Alta de 1% no PIB de 2017 e criação de 78 mil postos de trabalho em janeiro confirmam retomada da economia após
OTIMISTA Fernanda de Figueiredo, na piscina do imóvel
que comprou em São Paulo: “Acredito na melhora da economia” (Crédito:
Claudio Gatti)
A julgar pelas notícias da última semana, a crise econômica é
coisa do passado. O prolongado e doloroso ciclo de recessão que
perdurou de 2015 a 2016, anos em que o Produto Interno Bruto (PIB) ficou
negativo em 3,5%, ainda está longe de ser superado, mas os principais
indicadores mostram que o País voltou a crescer. Em 2017, o PIB fechou
em 1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
que divulgou o dado na última quinta-feira.
A taxa juros é a mais baixa
da história (6,75%). A inflação, em 2,2% ao ano, está abaixo da meta do
Banco Central e o setor público obteve em janeiro superávit de R$ 46,9
bilhões — o melhor resultado desde 2001, quando a série histórica foi
iniciada. Na indústria, o crescimento foi de 2,5% em 2017, contrastando
com as quedas de 6,4% em 2016 e 8,3% em 2015.
Até o índice de
desemprego, que se mantinha estacionado na preocupante casa de 12,2%, dá
sinais de queda, com a criação de 77.822 mil novas vagas em janeiro,
algo que não ocorria desde 2012, segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged). Ainda que a positividade dos dados não se
reflita de forma prática na melhoria das condições de vida dos
brasileiros, os indicadores confirmam que a confiança no País voltou.
Prova disso é a Bolsa de Valores de São Paulo estar registrando recorde
após recorde neste início de ano.
Então por que ainda persiste a sensação de que o fim da
crise é quase uma utopia? “A gente vê que, de uma maneira geral, a
economia vem melhorando. Mas é uma melhora lenta e gradual” afirma o
economista Marcel Grillo Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Uma das razões para a
lentidão da retomada é a o efeito destruidor da recessão no biênio
anterior, o que, na prática, colocou a economia no mesmo patamar que
estava em 2010.
Com o avanço do PIB no ano passado, avançamos para o
cenário de 2011. É muito atraso para recuperar de uma vez só. A única
vez que o PIB brasileiro ficou negativo por dois anos seguidos foi logo
após a crise de 1929, e mesmo assim, em níveis menores. Estudos do
próprio Ibre/FGV apontam que deverão ser gerados em 2018 entre 700 mil e
1 milhão de postos de trabalho.
“A única vez que o PIB caiu duas vezes seguidas foi logo após a crise de 1929. Em 2017 tivemos o primeiro ano pós-recessão” Marcel Grillo Balassiano, economista do Ibre/FGV
Somada aos juros baixos e à inflação sob controle, a
recuperação do emprego irá aumentar a renda das famílias e estimular o
consumo, aquecendo ainda mais a economia. A recuperação das vendas já é
significativa na indústria automobilística, que cresceu 20,1% em 2017 e
segue no mesmo ritmo este ano. Otimistas com esse cenário de retomada,
empresas de outros setores também voltaram a fazer grandes aportes. É o
caso da OLX, plataforma de compra e venda online, que vai investir no
Brasil R$ 200 milhões em tecnologia e inovação neste ano, segundo
presidente Andries Oudshoorn.
“Pós crise”
Não é só o grande empresário que aposta. Por acreditar na
tendência de valorização no longo prazo, a administradora paulistana
Fernanda Pirajá de Figueiredo, 52 anos, acaba de comprar um imóvel na
Vila Mascote, bairro de classe média em São Paulo. “Acredito na melhora
da economia e a hora de comprar apartamento é antes que os preços subam
novamente”, afirma. Também os cariocas Guga Weigert e Rodrigo Lasmar
resolveram investir mais de R$ 7,5 milhões em um empreendimento dentro
do Jockey Club do Rio de Janeiro, que será inaugurado no sábado 10. Para
o CEO Dante Seferian, da Construtora e Incorporadora Danpris, de Osasco
(SP), “este é um bom momento para adquirir imóveis, principalmente
pelas condições de pagamento oferecidas, em que se pode usar recursos
próprios como o FGTS e opções como crédito imobiliário, financiamento e
consórcio imobiliário.” Tanto é que o setor de equipamentos para
construção civil foi o que mais cresceu em 2017: 40,1%.
Gestor da Golf Invest, braço da XP Investimentos, a maior do
País, o economista Shan Butler diz sentir que há espaço para um bom
crescimento e que o investidor brasileiro já se prepara para o
pós-crise. “Ele teve que buscar alternativas e acabou migrando para
plataformas que dividem as aplicações e remuneram melhor. Há sinais de
reaquecimento da economia, agora vai depender só da política. Se
permitirem, vai melhorar”, diz Butler. Para os analistas, a certeza de
que a crise realmente acabou depende ainda da eleição. O economista
Marcel Grillo Balassiano, do Ibre/FGV, acredita que o mercado reagirá na
medida em que os candidatos pró-reformas forem ganhando força nas
pesquisas. “Quando a gente souber o presidente eleito e qual política
econômica vai prevalecer em 2019, a incerteza vai passar”, afirma.
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