Por Percival Puggina
Tenho certeza de que esta pergunta,
feita em qualquer país com instituições estáveis e racionais, pareceria
uma infantilidade. Formulada no Brasil, será percebida, de imediato, com
um sentido dúbio que salta aos olhos. Afinal, para que servem os
ministérios?
Você poderia pensar, por exemplo, que o
Ministério do Trabalho e Emprego serve para organizar as ações e
políticas do governo com vistas a ampliar o mercado de trabalho,
formalizar e fiscalizar as relações trabalhistas e coisas assim.
Poderia, mas não pensa. No fundo, você sabe que esse ministério pode
servir, por exemplo, para que Roberto Jefferson, presidente do PTB,
proporcione um mimo à própria filha, com direito a lágrimas de emoção e
beijos de gratidão.
Não tapemos o sol das fotos com a
peneira dos decretos de nomeação. Ademais, o PTB tem, no Congresso, uma
bancada de 20 deputados federais e 2 senadores que fazem peso quando o
placar de votação fica apertado. Revela-se, assim, outra finalidade dos
ministérios: eles são intercambiáveis com votos das bancadas partidárias
que se credenciam ao direito de designar seu titular. Enfim, poderíamos
seguir alinhando outras utilidades e usos maliciosos dos gabinetes na
Esplanada: nomear afilhados, fazer negócios, arrecadar contribuições e
comissões, ajudar a mídia amiga, atender a companheirada, angariar
prestígio, e por aí vai.
Nos regimes de gabinete,
parlamentaristas ou semiparlamentaristas, é a maioria formada por
afinidade das bancadas eleitas que escolhe o chefe do governo e governa
junto com ele. Quando o governo perde a maioria, por abandono ou traição
dentro da base, cai. Esse preceito, ao contrário do que parece, tem
consequência muito benéfica na conduta dos parlamentos. No
presidencialismo, é o governante eleito que, permanentemente, precisa
estar no balcão comprando, voto a voto, uma base que o sustente e isso
corrompe o governo e o Congresso.
Se você achava ruim a concessão de um
ministério à filha do presidente do PTB com vistas aos votos
partidários, imagine a criação de 15 ministérios novos com objetivos
semelhantes! Em 2002, o governo federal tinha 24 ministérios. Catorze
anos mais tarde, o governo Dilma chegou a seu melancólico fim com 39
cadeiras ao redor daquela mesma mesa. E a vida, como se sabe, só piorou.
O governo Temer voltou aos 24 e, agora, está criando o 25º para a
Segurança Pública.
Muito mais importante do que reprovar o
tipo de negócio feito nos prédios da Esplanada dos Ministérios é
compreender o quanto é perniciosa a regra desse jogo político que
transforma o governo num loteamento e o voto parlamentar em mercadoria
com cotação unitária flutuante na bolsa política.
É hipocrisia reprovar o
eleitor que vende seu voto quando os membros do parlamento, a toda
hora, fazem o mesmo com seu “Sim” e seu “Não” no painel de votação.
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