“A
Constituição determina que, para que o impeachment aconteça, é preciso
ter crime de responsabilidade. E não tem, contra mim, nenhuma acusação
de corrupção.” (Dilma Rousseff, em NY, dia 22 de abril)
Não sei se resta algum degrau na escada da dignidade do cargo
presidencial para Dilma descer e macular ainda mais a própria imagem e a
imagem do Brasil. A presidente afirma que não é corrupta, como se a
distância entre isso e a santidade fosse vencida numa pedalada de cinco
minutos.
Nossa dirigente máxima já cometeu crimes gravíssimos, que hoje
habitam, apenas, a zona sombria de sua consciência. Foram anistiados.
Ela os cometeu quando pegou em armas para implantar uma ditadura
comunista no Brasil. Cometeu-os sabendo que a nação nada queria com sua
organização, métodos e idéias. O desrespeito de Dilma ao Brasil e seu
povo é, portanto, uma história antiga, só superada mediante robustas
mistificações e maquilagem publicitária. O modelo que seguiu na
juventude foi proporcionado, patrocinado e orientado pelas tiranias
soviética e cubana. Era o que ela pretendia e nunca deixou de pretender,
como fica patente cada vez que vai a Havana beijar as mãos sanguinárias
dos Castro. Dela nunca se ouviu palavra de arrependimento.
Hoje, ao afirmar que não é corrupta, a presidente objetiva, de um
lado, transmitir a falsa idéia de que apenas a corrupção pessoal pode
motivar um processo como o que enfrenta. Ora, ainda que não tenha
auferido recursos da corrupção, esses crimes, praticados dentro do seu
governo, pela equipe sob seu comando e supervisão, ao longo de mais de
uma década, proporcionaram a ela e a seu partido a manutenção do poder.
Mas Dilma, a exemplo de Lula, nada soube e nada viu. Tudo lhe caiu do
céu.
Se a corrupção é o crime por excelência no teatro da política, por
que tanto desmazelo? Por que
tantos corruptos notórios no seu entorno?
Por que agasalhar Lula com o cobertor de um ministério, para “usar em caso de necessidade”?
Por outro lado, quanto ao impeachment, Dilma e os seus parecem
considerar irrelevante o controle parlamentar sobre a despesa pública.
Tal desprezo é próprio de pessoas acostumadas a usarem nosso dinheiro
para proveito pessoal ou político! Ignorância pura e simples é que não
há de ser.
Refresquemos a memória: não foi para estabelecer esse
controle que nasceram os parlamentos deliberativos? Não foi
principalmente por ele que, em 1215, se revoltaram os barões ingleses
redigindo a Magna Carta Libertatum e exigindo do rei João que a
assinasse? Estamos falando de um princípio constitucional com oito
séculos de vigência! Sua ruptura é grave ofensa ao parlamento e à nação.
Nossa presidente mentiu desbragadamente aos eleitores em 2014;
afundou as contas públicas, a economia privada e grandes estatais; fez
disparar o desemprego; furou os tetos a respeitar e os pisos a não
transpor. Transformou o Palácio em pavilhão de comício e comitê central
de seu partido. Vive encapsulada para escapar de vaias e panelaços.
Esfarelou seu apoio parlamentar e, em desmedida soberba, quer permanecer
assim até 2018.
Acontece que o amor próprio de Dilma contrasta com seu desamor ao
Brasil. Ele estava presente nos tempos da clandestinidade, no
internacionalismo inerente ao comunismo, no desapreço às nossas raízes e
à nossa história, na sempre ardilosa construção da luta de classes e no
conceito da Pátria Grande, falsamente bolivariana e verdadeiramente
comunista, urdida nos conluios do FSP e da Unasul.
Dia 22, em Nova Iorque, esse desvario chegou ao cúmulo de sugerir
sanções do Mercosul e da Unasul ao Brasil caso seu impeachment avance.
Nossa presidente repete Luís XV: “Depois de mim, o dilúvio!”.
Afoguemo-nos todos. As recentes manifestações de Dilma no palco
internacional correspondem ao item 7 do art. 9º da Lei dos Crimes de
Responsabilidade: “Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. Ou não?
*Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.
http://www.debatesculturais.com.br/dilma-e-seu-desamor-ao-brasil/