Não
basta expurgar Abilio Diniz do board. Previ, Petros e Tarpon já
discutem o script para o day after da BRF – leia-se o pós-26 de abril,
data da assembleia que votará a destituição do conselho de
administração. Os fundos e a gestora planejam mudar a estrutura
administrativa da empresa e defenestrar boa parte da atual gestão, a
começar pelo CEO, José Aurélio Drummond Jr.
O nome mais cotado para assumir a
presidência seria o de Alexandre Moreira Martins de Almeida, atual
diretor vice-presidente Brasil. Consultada, a Petros confirma que "está
insatisfeita com os resultados da BRF" e que busca "a reformulação da
estratégia de gestão". Previ e Tarpon não se pronunciaram.
Previ, Petros e Tarpon consideram o modelo
administrativo da BRF um dos legados mais nocivos da "era Abilio Diniz".
Hoje, a gestão é uma barafunda, que estimula a fragmentação do poder
decisório e a existência de territórios que não conversam entre si. A
ideia é ter um único CEO.
Alexandre de Almeida, por exemplo, é um
presidente esvaziado da operação brasileira, com reduzida autonomia e
elevado grau de submissão ao nº 1 global, José Drummond. Por sua vez,
Drummond, tratado como o “CEO do Abilio” teria reduzido o nível de
compartilhamento de informações dos negócios da companhia no Oriente
Médio, que impactam na tomada decisões no Brasil (Relatório Reservado,
13/3/18)
Falha na compra de grãos azedou clima na BRF
Alguns desentendimentos que culminaram na demissão de Pedo Faria da
BRF, e que agora colocam em xeque a posição de Abilio Diniz na
companhia, tiveram início há mais de dois anos. O clima entre os
principais acionistas azedou já no início de 2016, quando avaliou-se que
a política de compra de grãos deixou a companhia vulnerável à quebra da
safra nacional de milho.
Até então, a BRF se destacava entre os pares. Com uma estrutura de
armazenagem e fábricas estrategicamente localizadas nas principais
regiões produtoras de milho – Paraná, Mato Grosso e Goiás -, a companhia
era ainda mais competitiva que a concorrência quando o preço dos grãos
subia.
Aos olhos da BRF, mesmo concorrentes como a Seara, que é da JBS,
estavam em desvantagem, por serem mais dependentes das fábricas de Santa
Catarina, que precisam do milho de outros Estados.
Mas o que se descobriu no primeiro semestre de 2016, quando o milho
atingiu máximas históricas no país, é que aquela vantagem da BRF já não
existia. Em meio à tentativa de reduzir os gastos com capital de giro, o
estoque de milho foi reduzido drasticamente. "Ficou da mão para a
boca", resume uma fonte.
Meses antes, no fim de 2015, a administração da BRF pregava cautela, o
que acabou por tornar a crise ainda pior. "Os preços já estavam altos e
a decisão foi manter o menor nível de estoque de grãos, pois se
esperava uma queda de preços. Não se contava com a quebra histórica da
safra e da safrinha, que jogaram o preço ainda mais pra cima", lembrou
outra fonte próxima à empresa brasileira.
Fontes próxima à Tarpon, gestora na qual Faria é sócio, rebatem o
argumento, dizendo que a quebra da safra foi inédita e levou o milho
brasileiro a se tornar o mais caro do mundo pela primeira vez na
história. Por outro lado, há quem afirme que, ainda que os frigoríficos
nacionais tenham de fato ficado menos competitivos que os concorrente de
outros países, a BRF não poderia ter sofrido mais do que outros no
Brasil.
O fato é que, com a margem na produção de carne de frango negativa
como poucas vezes se viu, começava uma série de atritos. O time de
operações, então comandado por Hélio Rubens Mendes dos Santos Jr.,
buscava cortar custos, o que o desgastou com Pedro Faria. Por diversas
vezes em 2016, o então CEO da BRF pediu a demissão de Hélio Rubens.
Tentativas de mudar a composição da ração, que poderiam gerar
economias de mais de R$ 1 bilhão às custas da utilização de itens nem
sempre aceitos em importadores do Oriente Médio e da Europa, foram
barradas por Faria, que fazia questão de manter os parâmetros de
qualidade na produção.
De certa forma, a postura inflexível do então CEO da BRF em defesa da
qualidade agora é encarada por apoiadores e alguns críticos de sua
gestão como prova de que o executivo foi preso injustamente na semana
passada, sob a acusação de fraudes sanitárias – ele já foi libertado.
"Pedro sempre primou pela qualidade", disse uma fonte, lembrando que
os pedidos de demissão de Hélio Rubens partiam da avaliação de que a
área de operações era uma "caixa preta" na qual o CEO precisaria
intervir – o que foi feito após a Carne Fraca, em março de 2017. Segundo
as fontes, Faria sacrificaria resultados de curto prazo pela qualidade
(Assessoria de Comunicação, 13/3/18)
Reino Unido ameaçou reter cargas da empresa, mas voltou atrás
Como efeito direto da Operação Trapaça, o governo levou um susto na
sexta-feira, diante de uma possível trava do Reino Unido a carregamentos
de carne de frango da BRF. O governo britânico chegou a notificar o
Itamaraty e o Ministério da Agricultura de que reteria qualquer
carregamento de carne de aves e de produtos em geral fabricados pela
empresa que chegassem até os seus portos, mas logo mudou de ideia.
A decisão comercial durou algumas horas, ainda que nenhuma carga tenha sido bloqueada, afirmou ao Valor o
secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luís
Eduardo Rangel. De acordo com ele, a possível restrição britânica foi
revertida após reações do adido agrícola do Brasil na União Europeia e
da embaixada brasileira em Genebra.
Um embargo do Reino Unido seria bastante negativo para o país. Os
britânicos respondem por 20% do volume e 25% da receita das exportações
de carne de frango dos frigoríficos brasileiros à Europa. Ao todo, as
vendas à UE renderam US$ 774,4 milhões em 2017.
"A gente recebeu um sinal de que o Reino Unido teria feito
restrições, mas eles ficaram satisfeitos com as respostas que enviamos
na sexta-feira e mantiveram as importações. Não chegou a haver nenhuma
restrição de fato", explicou Rangel em referência às respostas do
Ministério da Agricultura ao pedido de informações feito pela UE na
semana passada a respeito das investigações da Operação Trapaça.
De acordo com Rangel, um fato positivo pode ser extraído desse recuo
do Reino Unido. "É interessante, porque isso sinaliza bom senso, que a
gente espera também dos Estados-membros da União Europeia", afirmou. O
secretário também disse que o comunicado britânico precisa ser encarado
dentro do contexto do "Brexit". Logo, não significa uma postura geral da
União Europeia, afirmou.
Apesar disso, o risco ainda não foi dissipado. Técnicos do Itamaraty e
do Ministério da Agricultura ainda não descartam que a União Europeia
faça exigências duras ou até possa anunciar algum embargo à carne de
frango do Brasil, ainda que temporária.
O bloco europeu não se posicionou oficialmente a respeito das
respostas do Ministério da Agricultura para os seus questionamentos
sobre a Trapaça, terceira etapa da Operação Carne Fraca deflagrada há
uma semana pela Polícia Federal com foco em fraudes envolvendo
laboratórios e a BRF na análise de salmonela em carne de frango.
Na terça-feira, um dia após a Polícia Federal divulgar que cinco
laboratórios contratados por plantas da BRF forjaram laudos sobre a
bactéria salmonela em carne de frango, a UE foi a primeira a manifestar
preocupação e a pedir informações.
Os europeus receberam as respostas do Ministério da Agricultura na
sexta-feira e devem devolver suas considerações apenas no fim desta
semana, informou ao Valoruma fonte do bloco europeu. No
entanto, as revelações da Operação Trapaça "nos pegou de surpresa e
causou preocupação", disse a mesma fonte.
Embora tenha sido renovada com a Operação Trapaça, a preocupação
europeia com a bactéria salmonela não é nova. Desde a primeira fase da
Carne Fraca os europeus aumentaram os níveis de testes, e agora só
aceitam a carne de frango salgada exportada pelo Brasil se ela não tiver
qualquer traço da bactéria. Essas exigências reduziram as exportações
brasileiras (Assessoria de Comunicação, 13/3/18)
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