Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
“Aqueles que dizem que a teoria e a
prática são dois domínios não relacionados, ou são tolos em teoria ou
desonestos na prática.” Ayn Rand.
Desculpem se volto ao assunto, mas Trump
e suas políticas comerciais malucas não me deixam alternativa. O
presidente americano prometeu ontem impor tarifas de 25% sobre as
importações de aço dos Estados Unidos. Estas tarifas recairiam sobre as
exportações de vários países, inclusive o Brasil, cujo governo já
prometeu formalizar uma queixa técnica perante a OMC.
Pelo Twitter, Trump, histriônico e dramático, como de hábito, disse o seguinte, sobre a decisão (apud Rodrigo Constantino):
“Nós devemos proteger nosso país e
nossos trabalhadores. Nossa indústria de aço está em mau estado. SE VOCÊ
NÃO TEM AÇO, VOCÊ NÃO TEM UM PAÍS”.
É óbvio que se trata de uma grande
besteira. A indústria do aço é muito importante para os Estados Unidos, e
afeta a vida de todos os cidadãos: infraestrutura, construção civil,
eletrodomésticos, automóveis, etc.. São necessidades praticamente
infinitas. Todas as indústrias consumidoras de aço nessa lista (bem como
seus consumidores) serão afetadas negativamente pelo aumento do preço
da matéria prima. Estamos falando de cerca de 5,4 milhões de
trabalhadores afetados, e centenas de milhões de consumidores. Como pode
o presidente desprezar os efeitos negativos de sua medida sobre tanta
gente?
A coisa se torna ainda mais
indesculpável quando se olha para as experiências recentes,
especialmente para as tarifas sobre o aço impostas por G. W. Bush, em
2002. Aqueles impostos permitiram que a indústria siderúrgica aumentasse
o preço do aço doméstico, sem que houvesse, contudo, um impacto positivo no emprego. No entanto, as indústrias consumidoras não tiveram a mesma sorte. De acordo com estimativas, 200 mil pessoas perderam
seus empregos nas indústrias que utilizavam o aço como matéria prima,
nos anos seguintes. Isso representa mais trabalhadores do que há em
toda a indústria siderúrgica, cujos empregos as tarifas pretendiam
proteger.
De acordo com a USITC, outra conseqüência das tarifas impostas
por Bush foi a dificuldade de obtenção de aço nas qualidades e
quantidades desejadas, o que acabou deslocando algumas indústrias de
peças semi-acabadas para o exterior, de onde exportavam para os EUA sem
pagar as tarifas do aço bruto.
O economista Mark J. Perry, analisando a
perda de U$300 bilhões da bolsa americana (S&P 500 Index) somente
ontem, depois da divulgação da decisão de Trump, vai direto ao cerne da
questão:
“A matemática do protecionismo é
bastante simples e bastante feia: os benefícios das tarifas para as
empresas protegidas … (medida em termos de empregos, lucros ou valor de
mercado adquirido) são sempre menoresdo que os custos impostos ao
resto das empresas nacionais em outras indústrias (em termos de
empregos, lucros ou valor de mercado perdido). A reação do mercado hoje
às tarifas de Trump sobre aço e alumínio diz praticamente tudo o que
você precisa saber sobre os males e os custos do protecionismo. Se
houvesse mesmo uma possibilidade remota de que o protecionismo pudesse
de algum modo gerar benefícios líquidos para a economia dos EUA, os
mercados não teriam perdido $ 300 bilhões em valor em um dia. Portanto, a
reação significativamente negativa de hoje no mercado de ações sugere
que existe uma probabilidade zero de que as tarifas de aço e alumínio
terão efeitos econômicos positivos líquidos, e uma certeza de 100% que
terão efeitos negativos líquidos.”
Mas o protecionismo gera ainda outro
efeito esperado (de longo prazo) bastante perverso, de que Perry não
falou. Ele interfere negativamente no processo de destruição criadora. A
América não se transformou na potência que é mantendo mão de obra
ocupada em indústrias cuja produção pode ser feita fora. Ao contrário,
aquele país vem se beneficiando das vantagens comparativas para
consolidar-se na liderança de setores muito mais lucrativos, para os
quais vastas quantidades de mão-de-obra se deslocaram nos últimos anos,
graças à possibilidade de comprar produtos menos sofisticados no
exterior.
Não seria exagero dizer que a indústria
pesada é parte do passado nos EUA. Ela deveria ser deixada a cargo de
países tecnologicamente menos sofisticados mesmo. O negócio dos EUA é
alta tecnologia, bioquímica, micro-biologia, indústria farmacêutica,
robótica, nanotecnologia, informática, serviços financeiros.
O que Trump faz com essas medidas
extemporâneas é atrasar a economia do país. Ou alguém acha que os EUA
são o que são por causa das indústrias siderúrgicas? Não, meus caros, a
vantagem comparativa – e competitiva – dos americanos está no
conhecimento, na inovação, na alta tecnologia. Não é à toa que eles
ganham a maioria dos Prêmios Nobel. Mas parece que Mr. Trump e sua trupe
nunca leram Schumpeter, Ricardo, Friedman, Smith, Mises ou mesmo algum
livro de introdução à economia (economics 101), e continuam vivendo no
mundo mercantilista de 300 anos atrás. Seus fãs costumam dizer que Trump
não precisa da teoria, pois aprendeu na prática. Ou que a teoria na
prática é outra. A esses, eu respondo com a frase de Ayn Rand, na
epígrafe.
http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/por-que-o-protecionismo-atravanca-o-progresso/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
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