terça-feira, 3 de setembro de 2019

Beto Carrero: como um hambúrguer devora um parque?


Complexo de entretenimento do Sul é oportunidade para Madero fincar bandeira em Santa Catarina

 

Por João Gabriel Chebante*

Beto Carrero é oportunidade para Madero fincar bandeira em Santa Catarina

Apesar da economia real ainda não apresentar uma retomada real de crescimento, o mercado de capitais já se movimenta: o segmento de fusões e aquisições apresenta incremento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a consultoria PwC. Não raro, temos movimentos que, aos olhos de quem enxerga de fora, fazem pouco ou nenhum sentido. Lembro sempre que o nascimento das ações de cross-selling em trade marketing surgiu no início dos anos 1980, quando a Pampers percebeu que os homens faziam compras de churrasco e esqueciam das fraldas para seus bebês. 

Colocar uma frente de fraldas no meio de carvão e carnes fez o maior sucesso.

Em fusões e aquisições, não raro temos movimentos que não fazem o menor sentido à vista de quem tem pouca experiência no segmento, mas cujas sinergias são imensas. A posição do fundo de investimentos dono da rede de restaurantes Madero de comprar por R$ 1 bilhão o parque e diversões Beto Carrero World segue esta "lógica". O negócio ainda não foi firmando, mas afinal de contas, qual o sentido de uma rede de restaurantes comprar um parque? 

Vou voltar 10 anos no tempo, para quando as Lojas Americanas compraram a Blockbuster no Brasil. 

Qual era o objetivo de uma transação num mercado que já apresentava sinais de queda? Os pontos de venda da rede de locadoras foram fundamentais para expandir rapidamente a varejista ao redor do país, com porte de lojas enxutos e mais rentáveis.

Em outra frente, o Madero claro que tem interesse na receita do parque com um todo – pelo visto, não fará a aquisição sozinho, já que existem fundos que investem nas duas empresas envolvidos na transação –, mas lembre-se: quem visita um parque se alimenta. Dentro e fora do recinto, no hotel e nas cidades próximas. É uma receita bem lucrativa. E é exatamente aqui que reside o principal interesse do Madero no negócio: ter o controle da alimentação de toda uma região do estado de Santa Catarina, do parque aos hotéis.

Se pensarmos que o Beto Carrero vem em crescimento acima de 10% ao ano desde 2015, se consolidando como principal opção de entretenimento em seu setor na América Latina, com atrações de estúdios de Hollywood inclusas e faturamento acima de R$ 1,2 bilhão/ano... temos um excelente negócio.

A profissionalização da operação alimentícia do parque e cercanias, atrelada a co-operação do empreendimento deve levar a uma maximização do valor de mercado do complexo, que ainda tem um forte potencial de crescimento, haja vista a área disponível ser 70% do terreno aonde fica o Beto Carrero.

Nunca vender hambúrguer foi tão divertido. 


*Fundador da Sucellos, responsável por levar inteligência aos processos de investimento, fusão e aquisição de empresas. 



 http://www.amanha.com.br/posts/view/8038


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