quarta-feira, 7 de março de 2018

Mundo se arma para guerra comercial em resposta às barreiras de Trump


Diplomatas consideram uma ação conjunta para mostrar a unidade da comunidade internacional contra Trump.

Medida anunciada pelo presidente americano, impondo uma tarifa extra de 25% contra o aço e de 10% contra o alumínio, provocou reação imediata de vários países.

O presidente americano Donald Trump acendeu o estopim de uma guerra comercial global ao anunciar, na quinta-feira, 1º, a adoção de barreiras tarifárias à exportação de aço e alumínio. Nesta sexta-feira, 2, houve uma reação global generalizada contra a medida, com vários países ameaçando retaliar os Estados Unidos impondo também barreiras contra produtos americanos. “Não vamos ficar sentados e ver nossa indústria ser afetada por essa medida”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Segundo apurou o Estado, governos de países potencialmente afetados pela medida já consideram formar uma aliança internacional em um megaprocesso na Organização Mundial do Comércio (OMC), na tentativa de fazer pressão para que a medida de Trump não abra um precedente para outros setores.

O presidente americano quer impor uma taxa de 25% sobre as importações de aço e de 10% contra o alumínio estrangeiro, numa medida para proteger a indústria local. No Twitter, fez uma espécie de defesa das guerras comerciais: “Quando um país está perdendo vários bilhões de dólares em comércio com praticamente todos os países com que faz negócios, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar.”

As reações foram imediatas. A União Europeia indicou que vai responder de forma “firme”, com tarifas de importação também de 25% sobre cerca de ¤ 3,5 bilhões em fluxo de comércio americano. Isso incluiria as exportações agrícolas, mas também afetaria marcas de dimensões globais dos EUA, como motos Harley-Davidson ou roupas Levi’s, citadas por Juncker.

Cecilia Malmstrom, comissária de Comércio da Europa, confirmou que Bruxelas está “discutindo diferentes medidas” contra produtos americanos. “Estamos olhando para tudo, desde levar o caso à OMC, sozinhos, com parceiros, mas também medidas de salvaguarda ou possíveis retaliações”, disse.

Uma primeira etapa do processo na OMC deve ser lançada em breve. Nos bastidores, o Estado apurou que diplomatas consideram uma ação conjunta para mostrar a unidade da comunidade internacional contra Trump. Em 2002, algo parecido foi realizado por Europa, Brasil, Japão e vários outros governos contra medidas similares adotadas por George W. Bush.

Num raro comunicado de apoio à Europa, o governo russo indicou que compartilha das preocupações dos governos europeus. “Vamos analisar nossa relação comercial com Washington”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Mesmo o principal parceiro comercial dos EUA, o Canadá, deixou clara sua irritação com a medida de Trump. “Essa tarifa será inaceitável”, disse o ministro de Comércio do Canadá, François-Philippe Champagne.

 (O Estado de S.Paulo)

Empresas norte-americanas criticam proposta de taxação do aço e alumínio

 

As tarifas sobre importação de aço e alumínio anunciadas pelo presidente Donald Trump foram rejeitadas pelos demais setores da economia dos Estados Unidos, que alertaram para o aumento de preços de seus produtos e o risco de retaliação por parte de outros países, na forma de barreiras às exportações americanas.

O temor de que a medida provoque uma guerra comercial em escala global provocou quedas nos mercados acionários em todo o mundo nos dois últimos dias. O porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Garry Rice, afirmou que as barreiras afetarão não apenas os fornecedores externos de aço e alumínio dos EUA, mas as indústrias dentro do país que dependem desses insumos para fabricar seus produtos finais - entre os quais estão carros, eletrodomésticos, latas, aviões e máquinas.

Na sexta-feira, Trump voltou a defender sua ofensiva protecionista, que acentuou as divisões entre seus principais assessores econômicos. "Quando um país (EUA) está perdendo bilhões no comércio com virtualmente todos os países com os quais transaciona, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar", escreveu o presidente no Twitter.

O anúncio das tarifas foi feito de forma atabalhoada na quinta-feira, sem que os detalhes finais da decisão estivessem finalizados. Trump disse que as alíquotas serão de 25% para o aço e de 10% para o alumínio e que a assinatura da medida ocorrerá apenas na próxima semana.

Segurando latas de sopa Campbell's, do refrigerante Coca-Cola e da cerveja Budweiser, o secretário do Comércio, Wilbur Ross, tentou minimizar o impacto da decisão sobre o preço final de bens que usam aço e alumínio. "Em uma lata de sopa Campbell's há cerca de 2,6 centavos de aço. Se o preço subir 25%, isso equivale a seis décimos de 1 centavo", afirmou em entrevista à rede CNBC. "Quem no mundo vai se importar com isso?"

Em entrevista à TV Bloomberg, Ross indicou que não deverá haver exclusão de países na aplicação das medidas. "Entre as opções que eu apresentei, o presidente Donald Trump escolheu essa, que é a imposição de tarifas sobre todos os produtos de todos os países."


BRASIL


Segundo maior exportador de aço para os EUA no ano passado, o Brasil pediu para ser poupado das barreiras sob o argumento de que exporta aço semiacabado, finalizado por siderúrgicas americanas.

Especialista em comércio internacional e professor da Universidade Brandeis, em Boston, Peter Petri afirmou que as tarifas elevarão de maneira acentuada os preços do aço e do alumínio, o que será uma ameaça para indústrias que os utilizam em suas linhas de montagem. "É por isso que as ações da Boeing, Caterpillar e General Motors - que são importantes usuários de aço e alumínio - caíram depois do anúncio de Trump", observou.

Setores que não dependem desses insumos também podem sofrer em razão da provável retaliação por parte de outros países. Um dos mais vulneráveis é o agropecuário. Petri ressaltou que os segmentos potencialmente afetados empregam muito mais pessoas do que as indústrias que Trump quer proteger.

Segundo ele, a afirmação do presidente de que guerras comerciais "são boas e fáceis de vencer" contraria tudo o que historiadores e economistas escreveram sobre o assunto. "Guerras comerciais aumentam os preços, desestabilizam cadeias de fornecimento e matam oportunidades de negócios. Grandes países como a China e os Estados Unidos podem sofrer menos que os menores, mas não haverá vencedores."

Segundo o Instituto Americano de Ferro e Aço, o setor emprega 140 mil pessoas de forma direta e quase 1 milhão de maneira indireta. Só a indústria automobilística garante 7 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos, disse em nota Matt Blunt, presidente do Conselho Americano de Política Automotiva. O executivo afirmou que a alta de preços de aço e alumínio colocará os fabricantes americanos em desvantagem em relação a concorrentes globais.

Veículos foram o quinto maior produto de exportação dos Estados Unidos no ano passado, com embarques de US$ 130 bilhões, o equivalente a 8,4% do total. As exportações de aço americanas foram de US$ 12,49 bilhões (0,8%) no mesmo período, mostram dados do Departamento do Comércio.

"Não se equivoquem, isso é um imposto sobre as famílias americanas", declarou o presidente da Federação Nacional do Comércio, Matthew Shay. "Essas tarifas ameaçam destruir mais empregos nos EUA do que criar, ao mesmo tempo em que enviam sinais alarmantes a nossos parceiros comerciais e diminuem os mercados para produtos americanos no exterior" .


(O Estado de S.Paulo)

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