quarta-feira, 24 de julho de 2019

Dona da Flores Online, Grupo Flora expande para mais de 30 países


 

O grupo de e-commerce firmou parcerias com 10 grandes redes globais de flores e prevê um aumento de faturamento de 30% ao ano

 





Criada como uma pequena floricultura há 20 anos, a Flores Online está cada vez maior. O Grupo Flora, de venda de flores e cestas pela internet e dono das marcas Flores Online, Isabela Flores e Uniflores, irá expandir sua atuação para mais de 30 países, como Alemanha, Reino Unido, Argentina, México e Emirados Árabes, entre outros. 

O grupo de e-commerce firmou parcerias com 10 grandes redes globais de flores, que têm centros de distribuição para preparar e enviar os produtos em grandes cidades nesses países. Aos poucos, também irá incluir as floriculturas locais desses países em sua plataforma para atingir novas regiões.

“Percebemos que estávamos no momento certo para internacionalizar nossa operação, pois já estamos bem consolidados no Brasil”, afirmou Thiago Almeida Dias, diretor de novos negócios do Grupo Flora.

Também contratou novo meio de pagamento, que aceitasse também moedas diferentes e que permitisse também pagar parceiros e fornecedores em outros países. Com a nova empreitada, o grupo prevê um aumento de faturamento de 30% ao ano.


Demanda forte


A empresa já recebia demandas internacionais, de brasileiros que moravam fora do país e queriam presentear parentes e amigos no país, no Dia das Mães, Dia dos Namorados ou aniversários e momentos especiais. Foram 16.390 pedidos feitos de fora no primeiro semestre, de um total de 120 mil compras realizadas no período. Floriculturas internacionais também procuraram a companhia para firmar parcerias.

Segundo o executivo, mais do que atingir brasileiros que queiram enviar presentes para o exterior, o objetivo é ser a plataforma online de vendas de flores nos países em que passará a atuar.


Logística e qualidade


Expandir uma operação de comércio eletrônico já envolve desafios, que ficam ainda maiores quando se trata de produtos frescos e frágeis, como flores e chocolates.

Por isso, nem todos os itens do portfólio do Grupo Flora estão disponíveis em todos os países, por questões de clima, abastecimento e sazonalidade. Assim, para garantir a uniformidade da operação, apenas 65 produtos foram selecionados para as vendas internacionais. Os arranjos de rosas vermelhas e flores do campo são os campeões de venda em todos os países, assim como as orquídeas.  

Para garantir a qualidade dos produtos, o grupo realizou testes e pede para que os parceiros internacionais enviem fotografias dos arranjos antes das entregas.

Por aqui, a companhia tem um centro de distribuição em São Paulo, que prepara os arranjos e cestas para serem entregues na região em um dia, e parcerias com 3 mil floriculturas nacionais para atender todo o país – 800 delas ativas. Há também uma equipe em São João da Boa Vista, cidade de São Paulo perto da fronteira com Minas Gerais.



 https://exame.abril.com.br/negocios/dona-da-flores-online-grupo-flora-expande-para-mais-de-30-paises/

Limite de 500 reais é balde de água fria para impacto econômico do FGTS



Mercado estima que saques de contas ativas e inativas devem gerar impacto de apenas 0,1 ponto percentual no crescimento do PIB deste ano

 




São Paulo – O governo federal confirmou nesta quarta-feira (24) que vai fazer uma nova liberação do saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Ele vale para contas ativas e inativas. O valor a ser retirado depende do saldo, mas todos terão limite de 500 reais. As regras serão anunciadas em uma entrevista coletiva às 16 horas e não haverá mudanças na multa de 40% sobre o saldo total do FGTS a ser paga pelos empregadores em caso de demissão sem justa causa.

A expectativa oficial é de que a medida atenda 96 milhões de trabalhadores, donos de 260 milhões de contas ativas e inativas no fundo.

A ideia é gerar um estímulo de curto prazo enquanto o andamento de reformas estruturais, como a da Previdência, não surta maior efeito.

“É algo emergencial, sim, é emergencial, porque a nossa economia não vai bem, né, se bem que já está dando sinais de recuperação. E eu acho que dá para a gente ajudar bastante no corrente ano, entrando um dinheirinho no comércio aí”, disse Bolsonaro nesta manhã em entrevista.

O valor liberado por trabalhador, no entanto, é bem menor do que havia sido antecipado inicialmente e não deve gerar um impacto relevante no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.

“Antes, o impacto já era pequeno. Agora, limitando a 500 reais o valor do saque, não vejo como poderia ajudar”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

As previsões tanto do governo quanto do mercado são de crescimento do PIB na faixa de 0,8% neste ano.

Nos cálculos de Sergio Vale, considerando que parte dos saques será direcionado a pagamento de dívidas, o impacto no PIB deste ano ficaria entre 0,1 a 0,2 ponto percentual extra.

O cálculo, porém, é otimista. Como o valor liberado é baixo, a avaliação do economista é que muitas pessoas nem vão sacar.

Andre Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, também estima um impacto de 0,10 ponto percentual levando o crescimento do ano de 0,5% para 0,6%, na ponta mais pessimista do mercado.

Vitor Velho, economista da LCA Consultores, estima um impacto de 0,15 p.p. no PIB de 2019 e de 0,10 p.p. no PIB de 2020 caso o governo liberasse R$ 46 bilhões nos 6 meses a partir de setembro,

Ontem, o ministro Paulo Guedes disse que R$ 30 bilhões seriam liberados neste ano e R$ 12 bilhões no ano que vem, num impacto total de R$ 42 bilhões.

“Eles (governo Temer) soltaram de uma vez só, nós vamos soltar todo ano”, disse Guedes a jornalistas.

Em 2017, a gestão de Michel Temer liberou saques das contas inativas do FGTS. A injeção de recursos na economia foi de aproximadamente R$ 44,3 bilhões, equivalente a 0,71% do PIB.

Com base em pesquisas qualitativas do Ibre/FGV em 2017 e de um mapeamento feito pelo Banco Central no início de 2018, Vitor Velho, da LCA, um terço deste valor virou consumo e o impacto no PIB foi de 0,2 ponto percentual.

O motivo é que uma parte do valor é utilizada para o pagamento de dívidas. O percentual de famílias brasileiras com dívidas estava em 62,4% em março, praticamente a mesma taxa registrada no final de 2017, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O valor total médio das dívidas com pagamento em atraso, no entanto, está caindo: foi de R$ 2.980 em 2017 para R$ 2.615,98 em 2018, segundo estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) com a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas).

O SPC ressaltou que isso não reflete uma melhora no poder aquisitivo e sim que com a crise econômica, as famílias não estão contraindo novas dívidas, porque sabem que não vão conseguir pagar.

Vai e volta


O anúncio dos novos saques do FGTS estava marcado para a semana passada, durante a solenidade de 200 dias de governo Bolsonaro, mas acabou sendo adiada por conta de pressão por parte das empresas da construção civil.

O motivo é que uma retirada maciça de recursos do FGTS afetaria o setor, já que o fundo é usado para o financiamento de imóveis, de saneamento básico e infraestrutura a juros mais baixos.

O anúncio do limite de R$ 500 para este ano seria uma forma de não atrapalhar a construção civil, um dos setores mais prejudicados na crise econômica e que tem entre seus apoiadores o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Futuro


O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, disse ontem que as mudanças no FGTS não serão “repeteco” das anunciadas pelo governo Michel Temer porque terão impacto de “curto e longo prazos”.

A partir do ano que vem, a ideia do governo é permitir que os trabalhadores tenham direito a uma nova modalidade de retirada dos recursos: o “saque aniversário”.

Se escolher essa opção, o trabalhador abre mão de resgatar a totalidade do fundo caso seja demitido sem justa causa e continuaria a sacar a parcela dos recursos anualmente até acabar.

Para Vale, o governo precisa focar em soluções estruturais, inclusive para o FGTS, “e não perder tanto tempo com elementos que vão causar desgaste e não vão ajudar tanto a economia”.

Uma opção seria usar o FGTS como fundo-base para um eventual regime de capitalização na Previdência, proposta de Guedes que acabou sendo excluída da reforma no Congresso.




 https://exame.abril.com.br/economia/limite-de-500-reais-e-balde-de-agua-fria-para-impacto-economico-do-fgts/

As “fake news” atingem também os negócios


A produção de conteúdo falso não só está se proliferando como se sofisticando


Startups têm desenvolvido negócios para combater a disseminação de fake news (Foto: Pexels)


Dois professores da Universidade de Washington, Jevin West e Carl Bergstrom, criaram o jogo online “Qual Rosto é Real” a partir de milhares de rostos humanos virtuais artificiais desenvolvidos pela dupla. O desafio consiste em adivinhar qual rosto é verdadeiramente humano. Meio milhão de jogadores disputaram 6 milhões de rodadas. A tecnologia do jogo é da Nvidia, empresa de processadores gráficos, e usa redes neurais (deep learning/inteligência artificial) treinadas num imenso conjunto de retratos de pessoas. O percentual de acertos girou em torno de 60% na primeira tentativa, atingindo 75% de precisão em tentativas posteriores. Segundo seus criadores, a intensão foi alertar a sociedade sobre a capacidade tecnológica atual de gerar imagens falsas. O risco é que não há como evitar usos não tão nobres dessa tecnologia.

Em outro exercício acadêmico, dois pesquisadores da Global Pulse, iniciativa ligada à ONU, usando apenas recursos e dados de código-fonte aberto, mostraram com que rapidez poderiam colocar em funcionamento um falso gerador de discursos de líderes políticos em assembleias da ONU. O modelo foi treinado em discursos proferidos por líderes políticos na Assembleia Geral da organização entre os anos de 1970 e 2015. Em apenas treze horas e a um custo de US$ 7,80 – despesa com recursos de computação em nuvem – , os pesquisadores conseguiram proferir discursos "realistas" sobre uma ampla variedade de temas sensíveis e de alto risco, de desarmamento nuclear a refugiados.

O tema das fake news ganhou visibilidade pelos impactos negativos em processo eleitorais,  sobretudo na eleição de Donald Trump em 2016 com os bots russos se passando por eleitores - americanos. No Brasil, a eleição de 2018 disseminou o uso de robôs e tecnologias de impulsionamento automático de mensagens visando influenciar os eleitores. A produção de conteúdo falso (fake news) não só está se proliferando como se sofisticando: agregando inteligência artificial, despontam as deep fakes!

O fenômeno de falsificação na internet extrapola o âmbito das notícias e da política, atingindo igualmente o mundo dos negócios, particularmente as plataformas centradas em dados. A Review Meta, um site independente que monitora a veracidade do feedback online, identificou um crescimento de avaliações na plataforma da Amazon postadas por usuários que não compraram o item em questão, ou seja, não experimentaram o produto e, não por coincidência, 98,2% dessas postagem avaliam em cinco estrelas. Zeynep Tufekci, em artigo na revista Wired (julho/agosto 2019) alerta que as alegações de falsidade também podem ser falsas: "Na Amazon, você dificilmente pode comprar um filtro solar simples sem encontrar avaliações que alegam que o produto é falsificado. Aliviado por ter sido avisado, você pode ficar tentado a não comprar. Mas talvez essa revisão em si seja falsa, plantada por um concorrente”.

O modelo de negócio do Google e Facebook, para citar dois dos gigantes de tecnologia, baseia-se em oferecer aos anunciantes acesso segmentado aos potenciais consumidores, tornando mais assertivas as campanhas publicitárias online. Observa-se, contudo, que esse modelo também está suscetível a fraudes, repleto de visualizações e cliques falsos. Em 2016, o Facebook admitiu ter exagerado na quantificação do tempo que seus usuários assistem vídeos na plataforma, caracterizando como um “erro" com efeito zero sobre o faturamento. Aparentemente, não foi esse o entendimento de muitos pequenos anunciantes: em 2018 entraram com uma ação coletiva alegando que a rede social estava inflando seus números propositalmente.

São muitos os exemplos mundo afora. Na Bulgária, em 2017, por exemplo, o Spotify sofreu um esquema que levou US$ 1 milhão: fraudadores geravam músicas de 30 segundos (tempo médio de escuta) e criavam contas falsas automatizadas para reproduzi-las. Assim, embolsavam a diferença entre os royalties e a quantia paga à plataforma para listar suas próprias faixas.

Vivemos um período de crise generalizada de confiança, que extrapola os eventos na internet. Acima de regras morais e éticas, arcabouço regulatório e sistemas de punição, para funcionar de maneira sadia a sociedade precisa de um mínimo de confiança entre seus agentes - instituições, governos e cidadãos. As facilidades da tecnologia e do meio digital só exacerbam o atual cenário.

*Dora Kaufman é pós-Doutora COPPE-UFRJ (2017) e TIDD PUC-SP (2019), Doutora ECA-USP com período na Université Paris – Sorbonne IV. Autora dos livros “O Despertar de Gulliver: os desafios das empresas nas redes digitais” (2017), e “A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana?” (2019). Professora convidada da FDC e professora PUC-SP.


 https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2019/07/fake-news-atingem-tambem-os-negocios.html

Deputados europeus expressam reservas sobre acordo UE-Mercosul

Deputados europeus expressam reservas sobre acordo UE-Mercosul
(Arquivo) A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström - AFP
O acordo alcançado entre a União Europeia (UE) e o Mercosul enfrentou, nesta terça-feira (23), seu primeiro teste no Parlamento Europeu, onde os deputados do bloco manifestaram reservas sobre a proteção ao meio ambiente e à agricultura.

A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, e seu colega da Agricultura, Phil Hogan, defenderam um acordo “equilibrado, global e ambicioso” em suas primeiras falas, diante de suas respectivas comissões do novo Parlamento.

“Aceito que o acordo representa um desafio para alguns setores agrícolas, mas também garantimos muitas oportunidades (…) e fomos defensivos”, garantiu Hogan diante dos deputados europeus da Comissão de Agricultura.

O comissário irlandês respondia às críticas de vários deputados, como o ecologista alemão Martin Hausling, para quem o acordo “vende” a agricultura europeia e deixará o mercado de carne bovina “no chão”.

Para desfazer as dúvidas dos parlamentares, que no futuro terão de aprovar o texto, Hogan destacou um mecanismo de salvaguarda que garante a proteção dos produtores diante de impactos no mercado interno.
“É a primeira vez que conseguimos isto (…) para produtos submetidos a tarifas”, celebrou o comissário, lembrando que o acordo prevê “um pacote de 1 bilhão de euros” para “distorções do mercado”.

Sua homóloga sueca, cujo mandato à frente da pasta do Comércio acaba em 31 de outubro, como o de Hogan na Agricultura, também teve de enfrentar as reservas do Parlamento. Em seu caso, a questão mais sensível é no terreno ambiental.

“Como podemos nos assegurar de que não fique apenas no papel, que haja um compromisso firme com o Acordo de Paris (sobre o clima)?”, questionou a deputada socialdemocrata Kathleen Van Brempt, dirigindo-se à Cecilia Malmström.

“Um acordo comercial por si só não pode salvar a Amazônia (…), mas pode ser um instrumento muito útil”, garantiu a comissária, anunciando sua avaliação do impacto ambiental do acordo para o fim do ano.

A política ambiental do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, fez os alarmes dispararem no Parlamento Europeu. Malmström lembrou que, em última instância, os países podem decidir suspender o acordo comercial.

“Mas existem maneiras de ir aumentando a pressão”, acrescentou a comissária europeia.
Em uma entrevista recente à AFP, ela estimou em cerca de “dois anos” o tempo necessário para a entrada em vigor provisória do acordo com o Mercosul.

Após o acordo alcançado em junho, os países do Mercosul e os da UE devem aprovar o texto formalmente nos Parlamentos. Em seguida, o pacto poderá ser aplicado, de modo provisório, após sua ratificação por parte do Parlamento Europeu.

A aplicação definitiva do acordo acontecerá após os parlamentos nacionais ratificarem o documento – um trâmite que, do lado europeu, pode durar muito anos, a partir da entrada em vigor provisória.
https://www.istoedinheiro.com.br/deputados-europeus-expressam-reservas-sobre-acordo-ue-mercosul/

Nissan se prepara para um drástico corte de funcionários


A fabricante japonesa Nissan, que já foi a força motriz da aliança com a a francesa Renault, está em crise: prepara-se para anunciar na quinta-feira medidas drásticas para reequilibrar suas contas, com a imprensa japonesa evocando mais de 10 mil cortes de empregos.

Seu chefe, Hiroto Saikawa, já havia alertado: as reformas serão dolorosas, e o grupo não tem outra escolha, encurralado, segundo ele, pela estratégia de expansão forçada liderada por Carlos Ghosn.

“Não comentamos sobre especulações”, respondeu uma porta-voz da Nissan. Mas de acordo com a agência de notícias Kyodo e os principais jornais do país, o anúncio virá na quinta-feira, por ocasião da publicação pela fabricante de seus resultados trimestrais, que deverão ser muito fracos.

Depois de uma queda de 57% em seu lucro líquido em 2018/19, a Nissan deverá ter uma queda de 90% no lucro operacional no primeiro trimestre do atual ano fiscal (abril-junho), informou o jornal econômico Nikkei em seu site, sem citar fontes.

Sua compatriota Mitsubishi Motors, última a entrar na aliança, apresenta suas contas nesta quarta-feira e, depois de um ano muito bom, também espera uma queda nos lucros.


– “Inevitável” –


Com os 4.800 postos já mencionados em maio pela Nissan, pelo menos 5.200 postos de trabalho adicionais estão na mira. Os cortes podem afetar fábricas na América do Sul e em outras áreas onde a rentabilidade da Nissan é baixa, diz Kyodo.

Hiroto Saikawa, que se distinguiu por seu zelo em cortar custos sob as asas de Carlos Ghosn na virada dos anos 2000, quando a Nissan estava à beira da falência, adota agora o mesmo método. A força de trabalho será reduzida em mais de 7% em um grupo de 139.000 funcionários. 

Na Bolsa de Valores de Tóquio, esses cortes foram recebidos de forma bastante positiva por investidores que calculam especialmente as vantagens financeiras: as ações fecharam com um ganho de 0,95%, a 781,6 ienes.

“Esta é uma resposta apropriada para as vendas fracas”, comentou friamente à AFP Janet Lewis, especialista do setor na Macquarie Capital Securities. “As montadoras não estão em plena forma, e algumas precisam reduzir sua produção”, diz, tomando como exemplo as americanas Ford e General Motors. 

Para a Nissan, “uma reestruturação em larga escala de toda a empresa, não apenas das fábricas, é inevitável”, diz Tatsuo Yoshida, analista da Sawakami Asset Management.


– “Surdo ou cego” –


Segundo ele, o grupo está em “excesso de capacidade” devido às ambições passadas de Ghosn, obcecado em ser o maior do mundo. 

Mas, em um contexto difícil para a indústria, a Nissan parece hoje sem fôlego. A empresa sofreu um forte declínio nas vendas de seus carros nos Estados Unidos e na Europa, sem mencionar o impacto em sua imagem do caso Ghosn.

A empresa japonesa contribuiu largamente para desencadear a saga, conduzindo a investigação interna contra seu chefe emblemático. Preso em novembro, o magnata deposto foi indiciado quatro vezes pelos tribunais japoneses.

Não existe uma fórmula mágica para ressuscitar a Nissan”, mas requer “liderança sólida” e este não é o caso de Saikawa, que continua na liderança por falta de outros candidatos potenciais, segundo o especialista.

Contestado pelos acionistas e pouco apoiado internamente devido à sua antiga proximidade com Ghosn, ele pode “não aguentar muito tempo”, prognostica Yoshida. E “a Nissan deve melhorar a situação sem demora ou fortalecer sua posição” em uma aliança à beira da ruptura.

Os dois parceiros não estão na mesma sintonia: a Renault, que detém 43% de seu capital, quer mais integração, enquanto a Nissan quer preservar sua independência a todo custo.

Jean-Dominique Senard, presidente do conselho da Renault e chefe da aliança alertou sobre sua vigilância. “Tem que ser surdo ou cego para não entender que a recuperação da Nissan é uma questão prioritária”, disse ele em uma entrevista em junho.

Varejo e indústria invertem negócios. Bom ou ruim para a relação colaborativa?





Por Rafael Faustino - Fernanda Vasconcelos - redacao@savarejo.com.br -

 

Um entra no mundo da produção com suas marcas próprias e outro ingressa no da venda direta ao consumidor. Nem todo mundo, porém, está confortável com isso

 

Varejistas lançam marcas próprias e fornecedores criam canais de venda direta ao consumidor. Esse avanço de ambos tem criado um certo desconforto de parte das empresas que atuam tanto de um lado quanto de outro. A dúvida é o quanto isso pode estar prejudicando o relacionamento varejo-fornecedor. 

Diretora do Advantage Group , Ana Fioratti reconhece que há uma disputa, mas, até o momento, não a ponto de estremecer as parcerias. “O que observamos no Brasil é que ainda cresce o reconhecimento de que trabalhar de forma colaborativa traz bons resultados, promovendo conhecimento do shopper, ganho de eficiência e maior faturamento para ambos”, diz. 



Segundo a especialista, o varejo tem um interesse óbvio em privilegiar suas marcas próprias, cuja participação nas vendas está em torno de 6%. O problema, diz Ana, é quando elas começam a canibalizar categorias em que outras marcas estão bem consolidadas. Da mesma forma, afirma ela, os canais de venda direta da indústria devem exercer papel apenas complementar. E ter isso em mente é importante para o fabricante não prejudicar suas próprias vendas no varejo. 

A questão, para ambos, é conhecer o limite das apostas e não deixar que elas prejudiquem parcerias que são estratégicas. Antônio Sá, fundador da Amicci , consultoria especializada em desenvolvimento de marcas próprias, também aponta que o efeito dessas estratégias na competição é relativo. “As marcas das grandes indústrias já não estão sozinhas. Há geralmente sete ou oito marcas na categoria. Não é a marca própria que vai fazer o negócio desandar. Só sairão prejudicadas algumas intermediárias que não trazem relevância para o shopper”, diz. 

No exterior, afirmam os dois consultores, é comum que a participação das marcas próprias do varejo beire os 40% das vendas nos mercados mais desenvolvidos. E nem por isso, garantem eles, grandes indústrias deixaram de ter seu espaço nas prateleiras, enquanto outras menores encontraram um bom caminho se tornando exatamente fornecedoras para as marcas dos varejistas. 

Para Ana Fioratti, da Advantage, cabe ao varejo e à indústria entender em quais oportunidades é possível ganhar mais sem prejudicar a cadeia de consumo como um todo. Alguns podem sair perdendo – mas provavelmente serão aqueles que não fazem seu trabalho corretamente. “Não dá para ter um relacionamento colaborativo com todos os varejistas ou com todas as indústrias. É preciso fazer escolhas que valorizem o negócio, privilegiando parceiros que entreguem o que se precisa, seja valor, qualidade ou margens melhores.” 

O varejo deve entender como a marca própria vai agregar para a categoria como um todo. Criar uma linha própria só como ferramenta de negociação pode ser um tiro no pé. Além disso, o desenvolvimento de marcas exige um longo processo de definição de posicionamento, controle de qualidade, comunicação com o consumidor, etc. Já no caso da venda direta ao consumidor pela indústria, a grande complicação acontece quando a política de preços por canais não está clara nem para a própria empresa. Isso gera insatisfação no varejista que privilegia determinada marca, mas vê que ela está mais barata em outros canais” - Ana Fioratti, Diretora do Advantage Group
 

Venda Direta: mais  dados sobre o consumidor

A empreitada da indústria na venda direta é repleta de exemplos. A Nestlé comprou a rede Starbucks para comercializar produtos da marca Nespresso , além de já vender as cápsulas de seu café diretamente ao consumidor. A gigante JBS , que sempre foi focada no varejo e em restaurantes, investe em lojas da marca Swift para atender diretamente as pessoas. A Bauducco tem unidades conceito e muitas outras indústrias, de vários segmentos, vendem seus produtos por meio da internet. Procurados por SA Varejo, os fabricantes preferiram não falar sobre o assunto ou não conseguiram retornar até o fechamento da edição. Mas, afinal, o que está por trás dessa estratégia? 


Açougue SWIFT
 

Em entrevista à SA Varejo de maio/2019, a JBS, dona da marca, explicou que as lojas ajudam a entender melhor a categoria de carnes, fazer testes e medir resultados para implementar projetos no varejo.
 

“Todos buscam dados do consumidor. O que se deseja hoje é saber o que faz alguém comprar e de que forma”, explica Fábio Fialho, Chief Strategy Sale Officer (CSSO) da Synapcom , que oferece soluções para e-commerce. Para ele, os varejistas têm melhor visão sobre os hábitos das pessoas e o que elas buscam. Por isso, é possível continuar atraindo o consumidor ao oferecer experiência, testes e produtos alinhados ao perfil do cliente. 

Outro especialista, Helton Arsênio, gerente da PwC Brasil , reforça que indústria e varejo precisam um do outro para complementar seus negócios. “É difícil imaginar que as indústrias vão conseguir a capilaridade do supermercado, principalmente em lugares fora dos grandes centros. Além disso, criar uma rede de lojas ou mesmo uma rede de distribuição com o e-commerce é custoso e elimina os ganhos financeiros da venda direta”, acredita. 

Para ele, o consumidor aceita comprar direto da indústria bens de maior valor, como celulares e carros. Mas acha improvável que ele percorra vários sites para adquirir um item de baixo custo em cada um. “O marketplace, o e-commerce do varejo e as lojas físicas continuarão atendendo a maior parte do volume dessa compra”, avalia o gerente da PwC. Quem concorda é Paulo Ferezin, sócio-diretor para varejo da KPMG . Ele afirma que as pessoas têm hoje mais meios para escolher itens de maior valor agregado ao menor preço. “A busca é feita em clics”, conclui. 


Vendas Online em sites de fabricantes

 
Pesquisa aponta o perfil de compra e quanto movimentam os sites da indústria*
  • 45% das pessoas compram eletros
  • 16% itens de perfumaria e cosméticos
  • 14% de moda & acessórios
  • 10% alimentos e bebidas
  • 15% outros
2,5 bilhões de reais quanto movimentou a venda online em sites de fabricantes em 2018
20% crescimento da receita em relação ao ano anterior
43% taxa de aumento no número de pedidos nesses sites
-16% queda no tíquete médio, o que indica a entrada de mais fabricantes no e-commerce ao consumidor 

Fonte: Ebit/Nielsen * todos os segmentos, inclusive bens duráveis 

Marca própria: fidelização e massa de margem


Fidelizar o consumidor é o sonho de qualquer loja, certo? Imagine ter seu próprio produto como o preferido do cliente, ganhando mais a cada venda. É isso que tem motivado os supermercados a investir mais nas marcas próprias. Apesar de não serem novidade, elas vêm mudando seu perfil: não são criadas apenas como uma opção de preço baixo, mas, sim, para dar uma alternativa de qualidade aos rótulos mais conhecidos do mercado. “O preço é o diferencial, mas o shopper evoluiu e se preocupa também com a qualidade. Ele quer ver que aquele produto de marca própria do supermercado custa menos e ao mesmo tempo entrega uma qualidade semelhante à do mais caro”, destaca Marco Quintarelli, consultor especializado em marcas próprias. 

Até por essa preocupação, não é mais tão simples lançar um produto próprio. A seleção de fornecedor, o controle de qualidade e a finalização do produto tomam bastante tempo do varejista, segundo outro especialista, Antônio Sá, da Amicci. “Todos querem entrar nesse negócio, mas são as grandes redes que lideram o esforço. O varejo assume o papel de indústria, e poucos têm condições de fazer isso se dedicando de forma adequada ao desenvolvimento do produto”, aponta.

De fato, gigantes como Carrefour e GPA têm apostado forte na estratégia. Em ambas, a participação está em 12% das vendas totais, e as marcas próprias são posicionadas com preço em torno de 30% inferior ao das líderes. As duas redes afirmam que não tiram espaço das marcas mais vendidas para posicionar as suas próprias. O Carrefour diz que apenas em alguns casos retira marcas de pouca relevância, enquanto o GPA privilegia ilhas e espaços extras de exposição para seus produtos. 

E, embora a rentabilidade seja maior com as marcas próprias, o que mais move os investimentos das redes é a fidelização do shopper. “Mais do que a rentabilidade na categoria, visamos à massa de margem, que melhora conforme o cliente volta mais vezes à nossa loja e compra nossos produtos”, explica Allan Gate, diretor comercial de marcas próprias do Carrefour.
 
GPA Sortimento de marcas exclusivas gira em torno de 4 mil itens. Entre elas estão Casino e Taeq
 
GPA


Variedades de marcas exclusivas

O GPA se destaca por contar com várias marcas exclusivas – Casino, Taeq, Qualitá, Finlandek e Club des Sommeliers. A boa relação custo-benefício, que os produtos buscam oferecer, se deve sobretudo à negociação comercial em grande volume. É o que afirma Wilhelm Kauth, diretor de marcas exclusivas da empresa. “Também há a redução de alguns custos em relação às marcas da indústria, como logística e marketing, que são eliminados em um processo de marca própria”, lembra. 

12% participação das marcas próprias nas vendas do Multivarejo (divisão que engloba as bandeiras Extra e Pão de Açúcar) 

4 mil itens total de SKUs de marca própria 

 
Carrefour


Qualidade semelhante a de líder
 
Na companhia, todo o desenvolvimento de produto (que leva de seis a oito meses) tem como objetivo se assemelhar à líder da categoria, afirma Allan Gate, diretor comercial de marca própria. “Ficamos com um preço de 20% a 30% abaixo da primeira colocada, mas miramos qualidade parecida”, conta. Além disso, o Carrefour observa algumas tendências de consumo em seus produtos, fazendo, por exemplo, um molho de tomate com menos sódio e açúcar para aqueles consumidores que se preocupam com a saudabilidade. 

30% taxa anual de crescimento de vendas
20% previsão de participação das marcas próprias de alimentos e bebidas até 2022 – hoje está em 12% 

3 mil itens total de itens de marca própria 


 https://www.savarejo.com.br/detalhe/negocios/varejo-e-industria-invertem-negocios-bom-ou-ruim-para-a-relacao-colaborativa
 

segunda-feira, 22 de julho de 2019

As lições de Direito que estão nas telas do cinema





Quando cineastas vão a um tribunal, fazem um filme. Quando advogados vão ao cinema, escrevem um livro. Dessa combinação de gostos e interesses resultou Os Advogados Vão ao Cinema, uma obra instigante, idealizada e coordenada pelo advogado José Roberto de Castro Neves, na qual ele e mais 39 colegas escrevem sobre filmes relacionados ao Direito e à Justiça.

Ler o livro é um convite a ir ao cinema ver ou rever os filmes em tela. Mas não esperem um livro de crítica. Advogados são especialistas em defender causas, mais do que em apontar defeitos e virtudes. E é isso que os signatários de cada um dos 40 ensaios se propõe a fazer: defender o seu filme preferido, a importância da Justiça, o império da lei e do Direito e, last but not least (o livro está cheio de citações em inglês nem sempre acompanhadas de tradução), a imprescindibilidade do advogado em cada história e na vida real.

Como bem lembra Francisco Müssnich, o personagem Atticus Finch, do filme O Sol é para todos foi eleito pelo American Film Institute, em 2003, o maior herói do cinema americano. Finch, interpretado por Gregory Peck em papel que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator, era um advogado, obviamente. Em segundo lugar, como informa Rodrigo Garcia da Fonseca, nos comentários de Filadélfia, ficou Indiana Jones e em terceiro James Bond, que estão mais para justiceiros do que para defensores.

O justiceiro, por sinal, é uma invenção do cinema que criou e alimentou um dos gêneros mais exitosos e populares da sétima arte: o faroeste. Repletos de ação e de tiros, os filmes que retratam a saga da conquista do oeste americano, contam sempre como a lei era imposta sem a menor alusão ao devido processo legal por aquelas bandas. No final, não importa como, o bem sempre prevalece. Como advertem os letreiros no final de filmes “baseados em fatos reais”: “Alguma semelhança com algum juiz e procuradores de um país do sul do mundo em sua suposta luta contra a corrupção não é mera coincidência”.

Um justiceiro mais sutil pode ser visto no cinema na figura do advogado que acaba se colocando acima mesmo do devido processo. É o que se infere em Amistad, analisado pela advogada Selma Ferreira Lemes, no livro. O filme conta a história de um grupo de homens que são aprisionados em alto mar pela marinha americana, depois de se rebelarem e tomarem o controle do navio Amistad, de bandeira espanhola, em que eram transportados como escravos.

Caberia à Justiça dos Estados Unidos dizer se aqueles homens haviam nascido em Cuba, de onde partiu o navio, e nesse caso eram escravos, e, portanto, propriedade dos traficantes que os transportavam na embarcação; ou se haviam nascido na África, caso em que seriam homens livres e vítimas do tráfico de escravos, já considerado ilegal por um tratado assinado por Espanha e Inglaterra.

A “carga” humana transportada pelo navio era reivindicada pela Espanha, já que a nave navegava sob bandeira espanhola; pelos traficantes, que se diziam seus proprietários; pela marinha americana, que alegava seu direito de obter o resgate pela interceptação de um navio considerado pirata; pela Justiça americana, que pretendia punir os africanos com a morte pelo assassinato da tripulação do navio no motim; e pelos próprios réus, que alegavam seu direito à liberdade.

A história e os muitos debates que ela envolve, muito bem descritos por Selma Lemes no livro, são empolgantes. Mas, no final das contas, o que decide a questão a favor da liberdade dos africanos, mais do que os argumentos e o devido processo, é a atuação e a presença desequilibrante de um grande advogado — John Quincy Adams, nada menos do que ex-presidente dos Estados Unidos. O filme é baseado em um acontecimento verídico da história.

Boa parte dos filmes analisados é baseada em “fatos da vida real”. O que acaba criando um delicioso círculo vicioso em que a vida imita a arte e vice-versa. Mais de um autor destaca que essa é uma das razões que explicam o fascínio que os “filmes de tribunal” exercem não só sobre os realizadores como também sobre as plateias.

Poucas cenas são mais dramáticas do que uma sessão do Júri, com as intervenções apaixonantes da acusação e da defesa, a surpresa das provas, a emoção dos depoimentos de testemunhas e das partes e o suspense da sentença final. Sem falar que tanto no cinema quanto no tribunal, a matéria-prima fundamental é o conflito. Mesmo na comédia romântica mais açucarada, o beijo final da mocinha e do mocinho é precedido por um aparente insuperável litígio inicial.

A diferença é que, na vida real, são raríssimos os casos em que, quando tudo parece perdido e a injustiça vai se consumar, aparece uma testemunha inesperada com a prova mais improvável para mudar tudo e restabelecer o triunfo da verdade e da Justiça. Como bem lembra o advogado (fictício) Joe Miller, no filme Filadélfia: “Senhoras e senhores do júri: esqueçam tudo que viram na televisão e nos filmes. Não haverá testemunhas de última hora, de surpresa, ninguém vai desabar em lágrimas durante o depoimento com uma confissão. Fatos simples serão apresentados a vocês. Andrew Beckett foi demitido e vocês escutarão duas explicações sobre porque ele foi demitido: a nossa e a deles. Cabe a vocês decidirem qual é a mais verdadeira”. No caso, é a ficção imitando a vida.

Anderson Schreiber, procurador do Estado do Rio de Janeiro, demonstra com muita propriedade que no caso dos personagens da saga interplanetária de Star Wars, nem sempre o mau é mau ou o bom é bom. Muito pelo contrário, todo mal contém algo de bom e todo bem leva algo de mau. O que é uma lição preciosíssima tanto para o dia a dia dos humanos como para a tomada de decisão dos julgadores nos tribunais.

“Em resumo, pode-se dizer que, bem vistas as coisas, temos em Star Wars heróis que não são tão heróis e vilões que não são tão vilões assim”, escreve Schreiber. E que diabos isso tem a ver com a advocacia?”, ele pergunta. E responde: “O advogado é, por definição, um estudioso da natureza humana. A primeira versão, a mais óbvia, nunca o convence. E na progressiva investigação da verdade, ocasionalmente, heróis transformam-se em vilões e vilões, em heróis”.

Mas que diabos tem a ver Star Wars com o mundo jurídico? A resposta vem no artigo seguinte do livro, de autoria do desembargador federal do TRF-2 Marcus Abraham. A saga de Star Wars inicia-se na narrativa do prólogo do Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999), a partir de uma disputa sobre a tributação extorsivas das rotas comerciais, o que acaba desencadeando uma série de eventos até fazer eclodir uma rebelião”.

Em seu ensaio, Abraham faz a correlação de Star Wars com grandes revoluções do planeta Terra que tiveram em sua origem a rebelião contra o abusos tributários: “Repete-se nas telas a realidade telúrica de excessos cometidos por reis e imperadores e que desencadearam inúmeras rebeliões ao longo da história recente da humanidade, tais como as revoluções Americana e Francesa e, entre nós, a Inconfidência Mineira”. O autor lembra de outra revolta ainda: a da nobreza e do clero britânicos contra o furor arrecadatório do rei João Sem Terra que resultou na assinatura da Magna Carta em 1215, que é tida como a primeira Constituição da história.

Ao contrário de Star Wars, que precisa fundamentar sua inclusão na lista de trial movies, filmes como Doze Homens e uma Sentença, O Sol por Testemunha, ou Amistad são autênticos filmes de tribunal e não poderiam faltar no livro dos advogados cinéfilos. Doze homens... é uma rara produção em que os personagens principais são os jurados que debatem para decidir o veredicto de um jovem acusado de homicídio. “Cada jurado literalmente trancado na sala de deliberações, defronta-se com seus limites, sua humanidade e seus apanágios. A culpa ou a inocência do réu, a dúvida “além do razoável, as alegadas provas do crime e regras legais servem para um trabalho racional, mas necessariamente afetado pelas idiossincrasias e os preconceitos”, diz José Inácio Cercal Fucci, o comentarista da fita. Fucci faz ainda a contextualização histórica do filme e aponta como, em pleno macartismo, o filme “pode ser visto como uma louvável tentativa de representação do poder dissuasório da minoria frente à maioria”. Nada mais atual, embora o filme seja de 1957.

Um filme precisa, mais do que tudo, de uma boa história para ser um bom filme. Ou de um livro, que conta a história original. Gustavo Binenbojm e Letícia Binenbojm se empolgaram tanto com a história da professora Deborah Lipstadt que parecem ter esquecido que o livro para o qual foram convidados a colaborar era sobre filmes. O livro de Lipstadt trata do processo que ela sofreu do escritor David Irving, autor de um livro que nega a ocorrência do Holocausto. No livro Denying the Holocaust, Lipstadt qualifica Irving como “partidário de Hitler, que distorceu evidências para alcançar conclusões históricas insustentáveis”. Ao ser processada por difamação por Irving, “Lipstadt optou pela única rota moralmente possível: a exceção da verdade. As palavras utilizadas por Deborah em seu livro podiam ser ofensivas, mas eram verdadeiras, o que descaracterizaria a difamação”, relatam Gustavo e Letícia. Comentam com brilho o fato histórico, a disputa jurídica, mas passam batidos pelo filme propriamente dito. A história justifica.

Além disso, os advogados que foram ao cinema para escrever o livro escolheram filmes que além da boa história contivesse uma boa lição de Direito: a defesa do Estado Democrático de Direito, do devido processo legal, do direito de defesa, estes são as verdadeiras causas por trás de cada história. Ou que ensinasse como funciona ou deixa de funcionar a Justiça. “O filme põe em relevo, sobretudo, a surpreendente dinâmica da vida que a estrutura processual é incapaz de acompanhar”, diz a ex-ministra e ex-presidente do STF, Ellen Gracie, ao comentar o filme A História de Qiu Ju.

O filme do diretor chinês Zhang Yimou, conta a história da moça que processa o comissário que agrediu seu marido numa briga. Mais tarde, o comissário salva sua vida, as famílias se reconciliam, mas o processo segue em frente até a condenação e prisão do antigo agressor e, agora, amigo e benfeitor. A lição que Ellen Gracie tira: “Diminui-se a noção de infalibilidade dos pronunciamentos jurisdicionais que são apenas o substituto — pouco satisfatório — para uma solução proposta pelas partes envolvidas no conflito”. E conclui a ex-ministra: “Julgar é, antes de mais nada, um exercício de humildade, diante da insuficiência de nossos conhecimentos e esforços bem-intencionados para abranger a dinâmica das relações humanas na sua inteireza”.

O criminalista Luís Guilherme Vieira tira suas lições ao comentar o filme Justiça para Todos, uma conturbada trama que vai colocar em choque os papeis do advogado e do juiz. “No âmbito do Estado Democrático de Direito, sedimentado por modelo constitucional acusatório, a ação penal constitui garantia de que suposto transgressor sé será sentenciado após o devido processo legal”. E aplica o que viu no filme ao momento atual brasileiro: “Juízes fogem da missão de condutores-garantidores da escorreita relação processual e se tornam protagonistas do processo penal, atuando na busca de provas, como se acusadores públicos fosse. E relativizando procedimento e direitos fundamentais, em prol do suposto combate à criminalidade, que não lhes compete, por força de norma constitucional”.

No último capítulo, o advogado Luiz Olavo Batista relembra que além dos 40 filmes colocados em julgamento pelos nobres colegas, há muito o que ver nas telas falando de Justiça e Direito. Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger; Julgamento em Nuremberg (1961), dirigido por Stanley Kramer (não confundir com O julgamento de Nuremberg, de 2000, com Alec Baldwin, que também merece ser visto); O veredito (1982), com Paul Newman; O advogado do Diabo (1997), com Al Pacino; O informante (1999), outro com Al Pacino; O povo contra Larry Flint (1996), de Milos Forman; Erin Brockovich: uma mulher de talento (2000), com Julia Roberts; A condenação, com Hilary Swank; O júri (2003), com John Cusack mais Dustin Hoffman e Gene Hackman; A ponte dos espiões (2015), com Tom Hanks.

A lista de “esquecidos” é interminável, o que comprova a impossibilidade de atender a todos os gostos e preferências. Mas, pelo menos para ter um brasileiro na fita, deveria ter sido incluído O caso dos irmãos Naves (1967), um clássico do gênero que relata a história real de um dos mais conhecidos erros judiciários da nossa história. De todos os modos, não surpreende que das 40 obras apresentadas, apenas nove não são dos Estados Unidos.

Clique aqui para ver a ficha técnica de cada filme e os autores dos comentários no livro Os Advogados Vão ao Cinema.