Uma fonte disse que 'tudo' está em discussão. Porém, não há decisão alguma sobre como esses itens serão usados na negociação.
A área técnica do governo discute, de forma preliminar, uma lista de
itens que podem ser eventualmente levados a uma negociação de país a
país com os Estados Unidos na questão do aço. Entre eles, está a
elevação das tarifas de importação do etanol de milho produzido lá, o
adiamento da sanção do acordo de céus abertos e a parceria entre Embraer
e Boeing.
Uma fonte disse que “tudo” está em discussão. Porém, não há decisão
alguma sobre como esses itens serão usados na negociação - e nem se
serão de fato levados à mesa. Até porque, concretamente, ainda não
começou a negociação entre os governos de Brasil e Estados Unidos em
torno da sobretaxa.
A estratégia brasileira é, primeiro, esperar os resultados dos
entendimentos entre as empresas americanas que serão prejudicadas com a
aplicação da sobretaxa ao aço importado e a administração de Donald
Trump. Em entrevista ao Estado, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que o Brasil vai dar apoio a essas empresas.
A negociação governo a governo é uma outra frente, que ainda não foi
aberta. Nela, o ponto forte será a tese que as indústrias siderúrgicas
brasileira e americana são complementares. O Brasil exporta para lá
produtos semiacabados de aço, que depois são processados pelas empresas
nos EUA. Na outra mão, o Brasil importa carvão americano para suas
siderúrgicas.
Até o momento, a estratégia traçada pelo governo brasileiro não
contempla o uso de outros elementos de pressão, como o etanol e a
Embraer. Ao Estado, Aloysio negou que isso seria levado à mesa. Outra fonte classificou essa possível lista de “pura especulação”.
No entanto, como nenhuma alternativa está descartada, as discussões prosseguem. Com dificuldades.
O acordo de céus abertos, por exemplo, é um potencial elemento de
pressão porque acaba com a restrição da quantidade de voos entre Brasil e
Estados Unidos. Ele foi aprovado pelo Congresso Nacional, que ainda
precisa promulga-lo. Porém, lançar mão dele significaria adiar a
ampliação da oferta de serviços entre os dois países. Na área técnica do
Ministério dos Transportes, não chegou nenhuma consulta ou orientação
no sentido de segurar os preparativos para a entrada em vigor do acordo.
Há preocupação também se a aplicação de alguma sobretaxa sobre o
etanol americano poderia trazer impacto sobre a inflação. A avaliação é
que uma medida desse tipo exige cuidado redobrado.
Responder a sobretaxa americana na mesma moeda vai contra a linha
defendida pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC),
Roberto Azevêdo, que é compartilhada por boa parte do governo. Em visita
ao Brasil, ele voltou a alertar para as consequências negativas de uma
guerra comercial.
Em vez disso, suas conversas com autoridades brasileiras foram em
outra direção: a possibilidade de questionar a ação norte-americana
perante os compromissos assumidos pelo próprio país em acordos
internacionais. Uma possibilidade, como disse Aloysio na entrevista ao
Estado, é colocar em xeque o argumento da segurança nacional que serviu
de base à sobretaxa. É uma ideia que se enfraquece à medida em que Trump
abre negociações comerciais país a país
(O Estado de S.Paulo, 14/3/18)
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