terça-feira, 3 de setembro de 2019

A arte por trás das grifes


Atelier suíço oï, responsável pela cenografia, design de produtos e mobiliário de marcas como Bulgari e Louis Vuitton, desembarca no Brasil com uma coleção de móveis próprios

 

Crédito: Iara Morselli
Forma e emoção: para Aurel Aebi, um dos fundadores do Atelier oï, o que define a compra de um produto é a sensação que ele provoca (Crédito: Iara Morselli)


Amo entrar em uma loja, muitos sentidos podem ser despertados. A exposição do produto, a iluminação e até o design e a disposição dos móveis são detalhes importantes na arte de encantar o cliente. E é por entender bem tudo isso que o suíço Atelier oï se tronou o queridinho de grifes como Bulgari, Louis Vuitton, Rimowa, entre várias outras. “No design é comum dizer que a forma segue a função, mas nós dizemos que a forma segue a emoção”, diz Aurel Aebi, co-fundador da empresa. No final, diz ele, o que define a compra de determinado produto é a sensação que ele desperta.
Da loja ao produto: a parceria com a Bulgari já rendeu desde a cenografia da lojas da grife até o frasco de seus perfumes (Crédito:Divulgação)
O trabalho emotivo — que vai muito além da funcionalidade — tornou Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond, o trio de designers que fundou o Atelie oï em 1991, os mais cobiçados do mercado. 

O nome faz referência sutil à palavra russa “troïka”, que define um comitê de três membros. Os amigos começaram dar vida às suas criações no sótão de suas casas. Em 2008, conquistaram um espaço de 900 m². O antigo motel de La Neuveville, na Suíça, a meio caminho entre o norte e o sul da Europa, foi reformado e hoje abriga todas as atividades do Atelier oï. “Lá, nós não apenas mantemos nosso escritório, mas também oferecemos hospitalidade criativa. Temos alguns quartos onde os clientes ou amigos podem pernoitar”, diz Aebi.

A “troïka” esteve no Brasil na última semana para lançar sua coleção de mesas Quina, em parceria com a Micasa, uma das mais conceituadas lojas de design de São Paulo. A coleção é o primeiro móvel do Atelier oï produzido inteiramente no Brasil. Os materiais utilizados são madeira e mármore, ambos produtos locais. “Todos os nossos projetos são baseados em como os materiais se expressam, como eles podem ser transformados, quais são seus limites, como você pode avançar e o que pode realmente fazer deles”, diz Aebi. O atelier conta atualmente com um acervo de 20 mil materiais. “Tentamos trabalhar com materiais naturais. Na Suíça, usamos muito a madeira local, o pinheiro e o carvalho. O ambiente natural tem uma grande influência no nosso trabalho.”
Alem das vitrines: o conjunto de mesas e cadeiras e a rede fazem parte da Nomades Collection, linha de móveis e decoração da Louis Vuitton, criada pelo Atelier oï (Crédito:Divulgação)
Uma das criações que retratam a essência do Atelier é a rede de couro The Hammock, parte da coleção “Objetos Nômades” para a Louis Vuitton. Aebi conta que, quando aceitaram trabalhar com a grife, o objetivo era usar o couro, uma das marcas da LV. A ideia, segundo ele, era fazer uma rede reta, tradicional. Mas o resultado final não ficou confortável como deveria. Eles mudaram tudo e a inspiração para o novo objeto veio da cozinha: o macarrão tipo farfalle. “Quando você tira a pasta da água e a coloca na boca, ela é tridimensional, mas suave e macio. Esta foi a inspiração para criar a estrutura de couro tridimensional da rede”, conta Aebi. “Cozinhar é uma boa metáfora para a relação que temos com os materiais e os sentidos. Para cozinhar bem, antes de tudo tem que provar. É como fazemos.”


MULTIDISCIPLINALIDADE 


Com uma abordagem transdiciplinar, os designers transitam pela arquitetura, design de interiores, design de produto e cenografia. “Pensamos de uma forma global, criando pontes entre disciplinas, em vez de considerar as disciplinas distintamente”, diz Aebi.
Brasilidade: a coleção de mesas Quina é o primeiro móvel dos designers produzidos inteiramente no Brasil (Crédito:Divulgação)
No Atelier oï trabalham 35 pessoas, entre designers, arquitetos, designers de interiores, engenheiro e até um construtor de barco. “Nós dividimos conhecimento. Se você dividir dinheiro, ele se torna menor, mas se você dividir ideias, elas se tornam maiores.” Foi esse compartilhamento de talentos que fez a Bulgari se tornar uma cliente fiel do Atelier. O trabalho com a grife começou com o desenvolvimento de um frasco de perfume, mas hoje são mais de 100 projetos feitos anualmente para a marca, o que inclui até a cenografia das lojas. O Atelier também é o responsável pela loja conceito da Rimowa, em Londres; pela arquitetura da fábrica da relojoaria Jaquet Droz (Grupo Swatch), em Genebra; e pela coleção de móveis de grifes famosas como Louis Vuitton.
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