá fontes de recurso, segurança jurídica e a taxa
de retorno de investimento”, disse Pinto.
“O governo tem hoje uma ingerência sobre as PPPs, mas o papel dele deve ser o de facilitar o desenvolvimento”, disse Assumpção.
A venda da marca Brasil e o turismo impulsionado
“Somos muito ruins em cacarejar o ovo que a gente põe”. Foi com essa
frase que Nizan Guanaes, sócio fundador do Grupo ABC definiu a
dificuldade brasileira de vender a marca do país. “Temos uma vocação
óbvia que não é utilizada”, disse. “É preciso vender a imagem do país.
Se temos a cidade mais bonita do mundo porque ela não é vendida? Temos
crise, mas continua tendo um monte de coisa incrível”.
Deixar qualquer turista com brilho nos olhos só de ouvir o nome Brasil é
o grande desafio enfrentado atualmente por Henrique Alves, ministro do
Turismo. “A Copa teve uma alta aprovação, mas faltou um legado para o
país”, disse Alves.
Rosane Bekierman
Uma das apostas do ministro para impulsionar a vinda dos estrangeiros é a
aprovação de um projeto que acaba com a necessidade de visto de entrada
por um prazo de 90 dias. A proposta recebeu diversas críticas após os
atentados ocorridos há 15 dias em Paris, na França.
“Não acho que essa isenção vai alterar o que planejamos para a
segurança”, rebateu Alves. “Como diria a música, chega de espera, a hora
é de fazer acontecer”.