A previsão é que até 2025 a área coberta pelo 5G abrangerá 40% da população mundial.
É inegável o sentido de urgência em
qualquer debate relacionado à chamada Quarta Revolução Industrial, mas
as discussões eclipsam um fato: a tecnologia que vai acelerá-la ainda
não chegou ao mercado. Trata-se do chamado 5G, capaz de conectar
internet ultrarrápida a todo tipo de coisa.
Ainda que demonstrações pontuais tenham
sido feitas —a última dela na Olimpíada de Inverno em PyeongChang,
na Coréia do Sul, em fevereiro—, a previsão é que o processo comercial
comece apenas no ano que vem. A definição técnica do padrão aconteceu
apenas recentemente.
Além disso, a própria GSMA, a entidade que
congrega as teles, prevê que sua expansão será mais lenta do que a
do 4G, a tecnologia mais avançada atualmente, por falta de investimentos
em rede e incertezas operacionais em vários países.
Tema do Fórum Mundial de Davos há dois
anos, a Quarta Revolução Industrial tem protagonizado várias discussões
no Mobile WorldCongress, principal feira do setor de telecomunicações,
que ocorre nesta semana em Barcelona.
No evento, a melhor síntese sobre a
revolução talvez tenha sido feita por Sue Siegel, principal executiva de
inovação da GE. Ela elencou três pontos:
1 - a economia passa de um modelo
centralizado para um distribuído. “Você recebia energia elétrica de uma
central; agora pode instalar um painel solar.”
2 - investimento (o capex, no jargão
administrativo) perde força em relação a gasto operacional (o
chamado opex). “Um exemplo é a Uber. Você compra a viagem, não o carro.”
3 - aparelhos estáticos dão lugar aos conectados. “É dado sobre dado, para todo lado.”
A primeira Revolução Industrial começou no
século 18, impulsionada pela máquina a vapor. A segunda, na virada do
século 19 para o 20, teve como símbolos a eletricidade e o telefone. A
terceira, a partir do final do século 20, gravitou em torno do
computador pessoal e da internet.
O ciclo que está a ponto de começar deverá se basear em inteligência artificial, internet das coisas, robôs, drones e sensores.
“Uma questão chave da Quarta Revolução é
que ela acontece enquanto todas essas tecnologias estão surgindo e
colidindo entre elas”, afirma Mohamed Kande, vice-presidente da PwC.
Uma das consequências esperadas é que
fiquem ainda mais borradas as fronteiras entre as indústrias --como as
antes demarcadas entre empresas de tecnologia e as de mídia ou bancária.
De modo a demonstrar esse sentido de
urgência dos novos tempos, o Mobile World Congress deste ano elencou
como principal nome de sua programação o piloto Fernando Alonso,
bicampeão mundial da F-1, justamente num debate sobre a Quarta
Revolução, nesta terça (27).
Laboratórios históricos de tecnologias que
acabam chegando ao dia-a-dia, os carros de F-1 conhecem há tempos um
elemento aue passará a ser central para a indústria: a comunicação
maciça de dados da máquina para uma central distante.
“Alonso vive no 5G há 17 anos”,
brincou Zak Brown, diretor-executivo do Grupo McLaren, numa referência
ao tempo de carreira do piloto na F-1.
Mas também aí está um exemplo de como no mundo real a coisa ainda não vai tão engrenada assim.
A conexão firme de veículos a outros
aparelhos ainda está no estágio de ser exemplo de estande de feiras,
como demonstra o caso levantado por Charles Myers, CEO da Airgain,
empresa especializada no assunto.
“Vi aqui em Barcelona demonstrações de carro vai a uma garagem, troca de redes e a conectividade não muda”, explicou ele.
Resolvida a conexão em escala da
infraestrutura, da qual o 5G é o principal ator, ainda que não o único,
haverá brutal explosão da produtividade, previu Siegel, da GE.
Pela previsão da GSMA, até 2025 a área coberta pelo 5G abrangerá 40% da população mundial (Folha de S.Paulo, 28/2/18), 28/2/18)
Não há mais divisão entre conteúdo e tecnologia, diz executivo
Legenda: Iflix, espécie de Netflix dos países emergentes
Avaliação é de presidente da iflix, espécie de Netflix dos países emergentes.
A convergência entre conteúdo e tecnologia
chegou a tal ponto que há quem diga que não existe mais linha nenhuma a
separar um lado e outro.
É o caso de Mark Britt, CEO da iflix, uma
espécie de Netflix dos países emergentes. Criado em 2014 na Malásia, o
serviço se expandiu pelo Sudeste Asiático e pelo Oriente Médio, somando
mais de 6 milhões de assinantes.
As páginas de interação com o usuário,
editadas inteiramente por algoritmos, são prova disso, afirma ele. O que
não quer dizer que a curadoria esteja congelada pela matemática
—mas também a evolução dela está submetida aos números da audiência.
“Faço e aprendo, faço e aprendo”, afirmou Britt durante o
Mobile World Congress, principal feira do setor de telecomunicações, que
ocorre nesta semana em Barcelona.
A seu lado, um executivo do Facebook foi um
pouco mais cauteloso. Tanto a produção tradicional de conteúdo quanto
os algoritmos são importantes no que é entregue para o consumidor,
defendeu JasonJuma Rossa, diretor de estratégia de tecnologia e
telecomunicações da empresa para a Ásia. “É como querer fazer uma
distinção entre parte direita e parte esquerda do cérebro”, afirmou.
A discussão atravessou mais de um debate no
evento. Em uma mesa nesta terça (27), o diretor do Story[X], o
laboratório de inovação do jornal “The New York Times”, disse que a
fusão já é realidade.
“Não há uma diferença clara entre máquinas e
pessoas”, afirmou Marc Lavallee. “Eu recebo uma mensagem de um robô, e
isso pode ser uma máquina, ou ao menos parcialmente uma máquina. Nós
[o NYT] somos cada vez mais uma empresa de tecnologia.”
Dois exemplos vistos na feira são
ilustrativos dessa mistura entre conteúdo e tecnologia —sem que
necessariamente a segunda tome o lugar do primeiro.
Um deles é o da BT, antigamente conhecida como British Telecom, operadora inglesa de telefonia.
Há cinco anos, a empresa criou a BT Sport,
uma divisão para competir no mercado de compra de direitos de
transmissão de eventos esportivos, área em que os investimentos precisam
ser robustos.
Por que isso? Porque o que dirige tudo é o
conteúdo, diz AndrewHaworth, diretor de estratégia e consumo
da BT Sport. “O esporte está transformando a marca da BT. É um benefício
que não existe quando provemos banda larga.”
Outro é o da Jukin Media, empresa
de Los Angeles que se especializou em descobrir vídeos “que estão a
ponto de viralizar”, como definiu a diretora Jean Coffey.
Para isso, a empresa desenvolveu técnicas
para calcular o potencial do conteúdo, contatar o dono dele
—muitas vezes um cidadão comum—, remunerá-lo de alguma forma e a partir
daí monetizar esse material.
No fundo, usa tecnologia para tentar
sistematizar o caos das redes sociais e construir um modelo de negócios
aí. “Uma indústria não pode ser construída em cima de acidentes”,
afirmou ela (Folha de S.Paulo, 28/2/18)
Tecnologia separa o 'comprar' do 'fazer compras'
Legenda: Visitante faz foto com smartphone durante o Mobile World Congress, em Barcelona
Comprar é o ato de adquirir produtos necessários e fazer compras é um processo mais prazeroso.
“Comprar” e “fazer compras” serão ações de diferença cada vez mais nítida por causa da tecnologia.
É o que afirmam executivos que trabalham diretamente no varejo ou em áreas relacionadas a ele.
Segundo essa definição, comprar envolve,
por exemplo, o ato de adquirir produtos necessários para a vida no dia a
dia, um processo com o qual o consumidor gostaria de perder o menor
tempo possível.
Já “fazer compras” é um processo mais longo, de escolha, tentativa e erro, e também prazeroso.
“Gostaríamos que algo que nos faz feliz
fosse totalmente automatizado?”, pergunta Ann-Sofie Isaksson,
especialista em marketing da Ikea.
“Comprar pode ser algo automatizado”,
diz Pernilla Jonsson, que encabeça o laboratório de pesquisa ao
consumidor da Ericsson, fabricante sueca de aparelhos de telefonia. “Já
no caso de fazer compras, a tecnologia entra para melhorar a experiência
do consumidor.”
Isso não quer dizer que o ato de “fazer
compras” deva ser realizado apenas fisicamente, diz ela.
“Pode ser
digital. Os consumidores ficam horas e o horas online.”
Um exemplo da própria Ikea é um aplicativo
de realidade aumentada, para melhorar a sensação do consumidor que quer
escolher algum produto para sua casa.
Mas também no caso da loja física a tecnologia vai mudar a maneira como as coisas são feitas.
Exemplo disso foi mostrado
no World Mobile Congress pela Intel e pela Telefónica: a loja
da Dufry (free shop) no terminal mais moderno do aeroporto de Barajas,
em Madri.
Ela é modulada para fazer com o que
ambiente responda ao consumidor, estimulando-o a parar na loja ou fazer
com que se interesse por determinado produto.
É o que Carlos Marina, executivo da empresa espanhola, chama de “momento ópera”.
“Se há muita gente, aumentamos o volume da
música. Dependendo do voos que vão sair, podemos oferecer [em telões]
produtos que costumam atrair pessoas daqueles países de destino,
promovendo determinada marca.”
Outra mudança tecnológica com grande impacto no varejo é o uso da voz, cada vez mais frequente nas buscas da internet.
“Isso tem implicações óbvias para o
comércio”, diz Giulio Montemagno, gerente europeu da Amazon Pay. “A
tecnologia será cada vez mais contextualizada, e o consumidor terá mais
caminho para se integrar com as marcas” (Folha de S.Paulo, 28/2/18)