quinta-feira, 21 de junho de 2018

Häagen-Dazs não terá mais sorveterias no Brasil


Marca Häagen-Dazs, da americana General Mills, continuará sendo vendida em supermercados e restaurantes no país

 Sorvete da Haagen Dasz. Marca está fechando suas sorveterias próprias no Brasil (Foto: Facebook/Haagen Dasz)
 Sorvete da Haagen Dasz. Marca está fechando suas sorveterias próprias no Brasil (Foto: Facebook/Haagen Dasz)A





A marca de sorvetes Häagen-Dazs encerrou sua operação com lojas próprias no Brasil. A General Mills, empresa norte-americana dona do negócio, anunciou o fechamento das oito unidades que funcionavam em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

O fim das sorveterias acontece, de acordo com a empresa, “com o objetivo de melhorar ainda mais as operações e acelerar o crescimento no país”.

Apesar disso, a marca, que concorria com outras como Ben & Jerry’s e Baccio di Latte no ramo de sorveterias premium, continuará presente no país, mas com seus produtos em supermercados e restaurantes.

A General Mills, que também atua no Brasil com marcas como Yoki e Mais Vita, afirma que a Häagen-Dazs segue importante no país.

Veja abaixo o comunicado da empresa:

"A General Mills do Brasil informa que com o objetivo de melhorar ainda mais as operações e acelerar o crescimento no país, decidiu descontinuar as operações das oito lojas próprias da marca Häagen-Dazs. Os sorvetes da marca continuam sendo vendidos no Brasil. A partir de agora a companhia irá focar seus investimentos na distribuição dos sorvetes por meio dos canais de varejo e foodservice. A decisão é local. Como parte do crescente segmento super premium de sorvetes, Häagen-Dazs continua sendo uma marca global importante para a empresa e para os negócios no Brasil."


 https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2018/06/haagen-dazs-nao-tera-mais-sorveterias-no-brasil.html




Investidor diz que Sky pode valer até US$50 bilhões


A operadora de televisão por assinatura é alvo de ofertas da rival norte-americana Comcast e da Twenty-First Century Fox


 sky TV satélite (Foto: Leon Neal/Getty Images))
 (Foto: Leon Neal/Getty Images)




Crispin Odey, um dos 20 maiores investidores da rede de TV por satélite Sky, afirmou que espera uma guerra de ofertas pela companhia neste ano e que a empresa pode ser avaliada em até 50 bilhões de libras (US$ 65,5 bilhões).

A operadora de televisão por assinatura é alvo de ofertas da rival norte-americana Comcast e da Twenty-First Century Fox, que atualmente detém 39% da companhia e pretende obter o controle sobre ela.

A proposta de 10,75 libras por ação feita pela Fox foi superada pela oferta de 12,50 libras feita pela Comcast em abril, que avaliou a empresa em US$ 31 bilhões.

Enquanto isso, Comcast e Walt Disney estão disputando a compra da maior parte dos ativos de TV e cinema da Fox, buscando se defenderem de rivais online como Netflix e Amazon.com. A Disney elevou sua oferta pelos ativos da Fox na quarta-feira, superando a proposta feita pela Comcast.

A decisão da Disney elevou especulações de que a Fox poderá responder elevando sua oferta pela Sky, para superar a proposta da Comcast.

Odey, fundador do fundo de hedge Odey Asset Management, afirmou à Reuters que a oferta da Disney elevou o valor da Sky para cerca de 13,50 libras por ação, mas sua avaliação do fluxo de caixa livre da Sky indica que as ofertas podem levar esse número ainda mais para cima.

"Fizemos as contas e o ponto é que a dívida é tão simples e barata de ser equacionada que eles poderiam facilmente pagar 18 libras pela Sky", disse Odey.

A base para a empresa ser avaliada em cerca de 50 bilhões de libras, ou cerca de 26 libras por ação, consiste no potencial do fluxo de caixa subir de 1,6 bilhão para 2,5 bilhões de libras no próximo ano diante de queda nos custos de programação e melhora nas vendas, disse Odey.

Mas o analista Ian Whittaker, da Liberum, afirmou que o espaço para tal valorização da Sky pode ser limitado. "Não achamos que a empresa vai receber uma oferta mais que 10% maior que a proposta da Comcast, o que implica em 13,75 libras, valor onde as ações já estão", afirmou o analista.


https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2018/06/epoca-negocios-investidor-diz-que-sky-pode-valer-ate-us50-bilhoes.html

Ericsson precisa que indústrias adotem 5G para sustentar recuperação


Por enquanto, a empresa sueca está se concentrando em um plano de redução de custos até 2020 para sustentar a lucratividade


 Sede da Empresa Ericsson em Estocolmo (Foto: Casper Hedberg/Bloomberg via Getty Images)
 Sede da Empresa Ericsson em Estocolmo (Foto: Casper Hedberg/Bloomberg via Getty Images)


A Ericsson precisa que uma série de indústrias adote serviços de telefonia móvel 5G se a fabricante de equipamentos para telecomunicações quiser obter um impulso de longo prazo que permitiria avançar em redução de custos para a expansão.

Por enquanto, a empresa sueca está se concentrando em um plano de redução de custos até 2020 para sustentar a lucratividade, esperando que o crescimento retorne conforme o ritmo das atualizações de rede para o 5G for retomado no início da década seguinte.

Tendo enfrentado queda de receitas desde o pico de vendas da tecnologia 4G no meio da década, a Ericsson deposita suas esperanças de crescimento revigorado no surgimento de novos negócios de telefonia móvel em 10 setores, como manufatura, energia e segurança pública.

A Ericsson aposta que os novos modelos de negócios possibilitados pela tecnologia 5G poderiam impulsionar um aumento de até 36 por cento nos serviços da indústria de telecomunicações.

Já a receita das operadoras de telefonia nesses negócios deve crescer apenas 1,5 por cento ao ano até 2026, chegando a 1,74 trilhão de dólares, metade dos quais provenientes dos serviços de telefonia móvel e o restante da telefonia fixa e banda larga, prevê a empresa.

Mas os novos negócios 5G podem gerar até 619 bilhões de dólares em receita adicional até 2026, disse à Reuters Christian Hedelin, diretor de estratégia do negócio de redes da Ericsson.

"Há enormes possibilidades. Cabe a nós, como uma indústria, garantir que, dentro do possível, esse valor potencial se materialize", disse Hedelin.

A Ericsson não irá projetar como isso pode se traduzir em crescimento para a empresa. Atualmente, é o segundo maior fornecedor mundial de equipamentos para redes móveis, depois da gigante chinesa Huaweia, e à frente da finlandesa Nokia.

Hedelin afirmou que as operadoras de telefonia historicamente investem cerca de 2 a 3 por cento de suas receitas totais em redes, o que deixaria entre 35 bilhões a 70 bilhões de dólares com os fabricantes de equipamentos.

Analistas da indústria projetam que o mercado de equipamentos para telecomunicações vai retornar a um crescimento muito modesto a partir de 2020, conforme a demanda por redes 5G comece a avançar.

Porém, a maior parte dos analistas afirma que deve levar até meados da próxima década para que as receitas do 5G superem gerações anteriores e que as vendas de equipamentos da tecnologia provavelmente nunca vão superar o investimento feito em 4G.


(Por Olof Swahnberg e Eric Auchard)



https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2018/06/epoca-negocios-ericsson-precisa-que-industrias-adotem-5g-para-sustentar-recuperacao.html

Para não virar novas "Blockbuster", empresas do setor imobiliário precisam abraçar inovação


Em conferência em Paris, especialistas discutem necessidade e caminhos para que construtoras e incorporadoras possam rumar ao futuro

 Prédio da construtora holandesa EDGE Technologies, com mais de 30 mil sensores - prédio inteligente - construtech (Foto: Reprodução/Instagram)
 


Segundo um estudo recentemente publicado pela consultoria britânica PWC, os investimentos em tecnologia no ramo imobiliário europeu chegaram a 3,4 bilhões de euros em 2017. A cifra é vinte vezes maior do que o montante em 2011, mas isso não significa que o setor abraçou de vez a inovação. O mesmo relatório afirma que apenas 10% dos CEOs europeus dessas empresas tem a tecnologia como uma preocupação.

Esses resultados foram divulgados durante a conferência MIPIM Proptech — o termo, em inglês, define a nova onda de startups e inovações digitais no setor imobiliário. Realizado em Paris nesta penúltima semana de junho, o evento recebeu alguns especialistas que discutiram o futuro de uma indústria que, mesmo tradicional, é responsável por cifras astronômicas da receita global.

Para Elizabeth Rapoport, uma das autoras do estudo da PWC, há um claro descompasso entre a mentalidade dos tomadores de decisões e os investimentos pesados em novidades que vão de design a big data. A especialista acredita que construtoras e incorporadoras precisam avançar no futuro antes que caiam numa situação do tipo Blockbuster — a outrora rede de locadoras de vídeos ficou para trás ao não absorver inovações.

A preocupação é até maior quando analisada a concorrência: grandes empresas de tecnologia que expandem seus tentáculos para além do mundo virtual, criando prédios inteligentes ou infra-estruturas conectadas. "Não estamos tão atrasados, mas precisamos mudar", diz Cees van der Spek, um dos diretores da construtora holandesa EDGE Technologies.

Spek afirma que uma das maneiras de acelerar o passo da indústria é manter-se próximo a polos de inovação como startups e universidades. Responsável por edifícios de desenho e funcionamento futuristas, como o edifício holandês Las Palmas, a EDGE Technologies mantém contato com a Singularity University — reconhecido think tank multidisciplinar que tem parcerias até com a NASA.

Diretora da maior incorporadora do mundo, a CBRE, Bridget Wilkins afirmou que inovações desse tipo representam mudanças, algo a que um setor tão tradicional quanto o imobiliário não está acostumado. Ela acredita que é preciso quebrar algumas barreiras, sejam elas simbólicas, ou concretas, como fronteiras entre algumas companhias e países. "Estamos muito atrás do que deveríamos estar", diz ela. "Basta olhar para alguns índices e números."


Mudar com cuidado

 
Wilkins também acredita que a inovação um tanto tardia pode resultar em aprendizados o setor imobiliário. Segundo a diretora, companhias e plataformas de redes sociais tem hoje uma grande preocupação com a transparência no uso do dados, mas isso é resultado de alguns erros de percurso. "Quero ver como isso pode se aplicar na maneira como operamos edifícios", afirma ela.

Fundadora da Architrave, empresa alemã de gestão de recursos, Maurice Grassau reforçou a análise de Wilkins quanto a um uso responsável da tecnologia. "Para se tornar digital, a indústria inteira tem de mudar", diz ele. "Isso só vai funcionar se todos trabalharem juntos."

Grassau também citou danos colaterais que podem surgir com um uso desenfreado da tecnologia no ramo imobiliário, caso dos prédios inteligentes munidos de rastreadores e sensores. "O dono do prédio não pode ser dono dos dados do prédio", diz ele. "Mas empresas de tecnologia poderão usar dados desses prédios e aí vamos ter algo como vimos nas telecomunicações, por exemplo."


https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2018/06/para-nao-virar-novas-blockbuster-empresas-do-setor-imobiliario-precisam-abracar-inovacao.html?utm_source=linkedin&utm_medium=social&utm_campaign=post

terça-feira, 19 de junho de 2018

"OAB coloca âncora nos advogados e nos impede de empreender"


Depois de 30 anos advogando, Antônio Amaral Maia decidiu criar uma empresa que oferece serviço jurídico e novas tecnologias. A iniciativa foi testada por conta própria, depois que ele decidiu trocar o sistema de acompanhamento de processos do seu escritório.

Utilizando até então um aplicativo generalista de gestão de documentos, o Evernote, Maia adaptou-o para uso nas suas tarefas diárias, envolvendo casos ligados à infraestrutura, em contratos com a administração pública. A partir daí começou o trabalho da Tikal Tech, que nasceu em 2015 e hoje fornece outros serviços.

Maia critica duramente o papel que a Ordem dos Advogados do Brasil faz como reguladora: “A OAB não permite que o advogado empreenda. São as restrições que empobrecem a classe, que impedem que o profissional barateie o serviço dele contra a tabela para ganhar escala e ganhar mais dinheiro”, afirma.

Ele também defende a liberdade de contratação entre o advogado e seus clientes. “Sempre se teve uma vergonha de tratar o direito como negócio, na profissão. Mas o Direito é um negócio, tem dinheiro envolvido, prestação de serviço.” Para o advogado, tabelar honorários equivale a orquestrar preço. A GM pode combinar preço com a Ford? Não. E por que nós podemos combinar preço? Há a necessidade de se caminhar para isso, em se ter essa liberdade.”

Antônio Amaral Maia é advogado há 30 anos, sócio-fundador do Amaral Maia Sociedade de Advogados e um dos sócios da Tikal Tech com Erica Motta, Derek Oedenkoven e Fernando Freitas Alves. Escreve o blog Advogado do Futuro, sobre Legal Services e Legal Tech.

As atividades da empresa incluem o robô ELI, que automatiza tarefas e cálculos: quando o advogado cadastra nomes de clientes no ELI ICMS Energia, por exemplo, a ferramenta busca contas de energia elétrica em nome dos consumidores, calcula eventuais tributações indevidas e gera já uma petição inicial com as principais informações, inclusive com valores corrigidos com base na inflação.

Há também o LegalNote, plataforma digital de acompanhamento processual por celular, tablet ou notebook, hoje com mais de 92 mil usuários. Já o Diligeiro ajuda a buscar contratação de correspondentes jurídicos por meio da descrição da demanda, com localização por GPS – são 28.657 disponíveis na plataforma para cumprir diligências.


Confira a entrevista:


ConJur  Como o senhor avalia o cenário dos escritórios de advocacia hoje em dia?
Amaral Maia Falta o espírito empreendedor nos escritórios e todo o uso de tecnologia, como novas maneiras de cobrar honorários. Falta espírito empreendedor para oferecer serviços empacotados de maneira diferente, precificados de maneira diferente, em que de alguma forma esteja um pouquinho mais voltado ao risco da atividade do cliente. O problema é os advogados não serem empreendedores: essa é a grande âncora que amarra a nossa carreira e é infelizmente o que dá força a esse discurso retrógrado da OAB, essa pouca familiaridade dos advogados em geral a assumir mais riscos. Tudo isso impede que eu mude a minha maneira de trabalhar e impede que eu combine várias disciplinas na prestação de serviços.

ConJur — O fenômeno das startups ligadas ao Direito esbarra em entendimentos da OAB?
Antonio Amaral Maia —
O advogado pode lançar mão de qualquer novidade tecnológica, de qualquer software na condição de sua atividade, ele é o soberano de como vai conduzir a solução para aquele determinado problema. A Tikal sempre soube muito bem o que estava fazendo. Existem alguns advogados que consultam a OAB quando vão contratar o ELI. A pessoa vai lá e fala "estou em vias de contratar esse robô e eu queria saber se vou estar de acordo com a ética"; o Tribunal de Ética libera.

ConJur — Então não existe controvérsia?
Antonio Amaral Maia —
 Tem algumas startups que fazem um tipo de contratação muito parecida com leilão. O advogado interage com a plataforma, dando lances. É o chamado leilão reverso, em função daquele serviço. E a OAB acha que isso avilta os honorários, e esse tipo de empresa é processada. A Ordem usa a ação civil pública para proteção dos advogados, vai na Justiça para tentar derrubar essas empresas. Mas aí acontece uma coisa bem interessante: quando a empresa é legítima, mesmo a OAB não pode fazer nada contra ela. O comportamento ético é do advogado, não do empresário. O empresário não está sujeito ao Código de Ética da OAB, ninguém está, só o advogado. Então a Ordem não pode alegar violação ética para fechar startup. Principalmente se ela não puniu eticamente os advogados que usam aquela startup.

ConJur — Os advogados dessas startups estão sendo punidos?
Antonio Amaral Maia — Não, não. As empresas que foram punidas nem têm advogados como donos. O que acontece? Alguns advogados usam a startup ou outra estrutura empresarial para driblar os impedimentos éticos. Isso é mais com modelos de negócio tipo aquelas associações de mutuários, de quem briga com construtora. Você sabe que tem várias pessoas com problema de financiamento de imóveis, mas não pode acessar essas pessoas porque o advogado tem que ter uma publicidade passiva. Então certos profissionais criam uma associação de mutuários, disfarçam os honorários de contribuição associativa e captam no escritório um serviço que veio da associação. Aí claramente a associação é dissolvida. Mas não porque a associação comete falta ética, mas porque o objeto social dela é ilícito: mascarar uma conduta vetada eticamente. A OAB só consegue derrubar uma empresa quando a empresa é usada por algum advogado para burlar uma proibição ética. O advogado em si, usando tecnologia, não infringe regra nenhuma.

ConJur Com essa oferta de serviços, advogados poderiam ser mais agressivos na publicidade?
Antonio Amaral Maia A Ordem dos Advogados do Brasil tem uma posição estranha em relação a isso: nossa classe é vista como se fôssemos artesãos, como se trabalhássemos numa oficina qualquer em que falar de dinheiro é até feio. Sempre se teve uma vergonha de tratar o Direito como negócio, na profissão. Mas o Direito é um negócio, tem dinheiro envolvido, prestação de serviço. Se você não cobra os seus honorários a Ordem teoricamente pode até te punir por falta ética. Por isso há a necessidade de se caminhar para se ter essa liberdade, porque normalmente a regulação muito dura da OAB pune basicamente os advogados mais pobres e os advogados em começo de carreira.

ConJur São os que mais precisam de publicidade, aparecer.
Antonio Amaral Maia Basicamente, a OAB impede a concorrência de outros profissionais com os advogados, externamente. Internamente, impedir a concorrência dos mais novos contra os mais velhos. Então a Ordem vive brigando com contador, vive brigando com auditor, vive tentando passar lei para colocar mediação como ato privativo de advogado, ou mesmo querer colocar as startups como exercício ilegal de profissão, ampliar a ideia de conceito jurídico para poder punir as startups ou ameaçá-las de punição criminal.

A entidade tenta controlar esse tipo de concorrência institucionalmente. Quando se impede que o advogado trate a profissão dele como um negócio, coloca-se menos dinheiro no mercado; quando tem menos dinheiro no mercado vende-se menos tecnologia, então nesse sentido nos prejudica. São as restrições que empobrecem a classe, são essas restrições que impedem que o profissional barateie o serviço dele contra a tabela para ganhar escala e ganhar mais dinheiro. Entende? É a OAB que não deixa que ele empreenda...

ConJur – E quanto à estipulação de valores de honorários?
Antonio Amaral Maia Deveríamos tratar os honorários como preço do serviço por uma atividade profissional regulamentada e organizada. A advocacia ficaria sujeita às leis do mercado. A justificativa de que o problema é o excesso de advogado no Brasil é uma besteira, argumento para justificar nossos problemas. Esse tipo de paternalismo normalmente dá com os burros n’água, porque não adianta passar uma tabela se ninguém cumpre… Até porque o cliente também não está obrigado pela tabela. O cliente não comete falta ética, e o cliente não existe para respeitar a dignidade da advocacia. Na minha opinião, só é digno o advogado que cumpre a sua função social.

ConJur  A tabela não deveria existir, na sua opinião?
Antonio Amaral Maia  Não deveria existir, até porque a tabela mesma é questionada. Existe mais de um processo administrativo no Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] questionando a medida. Porque é orquestração de preço, nós somos um mercado relevante. A GM pode combinar preço com a Ford? Não. E por que nós podemos combinar preço? É inaceitável! Os planos de saúde já derrubaram as tabelas médicas há muito tempo. No fundo quem sofre os efeitos da tabela é a população mais pobre e desassistida.

O novo Código de Ética estabeleceu a falta ética por não obedecer a tabela. E aí o Tribunal de Ética fica naquela situação: toda hora tem que analisar a conduta de advogados, com base no contexto.

ConJur — Como o senhor começou a empreender?
Antonio Amaral Maia —
A iniciativa nasceu dentro do meu escritório. Quando decidi trocar o meu sistema de acompanhamento de processos, concluí que nenhum dos que existiam, ou pelo menos dos que eu conhecia na época, eram bons. Aí eu resolvi utilizar o Evernote, um aplicativo generalista de gestão de documentos, e adaptar para uso do escritório de advocacia. Foi um projeto muito interessante, custou perto de R$ 7,5 mil, um custo ridículo perto do que a gente tinha feito.

ConJur — Como era esse aplicativo?
Antonio Amaral Maia —
 No finzinho de 2014 a gente trabalhou muito na ideia e apareceu um nome, que foi o LegalNote, a empresa inteira era para chamar LegalNote. No ano seguinte já tínhamos um lema, de que ela seria o “escritório no bolso”. Eu queria que as pessoas fizessem tudo pelo celular. O "produto mínimo viável" seria pegar os processos do site do tribunal pelo CNPJ e o aplicativo baixava tudo para o Evernote, abria uma nota ali e enviava uma notificação para o usuário, passando a pegar todos os andamentos a partir de então.

ConJur — O que tem de diferente nesses aplicativos em relação aos sistemas de consulta processual oficiais dos tribunais?
Antonio Amaral Maia — 
O que é “J Intimação”? As pessoas não sabem, porque aquela informação do site do tribunal não é feita para que as pessoas entendam, ela é feita para guiar a atuação do cartorário. Na verdade a Justiça é o povo. Então era preciso fazer um sistema que explicasse o negócio. Nós temos o dever moral de simplificar esse acesso, por mais que seja um negócio.

ConJur — Mas se alguém se cadastra no seu aplicativo, consegue acesso a informações de terceiros? E terceiros podem conseguir minhas informações? Não é perigoso?
Antonio Amaral Maia —
 É um ponto sensível, a Tikal já sofreu processo por isso, mais de uma vez, mas fomos vitoriosos em todos. Se você entrar no meu site com o nome pode ser que encontre informações, mas não é tão simples. A gente vai questionar ‘com quem você litiga?’, ‘quais são os nomes das partes?’. Não contribuímos com a indústria nefasta da lista negra e muito menos admitimos que uma empresa nos contrate para fazer lista negra. Os robôs da Tikal trabalham só com as informações permitidas: número do processo e nome das partes, só, nós não cruzamos outras informações. Mas como indexamos as nossas intimações em mais ou menos 360 mil intimações por dia, temos uma política: se a pessoa reclamar, a gente desindexa a página na hora.

Quando o ELI foi criado, fomos ao mercado, começamos a oferecer para alguns advogados para que eles nos relatassem seus problemas e suas necessidades e nos ajudassem a desenvolver teses que pudessem ser automatizadas. Hoje, o advogado procura a Tikal e fala o problema que ele quer resolver.

ConJur — O que faz o ELI?
Antonio Amaral Maia —
A partir do que o cliente necessita, a gente monta o robô, desde que envolva automação de documentos e a inteligência gerando a classificação. O robô combina uma dessas habilidades para resolver um problema específico do cliente. O ELI busca informações em outros sites e classifica os processos e documentos. Ele pode, por exemplo, ir no site da CPFL, baixar 60 contas, ler e cadastrar e extrair informações sobre o ICMS dessas contas. E gerar uma planilha e uma petição.

ConJur — O senhor disse que a empresa é procurada por advogados. O profissional da área quer compartilhar o conhecimento que tem?
Antonio Amaral Maia —
 Quer. O que limita o advogado a pegar novos clientes? Ele está limitado pela clientela. E a ampliação da clientela é limitada geograficamente. É o seguinte: se minha tese é nacional, mas meus clientes estão em Goiás, não vou pegar nenhum cliente no Rio Grande do Norte, no Pará. Por isso faz sentido que eu disponibilize isso. Se a tese é nacional e eu não tenho condições de trabalhar nela de maneira nacional, vou licenciar minha tese para outros escritórios e aí a gente reparte o lucro.

ConJur — Os sistemas processuais dos tribunais causam algum obstáculo?
Antonio Amaral Maia —
 É uma missão hercúlea, até hoje não terminada e ninguém vai terminar nunca, porque é uma enxugação de gelo, que é fazer os robozinhos funcionarem em todos os 27 tribunais de Justiça. Cada estado tem um sistema diferente. Quantos sistemas são ao todo? Uma coisa de 60, 70 sistemas. Cada um é de um jeito, às vezes o estado do Tribunal de Justiça é de um jeito e o Juizado Especial é de outro. Às vezes, não. Na Justiça Federal são diferentes. Na Justiça do Trabalho tem os captchas [sistemas de verificação para acesso aos bancos de dados], um grande desserviço que os tribunais prestam.

ConJur Como tribunais podem usar os serviços de automação para organização e estratégia?
Amaral Maia
O problema de se atacar acervo é que não existe tecnologia isenta. Se crio um algoritmo para atacar um acervo, quem programar esse algoritmo vai ter a palavra final. Nos Estados Unidos essa discussão é presente, eu tenho o software que avalia reincidência e a possibilidade de se soltar um preso. Isso é uma coisa grave para um tribunal deixar na mão de um software, porque o robô em si vai refletir os vieses que quem o programou tiver.

ConJur Então de que maneira a inteligência artificial pode ser útil para os serviços públicos do Estado?
Antonio Amaral Maia
Permitir a rápida classificação dos litígios é uma prática isenta: criar os chamados clusters, classificando rapidamente todas as ações e permitindo que o juiz escolha a solução que vai dar naquele lote de ações conexas. O juiz poderia automatizar um sistema de classificação, e não propriamente um sistema de inteligência artificial, na montagem das respostas. Isso já seria um grande avanço.


 é repórter da revista Consultor Jurídico.
Revista Consultor Jurídico, 17 de junho de 2018, 10h10


 https://www.conjur.com.br/2018-jun-17/entrevista-antonio-amaral-maia-advogado-socio-tikal-tech

terça-feira, 5 de junho de 2018

Plano de investimentos na Eletropaulo é de US$ 900 mi de 2019 a 2021, diz Enel


Crédito: Shutterstock
Curto circuito: a mudança de regras no setor de energia e os seguidos prejuízos fizeram a AES decidir por vender a participação na Eletropaulo (Crédito: Shutterstock)





A Enel anunciou nesta terça-feira, 5, que pretende realizar investimentos de US$ 900 milhões na Eletropaulo no período entre 2019 e 2021. O montante corresponde a um aporte anual de US$ 300 milhões, acima dos US$ 224 milhões realizado nos últimos anos pela atual administração da companhia.

O anúncio foi feito a jornalistas pelo presidente da Enel Brasil, Carlo Zorzoli, em suas primeiras declarações após a empresa ter acertado a compra do controle da distribuidora paulista, o que foi feito na tarde de segunda-feira por meio de um leilão no âmbito da oferta pública voluntária de ações.

A operação resultou na compra de 122,799 milhões de ações, o que corresponde a 73,4% do capital social da Eletropaulo.

A Enel ofereceu R$ 45,22 por ação da distribuidora e a OPA resultou no desembolso de R$ 5,553 bilhões. Zorzoli lembrou, porém, que os acionistas remanescentes têm até 4 de julho para vender suas ações, nas mesmas condições, portanto o montante final pode aumentar.

Ele explicou que os investimentos serão focados em manutenção, melhoria da qualidade dos serviços e novas conexões. “Vamos trazer inovação, digitalização e melhora da confiabilidade do serviço para melhorar a eficiência e qualidade de serviço”, disse o executivo, citando que a Enel tem um papel de liderança em termos na digitalização no mundo e na Itália o grupo está implantando sua segunda geração de digitalização.

Para a nova controladora, a Eletropaulo não realizou nos últimos anos os investimentos em um ritmo necessário, o que prejudicou a qualidade dos serviços e levou a queda dos indicadores. Zorzoli lembrou que no último ano, após um plano de melhorias, a Eletropaulo conseguiu melhorar alguns de seus indicadores, mas considerou que ainda há muito trabalho a fazer.

Questionado sobre o potencial impacto desses investimentos adicionais na tarifa, Zorzoli lembrou que apenas 20% da conta de luz se refere aos serviços de distribuição, mas admitiu que o plano de investimentos deve influenciar na tarifa no futuro.

Ele explicou, porém, que investimentos serão considerados, quando concluídos, na base de remuneração regulatória da distribuidora, o que só ocorre a cada quatro anos, nas revisões tarifárias.

A próxima está marcada para 2019, mas Zorzoli considerou que “a maior parte dos investimentos” que influenciará no estabelecimento das tarifas do ano que vem já foram realizados.


 https://www.istoedinheiro.com.br/plano-de-investimentos-na-eletropaulo-e-de-us-900-mi-de-2019-a-2021-diz-enel/

terça-feira, 22 de maio de 2018

Brasil pretende atrair mão de obra estrangeira qualificada para o país


 Brasil pretende atrair mão de obra estrangeira qualificada para o País




A nova Lei da Migração completa esta semana um ano da promulgação. O governo federal pretende atrair imigrantes estrangeiros com qualificação para o país. Esse projeto está sendo trabalhado pelo Ministério das Relações Exteriores e deve ser publicado no segundo semestre de 2018. “A expectativa é que a gente consiga promulgar isso [no segundo semestre]. Será uma portaria conjunta do Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Justiça e Ministério do Trabalho”, disse, Paulo Gustavo Lamsen de Sant’Anna, chefe da divisão de imigração no Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério de Relações Exteriores.

“Estamos dedicando muita atenção, no Ministério das Relações Exteriores, ao regulamento que vai tratar da atração de mão de obra altamente qualificada para o país. O Brasil nunca teve uma política ativa de atrair esse profissional, que todos os países necessitam para o seu desenvolvimento e que são altamente disputados no mundo inteiro”, ressaltou.

O governo pretende facilitar as condições para que esses profissionais estrangeiros qualificados venham para o país, diminuindo a burocracia. O governo também pretende definir, segundo Sant’Anna, as “áreas estratégicas em que isso poderá ser feito”.

Além dessa portaria, o governo pretende também promulgar, em breve, a portaria da reunião familiar. “Devemos ter essa portaria, acredito, até o final desta semana”, disse André Zaca Furquim, diretor adjunto do Departamento de Migrações da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, à Agência Brasil. A portaria, segundo ele, regulariza a situação de pessoas para se reunir com outros imigrantes que já estejam no país.

Para Diana Quintas, diretora de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Especialistas em Migração e Mobilidade Internacional, a publicação das duas portarias é fundamental. A vinda de estrangeiros qualificados por exemplo, ressaltou Diana, faz com que “o mercado local se estimule a se qualificar cada vez mais”.

“Enquanto temos menos de um milhão de imigrantes no Brasil, temos mais de 3 milhões de brasileiros fora. Então, isso está longe de ser um problema para nossa mão de obra a questão migratória. Se pensarmos no Brasil como um país que recebe estrangeiro é porque investimentos estão sendo feitos no país. Isso é algo que vai impulsionar também a nossa economia”, disse ela.

“Até hoje não estamos conseguindo fazer isso concomitante ao processo do principal, do candidato. Isso tem causado bastante impacto nas famílias que vem ao Brasil porque as vezes passa até mesmo o prazo de estada no país e ele fica irregular no Brasil, é multado é algo que está no decreto mas que ainda não conseguiu ser implantado porque faltava uma portaria”, disse ela. “Hoje não estão aceitando os processos e deveria estar porque está escrito no decreto, mas ainda não há o embasamento sistêmico para conseguir recepcionar os processos”, acrescentou.

Um ano da Lei da Migração


Passado um ano da promulgação da lei,o representante do Ministério de Relações Exteriores afirma que houve muitos avanços, tal como o visto eletrônico, mas que a aplicação da lei ainda apresenta algumas dificuldades. “A gente vinha de um ordenamento de mais de 30 anos e mudá-lo agora, o que implica mudança de todas as práticas, é algo difícil, turbulento e que demanda tempo”, disse Sant’Anna ao participar hoje de um seminário em São Paulo que discutiu o primeiro ano da Lei de Migração, promovido pela Associação Brasileira de Especialistas em Migração e Mobilidade Internacional.


“Muita coisa já avançou. Foram publicados, até agora, 28 resoluções do Conselho Nacional de Migração, várias portarias conjuntas importantes tanto no aspecto de trabalho quanto humanitário. Foram publicados, por exemplo, as portarias que cuidam da imigração haitiana para o Brasil, do caso venezuelano, portarias que regulam tratamento de saúde no Brasil, visto de estudante. Mas ainda há uma série de regulamentos que precisam ser preparados”, disse ele.

Para o representante do Ministério da Justiça, o grande avanço da lei é que agora o país tem a oportunidade de regularizar os estrangeiros que estavam no Brasil de forma clandestina ou irregular. “Este é o maior avanço que percebemos este ano”, disse Furquim. Mas, segundo ele, ainda há muito a fazer. “Como os normativos são recentes, percebemos a necessidade de rever alguns pontos e aprimorar outros”.

“Estamos ainda na transição de um marco regulatório. Há um esforço enorme de todos os atores envolvidos para poder regulamentar e adaptar seus sistemas. Tínhamos previsão de ter um ano para viabilizar a regulamentação, adaptar os sistemas, mas esse prazo foi reduzido, infelizmente. Obviamente ainda há situações na iminência de serem resolvidas, mas o grande avanço da lei é no sentido de reconhecer o imigrante como efetivo sujeito de direito”, disse Hugo Medeiros Gallo da Silva, presidente do Conselho Nacional de Imigração e coordenador geral de Imigração do Ministério do Trabalho.

Para Diana, a lei da Migração é “ muito benéfica quando comparada à lei anterior”, que “era muito fechada e protecionista e via o estrangeiro como uma ameaça à segurança nacional”. Apesar disso, destacou ela, ainda há problemas na aplicação da nova lei. “Essa nova lei veio com um espírito de abertura, trazendo direitos e garantias para os estrangeiros e migrantes no Brasil. Mas a lei foi promulgada em maio [do ano passado] e passou a vigorar depois de seis meses. O grande problema desse primeiro ano é que o decreto que regulamenta a lei, que dá as normativas e os procedimentos, só saiu de fato no dia em que a lei passou a vigorar, em 21 de novembro, quando todo mundo passou a ler e entender algo que já estava valendo. Daí que para implementar tudo aquilo, demorou muitos meses e tem coisas que sequer ainda foram implementadas”, disse ela.