Alexander Busch
Correspondente da América do Sul para os jornais Handelsblatt, Wirtschaftswoche e Neue Zürcher Zeitung
SWISSCAM
O ano de 2016 foi um ano difícil para o Brasil tanto na política quanto
na economia. A presidente Dilma Rousseff foi destituída do seu cargo por
um impeachment, mas seu sucessor, Michel Temer, também não é popular.
Cada vez mais, novos políticos e empresários emaranham-se no escândalo
de corrupção em torno da estatal Petrobras, cujo fim perdeu-se de vista.
Nesses quase três anos de recessão, a economia retraiu 8 por cento.
Desde 2014, os brasileiros perderam aproximadamente 15 por cento do
poder aquisitivo e os investimentos diminuíram quase um terço.
Entretanto, parece que a economia do Brasil superou a pior fase; ela
deve estabilizar-se este ano e iniciar um ciclo de ascensão e há
diversas indicações de que isso ocorrerá.
Nos mercados financeiros, já por algum tempo está claro que os
investidores confiam em uma recuperação do Brasil: a bolsa de São Paulo
está se aproximando dos 70.000 pontos, o recorde até agora, que foi
distintamente ultrapassado somente em 2008. No ano passado, o índice
Bovespa subiu 38 por cento e, como resultado, São Paulo foi um dos
vencedores entre os mercados mundiais de ações em 2016. O real também
ganhou força apesar da crise. Até o final do ano, a moeda cresceu 24 por
cento em relação ao franco suíço desde a baixa em janeiro do ano
passado. Portanto, o real foi uma das moedas mais resistentes do mundo
no ano anterior.
Os investidores estrangeiros também não se deixaram deter pela recessão:
com cerca de 80 bilhões de dólares, o Brasil possui um capital
adquirido no exterior como nunca antes. No ano passado, grupos
internacionais privados e estatais investiram em petróleo, química,
energia, mineração e na indústria alimentícia. No primeiro estágio,
porém, mudaram somente os proprietários das empresas e marcas; ainda não
tinham sido criados novos empregos ou capacidades. Todavia, a entrada
de capital do exterior é um bom sinal. Os investidores esperam que o
Brasil se recupere em médio prazo. Eles investem agora porque o preço
para empresas brasileiras está baixo. O Banco Central espera também para
este ano uma entrada contínua de capital estrangeiro.
A recuperação econômica do país da Amazônia parece realmente estar mais
perto: as tendências da inflação, do crescimento, do saldo comercial e
de conta corrente, bem como do orçamento nacional são positivas. O Banco
Central poderá reduzir os juros de forma muito mais rápida do que
esperado pouco tempo atrás. Dessa maneira, será possível diminuir os
custos de dívidas de empresas e de créditos ao consumidor e estimular a
atividade econômica.
É também possível que impulsos positivos surjam do ambiente geopolítico
alterado. O presidente dos EUA, Donald Trump, acelerará a integração com
a sua política econômica protecionista na América Latina - o que se
aplica para dentro da região, mas também para fora. Pela primeira vez
após muito tempo, os países estão começando a fazer negociações a
respeito de uma integração e da economia mundial - sem a participação
dos EUA. Portanto, o Mercosul, liderado pelo Brasil e pela Argentina,
está discutindo ligações mais intensas tanto com os países vizinhos no
Pacífico quanto com a Europa.
Em março, os principais negociadores
querem trocar ofertas. O interesse de ampliar mutuamente o acesso ao
mercado após o fracassado Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e
Investimento cresceu não somente na Europa mas também na América do
Sul. O México iniciou negociações com a UE para expandir o acordo
comercial existente.
Também a Suíça poderia lucrar com o novo interesse de integração: a EFTA
(Suíça, Noruega, Liechtenstein e Islândia) e o Mercosul discutiram este
ano durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, pela primeira vez
acerca de um acordo.
Por outro lado, o Brasil também não precisa temer uma política
protecionista dos EUA. Segundo a avaliação do banco UBS, o Brasil faz
parte das economias nacionais que potencialmente têm pouco a perder com a
política econômica futura do país norte-americano, porque o país
sul-americano está relativamente fechado. Além disso, os grupos
empresariais brasileiros são grandes empregadores nos EUA, como, por
exemplo, na siderurgia, na química e no processamento de alimentos.
Para as empresas, um Brasil mais fortemente integrado na América do Sul e
no mundo seria atrativo - com isso, crises futuras podem ser
equilibradas de forma melhor e cadeias de valor industriais na região
podem ser expandidas. Com a forte crise do país, as empresas no Brasil
tomaram consciência de que devem focar mais na exportação do que na
América do Sul no futuro. Com mais exportações, as capacidades em
fábricas subutilizadas no Brasil ou na Argentina podem ser mais bem
aproveitadas e crises podem ser equilibradas em individuais mercados
internos. Considerando as graves crises econômicas no Brasil - mas
também na Argentina e na Venezuela - ficou comprovado na América do Sul
ser arriscado focar somente nos mercados locais.
A América do Sul também está se aproximando novamente no aspecto
político: nos países mais fortes, houve uma mudança de governo, o que
envolveu uma transformação fundamental das políticas econômicas. Isto se
aplica principalmente ao Brasil, à Argentina e ao Peru, onde a
liderança foi agora assumida por políticos que exercem suas economias
novamente orientadas à economia de mercado.
Assim, o governo brasileiro
impôs medidas importantes no congresso para economizar no orçamento
público e, portanto, evitar que as dívidas crescessem de forma tão
rápida como nos últimos dez anos. O governo também aplicou um
congelamento das despesas que deve ficar em vigor por 20 anos. O setor
petrolífero foi aberto para investimentos privados. Uma reforma da
Previdência foi introduzida.
As investigações em relação ao escândalo brasileiro de corrupção "Lava
Jato" também fomentou a confiança de investidores estrangeiros. Pela
primeira vez, empreendedores, políticos e funcionários públicos que
pagaram ou aceitaram subornos são condenados a altas penas de prisão.
Como muitos réus depõem como testemunha-chave em troca de pena reduzida,
o escândalo atingiu grandes proporções e outras esferas. Agora, alguns
dos empreendedores e políticos mais poderosos do Brasil estão na prisão.
Ainda pouco tempo atrás, eles tinham certeza de que permaneceriam
impunes.
O escândalo de corrupção desencadeou uma mudança fundamental no
comportamento empresarial brasileiro: os grupos corporativos focam agora
no Compliance, tentando, portanto, evitar a corrupção também
internamente. Em setores como o de construção, de fornecedores de
petróleo e de construção naval, oportunidades são dadas a novas
empresas, que até então não conseguiram competir com os grupos
corporativos locais dominantes. Por causa das investigações judiciais e
pagamentos de sanções pecuniárias, muitos desses líderes de mercado
anteriores estão fora por enquanto.
A mudança de tendências aconteceu
principalmente no que se refere a contratos federais, estaduais e
municipais, onde a corrupção era antes comum; também políticos e
funcionários públicos preferem hoje cada vez mais empresas que trabalham
de forma limpa. O risco de enfrentar problemas por causa de
irregularidades tornou-se demasiado grande.
Os efeitos do escândalo de corrupção "Lava Jato" devem ser positivos
para o Brasil no longo prazo. Porém, o escândalo possui também o
potencial no curto prazo de paralisar o governo e, consequentemente, o
progresso das reformas econômicas: novas investigações podem incapacitar
o governo, porque os ministros, os líderes políticos no congresso e
possivelmente também o próprio presidente estão envolvidos no caso.
Entre a justiça e o governo, bem como o congresso, começou um
"braço-de-ferro", cujo resultado não se conhece. Portanto, também em
2017, a política permanece imprevisível. Ainda assim, uma recuperação
econômica mais rápida e uma boa atmosfera entre as empresas e os
consumidores são capazes de desarmar a crise política.
http://www.swisscam.com.br/o-brasil-esta-a-beira-de-uma-recuperacao.html