Atelier suíço oï, responsável pela cenografia, design de produtos e mobiliário de marcas como Bulgari e Louis Vuitton, desembarca no Brasil com uma coleção de móveis próprios
Amo entrar em uma loja, muitos sentidos podem ser
despertados. A exposição do produto, a iluminação e até o design e a
disposição dos móveis são detalhes importantes na arte de encantar o
cliente. E é por entender bem tudo isso que o suíço Atelier oï se tronou
o queridinho de grifes como Bulgari, Louis Vuitton, Rimowa, entre
várias outras. “No design é comum dizer que a forma segue a função, mas
nós dizemos que a forma segue a emoção”, diz Aurel Aebi, co-fundador da
empresa. No final, diz ele, o que define a compra de determinado produto
é a sensação que ele desperta.
O trabalho emotivo — que vai muito além da funcionalidade — tornou
Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond, o trio de designers que
fundou o Atelie oï em 1991, os mais cobiçados do mercado.
O nome faz
referência sutil à palavra russa “troïka”, que define um comitê de três
membros. Os amigos começaram dar vida às suas criações no sótão de suas
casas. Em 2008, conquistaram um espaço de 900 m². O antigo motel de La
Neuveville, na Suíça, a meio caminho entre o norte e o sul da Europa,
foi reformado e hoje abriga todas as atividades do Atelier oï. “Lá, nós
não apenas mantemos nosso escritório, mas também oferecemos
hospitalidade criativa. Temos alguns quartos onde os clientes ou amigos
podem pernoitar”, diz Aebi.
A “troïka” esteve no Brasil na última semana para lançar sua coleção
de mesas Quina, em parceria com a Micasa, uma das mais conceituadas
lojas de design de São Paulo. A coleção é o primeiro móvel do Atelier oï
produzido inteiramente no Brasil. Os materiais utilizados são madeira e
mármore, ambos produtos locais. “Todos os nossos projetos são baseados
em como os materiais se expressam, como eles podem ser transformados,
quais são seus limites, como você pode avançar e o que pode realmente
fazer deles”, diz Aebi. O atelier conta atualmente com um acervo de 20
mil materiais. “Tentamos trabalhar com materiais naturais. Na Suíça,
usamos muito a madeira local, o pinheiro e o carvalho. O ambiente
natural tem uma grande influência no nosso trabalho.”
Uma das criações que retratam a essência do Atelier é a rede de couro
The Hammock, parte da coleção “Objetos Nômades” para a Louis Vuitton.
Aebi conta que, quando aceitaram trabalhar com a grife, o objetivo era
usar o couro, uma das marcas da LV. A ideia, segundo ele, era fazer uma
rede reta, tradicional. Mas o resultado final não ficou confortável como
deveria. Eles mudaram tudo e a inspiração para o novo objeto veio da
cozinha: o macarrão tipo farfalle. “Quando você tira a pasta da água e a
coloca na boca, ela é tridimensional, mas suave e macio. Esta foi a
inspiração para criar a estrutura de couro tridimensional da rede”,
conta Aebi. “Cozinhar é uma boa metáfora para a relação que temos com os
materiais e os sentidos. Para cozinhar bem, antes de tudo tem que
provar. É como fazemos.”
MULTIDISCIPLINALIDADE
Com uma abordagem
transdiciplinar, os designers transitam pela arquitetura, design de
interiores, design de produto e cenografia. “Pensamos de uma forma
global, criando pontes entre disciplinas, em vez de considerar as
disciplinas distintamente”, diz Aebi.
No Atelier oï trabalham 35 pessoas, entre designers, arquitetos,
designers de interiores, engenheiro e até um construtor de barco. “Nós
dividimos conhecimento. Se você dividir dinheiro, ele se torna menor,
mas se você dividir ideias, elas se tornam maiores.” Foi esse
compartilhamento de talentos que fez a Bulgari se tornar uma cliente
fiel do Atelier. O trabalho com a grife começou com o desenvolvimento de
um frasco de perfume, mas hoje são mais de 100 projetos feitos
anualmente para a marca, o que inclui até a cenografia das lojas. O
Atelier também é o responsável pela loja conceito da Rimowa, em Londres;
pela arquitetura da fábrica da relojoaria Jaquet Droz (Grupo Swatch),
em Genebra; e pela coleção de móveis de grifes famosas como Louis
Vuitton.
https://www.istoedinheiro.com.br/a-arte-por-tras-das-grifes/