segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ant Financial eleva oferta por MoneyGram em 36%


Empresa, filial financeira do Alibaba Group Holding, aumentou sua oferta para 18 dólares por ação em dinheiro ante 13,25 dólares

 



São Paulo – A chinesa Ant Financial elevou sua oferta pela MoneyGram International em 36 por cento, superando uma oferta rival para obter aprovação do conselho da empresa de pagamentos eletrônicos dos EUA, embora ainda enfrente barreiras regulatórias.

A Ant, filial financeira do Alibaba Group Holding, aumentou sua oferta para 18 dólares por ação em dinheiro ante 13,25 dólares, avaliando a MoneyGram em torno de 1,2 bilhão de dólares.

Isso se compara a uma oferta de 15,20 dólar por ação da Euronet Worldwide no mês passado.

Um negócio bem sucedido seria a primeira grande aquisição da Ant em um mercado desenvolvido.

Mas primeiro ela precisa passar por análises regulatórias, incluindo uma do Comitê de Investimentos Estrangeiros (CFIUS), um painel inter-agências dos EUA que analisa as aquisições para riscos de segurança nacional.

O CFIUS tem sido um obstáculo para vários negócios chineses nos Estados Unidos e um acordo com a Euronet seria mais palatável a políticos dos EUA em meio a tensões crescentes entre a China e os Estados Unidos sobre comércio e política externa.

A Ant e a Moneygram disseram em uma declaração conjunta que fizeram progressos na obtenção das aprovações regulatórias necessárias para concluir a transação, incluindo para a obtenção da autorização antitruste dos EUA. Eles acrescentaram que estão confiantes de que o negócio será concluído este ano.


Odebrecht pagará US$ 2,6 bi a Brasil, Suíça e EUA, decide juiz


A decisão foi tomada após a empreiteira ter admitido que manteve um esquema de propinas ao longo de 15 anos em mais de uma dezena de países



Nova York – A parcela que cabe aos Estados Unidos no acordo global que a construtora brasileira Odebrecht fechou foi reduzida durante a sentença proferida nesta segunda-feira contra a companhia por um tribunal federal no Brooklyn.

No total, a Odebrecht terá de pagar US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA, após ter admitido que manteve um esquema de propinas ao longo de 15 anos em mais de uma dezena de países que, segundo promotores americanos, levou a pagamentos irregulares de US$ 3,34 bilhões.

A grande maioria da multa da Odebrecht, US$ 2,4 bilhões, irá para o Brasil. A Suíça receberá US$ 116 milhões e os EUA ficarão com US$ 93 milhões, segundo a sentença proferida pelo magistrado Raymond J. Dearie. A companhia também terá de manter um monitor de compliance.

O acordo havia estipulado que as autoridades brasileiras ficariam com 80% da multa, com a Suíça e os EUA ficando com 10% cada.

Inicialmente, os EUA receberiam US$ 117 milhões, mas a decisão judicial disse, baseando-se na análise da capacidade de pagamento da companhia, que a Odebrecht “tem a capacidade de pagar, e irá pagar” US$ 93 milhões aos EUA antes de 30 de junho de 2017.

A Odebrecht enfrentava o risco de uma multa de US$ 4,5 bilhões, mas a companhia disse que não poderia pagar mais de US$ 2,6 bilhões. Os EUA e o Brasil realizaram uma análise sobre sua capacidade de pagamento que, segundo memorando de 11 de abril, concluiu que a alegação da construtora era correta: ela não poderia arcar com mais de US$ 2,6 bilhões.

Um porta-voz da promotoria dos EUA para o Distrito Leste de Nova York não quis comentar o tema. Um advogado da Odebrecht não havia respondido um pedido de declarações. A Odebrecht já havia emitido anteriormente um pedido de desculpas por suas ações.

Antes desse, o maior acordo anticorrupção já fechado havia sido com o conglomerado alemão Siemens, que em 2008 chegou a um acordo para pagar US$ 1,6 bilhão.

A Odebrecht, segundo os documentos judiciais, criou uma divisão interna que “na prática funcionava como um departamento de propina”, a chamada “Divisão de Operações Estruturadas”, que usava um sistema de comunicações fora dos registros que permitia aos empregados da construtora se comunicarem entre si e com operadores financeiros de fora, além de outras pessoas envolvidas, por meio de e-mails seguros e mensagens instantâneas com o uso de códigos e senhas, de acordo com a documentação.

A companhia buscou e utilizou bancos menores em países com regras de sigilo rígidas para levar adiante o esquema, pagando taxas extras, uma juros mais altos e uma porcentagem de cada transação ilícita para certos executivos para garantir sua cooperação, segundo os documentos.

Em um caso em Antígua, a Odebrecht comprou o braço local de um banco, o que permitiu que membros do esquema, entre eles políticos de diversos países, abrissem contas e recebessem transferências sem chamar a atenção. Fonte: Dow Jones Newswires.


Siemens e Bombardier negociam fusão de unidades de trens


A proposta de joint venture, que poderia ser avaliada em pelo menos 10 bi de euros, combinaria as atividades de fabricação de trens e sinalização

 






Frankfurt/São Francisco/Montreal – A Siemens e a Bombardier estão negociando a combinação de suas operações de trens, disseram pessoas com conhecimento do assunto, o que poderá criar uma empresa capaz de suportar melhor a concorrência crescente da China.

A proposta de joint venture, que poderia ser avaliada em pelo menos 10 bilhões de euros (US$ 10,6 bilhões), combinaria as atividades de fabricação de trens e sinalização das empresas, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque as discussões são privadas. O acordo pode ser fechado na metade do ano, disse uma das pessoas.

Nenhuma decisão final foi tomada e a combinação necessitaria de aprovação das autoridades antimonopolistas e poderia enfrentar resistência dos sindicatos, disseram. Representantes da Siemens e da Bombardier preferiram não comentar.

Analistas do Société Générale avaliaram a unidade de mobilidade da Siemens em cerca de 7,2 bilhões de euros, enquanto a Veritas Investment Research afirmou que a participação de 70 por cento da Bombardier em sua empresa de transporte está avaliada em pelo menos US$ 5 bilhões.

As negociações entre a Bombardier e a Siemens começaram no início do ano, disseram as pessoas. Uma combinação ajudaria as empresas a evitar a pressão das concorrentes chinesas, que estão se expandindo internacionalmente e ameaçando sua participação de mercado.

 

Preocupações com autoridades


A Bombardier vendeu uma fatia de 30 por cento de sua divisão de trens à gestora de fundos Caisse de Dépôt et Placement du Québec no ano passado, avaliando a unidade em US$ 5 bilhões e ajudando a empresa com sede em Montreal a levantar capital em um momento em que enfrentava uma crise de liquidez decorrente dos atrasos de seus novos jatos.

Contudo, as preocupações de origem antimonopolistas enfrentadas pelas duas empresas centradas na Europa poderiam ser um obstáculo ao acordo. A Siemens e a Bombardier provavelmente também teriam que conseguir o apoio dos representantes dos trabalhadores, que se oporiam à eliminação de empregos.

 

Enxugamento da Siemens


A transferência de sua divisão de mobilidade para a joint venture enxugaria ainda mais o vasto conglomerado Siemens, que até uma década atrás consistia em mais de uma dezena de unidades que fabricavam de tudo, de redes móveis a lâmpadas e equipamentos industriais pesados.

O CEO Joe Kaeser passou os últimos anos reduzindo o foco da Siemens nos campos de energia, automação de fábricas e software industrial. Ele vendeu a maior parte da divisão de lâmpadas e anunciou planos de listar ações da subsidiária de saúde, que produz escâneres médicos e outros equipamentos de imagem.

A Siemens fabrica o trem de alta velocidade ICE, que conecta cidades alemãs como Colônia, Berlim e Munique. A divisão também fabrica bondes e equipamentos de sinalização.

A unidade de mobilidade da Siemens é perseguida há anos por prejuízos e pagamentos de indenizações devido à demissão de funcionários, gerando a especulação recorrente de que a companhia poderá buscar um parceiro como a Bombardier ou a Alstom, a fabricante francesa dos trens TGV.

A oferta da Siemens em 2014 para compra da Alstom fracassou diante de uma proposta concorrente da General Electric, que acabou adquirindo os ativos de geração de energia da Alstom.


Por que pagamento dentro da lei era um problema para Odebrecht


Uma das delações premiadas da empreiteira revela que a preferência por propina e caixa 2 se deu porque "pagamentos lícitos chamam muita atenção"

 






São Paulo – O executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares disse em delação premiada que a Odebrecht evitava a realização de pagamentos lícitos, por isso elegia a via do caixa 2 e da propina para satisfazer políticos e partidos.

Em um dos depoimentos à força-tarefa da Procuradoria-Geral da República, tranquilamente ele explicou. “Primeiro que não gostávamos de fazer muitos pagamentos lícitos, porque chamava muito a atenção.”

“Por exemplo, se a gente fosse pagar tudo da forma lícita daria 100 milhões de dólares em doações eleitorais da Odebrecht”, disse, referindo-se às eleições de 2010. “Em 2010 acho que foram 50 milhões de reais, então é pouco.”

“É pouco?”, questionou um procurador.

“É pouco, é pouco”, respondeu o delator.

Neste relato, Luiz Eduardo da Rocha Soares abordou exclusivamente a rotina de apoio a pagamentos lícitos e ilícitos nas campanhas eleitorais de 2006, 2008, 2010 e 2012.

Da eleição de 2014 – reeleição de Dilma – ele não participou, segundo afirmou, porque a Lava Jato já estava na rua.

“Logo que nós assumimos essa área, Hilberto (Mascarenhas, chefão do Departamento de Propinas da empreiteira) e eu, essa área de operações estruturadas, tivemos que apoiar toda parte de pagamento a campanhas eleitorais e apoiar o Benedicto Júnior (o ‘BJ’) para fazer isso.”

Segundo o executivo, o Grupo decidiu escalar “um coordenador nesse negócio”.

“Como a empresa é altamente descentralizada, várias pessoas poderiam ter contato com os mesmos políticos. Então, tudo era centralizado, tudo em uma pessoa só, a Infraestrutura.

O Benedicto Júnior pediu meu apoio para apoiá-lo tanto no controle de pagamento de coisas de doações lícitas como as ilícitas também.”

Luiz Eduardo, sob compromisso de “dizer a verdade” – conforme o Acordo de Colaboração Premiada que assinou – entregou aos procuradores uma planilha de controle de desembolsos.

“Fizemos diversos tipos de planilhas. Eu fazia o acompanhamento. Nos primeiros momentos a gente usava muito codinome estranho, assim tipo ‘capitão’, ‘tenente’, ‘sargentos’ e ‘cabos’.”

Indagado sobre quem fazia os pagamentos lícitos, o executivo informou. “Era a tesouraria corporativa da empresa. Eu controlava e coordenava tudo.

O Benedicto Júnior me falava quais pagamentos era para serem feitos. Eu solicitava para a tesouraria corporativa da empresa. Como se fosse uma pessoa cuidando da parte de eleição, doações eleitorais é com o Luiz Eduardo.”

Ele disse que ‘BJ’ o comunicava sobre quais partidos e políticos iriam receber. “Eu providenciava o pagamento dessas doações. Tinha planilhas. Doações para partidos e candidatos. Aí é que está, nós nunca pagávamos os candidatos diretamente, a gente só gostava de pagar o Diretório Nacional, daí o Diretório Nacional tinha que mandar para quem de direito.”

Luiz Eduardo contou que fazia os contatos com os políticos, informando sobre a doação que estava sendo mandada para o Diretório Nacional.

No caso de eleição de vereador e prefeito, os repasses eram feitos para os Diretórios Municipais.

Sobre a planilha que entregou aos procuradores, referente a este tema específico, o delator garantiu a autenticidade do documento. “Planilha da época (dos lançamentos de valores). Em arquivo eletrônico.”

O procurador indagou. “Se a gente colocar em perícia vai dizer que foi criado em tal dia, lá atrás? Não foi modificado?”

“Não, não tinha como fazer agora.”

“Estava guardado no sistema?”, insistiu o procurador.

“(esta cópia) Estava fora, mas está no sistema também.”

Sobre o cotidiano de pagamentos ilícitos ele explicou. “Vou te dar um exemplo. Tinha o LE, líder empresarial, e vários diretores, o Sérgio Neves, de Minas, o Leandro Azevedo, do Rio, cada um fazia a sua planilha com os codinomes. A gente se reunia com os codinomes para quem a gente ia pagar, de que forma ia pagar, e saíamos fazendo os pagamentos durante o ano eleitoral.”

Ele contou que “não tinha esse poder” de decidir sobre o que era pagamento lícito do ilícito. “Vinha ordem para pagar, de uma forma ou de outra. É claro que o meu trabalho, logicamente, era executar e fazer a administração da falta. Então, quanto nós demos de dinheiro? Dessa forma quanto temos de dinheiro? Eu sugeria ‘estamos pagando muito através dessa empresa, temos um limite de dois por cento sobre o faturamento, não vamos mais pagar com essa empresa, vamos por aquela’. Nisso eu ajudava.”

Os investigadores insistiram com o delator sobre as alcunhas lançadas nas planilhas de propinas. “No começo a gente fazia até uma brincadeira. Se era o centroavante era o presidente, ou o capitão era o presidente, tenente o governador, sargento deputado federal e cabo deputado estadual, só para separar um pouquinho.”

Ele traduziu alguns codinomes. “‘Próximus’ é Sérgio Cabral, ‘Mineirinho’ é Aécio Neves, ‘Nervosinho’ é Eduardo Paes, ‘Vizinho’ é o José Serra, Humberto Costa é o ‘Drácula’, Campari é o Gim Argello, ‘Ferrari’ o Delcídio Amaral.”
 
 

“O Brasil produz muita pesquisa, mas não inovação”

O novo reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, cobra das universidades a geração de riqueza e não só de papers

 

Por Marcos Graciani

 

graciani@amanha.com.br
O novo reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, cobra das universidades a geração de riqueza e não só de papers. “Riqueza não macula o conhecimento”, disse a AMANHÃ


O gabinete de onde o Irmão Evilázio Teixeira passou a comandar a PUCRS desde 9 de dezembro possui duas amplas estantes com mais de 3 mil volumes. Mas não são os únicos da coleção. “Eu tenho uma biblioteca digital com 15 mil títulos. Costumo ler no iPad”, conta, sorridente. O repertório de interesses dele passa por administração e direito, além, naturalmente, de teologia e filosofia. Mas já de algum tempo, sua atenção tem se voltado para estudos sobre gestão – especialmente de universidades. Em breve, o efeito desta imersão ficará mais claro. Como antecipou a AMANHÃ na entrevista a seguir, ele prepara a PUCRS para um redesenho que transformará 22 unidades acadêmicas em oito escolas, uma estrutura muito comum em universidades europeias.

Ler é apenas um dos hobbies de Teixeira. Outro é cozinhar. Eclético, vai da culinária italiana a brasileiríssimos pratos à base de peixe, que aprendeu a preparar com a mãe, a irmão e seus vários amigos. “Aprecio o convívio humano. E me entendo como uma pessoa bem humorada e de fácil acesso. Não gosto de muita formalidade”, sorri, com um jeito bonachão que, em vários momentos da conversa, deu lugar a um semblante mais sério, especialmente quando censurou as violações à ética no Brasil e reconheceu que ainda serão necessárias algumas décadas para que os brasileiros aprendam a cobrar melhor postura dos homens públicos, passo essencial para vitalizar a democracia no país. 

Outra crítica é dirigida para o próprio ambiente acadêmico. Segundo Evilázio Teixeira, as universidades também pecam por inovar pouco, ainda que produzam inúmeras pesquisas acadêmicas. 

“Temos muito a fazer para que o conhecimento consiga gerar riqueza e inovação. Tem de haver um posicionamento interno diferente das universidades”, cobra o novo reitor da PUC, com a autoridade de seus três bacharelados (Teologia, Filosofia e Direito), duas licenciaturas, dois mestrados e dois doutorados (Teologia e Filosofia). “O atual [posicionamento das universidades] ainda é fruto de uma cultura que herdamos.”

Quais são os seus planos para a universidade nos próximos anos?
Acabamos de definir o planejamento até 2022 que está calcado em inovação e desenvolvimento. A principal ação é a transformação de 22 unidades acadêmicas em 8 escolas, algo que vai representar um novo marco para o futuro da PUCRS. No Brasil, esse modelo ainda é incipiente, mas as grandes universidades do mundo já deram esse passo que é unificar por áreas de conhecimento. Essas escolas permitirão maior interdisciplinaridade. É uma caminhada em busca de consolidar a excelência, pois assumimos cada vez mais essa condição de ser uma universidade de classe mundial. Entendemos que esse novo desenho vai permitir maior flexibilização, agilidade e descentralização na gestão. Essa agenda também permitirá a maior interação com o setor produtivo, de modo especial, empresas e governo, sem abrir mão do empreendedorismo, a exemplo do que acontece com o InovaPUC. Chegamos em um nível de pesquisa com patamar de excelência nacional e internacional. Mas também precisamos fortalecer o ensino oferecendo outros ambientes de aprendizagem. 

O TecnoPUC, que foi eleito recentemente o melhor parque científico e tecnológico do Brasil, é um exemplo do que a instituição pretende?
Exato.  O TecnoPUC representa, desde a sua fundação, um ciclo virtuoso da relação entre universidade e setor produtivo. A universidade agrega um valor para o mundo empresarial, pois oferece conhecimento. Por sua vez, as empresas nos ajudam muito, pois a universidade passa a ter a capacidade de oferecer para inúmeros estudantes bolsas de graduação, de mestrado e de doutorado. Essa relação é extremamente importante. Continuaremos expandindo o parque tecnológico. Criamos o InovaPUC, o CriaLab, o Instituto Idea, enfim, áreas que fomentarão inovação de modo muito interessante. E além de ampliar o TecnoPUC, criamos recentemente o Global TecnoPUC, uma área à disposição não apenas da comunidade acadêmica mas também das empresas, que podem fazer experiências as mais diversas no sentido de experimentação e de criatividade. 

Os empresários, em geral, afirmam que há ainda muita distância entre o ambiente acadêmico e as necessidades das companhias. Como o senhor recebe essa crítica?
Acho que muitas barreiras já foram superadas, mas elas devem se tornar cada vez menores. O caminho deveria ser, proporcionalmente, trazer mais empresas para dentro [da universidade] e levar mais estudantes para as empresas. É uma via de duas mãos. Talvez ainda tenhamos de romper com uma tradição demasiada academicista para algo mais ligado ao setor produtivo, pois é ali onde a inovação floresce. Outro elemento a se ter em conta é que o conhecimento tem de ajudar a solucionar problemas. 

Como fazer uma boa síntese e ser capaz de dar respostas rápidas e objetivas, mas sem perder a tradição humanista?
Essa é a nossa missão, pois a academia tem de construir sínteses que só ela é capaz de fazer. Há necessidade de oferecer respostas rápidas para as demandas da sociedade e das empresas, mas a universidade não pode perder sua capacidade crítica, pois é um lugar de reflexão. Ela é capaz de pensar o ser humano de modo mais integrado, não o tendo apenas como um profissional de mercado, mas também como um cidadão. Sabemos que o conhecimento exige uma velocidade quase incontrolável. Porém, não podemos perder as raízes.

Ainda há entre os pesquisadores brasileiros relutância em dirigir suas pesquisas para conhecimento que se transformará em produto de mercado?
Sim. Porém, creio que estamos avançando bastante no Brasil, embora em escala ainda menor que outros países como os Estados Unidos e parte da Europa. É que temos um conceito de que o conhecimento acadêmico é imaculado. No entanto, temos de nos dar conta que o fato de gerar riqueza não macula o conhecimento – antes pelo contrário: o engrandece. Acho que essa é uma barreira que já foi ultrapassada. Mas é preciso se dar conta que não basta produzir papers somente. A pesquisa acadêmica tem de desembocar em inovação e empreendedorismo. E pesquisa que inova necessariamente tem de gerar riqueza para o país. 

Os pesquisadores brasileiros, na sua opinião, são também inovadores?
Temos um déficit aí, pois o Brasil é um país que produz muita pesquisa, mas não inovação. Há ainda muito a fazer para que o conhecimento consiga gerar riqueza e inovação. Tem de haver um posicionamento interno diferente das universidades. O atual [posicionamento da universidade] ainda é fruto de uma cultura que herdamos. Somos resistentes às mudanças. E, claro, outro elemento que interfere sem dúvida nenhuma, é que o conhecimento tem uma dimensão pragmática. E isso, para nós, é ainda um motivo de resistência. 

Nessa linha, o lucro ainda é mal visto por alguns setores da academia?
Na academia, não trabalhamos com essa ideia de lucro como se faz nas empresas, mas [trabalhamos] com superávit, pois temos de investir [o resultado final do exercício]. Acho que é mais uma questão de vencer o preconceito no que se refere à ideia de que o conhecimento tem de gerar riqueza. E a riqueza não é um mal. O problema não é o lucro, é a distribuição da riqueza. Por isso, a universidade tem essa missão de incluir todas as classes sociais para que todas tenham acesso ao conhecimento e possam produzir  riqueza. O profissional do futuro, de qualquer classe social, não pode mais pensar em ser bom apenas naquilo que faz. Ele terá de pensar que vai ter de gerar empregos também. Essa é a ideia da universidade também enquanto uma instituição que inova e que ajuda o estudante a se tornar um empreendedor, um empresário. E que maravilha que isso aconteça, pois é muito positivo.

Como o senhor avalia o ambiente político atual no Brasil?
O cenário é de muita instabilidade e de bastante insegurança. E, obviamente, essa instabilidade tem impacto direto no crescimento econômico. Espero que os governantes tenham sabedoria e serenidade suficiente para que consigam colocar o Brasil em um bom rumo de desenvolvimento, inclusão e justiça social.

As universidades podem contribuir nesse sentido?
As universidades têm cumprido uma tarefa importante. Posso falar mais especificamente da PUCRS, pois a conheço mais. Hoje, de cada quatro alunos, um tem algum tipo de incentivo. Fazemos isso justamente para manter o universitário e dar oportunidade para que possa também acessar o ensino. É uma grande contribuição que a universidade dá para a sociedade. A universidade se esforça para trazer o máximo possível de alunos, formá-los bem e devolvê-los para o mercado de forma que sejam competentes e bons cidadãos. Outro elemento com o qual estamos muito alinhados é essa visão de inovação, pois a universidade é um vetor do desenvolvimento da sociedade – e ela não faz isso sozinha. Antigamente, se falava muito no conceito da tríplice hélice. Ou seja, a interação entre universidade, governo e empresa. Hoje, o destaque é a quádrupla hélice, onde a sociedade de junta com governo, empresa e a universidade. A sociedade deve demandar à universidade a solução de seus problemas, mas também deve ajudar a universidade a ser uma instituição melhor. 

A sociedade brasileira está realmente preparada para demandar governos, empresas e universidades?
Acho que será um processo de amadurecimento. Alguns grupos já estão bem mais conscientes, enquanto outros precisam avançar. Mesmo porque não temos hoje no Brasil uma democracia intelectualizada. Temos muito a fazer neste sentido. É um grande caminho que deverá passar por um processo de conscientização. Muitos segmentos da sociedade já apontam para esse caminho, mas muitos ainda não acordaram e vão ter de acordar. Creio que isso ainda poderá levar décadas. 

Por qual razão a falta de ética parece imperar no Brasil – e não apenas no campo político?
Ética não se ensina, se pratica. A ética não pode ser mero discurso ou princípio filosófico. Ela é aquela prática em busca do bem cotidiano. Talvez para nós seja difícil falar dela, pois ouvimos muito discursos, mas que não correspondem à prática cotidiana. Falar de ética tornou-se um jargão. Faltam exemplos a seguir. Precisamos de líderes éticos, de testemunhos de ética, de bons exemplos. As palavras emocionam, os discursos maravilhosos, efusivos criam emoção e causam até comoção. Mas é o exemplo que arrasta as pessoas e que faz com que elas queiram viver determinado projeto ou não. 

O Brasil caiu no ranking mundial de educação em Ciências, Leitura e Matemática. Qual a parcela de culpa do ensino superior nessa estatística?
Assim como existem círculos virtuosos existem os viciosos. E o ensino superior está dentro desse círculo vicioso. Temos déficits muito fortes no que se refere à educação básica. A formação das nossas crianças hoje tem um nível de qualidade baixíssimo. O Brasil estava até um pouco melhor comparado com a Coreia do Sul no final da década de 1960. Hoje, a Coreia do Sul deu um salto inigualável. Nós ficamos para trás. Eu creio que nós não fizemos o dever de casa ao longo dessas quatro décadas. E aí temos um déficit logo de início que vai ter repercussão quando esse aluno chegar na academia. A universidade tem o compromisso de formar bons educadores, mas as deficiências dos jovens que chegam nas faculdades aumentaram nas últimas décadas. Por isso a universidade tem de criar outras possibilidades [de aprendizagem]. Precisamos trabalhar em um modelo mais criativo e participativo. Hoje, lamentavelmente, ser professor no Brasil é uma opção muito secundária. Veja o que está acontecendo com as licenciaturas em todo o país. Em poucos anos não teremos professores, em algumas áreas específicas já está faltando, pois não há incentivo para que sigam a carreira. 

O senhor concorda com a avaliação de que a União Federal gasta demais com ensino superior e muito pouco, e mal, com educação básica?
Nos últimos 20 anos os investimentos em educação superior baixaram muito, e mais especificamente nos últimos anos esses aportes sofreram uma diminuição muito forte. No que se refere especificamente a essa proporcionalidade de que se gasta demasiadamente em ensino superior e menos em educação fundamental, confesso que não teria um posicionamento, pois teria de me aprofundar melhor. Já ouvi alguns comentários em relação a isso. Mas posso afirmar que os investimentos em educação superior caíram muito. 

Por quais razões?
Tem muito a ver com as constantes crises e essa instabilidade política. Isso não faz bem para ninguém. Os ajustes que o Brasil necessariamente precisa fazer e que há anos não consegue implementar tem como consequência a retração dos investimentos em quase todas as áreas. E o ensino superior também foi afetado.  

Quais são as condições que o Brasil deve oferecer para estancar a constante fuga de cérebros para outros países?
Creio que melhorar as condições dos pesquisadores e das instituições e oferecer as mesmas condições que já existem no mundo globalizado. A instabilidade do Brasil, lamentavelmente, tende a incentivar essa ida de pesquisadores para outros países. No que se refere especificamente à área da pesquisa, temos de oferecer mais incentivos para que os melhores permaneçam e ajudem a desenvolver nosso país. Porém, essa fuga de cérebros, que alguns chamam de Brain Drain, é um fenômeno universal. Os melhores matemáticos da Índia, por exemplo, não trabalham lá. Eles estão nos Estados Unidos. Nesse mundo globalizado, quem acaba captando os melhores é a nação que dá melhores condições. Por outro lado, creio que precisamos formar os profissionais para o mundo e não mais para seus redutos. E, obviamente, pensar globalmente, mas agir localmente. Porém, é fundamental oferecer melhores condições. Não tem outro jeito.

 http://www.amanha.com.br/posts/view/3880

MPL põe fogo em pneus perto da casa de Doria em protesto


Tarifa de integração entre metrô e ônibus subiu no sábado em 14,8%, de R$ 5,92 para R$ 6,80

 





Em protesto contra o aumento da tarifa integrada do transporte público na capital paulista, integrantes do Movimento Passe Livre São Paulo (MPL) atearam fogo em pneus na Rua Colômbia, no Jardim América, na zona sul da cidade, na manhã desta segunda-feira, 17. A via fica nas proximidades da residência do prefeito da capital, João Doria (PSDB).

O grupo se expressou pelo Facebook: “O prefeito que adora se fingir de trabalhador com fantasias de agente da CET ou de gari, não respeita e nem sente empatia pelos trabalhadores e trabalhadoras da cidade. Essa ação promovida pelo Movimento Passe Livre – SP na Rua Colômbia é a primeira reação contra esse aumento injusto que segrega cada vez mais o povo da periferia. Estamos colados em você, prefeito! Mais próximos do que você imagina e não haverá trégua nessa luta enquanto houver catracas, enquanto houver tarifa e enquanto houver injustiça social.”

Dois fotógrafos de mídias independentes foram presos no momento em que registravam o protesto e foram encaminhados ao 15º Distrito Policial (Itaim Bibi).

A Prefeitura de São Paulo ainda não se manifestou sobre a ocorrência.

 

Reajuste


Após obter aval da Justiça, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu aplicar a partir de sábado, 15, o reajuste de 14,8% na tarifa integrada entre ônibus e trilhos (trem e metrô) na capital paulista.

Com o aumento, o valor do bilhete de integração passou de R$ 5,92 para R$ 6,80.
  
 

Profissionais brasileiros estão na mira do Canadá, mais uma vez


Vai começar mais uma missão de recrutamento virtual para interessados em trabalhar e morar na cidade de Québec, no Canadá

 






São Paulo – A facilidade dos brasileiros em aprender francês é um dos principais motivos por que profissionais daqui estão, mais uma vez, na mira de empresas da cidade de Québec e região, no Canadá. Setores de tecnologia e de usinagem são os mais promissores por lá.

Em junho começam a ser divulgadas as oportunidades de mais uma missão de recrutamento virtual, promovida pela Québec Internacional, agência de desenvolvimento econômico da cidade de Québec e que é responsável pela plataforma Québec na Cabeça. É nesse site que candidatos podem conferir vagas se de cadastrar.

As inscrições vão ser recebidas até o dia 13 de agosto. O recrutamento, propriamente dito, será feito entre os dias 11 e 19 de setembro, semana em que devem ocorrer as entrevistas por Skype. Para ser selecionado, o profissional deve se candidatar a pelo menos um dos empregos publicados.

Setores de tecnologia da informação e de usinagem terão, como de costume, a maioria absoluta de vagas, mas a missão não é exclusiva para esses profissionais, segundo Janaina Kamide, conselheira de atração de talentos da Québec Internacional. “As vagas refletem o aquecimento do mercado nessas áreas. Mas nada impede que haja oportunidades também em outros setores”, explica.

Janaina recomenda que, mesmo que não encontre vagas em sua área de trabalho, o profissional interessado em trabalhar em Québec inclua seu currículo na plataforma Québec na Cabeça. “É possível fazer uma candidatura espontânea e quando for publicada oportunidade na área dele, o profissional recebe um alerta”, diz.

No ano passado a missão teve 87 vagas anunciadas por nove empresas na área de tecnologia e usinagem. Nesse contexto, foram recebidos 3.416 currículos e quase a metade deles (48%) era de brasileiros. Ao todo, foram 238 entrevistas que renderam 34 contratações.

Segundo o ministério da imigração, diversidade e inclusão do Québec, província canadense de língua francesa, além do idioma, pesam a favor dos currículos de profissionais brasileiros interessados em trabalhar e morar na região a vaga a boa formação e as experiências relevantes. Ao lado dos brasileiros, mexicanos e colombianos também têm bom histórico de imigração para a província.

Uma dica da conselheira de atração de talentos é aproveitar até setembro para reforçar os estudos da língua francesa. “Dá tempo de se preparar”, afirma. O nível de domínio do idioma quem define são as empresas contratantes.
 
Segundo Janaina, mesmo profissionais que ainda não considerem que estão avançados no idioma devem se dar a chance de participar das entrevistas de emprego por Skype, em francês. “Deixem que as empresas avaliem e decidam”, recomenda.
 
O nível de francês era um dos temores do casal de brasileiros Tatyana Mendonça e Artur Minduca, analistas de TI hoje radicados na cidade de Québec. Eles contam como foi a experiência de imigração e quais os desafios enfrentados no vídeo abaixo, publicado no canal do Quebéc na Cabeça no Youtube:
 
 https://www.youtube.com/watch?v=Uh3kRNqhves